Pan-Hispanic Ballad Project
Total: 42
0309:1 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 1706)
Versión de Saxamonde (ay. Redondela, p.j. Vigo, ant. Redondela, Pontevedra, España).
Recitada por Consuelo. Recogida por Óscar Lojo Batalla, entre 1915-1925 (Archivo: PV; Colec.: Sampedro). Publicada en RT-Galicia 1998, pp. 346-347. 013 hemist. Música registrada. |
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--De dónde vés, miña meniña, de dónde vés tan ensayada? |
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--Veño d`oír misa d`alba que fray Xuan a cantaba.-- |
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Levaba media de seda qu` a perniña l`estrababa. |
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Daba chimpos com` a cobra, daba chimpos com` a cabra. |
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--Ábreme a porta meniña. |
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--Como chei abrir a porta, fray Xuan `e miña alma, |
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teño un meniño no peito, ten outro nas illargas. |
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0309:3 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6812)
Versión de N/A (facticia)* (Portugal).
Documentada en o antes de 1853. Publicada en Almeida Garrett 1843; 1851; 1851, III, 54-57; Hardung 1877, II 111-113; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 78-81. Reeditada en Lima 1959, 113-114; Costa Dias 1988, 111-114 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 854, pp. 74-75. © Fundação Calouste Gulbenkian. 064 hemist. Música registrada. |
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Fui-me à porta da Morena, da Morena mal casada. |
2 |
--Abre-me a porta, Morena, abre-ma por tua alma! |
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--Como te hei-de abrir a porta, meu Frei João da minha alma, |
4 |
se tenho a menina ao peito e meu marido à ilharga?-- |
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Estando nestas razões, o marido que acordava. |
6 |
--Que é isso, mulher minha, a quem dás as tuas falas? |
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--Digo à moça do forno, que veio ver se amassava, |
8 |
se amassasse pão de leite, que lhe deitasse pouca água. |
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--Ergue-te, ó mulher minha, vai cuidar da tua casa; |
10 |
manda teus moços à lenha, teus escravos buscar água. |
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--Ergue-te daí, marido, vai ao monte pela caça; |
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não há coelho mais certo do que é o da madrugada.-- |
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O marido que saía, Morena que se infeitava: |
14 |
Seu mantéu de cochonilha de doze tostões a vara, |
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meia de seda encarnada que na perna lhe estalava, |
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sua bengala na mão que mal no chão lhe tocava. |
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Foi-se direita ao convento, à portaria chegava. |
18 |
O porteiro é Frei João, que pela mão a tomava; |
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levou-a à sua cela, muito bem a confessava. |
20 |
Penitência que lhe deu, logo ali mesmo a rezava. |
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À saída do convento, o marido que a incontrava: |
22 |
--Donde vens, ó mulher minha, donde vens tão arraiada? |
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--Venho de ouvir missa nova, missa nova bem cantada: |
24 |
disse-a o padre Frei João, que assim venho consolada. |
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--Consolar-te hei-de eu agora com a ponta desta espada.-- |
26 |
Deu-lhe um golpe pelos peitos, deixou-a morta, deitada. |
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--Não se me dá de morrer, que o morrer não custa nada; |
28 |
dá-se-me da minha filha, que a não deixo desmamada! |
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--Foras tu melhor mãe que és, não foras tão mal casada, |
30 |
não havias de morrer desta morte desastrada.-- |
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Levavam-na ao convento, numa tumba amortalhada: |
32 |
sorria-se o Frei João, e o marido é quem chorava. |
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Variantes de Almeida Garrett: -1a Em algumas lições provinciais, designadamente nas da Estremadura, começa assim: Ergueu-se Frei Joanico, / um dia de madrugada, // vestido de ponto em branco / e tangendo sua guitarra, // foi-se à porta de Morena, / a Morena etc. - Estremadura. -6a Que é isso, Morenita - Alentejo. -14a Com seu mantinho de lustro / que o vento lho levava, // seu sapatinho picado / que no pé lhe rebentava - Estremadura. -18a Frei João que a viu chegar, / em vez de correr, saltava - Beira Alta. -25bCom o olho desta enchada - Beira Alta.
Nota: Versão composta, segundo Garrett, por versões da Beira Baixa, Beira Alta, Estremadura e Alentejo. Costa Dias 1988 edita pelo manuscrito depositado na Faculdade de Letras de Coimbra.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:4 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6813)
Versión de N/A (facticia)* (Portugal).
Documentada en o antes de 1851. Publicada en ms. de Almeida Garrett, incluído en el `Cancioneiro de Romances Xácaras e Solaos`, depositado en la sala Ferreira Lima de la Fac. de Letras de la Universidad de Coimbra, pp. 85-88 y 91-92. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 854a, pp. 75-76. © Fundação Calouste Gulbenkian. 054 hemist. Música registrada. |
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Fui-me à porta da Morena, da Morena mal casada. |
2 |
--Abre-me a porta, Morena, abre-me por tua alma! |
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--Como te hei-de abrir a porta, meu Frei João da minha alma, |
4 |
se tenho o menino ao peito e meu marido à ilharga? |
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--Que é isso, ó mulher minha, a quem dás as tuas falas? |
6 |
--Dou-as à minha forneira, que está amassando a fornada; |
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se amassasse pão de leite, que lhe deitasse pouca água. |
8 |
--Ergue-te daí, mulher, vai tratar da tua casa; |
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com três filhas já crescidas, `inda não lhe ensinas nada.-- |
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Faze uma lavar a roupa, a outra varrer a casa; |
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a mais pequena de todas também que outra coisa faça. |
12 |
Mal o marido saía, Morena que se enfeitava: |
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seu mantéu de cochonilha de doze tostões a vara, |
14 |
meia de seda encarnada que na perna lhe estalava, |
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sua bengala na mão que mal ao chão lhe chegava. |
16 |
Foi-se à porta do convento, por Frei João perguntava. |
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Frei João que a viu vir, em vez de correr saltava, |
18 |
levou-a à sua cela, muito bem a confessava. |
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À saída do convento, o marido que a encontrava. |
20 |
--Donde vens, ó mulher minha, donde vens tão arraiada? |
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--Venho de ouvir missa nova, missa nova bem cantada; |
22 |
disse-a o padre Frei João, que assim venho consolada. |
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--Também te eu consolaria com o olho desta enxada. |
24 |
--Não se me dá que me mates, que o morrer não custa nada; |
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dá-se-me das minhas filhas, que assim ficam desgarradas! |
26 |
--Foras tu melhor mãe que és, nem foras daí[?] mal casada, |
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não havias de morrer desta morte desastrada.-- |
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Nota: Reproduz-se a versão estabelecida por Garrett, no respectivo manuscrito autógrafo, e assinalam-se as variantes por ele fixadas a partir de versões oriundas do Porto (Po), Évora (E), provavelmente enviada por Rivara, António Feliciano de Castilho (C) e fragmentos não identificados (Y).
Variantes: -6a Digo ao moço do forno (Po); Digo à minha forneira (E). -6b que está amassando a fornada (E). -7 que amassasse pão de leite / e lhe deitasse pouca água (E). Entre -17 e -18 Pegou-lhe pela mão / leveva à sua cela // deu-lhe bom vinho palhete, / muito boa marmelada (C). -18a No meio da rua nova (C). -19b De donde vens tão bizarra (Y). Entre -21 e -22 Ela a chegar a casa, / seu menino que chorava // --Cala, cala, meu menino, / toma lá esse docinho // que vem da [?] / lá me ficou um beijinho. A partir de 22 Ele puchou de um cutelo / a cabeça lhe cortava. // Levaram-na a Frei João / numa bacia de prata. // E Frei João quando a viu / em vez de chorar se riu (C); Vem tu cá, minha mulher, / que eu e dou a minha nova. // A primeira que lhe deu / foi com a tranca da porta. // A segunda que lhe deu / logo a deixou por morta. // A terceira que lhe deu / logo a deitou na cova. // --Aqui tens, minha senhora, / aqui tens a minha nova (Y).
Título original: Frei João (á-a).
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0309:42 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6851)
Versión de Portugal s. l. (Portugal).
Documentada en o antes de 1903. Publicada en Pinto de Carvalho 1903, 84. Reeditada en Leite de Vasconcellos 1906, 353; Pinto de Carvalho 1982, 97-98; Pinto de Carvalho 1984, 97-98 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 892, pp. 116-117. © Fundação Calouste Gulbenkian. 004 hemist. Música registrada. |
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Encontrei Frei João, numa manhã de geada, |
2 |
Com um instrumento na mão, vinha a ser uma guitarra. |
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Nota: Tinop edita apenas quatro hemistíquios. Leite 1906 apenas dois hemistíquios. Título original: Frei João (á-a).
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0309:40 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6849)
Versión de S. Jorge s. l. (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).
Documentada en o antes de 1869. Publicada en Braga 1869, (y Braga 1982), 375377. Reeditada en Hardung 1877, II 113-115; Neves - Campos 1895, 30; Soares de Sousa 1902, 457459; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 105107; Cortes-Rodrigues 1987, 467468; Carinhas 1995, II. 42 y 43-44 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 890, pp. 113-115. © Fundação Calouste Gulbenkian. 068 hemist. Música registrada. |
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Erguera-se Frei João, um dia de madrugada, |
2 |
atacando seu calção, tocando sua guitarra. |
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Chegou à porta da dama, um romance lhe cantara. |
4 |
--Abre-me a porta, Morena, abre-ma pela tua alma. |
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--Como te hei-de abrir a porta, meu Frei João da minha alma, |
6 |
se estou c` o meu filho ao peito e meu marido à ilharga?-- |
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--Dize-me tu, mulher minha, a quem dás as tuas falas? |
8 |
--É ao moço da padeira, que vem saber se amassava; |
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se o pão era de leite, que lhe não deitasse eu água. |
10 |
--Ergue-te daí, mulher minha, vai reger a tua casa, |
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manda os cativos à lenha, manda os criados à água, |
12 |
para mais descanso vosso, vos irei varrer a casa. |
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--Erguei-vos daí, homem meu, chamai os cães, ide à caça, |
14 |
que o mais certo coelho é esse da madrugada, |
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que não há caça mais certa do que a da madrugada.-- |
16 |
Assim que ele caminhou, ela toda se arreiara, |
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com sua saia de seda, pela cidade arrastava, |
18 |
com sua capinha nova, seu nó de fita rosada, |
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com seu chapéu na cabeça, que o seu ouro lhe abanava. |
20 |
Chegara à portaria, por Frei João perguntara. |
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Frei João que tal ouviu, se havia correr, saltava; |
22 |
pegara-lhe pela mão, levara-a p`ra sua sala, |
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com galinhas e capões, nada de comer faltava. |
24 |
Dera-lhe pão e vinho do que a sua Ordem dava, |
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comprou-lhe saia de seda, de cem mil reis cada vara. |
26 |
Ao sair da portaria, seu marido encontrara. |
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--Donde vens tu, mulher minha, que vens tanto arreiada? |
28 |
--Venho de ouvir missa nova, que venho bem regalada. |
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--Qual foi o padre que a disse, qual foi o que a cantou? |
30 |
--Foi Frei João da minha alma, que tão bem me regalou. |
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--Quem me te dera, mulher, numa fogueira queimada, |
32 |
com cem carradas de lenha, todas cem t` eu atiçara. |
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--Quern me te dera, bem meu, numas meias laranjadas, |
34 |
todas lavradas em sangue, com duas mil adagadas.-- |
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Variantes: -27b tão (1907); -32b atiçava (1907).
Nota: Neves - Campos 1895 edita nestas páginas uma versão factícia composta pela aqui referenciada e pela versão nº891 da presente edição. Carinhas 1995, II. segue as fixações de Braga 1869 (y Braga 1982) e Neves - Campos 1893.
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0309:41 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6850)
Versión de S. Jorge s. l. (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).
Documentada en o antes de 1869. Publicada en Braga 1869, (y Braga 1982), 378380. Reeditada en Hardung 1877, II 116-118; Neves - Campos 1895, 30; Soares de Sousa 1902, 460462; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 108110; Cortes-Rodrigues 1987, 469471; Carinhas 1995, II. 42-43 y 43-44 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 891, pp. 115-116. © Fundação Calouste Gulbenkian. 078 hemist. Música registrada. |
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Erguera-se Frei João, uma manhã de geada, |
2 |
penteando o seu cabelo, tocando sua guitarra, |
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foi à porta da Morena, da Morena mal casada: |
4 |
--Abre-me a porta, Morena, que estou c` o pé na geada, |
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se me não abres a porta, não és Morena, nem nada. |
6 |
--Como te posso abrir, Frei João da minha alma, |
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se eu tenho um filho ao peito e meu marido à ilharga.-- |
8 |
--Dizei-me, minha mulher, a quem dais as vossas falas? |
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--Dou à filha da padeira que me veio perguntar: |
10 |
se amassava pão de milho, que lhe deitasse pouca água, |
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se amassava pão de trigo, qualquer gotinha bastava. |
12 |
--Levantai-vos, ó mulher, arranjai a vossa casa, |
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chamai as vossas criadas para vos vir ajudar. |
14 |
--Levantai-vos, homem meu, ide p`r`à caça caçar, |
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que a caça da manhã é mais certa que a da tarde.-- |
16 |
Seu marido caminhando, a Morena se asseara, |
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calçara meia de seda que na perna lhe estalava, |
18 |
o seu vestido de seda que no corpo desbancava, |
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o seu lencinho de seda que o ventinho lhe abanava. |
20 |
Chegou ao portão dos frades, por Frei João perguntara. |
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Frei João que tal ouviu, se havia correr, saltava; |
22 |
pegara-lhe pela mão, levara-a p`ra sua sala, |
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deu-lhe um copinho de vinho, talhada de marmelada, |
24 |
deu-lhe um vestido de seda, de cem mil reis cada vara. |
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Chegou ao meio do caminho, seu marido encontrara. |
26 |
--Donde vindes, mulher minha, que vindes tão arreiada? |
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--Venho de ouvir missa nova, disso venho regalada. |
28 |
--Qual foi o padre que a disse? Quem foi o que a cantou? |
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--Foi o padre Frei João que muito me regalou. |
30 |
--Deixai estar, mulher minha, temos contas para ajustar. |
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--Não se me dá de morrer, que eu nasci para acabar, |
32 |
importa-me os meus filhinhos, que me ficam por criar. |
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--Não te importes c` os teus filhos, que outra mãe lhe hei-de dar. |
34 |
--Não se me dá de morrer, que eu nasci para acabar, |
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dá-se-me da triste conta que a Deus tenho para dar. |
36 |
--Pega lá uma facada, do lado do coração, |
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p`ra t` eu não tornar a ver em braços de Frei João. |
38 |
--Se vires a Frei João, dizei-lhe que digo eu, |
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que não ponha chapéu pardo, que a Morena já morreu.-- |
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Variantes: 7a omite eu (1907); -17b estava (1907); -21b havia de (1907).
Nota: Neves - Campos 1895 edita nestas páginas uma versão factícia composta pela aqui referenciada e pela nº890 da presente edição. Carinhas 1995, II. segue as fixações de Braga 1869 (y Braga 1982) e Neves - Campos 1893.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:2 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 2711)
Versión de Lagos (c. Lagos, dist. Faro, Algarve, Portugal).
Documentada en o antes de 1901. Publicada en Nunes 1900-1901, 179-181 ("Subsídios" 13). Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) , 406-407; Anastácio 1985, 204; Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 177-178, M2 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 884, pp. 106-107. 056 hemist. Música registrada. |
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--Abre la porta, morena, abre la porta, minha alma. |
2 |
--Como t` hei-d` abrir a porta, meu Frei João da minha alma, |
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se tenho meus filhos ao peito e meu marido à ilharga?-- |
4 |
Estas razões que eram ditas, o marido que acordava. |
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--A quem dais vós, mulher minha, a quem dais as vossas falas? |
6 |
--Dou à filha da forneira, que vinha ver se amassava: |
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se amassasse pão de leite, pinga d` água não deitara; |
8 |
se amassasse pão do outro, uma pinga lhe bastara. |
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Levanta-te, meu marido, vai fazer uma caçada, |
10 |
que não há melhor coelho que é o da madrugada.-- |
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Marido que abalava, ela que se preparava: |
12 |
boa meia de seda na perna lhe estalava; |
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bom sapatinho de seda que no chão tocava; |
14 |
bom manto de seda que o vento o levava. |
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Ela chegara ao convento, Frei João que perguntava. |
16 |
Frei João, que isto ouviu, em vez de pular saltava; |
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a pegando pela mão, p`ra o seu quarto a levava. |
18 |
Boa talhada de queijo, boa talhada de marm`lada. |
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--Vai-te embora, morena, vai-te embora, mal casada; |
20 |
pode vir o teu marido e achar a porta fechada.-- |
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Ela que abalava, o marido que encontrava. |
22 |
--Donde vindes, mulher minha, que assim vindes esbraseada? |
|
--Venho d` ouvir missa nova, que assim venho consolada. |
24 |
--Anda mais p`ra diante, que a tua morte está chegada. |
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--Não se me dá de morrer, nem tampouco de viver; |
26 |
dá-se-me só dos meus filhos, que outra mãe não hão-de ter. |
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--Esta adagada te dou dentro do teu coração |
28 |
p`ra não ires lá outra vez andares em braços de Frei João.-- |
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Correcções de Nunes ao texto: 4b. o marido; 16b em vez de.
Variantes de Oliveira (1905/198?): 3a tenho meu filho;4b o marido que acordara;6a Foi a filha da forneira;7b lhe deitara;12a a boa meia;13b que mal no chão lhe tocava;14a o seu bom manto;15b por Frei João;16b em vez de;17a pegando-lhe;17b p`ra o;21a Morena que;22b que vindes;24a anda lá mais;28 p`ra não ires outra vez / aos braços de frei João.
Título original: FREI JOÃO (Á-A) (=SGA M3)
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0309:34 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6843)
Versión de Faro (c. Faro, dist. Faro, Algarve, Portugal).
Documentada en o antes de 1882. Publicada en Dâmaso 1882, 201202. Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 404-405; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 92-93; Anastácio 1985, 203 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 883, pp. 105-106. © Fundação Calouste Gulbenkian. 050 hemist. Música registrada. |
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--Abre a porta, Morena, abre a porta, minh` alma. |
2 |
--Como te hei-de abrir a porta, meu Frei João da minh` alma, |
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se tenho meus filhos ao peito e meu marido à ilharga?-- |
4 |
--Levanta-te, marido meu, pega nos cães, vai à caça, |
|
não há melhor caçada que a da madrugada.-- |
6 |
Seu marido que saía, Morena que se aprontava, |
|
com sua meia de seda que na perna lh` estalava, |
8 |
com seu sapato de cetim que no chão não lhe tocava, |
|
com seu vestido de seda que a todos invejava, |
10 |
com sua capa de moire que o vento levava. |
|
Chegando ao convento por Frei Joao perguntava. |
12 |
Frei João que isto ouviu, se havia de correr, saltava; |
|
pegou-lhe na sua mão, levou-a p`ra sua cela, |
14 |
dando-lhe beijos e abraços e bocadinhos de marmelada. |
|
--Vai-t` embora, Morena, vai-t` embora, minh`alma; |
16 |
pode teu marido vir e achar a porta fechada.-- |
|
Morena que saía, seu marido que encontrava. |
18 |
--Da onde vens, ó Morena, que vens tão orvalhada? |
|
--Eu venho da missa nova, com ela venho consolada. |
20 |
--Anda lá mais para diante que uma facada levarás. |
|
--Não se me dá de morrer nem tão pouco de acabar, |
22 |
só se me dá das contas que a Deus tenho que dar |
|
e também de meus filhos que outra mãe não hão-de ter. |
24 |
--Toma lá esta facada ao lado do coração, |
|
para não dares beijos e abraços outra vez em Frei João.-- |
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Título original: Frei João (á-a).
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0309:35 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6844)
Versión de Lagos (c. Lagos, dist. Faro, Algarve, Portugal).
Documentada en o antes de 1900. Publicada en Nunes 1900-1901, 181-183. Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 408-409; Anastácio 1985, 205-206 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 885, pp. 107-108. © Fundação Calouste Gulbenkian. 062 hemist. Música registrada. |
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--Quem bate à minha porta, quem bate à minha janela? |
2 |
--Sou eu, minha Morena, Morena da minha alma. |
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--Como te posso abrir a porta, meu Frei João da minha alma? |
4 |
Tenho meu menino ao peito, meu marido à ilharga.-- |
|
Nestas razões que estavam, marido que acordava. |
6 |
--A quem dás as tuas falas, ó Morena da minha alma? |
|
--Dou à filha da padeira, que me vem perguntar |
8 |
se amassasse pão de leite, que não lhe deitasse água, |
|
se amassasse pão-de-ló, que uma pinga lhe bastara. |
10 |
--Levanta-te, mulher minha, vai governar a tua casa, |
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que duas filhas que aí tens, uma à lenha, outra à água, |
12 |
para mais descanso teu, eu te varrerei a casa. |
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--Levanta-te, homem meu, pega nos cães, vai à caça, |
14 |
que não há melhor caçada, que é a da madrugada.-- |
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Tão depressa ele deu as costas, ela logo se preparava: |
16 |
com seu vestido de seda na cintura lhe estalava, |
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com seu sapato de seda que no pé lh` arrebentava, |
18 |
com o seu manto de seda que o vento a levava, |
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c` o seu lencinho na mão pelo Frei João acenava. |
20 |
Chegando à portaria, o Frei João que em casa estava. |
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--Vai-te embora, ó Morena, vai-te embora, ó minh` alma, |
22 |
se há-de vir o teu marido que ache a porta fechada.-- |
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Assim que ele disse aquilo ela logo caminhava, |
24 |
no meio do caminho, o marido que encontrava. |
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--Donde é que vens, mulher minha, que assim vindes tão escalfada? |
26 |
--Fui ouvir a missa nova, que assim fiquei regalada. |
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--Anda lá, mulher minha, que a morte te está chegada. |
28 |
--Não se me dá de morrer, que sempre hei-de morrer, |
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mas tenho dó dos meus filhinhos, que outra mãe não hão-de ter. |
30 |
--Toma lá este punhal pelo teu coração, |
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por que te não vejas em braços, em braços com Frei João.-- |
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Correcciones de Nunes al texto: Correcções de Nunes ao texto: -3a Como t` hei-de abrir a porta; -15a depressa deu; -29a dos meus filhos; -30b dentro do teu coração; -31 para te não veres em braços / em braços de Frei João.
Variantes de Oliveira (1905/198?): -2a ó minha; -2b ó Morena; -3a te hei-de; -5a em qu` estavam; -5b o marido; -7b veio a; -9b bastava; -10a alevanta-te; -11a duas filhas que aí; -15a depressa deu; -15b ela que se; -16a o seu vestido; -17a o seu sapato; -18b o levava; -20b Frei João em casa; -22b acha (sic); -24a lá no meio; -25b assim vens; -27a ó mulher; -29a meus filhinhos; -30b dentro do teu coração; -31 para te não veres em braços / em braços de Frei João.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:36 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6845)
Versión de Loulé s. l. (dist. Faro, Algarve, Portugal).
Documentada en o antes de 1905. Publicada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 110-112. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 90-92; Anastácio 1985, 207 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 886, pp. 108-109. © Fundação Calouste Gulbenkian. 066 hemist. Música registrada. |
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--Abre-me a porta, Morena, abre-me a porta, minha alma. |
2 |
--Como te hei-de abrir a porta, meu Frei João da minha alma, |
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se tenho meu filho aos peitos e meu marido à ilharga?-- |
4 |
Estando nestas razões, seu marido que acordava. |
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--O que é isso, mulher minha, a quem dais as vossas falas? |
6 |
--Dou à filha da forneira que vem ver se eu amassava. |
|
Se amassasse pão de leite que lhe não deitasse água, |
8 |
se amassasse pão-de-ló, qualquer pinga lhe bastava. |
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--Levanta-te, mulher minha, levanta-te a amassar: |
10 |
mulher que tem casa e vida tem sempre que governar; |
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as duas filhas que temos, ambas já a levantar. |
12 |
Uma que vá buscar água, outra que vá enfornar. |
|
--Levanta-te, homem meu, vai fazer uma caçada, |
14 |
que não há melhor coelho que o coelho da madrugada.-- |
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O marido que saía, ela logo se enfeitava, |
16 |
com vestido de cor viva que no corpo lhe brilhava, |
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com sapatos de cetim que no chão mal tocava, |
18 |
com meiazinha de seda que na perna lhe estalava |
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e com mantinha de rendas que o ventinho levantava. |
20 |
Logo chega à portaria, por Frei João perguntava. |
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Frei João assim que a viu, em vez de correr, saltava, |
22 |
pega-lhe logo p`la mão, par`à cela a levava. |
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Dá-lhe frutas saborosas, tigelas de marmelada, |
24 |
deu-lhe ainda belos doces, doces de que ela gostava. |
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--Vai-te embora, Moreninha, que teu marido não tarda.-- |
26 |
Moreninha que saía, o marido que encontrava. |
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--Donde vindes, mulher minha, que vindes tão enfeitada? |
28 |
--Venho de ouvir missa nova que me regalou est` alma. |
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--Confessa-te, mulher minha, que te vou tirar a vida. |
30 |
--Não tenho medo da morte, que eu a morte a Deus mer`cia. |
|
Tenho pena de meus filhos, outra mais não na teria. |
32 |
--Confessa-te já, mulher, faze acto de contrição, |
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p`ra não tornares a vir à cela do frei João.-- |
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Título original: Frei João (á-a).
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0309:29 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6838)
Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).
Documentada en o antes de 1885. Publicada en Pires 1885h, XVIII; Pires 1900-1901b, 112 e 117-118; Pires 1899-1902, (reed. 1982) 112; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 88-89; Pires 1920, 160-162 y Pires 1986, 117-118. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 878, pp. 100-101. © Fundação Calouste Gulbenkian. 054 hemist. Música registrada. |
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Levantou-se Frei João numa manhã de geada, |
2 |
abotoando os seus calções, tocando em sua guitarra. |
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Foi à porta da Aurora, da Aurora malfadada. |
4 |
--Abre-me a porta, Aurora, pelas cordas da tua alma. |
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--Como te hei-de abrir a porta, Frei João da minha alma, |
6 |
se tenho meu filho aos peitos, o meu marido à ilharga? |
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--Quem é esse, mulher minha, que contigo falava? |
8 |
--É o moço do forno que pergunta se amassava. |
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Se amassasse pão de leite que lhe deitasse pouca água, |
10 |
se amassasse pão de trigo uma pinga só bastava. |
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Levanta-te, marido meu, vai fazer a tua caçada, |
12 |
que não há melhor hora que a hora da madrugada. |
|
--Levanta-te, mulher minha , vai tratar da tua casa, |
14 |
manda tuas filhas à fonte com jarros de ouro e prata.-- |
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O marido que saía, ela mui` bem se enfeitava, |
16 |
bom sapato, bela meia que na perna lhe estalava. |
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Foi à porta do convento, por Frei João procurava. |
18 |
Frei João, assim que a via, em vez de correr saltava, |
|
pegara-lhe pela mão, à sua cela a levava; |
20 |
dá-lhe copos de geleia e pratos de marmelada. |
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Quando para casa voltava, co` marido se encontrava. |
22 |
--Donde vindes, mulher minha, que assim vindes enfeitada? |
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--Venho d` ouvir missa nova que Frei João a cantava. |
24 |
--Aqui te dou uma facada do lado do coração, |
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p`ra que não tornes a ouvir missa cantada de Frei João. |
26 |
--Não se me dá de morrer que para morrer nasci, |
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dá-se-me de Frei João ficar no mundo sem mim.-- |
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Variantes: -6a meus filhos (1920); 6b omite meu (1920); 11b omite a (1885f e 1900-1901a); -19a pegava-lhe (1920).
Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos Pires 1899-1902, (reed. 1982). Versão factícia composta a partir de Pires 1885h e Pires 1885k. Esta última versão é por nós editada no presente volume com o número 879.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:30 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6839)
Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).
Recogida por Manuel Coimbra, publicada en Pires 1885k, XXIX ; Pires 1900-1901b, 135-136; Pires 1899-1902, (reed. 1982) 112; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 88-89; Pires 1920, 163-164 y Pires 1986, 118-119. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 879, pp. 101-102. © Fundação Calouste Gulbenkian. 050 hemist. Música registrada. |
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Levantou-se Frei António uma manhã de madrugada, |
2 |
bate à porta de Morena, Morenita mal casada. |
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--Abre-me a porta, Morena, Morena da minha alma. |
4 |
--Não posso, Frei António, Frei António do coração, |
|
que tenho meu filho ao colo, meu marido pela mão. |
6 |
--O que é isso, ó mulher minha, a quem dás as tuas falas? |
|
--Foi o filho da padeira que perguntou se amassava, |
8 |
se amassava pão de leite não lhe deitasse água |
|
e se era de trigo lhe deitasse pouca água. |
10 |
--Levanta-te, bela mulher, vai tratar da tua casa. |
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--Levanta-te, ó homem meu, vai tratar duma caçada, |
12 |
manda-me de lá uma lebre p`r`à noite ta ter guisado.-- |
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O marido que saía, ela bem se enfeitava, |
14 |
ao convento foi passar, por Frei António perguntava. |
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Frei António, assim que a viu, em vez de correr saltava, |
16 |
dava-lhe belos bolos, talhadas de marmelada |
|
e pela mão a levou à cela onde dormitava. |
18 |
Ela que vinha p`ra casa, o marido que encontrava. |
|
--Onde foste, mulher minha, que vens tão enfeitada? |
20 |
--Venho de dar uns parabéns pertencentes a nossa casa, |
|
a nossa prima Francisca pelo filho que Deus lhe dava. |
22 |
--Fizeste bem, mulher minha, fizeste tu como honrada, |
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agora o que tu mereces é uma saia nova.-- |
24 |
A primeira que lhe deu foi com a tranca da porta, |
|
a segunda que lhe deu foí co` a tumba já à porta. |
| |
Variantes: -2a da (1900-1901b); -8a amassasse (1920); -10b de tua (1920); -13b ela que bem (1885k e 1900-1901b); 18b omite que (1920); -23b uma bela saia nova (1885i e 1900-1901a).
Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos Pires 1899-1902, (reed. 1982). Versão factícia composta a partir de Pires 1885k, e Pires 1885h. Esta última versão é por nós editada no presente volume com o número 878.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:31 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6840)
Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).
Documentada en o antes de 1899. Publicada en Pires 1899-1902, (reed. 1982) 111; Pires 1920, 157-159 y Pires 1986, 116-117. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 880, pp. 102-103. © Fundação Calouste Gulbenkian. 056 hemist. Música registrada. |
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Levantou-se Frei João numa manhã de geada, |
2 |
foi-se à porta da Morena, da Morena malfadada. |
|
--Abre-me a porta, Morena, Morenita da minh` alma! |
4 |
--Como te hei-de abrir a porta, Frei Joanito desta alma |
|
se tenho o meu filho ao peito e meu marido à ilharga? |
6 |
--A quem dás, ó mulher minha, a quem dás a tua fala? |
|
--Dou-a à filha da forneira que procurou se amassava; |
8 |
se amassasse pão de leite que lhe deitasse pouca água |
|
e me faça `ma m`rendeira antes alva que não rala. |
10 |
--Levanta-te, mulher minha, vai cuidar da tua casa. |
|
As duas filhas que tens, elas são mui` bem mandadas; |
12 |
uma que vá peneirar, outra que vá buscar água. |
|
--Levanta-te, marido meu, vai fazer uma caçada, |
14 |
que não há melhor coelho que é o da madrugada.-- |
|
O marido que saía, Morena que se enfeitava |
16 |
com suas meias de seda que na perna lhe estalava, |
|
com vestido e brilhantes que no colo lhe brilhava. |
18 |
--Abre-me a porta, Frei João, Frei Joanito desta alma.-- |
|
O fradinho, de contente, em vez de correr saltava. |
20 |
Ela que de lá saiu, o marido que encontrava. |
|
--Onde foste, mulher minha, que vindes tão enfeitada? |
22 |
--Venho de ouvir missa nova que me regalou esta alma. |
|
--Aonde foi essa missa que assim se disse à calada? |
24 |
--Em casa de Frei João, disse-se à porta fechada. |
|
--Aqui te farei a cova co` a ponta do meu bordão, |
26 |
p`ra não tornar`s a ir ver o corpo de Frei João. |
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--Coitadinhos dos meus filhos que outra mãe não hão-de ter. |
28 |
--Se vós fosseis boa mãe outra morte havíeis ter.-- |
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Variantes: -5a omite o (1920); -7a omite à (1920); -11b muito (1920); -28b havíeis de (1920).
Título original: Frei João (á-a).
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0309:33 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6842)
Versión de Castro Verde (c. Castro Verde, dist. Beja, Baixo Alentejo, Portugal).
Recitada por F. Lampreia Mestre. Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 473-474. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 882, pp. 104-105. © Fundação Calouste Gulbenkian. 054 hemist. Música registrada. |
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Levantou-se o Frei João um dia de madrugada; |
2 |
aonde havia ir bater, à porta da mal casada! |
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--Levanta-te, ó minha Maria, minha Maria da minh` alma. |
4 |
--Não te posso abrir a porta, meu Frei João da minh` alma, |
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tenho o meu menino a peitos e o meu marido à ilharga. |
6 |
--O que é isso, mulher minha, a quem dás a tua fala? |
|
--Dou à filha da forneira que vinha ver se eu amassava: |
8 |
se amassasse pão trigo, muita água lhe deitava; |
|
se amassasse pão de leite, com pouquechinha abondava. |
10 |
--Com a filha da forneira não quero que tenhas nada, |
|
essas filhas que aí tens, manda-as já levantar, |
12 |
uma para te ir ao poço, outra para te ir amassar, |
|
e a mais nova delas todas nesse menino pegar. |
14 |
--Levanta-te, ó meu marido, vai fazer uma caçada, |
|
que não há coelho melhor que é esse da madrugada.-- |
16 |
Assim que o marido se levantou, ela logo preparada; |
|
para a casa do Frei João parecia ela que voava. |
18 |
O marido foi espreitá-la, mais tarde a encontrava. |
|
--Donde vindes, mulher minha, que vindes tão preparada? |
20 |
--Fui ouvir a missa nova que me regalou a alma. |
|
--Missa nova a esta hora não pode estar bem cantada; |
22 |
Leva lá esta facada ao lado do coração, |
|
para a outra vez não te encontrar na sala de Frei João. |
24 |
--Eu não tenho medo à morte, que eu nasci para morrer, |
|
tenho é dó dos meus filhos, que outra mãe não hão-de ter. |
26 |
--Se tu fosses boa mãe, assim como devias ser, |
|
não ias agora morrer da morte que vais morrer.-- |
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Título original: Frei João (á-a).
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0309:21 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6830)
Versión de Rapa (c. Celorico da Beira, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).
Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 472-473. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 870, pp. 92-93. © Fundação Calouste Gulbenkian. 062 hemist. Música registrada. |
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|
Frei João se levantou um dia de madrugada, |
2 |
foi-s` às portas de Morina, por Morina prèguntava. |
|
--Abre-m` as portas, Morina, abre-mas por a tua alma. |
4 |
--Como t` hei-d` abrir as portas, Frei João da minha alma? |
|
`Stou com meu filho ao peito, meu marido à ilharga. |
6 |
--Diz-me cá, ó mulher minha, p`ra quem dás as tuas falas. |
|
--É p`r`à filha da forneira, que vinha a ver se amassava, |
8 |
que te fizesse uma bola, sim de basta, não de rara. |
|
Levanta-t` ó meu marido, chama os perros, vai à caça, |
10 |
que não há melhor coelho do que é o da madrugada. |
|
--Levanta-t` ó mulher minha, vem dirigir a tua casa, |
12 |
chama a tua filha mais velha, manda-a vir varrer a casa, |
|
chama a tua filha mais nova, põe-n` a coser na almofada.-- |
14 |
Tanto que ele abalou, Morina se preparou; |
|
calçou sapato e meia, seu pezinho apertou, |
16 |
foi vestir seus fatos d` ouro, seu quarto alumiou, |
|
foi-s` às portas do convento, por Frei João prèguntou. |
18 |
Frei João, tanto que o soube, deixou de correr, saltou, |
|
pegou-le pela mãozinha, p`ra a melhor sala a levou: |
20 |
dava-le comer de doce, covilhetes de marmelada, |
|
dava-le vinho generoso, a sua ordem mandava. |
22 |
Tanto que s` ele enfadou, p`ra sua casa a mandou. |
|
Ela, que vinha saindo, seu marido encontrou: |
24 |
--Donde vindes, mulher minha, que vens tão bem preparada? |
|
--Venho d` ouvir missa nova, que Frei José a cantava. |
26 |
--Que tens tu, ó mulher minha, que assim mudastes a cor? |
|
Ou tu já temes a morte, ou tu tens outros amores. |
28 |
Despide-te das tuas filhas, elas que se despeçam de ti, |
|
que não façam a seus maridos o que me tu fizeste a mim. |
30 |
Toma lá esta facada, dada de meu coração, |
|
p`ra que agora vás morrer `ós braços de Frei João.-- |
| |
Nota de J. L. de Vasconcelos: -25b Ela trocou o nome do frade para enganar o marido.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:22 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6831)
Versión de Rapa (c. Celorico da Beira, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).
Documentada en o antes de 1911. Publicada en Furtado de Mendonça 1911, 19-21. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 871, pp. 93-94. © Fundação Calouste Gulbenkian. 064 hemist. Música registrada. |
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|
Frei João se levantou um dia de madrugada; |
2 |
chegou à porte de Morena, por Morena procurava: |
|
--Abre-me a porta, Morena, Morenita malfadada. |
4 |
--Como te hei-de abrir a porta, Frei João da minha alma, |
|
se tenho o filho ao peito, meu marido à ilharga? |
6 |
--O filho deita-o no leito, à porta deita-lhe água, |
|
que são madeiras de pinho e fazem muita toada. |
8 |
--P`ra quem falas, mulher minha, p`ra quem dás as tuas falas? |
|
--Era a filha da forneira, que vinha ver se amassava; |
10 |
`inda o pão não é finto, pela poia procurava! |
|
Levanta-te, meu marido, chama os perros, vai à caça, |
12 |
que não há melhor coelho que é o da madrugada. |
|
--Levanta-te, mulher minha, vai reger a tua casa; |
14 |
a tua filha mais velha que cosa numa almofada; |
|
a tua filha mais nova que te vá varrer a casa.-- |
16 |
Seu marido que saía, Morena se preparava: |
|
bom sapato, boa meia, que o seu pé lhe arrebentava; |
18 |
com boa saia de seda e por baixo boa anágua. |
|
Foi caminho do convento, por Frei João procurava. |
20 |
Frei João, quando a viu, deixou de correr, saltava: |
|
pegando-lhe pela mão, p`ra sua cela a levava; |
22 |
deu-lhe caixinhasde doces e outras de marmelada. |
|
Lá tanto que se enfadou, mandou-a p`ra sua casa. |
24 |
Lá ao meio do caminho, seu marido encontrava: |
|
--Donde vens, ó mulher minha, que assim vens tão arraiada? |
26 |
--Venho de ouvir missa nova, que Frei João a cantava. |
|
--Que tens tu, ó mulher minha, que assim te mudaste as cores? |
28 |
Ou tu temestes a morte, ou tu tens outros amores. |
|
--Eu a morte não a temo, que dela hei-de morrer; |
30 |
temo a morte dos meus filhinhos, que outra mãe não hão-de ter. |
|
--Toma lá esta facada, no centro do coração, |
32 |
vai agora descansar nos braços de Frei João!-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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0309:23 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6832)
Versión de Trancoso (c. Trancoso, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).
Documentada en o antes de 1960. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, II. 516. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 872, pp. 94-95. © Fundação Calouste Gulbenkian. 064 hemist. Música registrada. |
|
|
--Abre-me a porta, Morena, que estou com os pés na geada, |
2 |
se me não abres a porta, nem és minha nem és nada. |
|
--Como te hei-de abrir a porta, Frei João da minha alma, |
4 |
tenho um filho nos braços, meu marido à ilharga. |
|
--Para quem falas, mulher minha, para quem dás as tuas falas? |
6 |
--Para o filho da forneira; perguntava se amassava |
|
--Pão de leite, pão de leite, nanja de água? |
8 |
Também quero uma bola dessa massa bem sovada. |
|
--Levanta-te, ó homem meu, chama os perros e vai à caça, |
10 |
que não há melhor caçada que é a da madrugada. |
|
--Levanta-te, ó mulher minha, trata da vida da casa, |
12 |
de três filhas que nós temos tu há-des ser estimada. |
|
Urna para acender o lume, outra para varrer a casa, |
14 |
a mais velha de todas a coser numa almofada.-- |
|
Assim que o marido deu costas ela toda se asseava, |
16 |
vestia vestido branco, que até o vento a levava. |
|
Frei João, assim que a viu, corria que não voltava; |
18 |
dava pulos como uma lebre e saltos como uma cabra. |
|
Pegou-lhe pela mãozinha, para sua casa a levava, |
20 |
e lá pôs-lhe fresco trigo e boa malga de marmelada. |
|
Frei João enfadou-se, para sua casa a mandara. |
22 |
Lá no meio do caminho seu marido encontrara. |
|
--Donde vens, mulher minha? Donde vens tão asseada? |
24 |
--Venho de ouvir missa nova, Frei João que a cantava. |
|
--Donde vens, ó mulher minha, que tanto mudas de cor? |
26 |
Ou tu temes a morte ou tu tens outro amor. |
|
--Eu a morte não a temo, que dela hei-de morrer, |
28 |
tenho pena dos meus filhos que outra mãe hão-de ter. |
|
--Oh quem vira mulher minha naquele cerro deitada, |
30 |
com sete carros de lenha, outros tantos de acendalha! |
|
--Oh quem vira homem meu naquela cama deitado, |
32 |
com sete crérigos à porta, acantar o saia, saia.-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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0309:24 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6833)
Versión de Mosteirô (c. Lamego, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).
Recogida 00/00/1937 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 470-471. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 873, pp. 95-96. © Fundação Calouste Gulbenkian. 024 hemist. Música registrada. |
|
|
--Infeliza, abre-me a porta, qu` estou co` os pés na geada; |
2 |
se me não abrir`s a porta, nem és firme, nem és nada. |
|
--Como t` hei-d` abri` la porta, `stando eu tão ocupada, |
4 |
com o meu menino nos braços, meu nmarido à ilharga? |
|
--Tu bem ouves, mulher minha, p`ra quem foi essa palavra? |
6 |
--Foi p`ra a moça da vizinha, vinha ver s` eu amassara. |
|
se eu amassasse pão trigo, que deitasse pouca água; |
8 |
s` amassasse pão do outro, uma pinguinha bastava. |
|
Alevanta-te, meu marido, vai fazer tua caçada, |
10 |
vai matá` lo teu coelho ao tiro da madrugada.-- |
|
O marido virou costas, ela toda s` asseava: |
12 |
quanto mais o Bento ia, mais se ela apaixonava. |
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Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos a seguinte didascália: entre -4 e -5 Perguntou o homem. Título original: Frei João (á-a).
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0309:25 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6834)
Versión de Beira Alta s. l. (Beira Alta, Portugal).
Recogida 00/00/1890 Publicada en Thomás 1913, 50-52. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 874, pp. 96-97. © Fundação Calouste Gulbenkian. 068 hemist. Música registrada. |
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Levantou-se Frei João, um dia de madrugada, |
2 |
só para ver a Morena, a Morena malfadada. |
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--Abre-me a porta, Morena que estou c` os pés na geada: |
4 |
se tu não me abres a porta não és Morena nem nada! |
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--Como te hei-de abrir a porta, Frei João da minha alma, |
6 |
se tenho o menino ao colo meu marido à ilharga?-- |
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Palavras não eram ditas e o marido que acordava. |
8 |
--Quem é esse, mulher minha, a quem dá` las tuas falas? |
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--É a moça a perguntar se cozia, se amassava, |
10 |
que não tinha agua em casa, mas que um pote só bondava. |
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Vou mandar buscar a lenha para o pão ir amassar, |
12 |
tu deves também sair que é a hora de ir caçar: |
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o coelho de madrugada deixa-se logo apanhar.-- |
14 |
Mal o marido saía ela toda se enfeitava: |
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bom sapato, boa meia, boa sala engomada; |
16 |
lá vai direita ao convento onde Frei João morava: |
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chegada à portaria que por ele perguntava. |
18 |
Frei João assim que a viu de contente até saltava; |
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vestiu seu hábito novo, pegou na sua guitarra; |
20 |
tomou-lhe logo da mão a sua cela a levava: |
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deu-lhe bom pão e bom doce e do vinho que guardava. |
22 |
--Vai-te embora, meu amor, Morena da minha alma |
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que tenho de ir à igreja dizer a missa cantada.-- |
24 |
Logo ao sair do convento, seu marido encontrava: |
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--Donde vindes, mulher minha, assim tão bem enfeitada? |
26 |
--Venho de ouvir missa nova que Frei João a cantava. |
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--Ajoelha, mulher falsa, faz acto de contrição, |
28 |
que não tornas a ouvir outra missa a Frei João! |
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--Não se me dá de morrer, p`ra morrer foi que nasci; |
30 |
dá-se-me dos meus filhinhos porque ficam sós sem mim. |
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--Não te importes c` os teus filhos que outra mãe hão-de encontrar, |
32 |
importa-te co` a tua alma, as contas que tens a dar! |
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--Adeus, adeus Frei João, nunca te esqueças de mim, |
34 |
vou morrer por tua causa, por teu amor me perdi!-- |
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Título original: Frei João (á-a).
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0309:5 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6814)
Versión de Castelo Branco s. l. (dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).
Documentada en o antes de 1851. Publicada en ms. de Almeida Garrett, incluído en el `Cancioneiro de Romances Xácaras e Solaos`, depositado en la sala Ferreira Lima de la Fac. de Letras de la Universidad de Coimbra, pp. 93-96 y 100-101. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 854b, pp. 77-78. © Fundação Calouste Gulbenkian. 062 hemist. Música registrada. |
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Levantou-se Frei João numa linda madrugada, |
2 |
foi-se às portas da Morena, da Morena malfadada. |
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--Abre-me as portas, Morena, abre-me pela tua alma. |
4 |
--Como te hei-de eu abrir, ó Frei João da minha alma, |
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se tenho o meu filho ao peito e meu mando à ilharga.-- |
6 |
Estando nestas razões, o marido que acordava. |
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--Que é isso, ó mulher minha, a quem dás as tuas falas? |
8 |
--Dou-as ao moço do forno, que veio ver se amassava. |
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Se amassasse pão de leite, que lhe deitasse pouca água, |
10 |
que te fizessem um bolo que era o de que mais gostavas. |
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--Levanta-te, ó mulher minha, vai tratar da tua casa; |
12 |
manda teus pretos à lenha, tuas moças buscar água. |
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--Levanta-te, ó meu marido, vai fazer uma caçada; |
14 |
não há coelho mais certo do que é o da madrugada.-- |
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O marido que saía, Morena que se enfeitava, |
16 |
bom sapato, boa meia que na perna lhe brilhava. |
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Foi-se logo ao convento, por Frei João perguntava; |
18 |
o fradinho, mal que a via, em vez de correr, saltava. |
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Deu-lhe caixinhas de doce, pratinhos de marmelada, |
20 |
deu-lhe mais certas coisinhas de que ela mais gostava. |
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À saída do convento, o marido que a encontrava. |
22 |
--Donde vens tu, mulher minha, que assim vens tão enfeitada? |
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--Venho de ouvir missa nova, missa nova bem cantada; |
24 |
cantou-a o Frei João, que assim venho consolada. |
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--Oh, quem te vira, mulher, numa tumba amortalhada |
26 |
com vestido de encarnado e a gargantilha arraiada! |
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--Oh, quem te vira, marido, lá na serra da lombada, |
28 |
entre dois molhos de lenha com a fogueira ateada! |
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--Boca que tal proferiu, coração que o desejava. |
30 |
Na ponta desse punhal, aqui tens, recebe a paga.-- |
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Nota del editor de RºPortTOM 2003: Reproduz-se a versão, oriunda de Castelo Branco, estabelecida por Garrett, no respectivo manuscrito autógrafo, e assinalam-se as variantes de António Feliciano de Castilho.
Variante autógrafa de Garrett por ele inscrita na margem direita da página 100: -22b preparada?
Variantes: -1b Numa manhã de geada; -3 Abre la porta Morena / abre la porta, minha alma; -7a Ó Morena, ó Morena; -8 É o moço da padeira / que pergunta se amassava; -11b vai governar tua casa; -16 Bom lenciinho na cabeça / que nem o vento levava. Entre -16 e -17 Boa saia de estamenha / de dois cruzados a vara // boas meias encarnadas / que na perna lhe brilhava.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:26 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6835)
Versión de Malpica do Tejo (c. Castelo Branco, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).
Recogida 00/00/1938 Publicada en Correia 1938?, 34-35; Correia 1953, 123-124. Reeditada en Redol 1964, 444-446; Giacometti 1981, 160-161 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 875, pp. 97-98. © Fundação Calouste Gulbenkian. 066 hemist. Música registrada. |
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Levanta-se o Frei João, numa manhã de geada; |
2 |
bateu às portas da Morena, pela Morena bradava. |
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--Abre-me as portas, Morena, abre-mas por tua alma. |
4 |
--Oh quem tas pudera abrir, Frei João da minha alma! |
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Tenho meu filho ao peito, meu marido à ilharga.-- |
6 |
Estavam nestas rezões, seu marido que acordava. |
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--Que é isso, ó mulher minha? A quem dás as tuas falas? |
8 |
--Dou-as à filha da forneira, vinha a ver se eu amassava. |
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Se amassasse pão de trigo, que deitasse pouca água; |
10 |
se amassasse pão-de-leite, que não lhe deitasse nada. |
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--Levanta-te, ó mulher minha, vai dirigir tua casa. |
12 |
De duas filhas que tens, ambas te são bem mandadas: |
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Uma te vai buscar lume, outra te vai buscar água. |
14 |
Para mais descanso teu, eu te vou varrer a casa. |
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--Levanta-te, ó meu marido, vai fazer uma caçada. |
16 |
Não há caçada mais certa do que é a da madrugada.-- |
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Seu marido que abalava e toda se preparava: |
18 |
bom sapato, boa meia, que na perna lhe estalava; |
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seu vestido de balão, a doze mil réis a vara. |
20 |
sua mantilha de seda, até o vento a levava. |
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Chega às portas do convento, pelo Frei João bradava. |
22 |
--Abre as portas, Frei João, abre-as por tua alma.-- |
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Frei João, quando a ouviu, deixou de correr, saltava. |
24 |
Eram doces e mais doces, da mais fina marmelada. |
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À saída do convento, seu marido que encontrava. |
26 |
--Donde vens, ó mulher minha, que vens tão bem preparada? |
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--Venho de ouvir missa nova, que Frei João a cantava. |
28 |
--Onde foi dita essa missa, que foi tanto à calada? |
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--Foi na casa da comadre, também à porta fechada. |
30 |
--Toma lá esta estocada na parte do coração. |
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Não tornarás, mulher minha, a falar com Frei João. |
32 |
--Não se me dá que me mates nem tão pouco de morrer, |
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dá-se-me só de meus filhos, que outra mãe não hão-de ter.-- |
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Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos o refrão: Oh! Tão linda!
Título original: Frei João (á-a).
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0309:27 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6836)
Versión de Servel (c. Sertã, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).
Documentada en o antes de 1942. Publicada en Lopes Dias 1942, 44-46. Reeditada en Lopes Dias 1967b, 41-43 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 876, pp. 98-99. © Fundação Calouste Gulbenkian. 054 hemist. Música registrada. |
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Frei João se levantou uma manhã de geada, |
2 |
lá pela noite adiante, às portas batucava. |
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--Abre-me as portas, abre-mas, por tua alma. |
4 |
--Como te hei-de abrir as portas, ó Frei João da minh`alma! |
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Tenho meus filhos ao peito, meu marido à ilharga! |
6 |
--Diz-me tu, ó mulher minha, p`ra quem davas essas falas? |
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--P`r`à filha da moleira que vinha ver se amassava: |
8 |
se amassasse pão de ló, que nem água deitava; |
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se amassasse de outro, uma gotinha bastava. |
10 |
Alevanta-te, marido meu, vai fazer a tua caçada; |
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não há coelho nem lebre como é o da madrugada. |
12 |
--Alevanta-te, mulher minha, vai varrer as tuas salas, |
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manda criados à lenha e a busqué la água.-- |
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
14 |
Quando o marido se foi, ela se preparava; |
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seus vestidos de seda até o vento lhos levava. |
16 |
Frei João, quando a viu à beira da cruz, saltava, |
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pegou-lhe pela mão levou-a para onde estava. |
18 |
Dava-lhe vinho da Beira, a coisa que ela mais gostava. |
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Quando vinha no caminho seu marido encontrava. |
20 |
--Donde vens, ó mulher minha, de onde vens tão preparada? |
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--Venho de ouvir missa nova, Frei João a cantava. |
22 |
--Toma lá esta facada, no lado do coração, |
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para que vais morrer aos braços de Frei João. |
24 |
--Não se me dá de morrer que eu para morrer nasci, |
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dá-se-me só dos meus meninos que não tenham mãe com` a mim. |
26 |
--Pois se tu boa mãe fôras, como o devias ser, |
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não lhes chegavas a dar tais penas a conhecer.-- |
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Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos por Lopes Dias 1967.
Variantes: -13b busque-la a água (1942); -26b devias de ser (1942).
Título original: Frei João (á-a).
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0309:28 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6837)
Versión de Oliveira de Azeméis (c. Oliveira de Azeméis, dist. Aveiro, Beira Litoral, Portugal).
Recogida 23/09/1876 Publicada en Leite de Vasconcellos 1881, 8-9. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 85-87; Leite de Vasconcellos 1938, 954-955; Leite de Vasconcellos 1958-1960, 471-472 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 877, pp. 99-100. © Fundação Calouste Gulbenkian. 51 hemist. Música registrada. |
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Frei João se levantou por uma manhã de geada, |
2 |
em procura de Morena o Frei João caminhava. |
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Chegou à porta de Morena [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
4 |
--Se me não abres a porta, não és Morena, nem nada. |
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--Não te posso abrir a porta, que eu estou muito ocupada, |
6 |
co` os meus meninos nos braços e meu marido à ilharga. |
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--Quem fala aí, ó Morena? É o moleiro co` a fornada. |
8 |
Cala-te aí, ó marido, não fazes uma caçada?-- |
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O marido logo foi, Morena se aprontava, |
10 |
de mantéu, saia de seda, do melhor que ela trajava. |
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Frei João, quando a viu, muito contente ficava; |
12 |
dava pulos como a corça e saltinhos como a cabra. |
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Pegou numa cadeirinha e logo se assentava; |
14 |
bons copinhos de geleia, bons pires de marmelada. |
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Pegou nela pela mão, da sua cela a tirava. |
16 |
Ao sair da sua cela, seu marido encontrava. |
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E ele lhe perguntou [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
18 |
--Que fazes por aqui, Morena, que vens tão asseada? |
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--Venho de ouvir missa nova pelo Frei João foi cantada. |
20 |
--Que missa seria ela que nem os sinos tocaram? |
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Eu passei pelo convento, as portas estavam fechadas. |
22 |
--Cala-te aí, ó marido, cala-te, não sabes nada, |
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que a missa do Frei João é dita à porta fechada. |
24 |
--Pega lá uma facada, no lado do coração, |
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para que tu mais não tornes à missa do Frei João. |
26 |
[. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] --Nem se me dá de morrer, |
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dá-se-me dos meus meninos sem sua mãezinha ter!-- |
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Variantes: -3a às portas (1958); -10a e saia (1958); -19b omite foi (1958); -26a Não se me dá que me mates (1938 e 1958). Este hemistíquio foi introduzido nesta versão, segundo o próprio Leite, para regularizar o verso e provém de outra lição.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:19 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6828)
Versión de Marco de Canavezes (c. Marco de Canavezes, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).
Recogida 00/00/l902 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 465-466. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 868, pp. 90-91. © Fundação Calouste Gulbenkian. 074 hemist. Música registrada. |
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Frei João se levantou numa manhã de geada: |
2 |
--Abre-m` a porta, Morena, ó Morena malfadada! |
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Se me não abres a porta, nem és Morena, nem és nada! |
4 |
--Como t` hei-de abrir a porta, ó Frei João da minha alma, |
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como t` hei-de abrir a porta, que estou muito ocupada |
6 |
c` o meu filhinho ao peito, o meu marido à ilharga?-- |
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A palavra num era dita, o marido acordava: |
8 |
--Tu que tens, ó mulher minha, com quem são essas palavras? |
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--Co` as padeirinhas do trigo que já vão para as massadas, |
10 |
amassá` lo pão de leite, já que a água le faltava. |
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--Manda fazer um bolo daquilo que mais gostava. |
12 |
--Levanta-te, ó homem meu, vai fazer uma caçada: |
|
olha que o melhor coelho é da fresca madrugada.-- |
14 |
O marido se levantou, chamou perros, foi à caça: |
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dava pulos que nem lebre e pinchos que nem raposa. |
16 |
Ela tratou de se assear, muito bem asseada; |
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de seu pente na cabeça, que de noite alumiava, |
18 |
sua bota de verniz, que até no pé le estalava, |
|
perguntando por Frei João, onde é que ele morava. |
20 |
Frei João, quando a viu, deixou de correr, saltava: |
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agarra-le pela mão , p`ra o seu quarto a levava, |
22 |
dando-le pratos de geleia, ladrilhos de marmelada, |
|
e o cálice de vinho fino, daquele que a lei mandava. |
24 |
Quando dela se enfadou, p`ra sua casa a mandava. |
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Chega ao meio do caminho, seu marido encontrava: |
26 |
--Tu que tens, ó mulher minha, que vens tão desmaiada? |
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Tu que tens, ó mulher minha, donde vens tão asseada? |
28 |
--Venho d` ouvir missa nova, que Frei João a cantava. |
|
--Oh que missa tão alegre, que nem os sinos tocavam! |
30 |
--As missas de Frei João são ditas à porta çarrada. |
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--Se tu foras boa mãe, como devias a ser, |
32 |
educava` los teus filhos, de Frei João não querias saber! |
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--Não me importa de meus filhos, nem ao menos de ti; |
34 |
importa-me do Frei João que fica no mundo sem mim. |
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--Toma lá esta facada, dada pela minha mão; |
36 |
toma lá esta facada, que te chegue ao coração, |
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que te não tornas a ver nos braços do Frei João!-- |
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Título original: Frei João (á-a).
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0309:20 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6829)
Versión de Porto (c. Porto, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).
Documentada en o antes de 1867. Publicada en Braga 1867a, 150-152; Hardung 1877, II 108-110 y RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 81-83. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 869, pp. 91-92. © Fundação Calouste Gulbenkian. 072 hemist. Música registrada. |
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Frei João se levantou numa bela madrugada, |
2 |
chega á porta da Morena, da Morena engraçada: |
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--Abre-me a porta, Morena, Morena da minha alma. |
4 |
--Como te hei-de abrir a porta, Frei João da minha alma? |
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Tenho o menino nos braços, o meu marido à ilharga. |
6 |
--Com quem falas, mulher minha, a quem dás as tuas falas? |
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--Falo com a padeirinha, se cozia ou se amassava; |
8 |
se cozia pão de trigo que lhe não botasse água; |
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se cozia pão-de-ló, uma pinguinha bondava. |
10 |
Levantai-vos, meu marido, levantai a vossa casa, |
|
mandai as moças à lenha, e os criados buscar água; |
12 |
que o melhor coelhinho é o que sai de madrugada.-- |
|
Seu marido que saía, ela muito se asseiava; |
14 |
seu sapato de cetim, que de polido estalava; |
|
sua mantinha de seda, que o ventinho levantava. |
16 |
Chega à porta do convento, por frei João perguntava; |
|
Frei João que tal ouvia por vir a correr saltava, |
18 |
pegou-lhe pela mãozinha e para a cela a levava: |
|
deu-lhe muito de comer, deu-lhe muita marmelada, |
20 |
deu-lhe um copinho de vinho do melhor que a Ordem dava. |
|
--Fica-te embora, Morena, Morena da minha alma, |
22 |
Vou à Igreja de S. Pedro dizer a missa cantada.-- |
|
No meio do Evangelho o cálice caiu da mão; |
24 |
acudiu o Provincial e toda a Religião: |
|
--O que é isto, meus pecados, o que é isto, Frei João? |
26 |
--São amores da Morena que trago no coração. |
|
Moreninha que tal viu, saiu muito apaixonada, |
28 |
já no meio do caminho seu marido encontrava: |
|
--Donde vindes, mulher minha, que vindes tão arreiada? |
30 |
--Venho de fazer visitas a quem veio à nossa casa. |
|
--Donde vindes, mulher minha, que vindes tão insentada? |
32 |
Ou tu me temes a morte, ou tu não és bem fadada! |
|
--Eu a morte não a temo, pois dela hei-de morrer; |
34 |
temo só os meus meninos, d` outra mãe podiam ser. |
|
--Confessa-te, mulher minha, faz acto de contrição, |
36 |
que te não tornas a ver nos braços de frei João.-- |
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Variantes: -7 Falo com o padeirinho, / se cozia? se amassava? (1907); -8b deitasse (1907).
Título original: Frei João (á-a).
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0309:32 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6841)
Versión de Murteira (c. Loures, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).
Recitada por Adelaide (66a). Documentada en o antes de 1957. Publicada en Costa 1957, 429-431; Costa 1961, 317. Reeditada en Galhoz 1987-1988, I. 274-275 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 881, pp. 103-104. © Fundação Calouste Gulbenkian. 051 hemist. Música registrada. |
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--Abre-me a porta, infeliz, eu `stou com o pé na geada, |
2 |
se não me abres a porta não és feliz não és nada! |
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--Ê não te abro a porta [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
4 |
tenho meus filhos ao pêito, mê marido à ilharga.-- |
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Palavras não eram ditas, mê marido qu` acordava: |
6 |
--Qu` é isso, mulher minha, que contigo agora falava? |
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--Era o home do forno, vinha ver s` eu amassava. |
8 |
Que deitasse munto leite, que deitasse pouca auga. |
|
--Alevanta-te, mê marido, vai fazer tua caçada, |
10 |
os coelhos da manhã são milhores qu` os da madrugada.-- |
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Marido que vai p`r`à caça, mulher que se adonairava; |
12 |
bom sapato e boa mêa qu` até a perna rachava, |
|
bom vestido de fazenda pelo passeio arrojava, |
14 |
bom lenço de seda pelo vento o alevantava. |
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Marido que vem da caça nã acha a mulher im casa, |
16 |
vai à prècura da mulher, acha no mêo duma asnaga. |
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--Donde vens tu, mulher minha, que vens toda preparada? |
18 |
--Venho d` ouvir missa nova, inté venho regalada. |
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--Ajoelha-te aí no chão e reza o auto da confissão, |
20 |
ê quero meter-te esta (navalha) na raiz do coração. |
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--Nã se me dá que me mates uma vez hê-de morrer, |
22 |
tenho pena dos mês filhos que outra mãe nã vêm a ter. |
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Se tu tornares a casar, casa com Ana com` a mim, |
24 |
p`ra cando chamares por ela p`ra te alembrares de mim; |
|
e os filhos que teveres há-de le prantar Mateus, |
26 |
p`ra cando os chamares há-de te lembrar dos meus.-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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0309:37 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6846)
Versión de Funchal (c. Funchal, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).
Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 269273. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 100103 y Carinhas 1995, II. 148-149 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 887, pp. 109-111. © Fundação Calouste Gulbenkian. 092 hemist. Música registrada. |
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--Abre ta porta, Morena, oh que noite de geada! |
2 |
Se me não abres la porta, nunca mais te darei nada. |
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--Vai-t` imbora, Frei João, qu` esta noit` é aziaga: |
4 |
a mamar tenho lo filho, lo marido à ilharga.-- |
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Palavras não eram ditas, lo marido a `cordar. |
6 |
--Dizei-me cá, mulher minha, corn quem `stais `i a falar? |
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--La padeira que pergunta, como há-d` el` amassar, |
8 |
que no pote nã tem água, tã pouco lume no lar. |
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--Ficai, pois, mulher, na cama, qu` eu me vou alevantar, |
10 |
duas filhas qu ` aí temos, ambas las vou acordar; |
|
uma que vá pedir lume, outra vá água buscar; |
12 |
e despois vou por `i fora, além às serras caçar.-- |
|
Morena lhe respondeu, cuidando lo inganar: |
14 |
--Lo mais `stá de minha conta, podeis ir já montear. |
|
--Pois, adeus. Ficai, mulher, nossa cas` a governar, |
16 |
que la hora da manha é la melhor de caçar.-- |
|
Lo marido que saía, ela que s` alevantava, |
18 |
las filhas ficam dormindo, e ela que s` infeitava: |
|
boa meia, alva de neve, que na perna lh` estalava, |
20 |
sapato de cordovão, no seu pezinho calçava. |
|
Deitando la cap`aos ombros, ao mosteiro caminhava |
22 |
e, chegad` à portaria, por Frei João perguntava. |
|
E ele, posto de janela, sua guitarra tocava |
24 |
mas, avistando Morena, s` houvera correr, voava |
|
e, aberto lo postigo, Morena por `i entrava, |
26 |
e daí se foi à cela onde Frei João morava. |
|
Frei João deu-lh` um vestido, de sete reais à vara, |
28 |
item, um lenço de seda, que meio sequim custara. |
|
E mais Frei João lhe deu, que sua freira mandara, |
30 |
bocetinhas de confeitos e bom vinho que guardara. |
|
--Adeus, qu`rido Frei João, da minh` alma prend` amada, |
32 |
que Deus nos deixe gozar outra manha tão folgada. |
|
--Morena, que Deus nos dê outra manhã invernada.-- |
34 |
Já fora da portaria, la vai ela na estrada, |
|
e poucos passos andados logo se vê salteada |
36 |
do marido, que pergunta: --Donde vindes apressada? |
|
--Venho do santo mosteiro, fui a missa d` alvorada. |
38 |
--E eu, mulher, aqui mesmo, vim fazer minha caçada. |
|
Missa má que tu ouviste, polo diabo rezada, |
40 |
aqui te mata nest` hora, sem siquer ser confessada. |
|
Hoje é uma sexta feira, vou deitar alto pregão: |
42 |
eu mato minha mulher, barregã de Frei João, |
|
duas facadas lhe dou, a ambas ao coraçao. |
44 |
Deus, se quer, que lhe perdoe, que de mim nã tem perdão. |
|
Aqui `stou na minha casa, de meu gabão incarnado, |
46 |
saiba Deus e todo o mundo qu` eu sou um vilão honrado.-- |
| |
Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didacalias: entre -2 e -3 Responde ela; entre -40 e -41 E, puxando de uma faca, pôs-se a pregoar assim; entre -44 e -45 E logo às facadas matou Morena. Interrou-la e, chegando a casa, virou-se para seus vizinhos e disse.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:38 Devota de un fraile (á-a+á) (ficha no.: 6847)
Versión de Porto da Cruz (c. Machico, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).
Recitada por Rita Rosa de Jesus. Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 262265. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 9497; Carinhas 1995, II. 146-147 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 888, pp. 111-112. © Fundação Calouste Gulbenkian. 104 hemist. Música registrada. |
|
|
--Ond` irás tu, Frei João, por tão fria madrugada, |
2 |
nesse demudado trajo, guitarra incordoada? |
|
--Vou passado de convento, comprida é la jornada.-- |
4 |
Mas onde foi, foi à porta da Morena mal casada. |
|
--Abre la porta, Morena, olha qu` estou à geada, |
6 |
se me não abres a porta, não és Morena nem nada. |
|
--Bem quisera, Frei João, meter-te na minha cama, |
8 |
mas tenho cá meu marido, tenho la filha na mama.-- |
|
Palavras nao eram ditas, seu marido acordava. |
10 |
--Dizei-me cá, mulher minha, alguém convosco falava? |
|
--Foi lo filho da padeira, que nest` hora m` avisava, |
12 |
que p`r` amassar nosso pão, água a lenha faltava.-- |
|
Lo marido suspeitou, se dantes nã suspeitava, |
14 |
e posto de má tenção, las suspeitas desfarçava. |
|
--Erguei-vos, então, mulher, la casa a governar; |
16 |
mandai los pretos à lenha, las pretas água buscar, |
|
que eu, como caçador, longe vou hoje caçar, |
18 |
la caça de manhãzinha, é mais certa d` incontrar.-- |
|
E logo s` ergueu Morena, la casa a governar, |
20 |
mandou los pretos à lenha, las pretas águas buscar. |
|
E seu marido lá foi, dizendo qu` ia caçar: |
22 |
caça, nesta manhãzinha, certo conta d` incontrar. |
|
Morena, mal se viu só, logo se foi aceiar: |
24 |
la boa meia de seda, na perna a estalar, |
|
seu vestido de cabaia no corpo a requebrar, |
26 |
seu fino lenço nos ombros, pouco los pode tapar. |
|
For cima curto mantéu, a esconder e mostrar, |
28 |
assim se foi ao mosteiro, por Frei João perguntar. |
|
Bem la ouviu Frei João, qu` estav` ali à portada, |
30 |
e logo la recolheu na sua cela fechada, |
|
deu-lhe fofo pão-de-ló, fatias de marmelada, |
32 |
ao despois, larga conversa, que nã monta ser contada. |
|
Frei João, por despedida, que na quis faltar a nada, |
34 |
deu-lhe da arca das missas grossa moeda contada. |
|
--Or` adeus, meu Frei João, Frei João da vid` airada, |
36 |
que Deus nos deixe chegar, outra manhã de geada.-- |
|
Sai Morena do mosteiro, seu marido na estrada. |
38 |
--Vós por aqui, mulher minha, e assim ataviada? |
|
--Vim à missa da matina, que se diz de madrugada, |
40 |
sempre fui muito devota, destas missas d` alvorada. |
|
Mas vós, marido, aqui? La missa já foi rezada, |
42 |
e ou ela foi comprida, ou curta foi la caçada. |
|
--Seria então la missa que foi muito delongada, |
44 |
la caça, qu` eu quis, cacei, que la tomei descuidada. |
|
Andai lá, andai mulher, minha caça, `stás caçada, |
48 |
armei-t` um laço, caiste, vou-t` apertar la laçada. |
|
--Matai-m` imbora, marido, nã se me dá disso nada, |
50 |
só me pesa minha filha qu` `inda não é destetada. |
|
--Foreis vós como quer Deus, comigo bem maridada, |
52 |
que nã terieis, treidora, morte nem já, nem penada.-- |
| |
Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: entre -6 e -7 Responde ela; entre -14 e -15 E disse-lhe; depois de 50 E no mesmo dia Morena apareceu morta.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:39 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6848)
Versión de Machico (c. Machico, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).
Recitada por Ludovina Augusta de Jesus y Manuel Fernandes de Sousa. Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 266269. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 97100; Carinhas 1995, II. 147-148 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 889, pp. 112-114. © Fundação Calouste Gulbenkian. 092 hemist. Música registrada. |
|
|
--Abre la porta, Morena, qu` estou de pés na geada, |
2 |
se me não abres la porta, Morena, nã vales nada. |
|
--Como t` hei-de abrir la porta, meu Frei João da minh` alma? |
4 |
Tenho lo filho à teta e lo marido na cama.-- |
|
Lo marido nã dormia, mas fingiu-lhe qu` acordava. |
6 |
--Jurara eu, mulher minha, alguém convosco falava? |
|
--Foi la moça da forneira, a perguntar s` amassava: |
8 |
s` amassasse pão de leite, que leit` e lenha faltava. |
|
--Seja como vós quiserdes,-- lo marido repricava, |
10 |
e ela, de má tenção, fingidas falas lhe dava: |
|
--Se fora eu vós, marido, já daqui m` alevantava; |
12 |
um ao leit` e outr` à lenha, preto e preta mandava, |
|
e despois, sem mais delonga, à caça me caminhava; |
14 |
polo luzir da manhã, no covil eu 1` apanhava.-- |
|
El`, então, já tenção feita, esta sentença lavrava: |
16 |
--Será como vós dizeis.-- E logo s` alevantava. |
|
Logo, em altos apupos, preto e preta chamava, |
18 |
ela, a ordenhar leite, ele, à lenha mandava, |
|
e logo, sem mais delonga, el` a caçar caminhava, |
20 |
deitando los seus futuros que no covil 1` apanhava. |
|
Marido fora da porta, ela da cam` a saltar, |
22 |
e logo que se viu só, ei-la se foi asseiar: |
|
la boa mesa de laia, na perna a estalar, |
24 |
de sarja lo bom vestido, na cintur` a esgarçar, |
|
mantilha de lã nos ombros que bem los pode tapar! |
26 |
E lá se foi ao mosteiro, por Frei João perguntar. |
|
Frei João, que la bispou, de contente já saltava, |
28 |
e, lá por portas travessas, à sua cel` la levava, |
|
fatias de pão-de-ló e marmelada lhe dava. |
30 |
Ao despois, largas conversas com Morena conversava. |
|
Quando mal se precataram, la manhã que lh` aclarava. |
32 |
--Adeus, adeus, ó Morena.-- E Morena s` abalava: |
|
--Adeus, adeus Frei João.-- E Frei João se ficava. |
34 |
--Sabe Deus quando teremos outra manhã conversada.-- |
|
Morena fora da porta, seu marido na estrada. |
36 |
--Morena, vós donde vindes, tão cedo, tão asseiada? |
|
--Vim à missa da matina, qu` é antes da madrugada. |
38 |
E vós, marido, aqui? Fizestes curta caçada. |
|
--Vossa missa, mulher minha, é que foi mui delongada. |
40 |
La caça qu` eu procurei foi no covil apanhada, |
|
caiu-me viva nas mãos, tanto `stava descuidada, |
42 |
e, como quero nã fujas vais, já, já, ser degolada. |
|
--La morte eu la mereço, nã se me dá de morrer; |
44 |
só me pesa de meu filho, qu` outra mãe nã pode ter.-- |
|
E no adro do mosteiro, seu marido la matou; |
46 |
ela deu contas a Deus; ao Frade, quem las tomou? |
| |
Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: entre -2 e -3 Responde Morena; entre -5 e -6 E disse; entre -6 e -7 Responde Morena; entre 42 e 43 Morena, então, desatou a chorar e disse.
Título original: Frei João (á-a).
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0309:16 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6825)
Versión de Vila Nova de Famalicão (c. Vila Nova de Famalicão, dist. Braga, Minho, Portugal).
Documentada en o antes de 1943. Publicada en Lima - Lima 1943, 39-40. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 865, pp. 87-88. © Fundação Calouste Gulbenkian. 051 hemist. Música registrada. |
|
|
--Ó feliz, abre-me a porta, que eu estou com os pés na geada! |
2 |
Se não me abres a porta não és feliz, nem és nada. |
|
--Como te hei-de abrir a porta, ai de mim, que estou, coitada; |
4 |
tenho crianças ao peito, meu marido à ilharga. |
|
--Cravelinda, mulher minha, quem era que chamavas? |
6 |
--Era a filha da padeira: vinha ver o que amassava, |
|
se era pão, se era mistura, que nem água levava. |
8 |
Põe-te a pé, marido meu, leva os furões à caçada: |
|
não há coelho melhor como é da madrugada.-- |
10 |
Quando o marido saiu, ela toda se arreou: |
|
boa bota, boa meia, o seu pé lhe arrebentou; |
12 |
Boa sainha de seda, o ventinho lha levou. |
|
--Donde vens, ó mulher minha, tão bela, tão arreiada? |
14 |
--Venho de ouvir missa nova, que Frei João a cantava. |
|
--Ó que missa era ela! [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
16 |
Ainda agora lá passei, cá fora não se ouvia nada. |
|
--Donde vens, ó mulher minha, que tanto mudas de cor? |
18 |
Ou me trouxeste a morte, ou tu tens outro amor. |
|
--Eu a morte não na temo, que dela hei-de morrer. |
20 |
Só temo os meus filhinhos, que outra mãe não têm de ver. |
|
--Se tu foras uma mãe como devias ser, |
22 |
guardavas a lealdade a quem te dá de comer. |
|
--Marido, se me matares, enterra-me na ermida, |
24 |
aos pés de Nossa Senhora, chamada a Virgem Maria. |
|
--Toma lá esta facada, de todo o meu coração: |
26 |
que te não torne a ver nos braços de Frei João!-- |
| |
Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: antes de 1 O marido; entre -2 e -3 A esposa; entre -4 e -5 O marido; entre -5 e -6 A mulher; entre -12 e -13 O marido; entre -13 e -14 A mulher; entre -14 e -15 O marido; entre -18 e -19 A mulher; entre -20 e -21 O marido; entre -22 e -23 A mulher; entre -24 e -25 O marido. Título original: Frei João (á-a).
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0309:17 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6826)
Versión de Ponte de Lima (c. Ponte de Lima, dist. Viana do Castelo, Minho, Portugal).
Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 464. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 866, pp. 88-89. © Fundação Calouste Gulbenkian. 041 hemist. Música registrada. |
|
|
Aí vem o Frei João, por esta manhã de geada, |
2 |
em manguinhas de camisa, a tocar na sua guitarra. |
|
Foi à porta da Morena, da Morena mal fadada. |
4 |
--Abre-m` a porta, Morena, senão não és Morena, nem nada. |
|
--Minha porta não a abro, que estão muito ocupada, |
6 |
meu menino está a dormir, meu marido está na cama.-- |
|
Perguntou-lhe o marido pr`a quem eram essas falas. |
8 |
--São p`r`à moça da padeira, que vem cedo, de madrugada, |
|
que amassava o pão com leite, que água não lhe deitava.-- |
10 |
A mulher disse ao homem que se levantasse e fosse à caça, |
|
[. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] que a melhor era de madrugada. |
12 |
O homem levantou-se, fez o que a mulher mandou; |
|
pega na arma às costas, seguiu a sua jornada. |
14 |
A mulher, assim que o homem saiu, asseou-se bem asseada, |
|
sainha de cetim, sapatinho que estalava. |
16 |
Foi bater ao convento, perguntou por Frei João. |
|
Frei João, quando o soube, não corria mas saltava. |
18 |
Aonde abraçou, levou-a p`r`à sua sala, |
|
deu-lhe vinho maduro e até lhe deu marmelada. |
|
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
20 |
--Anda cá, ó mulher minha, faz o acto de contrição, |
|
nunca mais te quero ver nos braços de frei João.-- |
| |
Nota de J. L. de Vasconcelos: -18b Étimo popular por cela. Nota: -5b q. e. (sic). Título original: Frei João (á-a).
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0309:18 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6827)
Versión de Minho s.l (Minho, Portugal).
Documentada en o antes de 1917. Publicada en Landolt 1917, 82-83. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 867, pp. 89-90. © Fundação Calouste Gulbenkian. 058 hemist. Música registrada. |
|
|
--Abre-me a porta, Morena, Moreninha engraçada, |
2 |
se me não abres a porta, nem és Morena nem nada! |
|
--Como te hei-de abrir a porta, que estou muito ocupada? |
4 |
Tenho meu filho nos braços, meu marido está na cama. |
|
--Teu filho deita-o no berço, marido manda-o à caça, |
6 |
o melhor coelho do monte sai agora à madrugada. |
|
--Que é isso mulher minha, que à minha porta parou? |
8 |
--É o Frei João da Cela, que por ti me preguntou. |
|
Se tu quer`s, marido meu, ir agora a uma caçada, |
10 |
o melhor coelho do monte sai agora à madrugada.-- |
|
Marido se faz saido, para dar na empreitada, |
12 |
logo que saiu o marido, ela toda se arranjava: |
|
sapatinho de verniz, que até o pé lhe estalava, |
14 |
foi direita ao convento, por Frei João preguntava. |
|
Frei João que o sabia, em vez de correr, saltava; |
16 |
logo lhe pegou na mão, p`r`à sua cela a levava! |
|
Logo lhe deu a comer talhadas de marmelada; |
18 |
logo lhe deu a beber do melhor que ele gostava! |
|
À saída do convento, seu marido a encontrava. |
20 |
--Donde vens, ó mulher minha, donde vens tão asseiada? |
|
--Venho d` ouvir missa nova, por Frei João foi cantada! |
22 |
--Que missa nova era essa, que nem o sino tocava? |
|
Passei agora por lá e a porta estava fechada! |
24 |
Toma lá uma facada, do lado duma costela, |
|
já não tornas a ouvir missa com o Frei João na cela! |
26 |
Toma lá outra facada, do lado do coração: |
|
já não tornas a ouvir missa na cela do Frei João! |
|
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
28 |
--Não se me dá de morrer, que eu para morrer nasci. |
|
Só se me dá Frei João ficar no mundo sem mim!-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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0309:6 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6815)
Versión de Rebordainhos (c. Bragança, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Recogida 00/09/1874 Publicada en Leite de Vasconcellos 1881, 9-11. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 83-85; Leite de Vasconcellos 1938, 956-957; Leite de Vasconcellos 1958-1960, 468-469 e Redol 1964, 443-444 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 855, pp. 78-79. © Fundação Calouste Gulbenkian. 056 hemist. Música registrada. |
|
|
--Abre-me a porta, Maria, Maria, linda casada. |
2 |
--Como te hei-de abrir a porta, ó Frei João da minha alma, |
|
se meu niño tenho nos braços, meu marido à ilharga? |
4 |
--Teu niño deita-o no berço, teu marido acorda-o, |
|
para que vá à caça,[. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
6 |
pois não há melhor coelho do que é o da madrugada.-- |
|
Estando eis nestas razões, o seu marido acordara. |
8 |
--Quem é esse, mulher minha, que contigo falava? |
|
--É a filha da forneira que pergunta se amassava; |
10 |
se amassasse pão-de-ló, que lhe deite pouca água, |
|
e que guardasse uma bôla daquele que mais levedava. |
12 |
Levanta-te, ó meu marido, chama os perros, vai à caça, |
|
que não há melhor coelho do que é o da madrugada.-- |
14 |
Desde que o homem saiu Mariquinhas se asseava: |
|
vestiu vestidos de seda, calçou sapatos de prata; |
16 |
cobriu mantinha de seda, que pelo chão lhe arrastava. |
|
Foi à porta do convento, por Frei João procurava. |
18 |
Ele, desde que a viu, não corria, que saltava; |
|
dava saltos como corça, caminhava como cabra. |
20 |
Pegara-lhe pela mão, p`r`à sua cela a levava; |
|
dava-lhe pão-de-ló, cachinhos de marmelada. |
22 |
À sua volta p`ra casa, co` o marido se encontrava. |
|
--Donde vens, ó mulher minha, que vens tão asseada? |
24 |
--Venho de ouvir missa nova, que Frei João a rezava. |
|
--Confessa-te, ó mulher minha, que te não tornas a ver |
26 |
nos braços de Frei João [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
|
--Eu não temo a morte, não tenho medo de morrer, |
28 |
só tenho pena dos filhos que outra mãe não vão a ter. |
|
--Tiveras tu lealdade a quem a devias ter!-- |
| |
Variantes: 7a omite eis (1881); 10a amassava (1881); 11a guarde (1881 e 1938); 17b procurara (1881 e 1938); 21b e marmelada (1881 e 1938); 28b me vão a ter (1881 e 1938).
Título original: Frei João (á-a).
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0309:7 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6816)
Versión de Parada de Infanções (c. Bragança, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Recogida 00/09/1902 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 469.. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 856, pp. 79-80. © Fundação Calouste Gulbenkian. 040 hemist. Música registrada. |
|
|
Eu peguei no meu roupão, apanhei a minha espada, |
2 |
à porta de Mariquita fui fazê` la madrugada. |
|
--Abre-me a porta, Marília, Marília, linda, casada. |
4 |
--Como t` hei-d` abrir a porta, ó Frei João da minha alma, |
|
s` o niño tenho nos braços, o meu marido à ilharga? |
6 |
--Com quem falas, Mariquita, a quem dás a tua fala? |
|
--Dou-a à filha da forneira, que vem a ver s` amassava.-- |
8 |
Levanta-t` ó meu marido, chama os perros, vai-te à caça, |
|
que não há melhor coelho do que é o da madrugada. |
10 |
O marido s` alevantou e ela mui bem s` asseava; |
|
foi à porta do convento, por Frei João precurava. |
12 |
Frei João, dês que viu isto, não corria que saltava; |
|
dava saltos como lebre, dava `spirros como cabra. |
14 |
Pegara-le pela mão, p`ra sua casa a levara; |
|
dara-l` a comer pão leve, caixinhas de marmelada; |
16 |
dês que se fartara dela, p`ra sua casa a levara. |
|
Lá no meio do caminho, seu marido incontrara: |
18 |
--Donde vens, ó Mariquita, donde vens tão asseada? |
|
--Venho d` ouvir missa nova, que Frei João a rezara. |
20 |
--A missa que tu ouviste, ela te será bem paga!-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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0309:8 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6817)
Versión de Bragança s. l. (dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Recogida por Pe. Francisco Manuel Alves (abade de Baçal), hacia 1902 (fecha deducida) y publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 470. Reeditada en Marques 1985, 647 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 857, pp. 80. © Fundação Calouste Gulbenkian. 032 hemist. Música registrada. |
|
|
Bem madrugava Frei João, uma manhã de segada, |
2 |
à porta duma morena, morena linda, casada. |
|
--Abre-m` a porta, morena, morena linda, casada. |
4 |
--Como-t` hei-de abrir a porta, Frei João da minha alma? |
|
Meu menino tenho nos braços, meu marido `stá na cama. |
6 |
--Teu menino deita-o no berço, manda o marido à caça.-- |
|
--Levanta-te, ó meu marido, levanta-te e vai à caça, |
8 |
não há melhor coelho que o da fresca madrugada.-- |
|
Levantou-se seu marido a passear p`la sala. |
10 |
Quando o marido saiu, já ela se levantava; |
|
direita às portas do convento, não corria que voava. |
12 |
Saíra do convento, seu marido já ali `stava. |
|
--Donde vens, ó minha esposa, que vens tão asseada? |
14 |
--Venho d` ouvir missa nova, que Frei João a rezava.-- |
|
Levou-a por sua mão, levou-a p`ra sua casa: |
16 |
--A missa de Frei João `inda t` há-de ser bem paga.-- |
| |
Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos Marques 1985, por ter corrigido Leite de Vasconcellos 1958-1960, a partir dos manuscritos do Abade de Baçal. Título original: Frei João (á-a).
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0309:9 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6818)
Versión de Maçores (c. Bragança, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Recogida 00/00/1905 Publicada en Tavares (1905-1908) 107; Tavares 1906, 288-289 y RGP III 1909, (reed. facs. 1985) 519. Reeditada en Damião 1997, 67-68 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 858, pp. 80-81. © Fundação Calouste Gulbenkian. 056 hemist. Música registrada. |
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Frei João se levantara um dia de madrugada: |
2 |
foi às portas de Maria tocando numa guitarra. |
|
--Abre a porta, Maria, abre-me as portas, coitada! |
4 |
--Como te hei-de abrir as portas, se eu já sou mulher casada? |
|
Como te hei-de abrir as portas! Ai de mim, triste e coitada! |
6 |
Tenho meus filhos ao colo, meu marido está na cama!-- |
|
Levantou-se seu marido, foi para a sua caçada; |
8 |
Assim que se o homem fora, logo se ela asseara. |
|
Calça sua meia fina, sua chinela dourada; |
10 |
suas ligas de seda, que até perna lhe estalara. |
|
Frei João, quando a viu, não corria, que saltava; |
12 |
pegou-lhe da sua mão, p`r`à sua cela a levara. |
|
Lá lhe dava pão leve, doces e marmelada; |
14 |
também lhe dava vinho, do que ela muito gostava. |
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Depois que se enfadou dela, mandou-a p`ra sua casa; |
16 |
lá no meio do caminho seu marido encontrara. |
|
--Donde vens, minha mulher, donde vens tão asseada? |
18 |
--Venho d` ouvir missa nova, que Frei João a cantara. |
|
--Anda cá, minha mulher, anda comigo para casa; |
20 |
a missa de Frei João há-de te sair amargada! |
|
--Eu não me temo da morte, todos hemos de morrer; |
22 |
só me temo de meus filhos que outra mãe não podem ter! |
|
--Se tu fosses boa mãe, como devias de ser, |
24 |
tu guardavas lealdade a quem a havias de ter! |
|
Lá te vai, minha mulher, direita ao coração; |
26 |
p`ra te não tornar a ver nos braços de Frei João!-- |
|
Passados alguns dias, lá p`r`às bandas de Espanha, |
28 |
morrera o Frei João com pena da sua mana! |
| |
Variantes de Tavares (1906): -1a levantava; -3aAbre-me as portas; -6ano colo; entre -6 e -7 --Teus filhos deita-os na cama, / teu marido que vá à caça, // que não há melhor coelho / que é o da madrugada; -8aEm se o homem fora; -8b asseava; -12blevava; -16bencontrava; -18bcantava; -22ados meus filhos; -24aguardaras; -28amorreu. Nota: RGP III 1909, (reed. facs. 1985) edita apenas quatro hemistíquios. Título original: Frei João (á-a).
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0309:10 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6819)
Versión de Miranda do Douro (c. Miranda do Douro, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Recogida por Pe. Francisco Manuel Alves (abade de Baçal), publicada en Alves 1938, (reed. facs. 1979) 570-571. Reeditada en Redol 1964, 446-447 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 859, pp. 81-82. © Fundação Calouste Gulbenkian. 054 hemist. Música registrada. |
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|
Frei João se levantou numa manhã de geada, |
2 |
foi à porta duma morena tocando numa guitarra: |
|
--Abre-me a porta Marelda, que estou com os pés na geada. |
4 |
--Como te abrirei a porta, ó Frei João da minha alma, |
|
tenho um menino nos braços e meu marido na cama; |
6 |
tenho uma filhinha palrona, tudo quanto sabe palra; |
|
tenho uma perra raivosa, quando sente logo ladra; |
8 |
tenho uma porta de vidro, quando se abre logo estala. |
|
--Se tu queres, ó morena, para tudo há manha: |
10 |
a essa perra raivosa dá-se-lhe uma rabanada; |
|
a essa filha palrona promete-se-lhe uma saia; |
12 |
a essa porta de vidro deita-se-lhe uma jarra d` água.-- |
|
--Levanta-te, ó marido, chama os cães e vai à caça, |
14 |
que não há melhor coelho que o que vem de madrugada.-- |
|
Quando ia no cimo da escada ela muito se asseava; |
16 |
foi à porta do convento, Frei João chamava. |
|
Frei João, que o soube, não fugia que saltava, |
18 |
à saída do convento com o marido se encontrava. |
|
--De onde vens, ó mulher, de onde vens tão asseada? |
20 |
Trazes saia de seda e mantilha da Holanda; |
|
trazes sapatos de ouro e meia amerinada! |
22 |
--Venho de ouvir missa, que Frei João a celebrava. |
|
--A missa de Frei João te será bem paga: |
24 |
lá te vai uma punhalada que te chegue ao coração, |
|
por não te voltar a ver nos braços de Frei João. |
26 |
--Não me custa que me mates, isso de ti já eu esperava, |
|
custa-me deixar Frei João, Frei João da minha alma.-- |
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0309:11 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6820)
Versión de Vimioso (c. Vimioso, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Documentada en o antes de 1906. Publicada en Tavares 1906, 314-315. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 860, pp. 82-83. © Fundação Calouste Gulbenkian. 046 hemist. Música registrada. |
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|
--Abre-me a porta, morena, morena linda, casada! |
2 |
--Como te hei-de abrir a porta, ó Frei João da minha alma? |
|
Tenho meus filhos nos braços e meu marido à ilharga! |
4 |
--Com quem falas tu, mulher, com quem dás as tuas falas? |
|
--É a filha da forneira que vinha a ver se amassava; |
6 |
que amassasse pão-de-ló, que lhe deitasse pouca água. |
|
--Levanta-te, ó mulher minha, vai aviar a tua casa; |
8 |
duas filhas que tu tens, elas serão bem mandadas: |
|
uma vai acender o lume, outra vai a buscar água; |
10 |
para mais aviamento, eu te barrarei a casa! |
|
--Alevanta-te, ó meu marido, chama os cães e vai à caça; |
12 |
não há melhor coelho que é o da madrugada!-- |
|
Dês que seu marido saíra, asseou-se muito asseada; |
14 |
foi à porta do convento, por Frei João perguntara, |
|
agarrou-a pela mão, à sua cama a levava. |
16 |
Lá lhe dera pão-de-ló e bocados de marmelada. |
|
Fez dela o que quiso, p`ra sua casa a mandara. |
18 |
lá no meio do caminho seu marido encontrara. |
|
--Donde vens, ó mulher minha, donde vens tão asseada? |
20 |
--Venho de ouvir missa nova que Frei João a rezara. |
|
--A missa que tu ouviste, ela te será bem paga; |
22 |
toma lá esta adagada, que te chegue ao coração, |
|
não te tornes a ver nos braços de Frei João!-- |
| |
Variante:16b e queijinhos de marmelada. Título original: Frei João (á-a).
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0309:12 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6821)
Versión de Vinhais (c. Vinhais, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Recogida por Pe. José Firmino da Silva, 00/00/1904 publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 467-468. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 861, pp. 83-84. © Fundação Calouste Gulbenkian. 050 hemist. Música registrada. |
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|
Bem madruga Frei João, pela manhã d` alvorada, |
2 |
à porta da moreninha, morena linda, casada. |
|
--Abre-me as portas, morena, morena linda, casada. |
4 |
--Como tas hei-de eu abrir, Frei João da minha alma, |
|
se o niño tenho nos braços e o marido à ilharga? |
6 |
--O niño deita-o no berço, o marido manda-o à caça, |
|
que não há melhor coelho que o que vem de madrugada.-- |
8 |
--Levanta-te, meu marido, chama perros, vai à caça, |
|
que não há melhor coelho que o que vem de madrugada.-- |
10 |
Dês` que o marido se foi, muito bem se asseara, |
|
para as portas do convento muito bem que caminhara. |
12 |
Quando ela lá chegou já Frei João a esperava; |
|
pegou nela em seus braços, para a sua cela a levava. |
14 |
Logo lhe deu a comer pão trigo e marmelada; |
|
também lhe deu a beber do vinho que a ordem dava. |
16 |
pegou nela em seus braços, para a sua cama a levava; |
|
com a força de brincar, até a cela abanava. |
18 |
Quando ia para sua casa, seu marido a encontrava. |
|
--Donde vens, ó mulher minha, donde vens tão asseada? |
20 |
--Venho d` ouvir missa nova, que Frei João a rezava. |
|
--Pois que missa era essa que ele os sinos não tocara? |
22 |
Donde vens, ó mulher minha, donde vens, ó malvada? |
|
--Venho de ouvir missa nova, que Frei João a cantara. |
24 |
--Toma uma punhalada que te chegue ao coração; |
|
para não ires ouvir mais missas de Frei João.-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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0309:13 Devota de un fraile (á-a) (ficha no.: 6822)
Versión de Vinhais (c. Vinhais, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Documentada en o antes de 1938. Publicada en Martins 1938, (y Martins 1987) 27-28. Reeditada en Redol 1964, 351-352 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 862, p. 84. © Fundação Calouste Gulbenkian. 040 hemist. Música registrada. |
|
|
--Abre-me a porta, morena, morena linda, casada! |
2 |
--Como ta eu abrirei, ó Dom Luís da minha alma? |
|
Menino tenho nos braços, meu marido à ilharga; |
4 |
tenho uma porta que roja e uma cadela que ladra? |
|
--À cadela dá-lhe pão e à porta deita-lhe água, |
6 |
menino deita-o no berço, marido manda-o à caça, |
|
não há melhor coelho do que é o da madrugada.-- |
8 |
Estando nestas razões, seu marido recordava. |
|
--Com que é, ó moreninha, com quem é essa batalha? |
10 |
--Com a moça da forneira que veio ver se eu amassava; |
|
se amassava pão centeio, que lhe deite pouca água, |
12 |
se amassava pão-de-ló que lhe deite a costumada. |
|
Levanta-te, meu marido, levanta-te, vai à caça, |
14 |
não há melhor coelho do que é o da madrugada.-- |
|
Ainda o marido ali estava, muito bem se penteava, |
16 |
para casa de Dom João não fugia que voava. |
|
--Donde vens, ó moreninha, donde vens tão alveada? |
18 |
--Venho de ouvir missa nova que Frei João a cantava. |
|
--Pois aí te vai essa adagada que te chega `ó coração, |
20 |
para te não tornares a ver nos braços de Dom João.-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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0309:14 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6823)
Versión de Cidadelhe (c. Mesão Frio, dist. Vila Real, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Documentada en o antes de 1902. Publicada en Gonçalves Pereira 1902, (reed. 1982) 160. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 863, pp. 85-86. © Fundação Calouste Gulbenkian. 088 hemist. Música registrada. |
|
|
--Ó Morena, ó Moreninha, ó Morena mal fadada, |
2 |
se me não abres a porta, não és Morena nem nada. |
|
--Como te hei-de abrir a porta Frei João da minha alma, |
4 |
tenho meus filhos ao peito, meu marido à ilharga? |
|
--Teus filhos deita no berço, teu marido ressonava.-- |
6 |
O marido acordou com as falas que ela dava. |
|
--Tu que tens, ó mulher minha, a quem dás as tuas falas? |
8 |
--É à moça da padeira que ela vai para a massada. |
|
--Que me faça pão de leite, que lhe bote pouca agua, |
10 |
que me faça unia bôla, basta que não seja rala. |
|
--Levanta-te meu marido, vai fazer uma caçada, |
12 |
não há coelho melhor que é o da fresca madrugada.-- |
|
Ela que o viu sair, ela toda se arranjava, |
14 |
pegou no seu pente seu cabelo penteava, |
|
pegou nos seus ganchinhos seu cabelo enganchava, |
16 |
pegou na sua mantinha até aos pés se asseava. |
|
Olha a triste moreninha [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
18 |
à porta de Frei João moreninha batucava. |
|
Ele que a pressentiu, [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
20 |
saltos que nem uma lebre, berros que nem uma cabra, |
|
deu-lhe beijos e abraços daquilo que ela gostava, |
22 |
deu-lhe daquele bom mel, daquela boa marmelada, |
|
já se ia enchendo dela, mandou-a para sua casa. |
24 |
Chegou ao meio do caminho, seu marido encontrava. |
|
--Donde vindes mulher minha, que vindes tão asseada? |
26 |
--Venho de ouvir missa nova, Frei João a cantava. |
|
--Oh que missa era ela que nem os sinos tocavam, |
28 |
ainda agora lá passei as portas fechadas estavam. |
|
--Cala-te lá meu cornepinho, amorzinho da minha alma, |
30 |
que a missa de Frei João, é de portinha cerrada. |
|
--Tu que tens mulher minha, que tanto mudas de cor, |
32 |
ou tu me temes a morte ou tu tens outro amor? |
|
--Eu a morte não na temo, que eu dela hei de morrer, |
34 |
tenho pena de meus filhos que outra não virão a ter. |
|
--Se tu foras uma mãe como devias de ser, |
36 |
olhavas por teus filhos, Frei João não ias ver. |
|
Pega lá esta facada, dada do meu coração, |
38 |
não te tornas a gozar dos abraços de Frei João.-- |
|
Ao cabo de nove meses, Frei João a procurava. |
40 |
--Qu` é de triste Moreninha, qu` é da triste desgraçada, |
|
qu` é da triste Moreninha que nesta rua morava? |
42 |
--A Moreninha morreu, morreu está na sepultura, |
|
a morte da Moreninha brevemente será a sua. |
44 |
Pega lá esta facada, pega lá que ta dou eu, |
|
não te tornas a gozar d` amorzinho que foi meu.-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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0309:15 Devota de un fraile (á-a+estróf.) (ficha no.: 6824)
Versión de Alvações do Corgo (c. Santa Marta de Penaguião, dist. Vila Real, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).
Recitada por una señora de edad. Recogida 00/00/1902 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 466-467. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 864, pp. 86-87. © Fundação Calouste Gulbenkian. 078 hemist. Música registrada. |
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|
--Abre-me a porta, Morena, moreninha malfadada, |
2 |
Se me não abres a porta, não és Morena nem nada. |
|
--Como t` hei-d` abrir a porta, ó Frei João da minha alma? |
4 |
Tenho menino ao peito, maridinho à ilharga. |
|
--Menino deita-o no berço, maridinho ressonava. |
6 |
Acordou seu marido, com as falas qu` ela dava. |
|
--Tu que tens, ó mulher minha? A quem dá` las tuas falas? |
8 |
--À mocinha da padeira, qu` ela vai para a massada: |
|
que nos faça o pão de leite, que lhe bote pouca água; |
10 |
que nos faça uma bola da basta, que não da rala. |
|
Levanta-te, ó meu marido, vai fazer tua caçada, |
12 |
que não há melhor coelho, qu` o da fresca madrugada.-- |
|
Marido s` alevantou, p`r`à caçada caminhava. |
14 |
Ela toda s` arrai`ava, p`ra Frei João caminhava. |
|
Dava salto como uma lebre, pulo que nem uma cabra. |
16 |
Q`ando chegou ao convento, por Frei João perguntava. |
|
Frei João, assim que a viu, deixou de correr, saltava; |
18 |
pola mão lhe veu pegar, p`r`à sua cela a levava: |
|
ia-lhe dando bom doce, daquele qu` ela gostava; |
20 |
também lhe dava bom vinho, daquele que a ordem dava. |
|
A bem se não encheu dela, p`ra sua casa a mandava. |
22 |
Lá no meio do caminho seu marido encontrava. |
|
--Donde vens, minha mulher, que tu vens tão arraiada? |
24 |
--Venho d` ouvir missa nova, que Frei João a cantava. |
|
--Que missa nova é essa, que nem os sinos tocava? |
26 |
--Ó marido, meu marido, maridinho da minha alma, |
|
a missa de Frei João é dita à porta çarrada. |
28 |
--Tu que tens, minha mulher, que tanto mudas de cor? |
|
ou tu temes a morte, ou tu tens outro amor. |
30 |
--Eu a morte não ta temo, qu` eu dela hei-de morrer: |
|
tenho dor dos meus meninos, qu` outra mãe não vêm a ter! |
32 |
--Se tu foras boa mãe, como devias de ser, |
|
cuidavas nos teus meninos, Frei João não ias ver. |
34 |
Toma lá esta facada, dada do meu coração, |
|
que te não tornas a ver em braços de Frei João.-- |
36 |
Ao cabo de nove dias Frei João a procurava: |
|
--A minha amada Morena que nesta terra morava? |
38 |
--A sua amada Morena já lá `stá na sepultura; |
|
a morte qu` ela teve brevemente será sua.-- |
| |
Título original: Frei João (á-a).
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