0440:4 Bodas de sangre (á-e) (ficha no.: 5892)
Versión de Marruecos s. l. (Marruecos). Recogida por Antonio Bustelo, (Colec.: Bustelo, A.). Publicada en Ortega 1919, pp. 258-259 (notación musical: p. 258). 072 hemist. Música registrada. |
Un hijito la princesa, un hijito carenale, | |
2 | por darle del buen dotrino con el rey lo puso page, |
que si el rey lo quiere mucho, la reina mucho y de mades; | |
4 | que si el rey le da el vestido, la reina le dá el calzare; |
que si el rey le dá la mula, la reina en que cabalgare; | |
6 | que si el rey le da las armas, la reina le da puñales. |
Y la gente por envidia, metido le ha en male, | |
8 | que le vieron con la reina, en sus palacios solare. |
Mandóle matar el rey, y el alma no la tocare. | |
10 | Mandóle sacar los ojos por que pierda el bien mirare. |
Mandóle a cortar la lengua por que pierda el bien hablare. | |
12 | Mandóle a cortar las manos porque pierda el bien notare. |
Mandóle a cortar los pies por que pierda el cabalgare. | |
14 | Y mandóle a poner a moscas y a gavilanes. |
Acabó de todo eso un pregón mandara a echare: | |
16 | --Ninguno le dé del vino, y ninguno le dé del pane; |
nadie que le tire moscas, de la su hermosa face. | |
18 | --Si estuviese aquí alguno, que se aguale de mi male, |
que me leve estas cartas a la princesa mi madre.-- | |
20 | Ahí estaba un pagecito, que a su mesa comió pane. |
--Yo las llevaré, el buen conde, yo la tengo que llevare. | |
22 | Camino de quince días en ocho lo haré andaré. |
El día por el charcal y la noche por el lunare.-- | |
24 | Alzó las cartas el page, y empezar a caminare. |
--Toméis princesa, estas cartas de tu hijo carenale.-- | |
26 | Princesa leyó las cartas en un desmayo se cae; |
cuando volvió del desmayo, demandó de cavalgare. | |
28 | Por donde estaba su hijo, por ahí la vino a pasare. |
--¡Oy, válgame Dios del cielo!, lo que yo vine a mirare.-- | |
30 | Y metió mano a su bolsa limosna le fuera a dare. |
--No quiero vuestra limosna, ni vos la quiero tornare. | |
32 | Vuestro hijo soy, princesa, vuestro hijo corónale.-- |
Con su espada desvainada a cortes de rey entrare. | |
34 | --¿Qué te habrá hecho mi hijo, que ese castigo le dates?-- |
La cabeza entre los hombros al suelo se la arronllare. | |
36 | A él le puso por rey y ella acomandare. |
Nota: Véase Katz 1981-1982 (ficha bibliográfica nº 1896) para las transcripciones musicales de Antonio Bustelo, reconstruída la relación que faltaba entre texto y música en la publicación de Ortega. |
0440:10 Bodas de sangre (á-e) (ficha no.: 8823)
Versión de Tetuán (Marruecos). Recogida por Arcadio de Larrea Palacín, entre 1950-1952 (Colec.: Larrea Palacín). Publicada en Larrea Palacín 1952b, II, pp.100-101 [T. 190]. 046 hemist. Música registrada. |
Un hijito la princesa, un hijito caronale, | |
2 | por darle del buen dotrino con el rey le metió a paje. |
Si el rey le da el vestir, la reina le da el calzar; | |
4 | si el rey le da del vino, la reina le da del pan; |
si el rey lo quiere mucho, la reina mucho y demás, | |
6 | y la gente por envidia con el rey le metió male, |
que le han visto con la reina en sus palacios leales. | |
8 | Mandóle a cortar los pies para que pierda el buen andare; |
mandóle a cortar las manos para que pierda el buen tocare; | |
10 | mandóle a cortar la lengua para que pierda el bien hablare; |
mandóle a poner el rey a cuervos y a gavilanes. | |
12 | Por ahí pasó un pajecito que de él se amanziare: |
--Por tu vida, el pajecito, lleva esta carta a mi madre | |
14 | y dile que su hijito, no volverá a mirarle.-- |
Por ahí pasó una señora que de él se adolorare; | |
16 | metió mano a su bolsa y limosna le fue a daré. |
--No quiero vuestra limosna, ni vos la quiero tomare; | |
18 | vuestro hijito, soy, princesa, vuestro hijito caronale, |
que la gente por envidia con el rey me metió a male, | |
20 | que me han visto con la reina en sus palacios reales.-- |
Fuérase para los palacios donde el buen rey gobernare | |
22 | la cabeza entre los hombros al suelo se la arrojare. |
Otro día, en la mañana, la princesa gobernare. |
Título original: El huérfano. Correspondencias: M.P. 122, IDEA (Instit. de Estudios Africanos, C.S.I.C.), 720. |
0440:1 Bodas de sangre (á) (ficha no.: 2656)
Versión de S. Jorge s. l. (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal). Documentada en o antes de 1869. (Colec.: Teixeira Soares de Sousa, J.). Publicada en Braga 1869, 249-253 (y Braga 1982, 26). Reeditada en Soares de Sousa 1902,305-309; RGP I 1906, (reed. facs. 1982) 341-345; Cortes-Rodrigues 1987, 190-193; Carinhas 1995, II. 16-17 y Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 116-117, H9 ; RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 306, pp. 479-481. 118 hemist. Música registrada. |
A condessa teve um filho, teve um só, não teve mais; | |
2 | foram oferecer ao rei p`ra saber e valer mais. |
Se o rei muito lhe queria, a rainha muito mais. | |
4 | El-rei dava o bom vestido, a rainha o bom calçado; |
mandavam-no passear com cavaleiros fidalgos. | |
6 | Os vassalos, com inveja, ao rei foram-no acusar, |
que ele estava e a rainha debaixo de um laranjal: | |
8 | ele em gibão de linho, ela em rico saial. |
--Corre, corre, cavaleiro, anda, vai-mo apanhar; | |
10 | logo que chegar aqui, quero-o mandar castigar.-- |
Mandou-lhe tirar as pernas para lhe quitar seu andar; | |
12 | mandou-lhe tirar os olhos para mais não a mirar; |
mandou-lhe tirar a língua para perder seu falar; | |
14 | mandou-lhe tirar os braços para mais não abraçar. |
Nem os olhos nem a língua, não lhos quiseram tirar. | |
16 | Mandou-o deitar na praça para ir a apedrejar. |
--Passasse um anjo do céu, novas a minha mãe levasse! | |
18 | Se não tivesse papel, sobre as asas lhas levasse.-- |
Passara um anjo do céu voando pelo seu ar. | |
20 | --Ó moço, dá-me uma carta, que ta quero ir levar; |
jornada é de outo dias, hoje lha vou entregar.-- | |
22 | Chega a casa da condessa, ela o mandou entrar; |
mandou-lhe deitar cadeira p`ra com ele conversar. | |
24 | --Não quero sua cadeira, que me não venho assentar; |
trago-vos novas, senhora, bem custosas de vir dar. | |
26 | --Que fará a quem as ouve, se são caras de contar! |
--Trago-vos novas, senhora, seu filho quer-se casar. | |
28 | --Diga-me o senhor menino que tal é a qualidade: |
se é filha de algum duque ou de rei de Portugal. | |
30 | --Pois não é filha de duque nem de rei de Portugal; |
é filha de um carniceiro, neta de um que talha carne.-- | |
32 | Logo cobriu seu manto, começou de caminhar; |
criados que vão com ela não a podem alcançar. | |
34 | Quando lá chegou à praça aquele vulto viu estar; |
meteu a mão no seu manto para uma esmola lhe dar. | |
36 | --Não quero vossa esmola, que lhe não posso pegar; |
dai-me a vossa mão direita, que vo-la quero beijar. | |
38 | Ó meu filho, ó meu filho, quem vos fez tamanho mal? |
--Foram os vassalos do rei que me foram acusar: | |
40 | que eu estava mais a rainha debaixo de um laranjal, |
eu em castelo branco, ela em rico saial. | |
42 | --Ó meu filho, ó meu filho, tua morte vou vingar.-- |
Fôra-se a casa do rei, ele a mandara entrar; | |
44 | mandara-lhe pôr cadeira p`ra com ela conversar. |
--Senhor rei, que é do meu filho, que eu o venho visitar? | |
46 | --O seu filho é na caça, é na caça, foi caçar.-- |
Botou seu manto p`ra trás, que queria desabafar. | |
48 | --Não me sofre o coração que não torne a perguntar: |
senhor rei, que é do meu filho, que o quero abraçar? | |
50 | --O seu filho é na caça, aqui não pode tardar; |
do meio-dia para a uma ele aqui há-de ficar. | |
52 | --Não me sofre o coração que não torne a perguntar: |
senhor rei, que é do meu filho, que o venho visitar?-- | |
54 | Que caça tão rigorosa, tão custosa de apanhar! |
Puxara do seu punhal, logo ali o matara. | |
56 | --Ali te fica, rainha, manda-o agora enterrar; |
também te fica meu filho para com ele casares. | |
58 | Fica-te embora, meu filho, tua morte está vingada, |
que eu vou corrida da morte, da justiça arreada.-- |
Título original: BODAS DE SANGUE (Á) (=SGA H26) En RºPortTOM 2000, vol. 1: O Órfão. |
0440:2 Bodas de sangre (á) (ficha no.: 4412)
Versión de Toledo (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal). Recitada por Isabel Oliveira Bettencourt (72a). Recogida por Manuel da Costa Fontes y Maria-João Câmara Fontes, 25/07/1977 (Archivo: ASF; Colec.: Fontes SJ 1977). Publicada en F.E.R. L-B. S. Jorge 1983 , nº 17, pp. 15-16 (M. Costa Fontes). 050 hemist. Música registrada. |
A condessa teve um filho, e o filho seu não tinha mais, | |
2 | Foi-o levar ao palácio p`ra ele valer muito mais. |
O rei deu-le seu cavalo, a rainha sua espada, | |
4 | e o mandaram para a caça c` os vassalos a passear. |
A ele foram acusar qu` estava no laranjal | |
6 | com a prinesa em braços: [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] |
ela em mangas de seda e ele num rico brial. | |
8 | O rei, assim que tal soube, o mandou logo matar. |
Le mandou cortar os braços p`ra i-ele não a abraçar; | |
10 | le mandou cortar os beiços p`ra i-ele não beijar; |
lle mandou cortar os olhos p`ra i-ele não mirar, | |
12 | e o mandou deitar no campo para ele ali acabar. |
--Meu rico filho João, quem te veio aqui botar? | |
14 | --Foram os vassalos do rei que a mim foram acusar, |
:que eu estava no laranjal com a princesa em braços: | |
16 | ela em manga de seda e eu no rico brial. |
O rei, assim que tal soube, mandou-o logo matar. | |
18 | --Dá-me cá a tua azaga, tua morte vou vingar.-- |
Chegando ao palácio, por ele logo perguntara: | |
20 | :--Qu` é do meu filho João, que o vim aqui botar? |
--O vosso filho João foi à caça à caça não tardará. | |
22 | --Não torno a perguntar pelo meu filho João, |
[. . . . . . . . . . . . . . . . . . .] qu` eu aqui o vim botar. | |
24 | --O vosso filho João foi à caça à caça não tardará. |
--Adeus, meu filho João, tua morte está vingada, | |
26 | e eu também já me cà vou co`a minha bem arrepiada.-- |
0440:3 Bodas de sangre (á+á-a) (ficha no.: 4413)
Versión de Beira (freg. Beira, isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal). Recitada por Maria Augusta Barcelos (75a). Recogida por Manuel da Costa Fontes y Maria-João Câmara Fontes, 22/07/1977 (Archivo: ASF; Colec.: Fontes SJ 1977). Publicada en F.E.R. L-B. S. Jorge 1983 , nº 16, pp. 14-15 (M. Costa Fontes). 108 hemist. Música registrada. |
A condessa teve um filho, teve um e nã teve mais, | |
2 | e oferecera-o ao rei por saber e valer mais. |
Dava-lhe da melhor carne, da melhor que aguardava; | |
4 | dava-lhe do melhor vinho, da melhor que aguardava; |
dava-lhe do melhor pão, da melhor que aguardava. | |
6 | Ao cabo de sete i-anos já sabia jogar arma. |
Os vassalos com inveja, do rei, o acusaram | |
8 | qu` estava mais a princesa debaixo do laranjal: |
ela em meia de seda e ele no fino cordal. | |
10 | Mandou-lhe tirar os olhos, qu` era com qu` ele a mirava; |
mandou-lhe tirar os beiços, qu` era com qu` ele a beijava; | |
12 | mandou-lhe tirar os braços, qu` era com qu` ele a abraçava; |
mandava-o pôr na praça, que o corressem à pedrada. | |
14 | --Já não há um cavaleiro que nada queira ganhar, |
:que vá levar estas cartas à condessa minha amada. | |
16 | que lhe dissesse mentiras, não lhe dissesse verdade? |
--Dá-me cá vós essas cartas, vo-las quero ir lovar; | |
18 | s` é jornada d` oito dias nu~` hora a quero passar.-- |
Ele à porta a bater, eles à mesa a jantar. | |
20 | :--Tomai lá vós estas cartas, començai-as de passar; |
vosso filho é casado para o ires visitar. | |
22 | --O meu filho é casado? Essa nova me viesse! |
Ele ou é com mulher linda ou rica, tem bem dinheiro. | |
24 | --Não é com mulher linda, nem rica, nem tem dinherio; |
é filha dum talha carne e é neta dum carniceiro.-- | |
26 | Senhora, que tal ouviu, começou de caminhar. |
Chegara ao meio da praça, aquele pobre viu estar. | |
28 | Meteu sua mão no manto para esmola lhe dar: |
--Não quero vossa esmola, não a posso aceitar; | |
30 | quero vossa mão direita, qu` eu vo-la quero beijar. |
--Diz-me, filho da minh` alma, quem te fez tamanho mal? | |
32 | --Foi os vassalos do rei, qu` a do rei me acusaram, |
que eu estava mais a princesa dobaixo do laranjal, | |
34 | ela em meia de seda e eu no fino cordal. |
Mandou-me tirar os olhos, qu` era com qu` eu a mirava; | |
36 | mandou-me tirar os beiços, qu` era com qu` eu a beijava; |
mandou-me tirar os braços, qu` era com qu` eu a abraçava; | |
38 | mandara-me por aqui, que me corressem à pedrada. |
--Fica-t` embora, meu filho, tua açanha vou vingar.-- | |
40 | Chegara lá a palácio, cadeira p`ra se sentar. |
Deitou seu mannto p`ra trás p`ra seu corpo descansar. | |
42 | --Ó Dom rei, qu` há do meu filho, qu` eu o venho visitar? |
--Vosso filho foi à caça, aqui não pode tardar. | |
44 | :--Nã me sofre o coração qu` eu nã torne a preguntar: |
ó Dom rei, qu` há do meu filho, qu` eu o venho visitar? | |
46 | --Vosso filho foi à caça, aqui nã pode tardar. |
--Ó rei, empresta-me o cutelo, qu` eu to tornarei a dar; | |
48 | qu` eu quero desmanchar barras, barras qu` a minha mãe fez.-- |
Ela tão cruel que era no peito lo fancara. | |
50 | --Aí o tindes, rainha, manda-o agora enterrar, |
pois a morte do meu filho o rei m` havia pagar. | |
52 | Fica-t` embora, meu filho tua açanha vai vingada; |
eu vou corrida da morte, da justiça arrodeada. | |
54 | Minh` alma vai consolada de matar a quem queria.-- |
0440:8 Bodas de sangre (á+estróf.) (ficha no.: 6203)
Versión de S. Jorge s. l. (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal). Documentada en o antes de 1869. (Colec.: Teixeira Soares de Sousa, J.). Publicada en Braga 1869, (y Braga 1982), 253-256. Reeditada en Hardung 1887, I. 253-256; Soares de Sousa 1902, 310-313; RGP I 1906, (reed. facs. 1982) 345-348; Redol 1964, 299-300; Cortes-Rodrigues 1987, 207-209; Carinhas 1995, II. 17-18 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 307, pp. 481-482. © Fundação Calouste Gulbenkian. 101 hemist. Música no registrada. |
O marquês tinha três filhos, três filhos tinha o marquês, | |
2 | o rei os mandou chamar, cada um por sua vez. |
Do primeiro fez um Bispo, do outro fez seu barbeiro, | |
4 | Dom Pedro, por ser mais moço, ficou para dispenseiro, |
p`ra servir o rei à mesa, como triste maravilha. | |
6 | A princesa, que o viu, logo dele se agradou. |
Seu pai, assim que o soube, logo em cárcere o fechou, | |
8 | a rainha, que o soube, logo o mandou chamar: |
--Que fazes aqui, sobrinho, minha carne natural? | |
10 | --Estou preso por ter amores, com a princesa real.-- |
Puxara da sua manga, esmola para lhe dar. | |
12 | --Agradeço, minha tia, não posso esmola pegar, |
el-rei me quitou as mãos, para esmola não pegar, | |
14 | também me quitou os braços, para amores não abraçar, |
também me quitou a boca, para amores não falar, | |
16 | também me quitou os olhos, para amores não mirar. |
Diga lá a minha mãe, que me venha visitar, | |
18 | nos dias em que nós estamos, que é tempo de caminhar.-- |
Com seu mantinho no braço, sem o poder enfiar, | |
20 | sua viola na mão, para seu filho tocar. |
--Que fazeis aqui, meu filho, minha carne natural? | |
22 | --Estou preso por ter amores, com a princesa real.-- |
Puxara de sua manga, esmola para lhe dar. | |
24 | --Agradeço, senhora mãe, que não a posso aceitar, |
que o rei me quitou as mãos, para esmola não pegar, | |
26 | também me quitou os braços, para amor não abraçar, |
também me quitou a boca, para amores não falar, | |
28 | também me quitou os olhos, para amores não olhar. |
--Tomai esta viola, ide tocar um baixão! | |
30 | --Ó minha mãe tão cruel, tão dura do coração, |
seu filho para enforcar, manda tocar um baixão. | |
32 | [. . . . . . . . . . . .] Deus me dera um portador, |
que esta carta levara, à minha esposa Leonor. | |
34 | --Dá-me cá essas cartas, quero ser o portador.-- |
Fora-lhe bater à porta, mesa posta p`ra jantar. | |
36 | --Ó el-rei, que é do meu filho, com ele quero falar. |
--Teu filho foi para a caça, aqui não pode tardar. | |
38 | --Ó el-rei, que é do meu filho, com ele quero falar. |
--Valha-te Deus, mulher, mais o teu importunar, | |
40 | teu filho foi para a caça, aqui não pode tardar. |
--Que mal te fez o meu filho, para o mandares matar? | |
42 | --Já os linhos enflorecem, `stão os trigos em pendão, |
ajuntem-se as moças todas, no dia de Sam João, | |
44 | uns com cravos e rosas, outros com manjaricão, |
aqueles que o não tiverem, tragam-me um verde limão. | |
46 | --Vinde, vinde, minha filha, ouvir tão doce cantar, |
ou são anjinhos no céu, ou são sereias no mar. | |
48 | --Não são anjinhos no céu, nem são sereias no mar, |
--É o Dom Pedro Menino, que o senhor pai manda matar. | |
50 | --Se ele é Dom Pedro Menino, convosco venha reinar, |
tragam tinta e papel, convosco venha casar.-- |
Nota: No verso -24 do original figura possa; foi corrigido por se tratar de uma gralha. Título original: O Órfão. |
0440:9 Bodas de sangre (á+estróf.) (ficha no.: 6204)
[0078 El prisionero, contam.] Versión de S. Jorge s. l. (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal). Documentada en o antes de 1869. (Colec.: Teixeira Soares de Sousa, J.). Publicada en Braga 1869, (y Braga 1982), 257-259. Reeditada en Hardung 1887, I. 256-258; Soares de Sousa 1902, 314-317; RGP I 1906, (reed. facs. 1982) 348-350; Cortes-Rodrigues 1987, 210-212; Carinhas 1995, II. 18-19 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 308, pp. 482-483. © Fundação Calouste Gulbenkian. 074 hemist. Música no registrada. |
O marquês tinha três filhos, três filhos tinha o marquês, | |
2 | o rei os mandou pedir, cada um por sua vez. |
O mais velho p`r`ó vestir, o do meio p`r`ó calçar, | |
4 | o mais moço deles todos, para o rei barbear. |
A princesa, que tal soube, dele se quis namorar, | |
6 | o rei, que tal soubera, quisera-o mandar matar, |
manda-o meter numa torre, até ele ir degolar. | |
8 | Passava um caçador, a caçar caça real. |
--Que fazeis aqui, Dom Pedro, minha carne natural? | |
10 | --`Stou com sentença de forca, amanhã vou a matar, |
por uma fala de amor que à princesa qu`ria dar.-- | |
12 | Foi-se embora o caçador, a caçar caça real. |
--Eu trago notícias novas, as quais as não posso dar, | |
14 | vi vosso filho na forca, amanhã vai a matar. |
Ela, que ouviu aquilo, tratou já de caminhar. | |
16 | Suas aias e criadas, não a podem alcançar, |
os seus vestidos no braço, sem os poder enfiar. | |
18 | --Que fazeis aqui, meu filho, neste escuro hospital? |
--Estou com sentença de forca, amanhã vou a matar, | |
20 | por uma palavra de amor que à princesa queria dar. |
--Tomai lá nesta viola, tocai-me nela um baixão, | |
22 | como vosso pai tocava, no dia de Sam João. |
--Dai vós a Deus tal mulher, tão dura do coração, | |
24 | tem o filho para morrer, manda tocar um baixão. |
--"Ó dia, que eras um dia, ó dia de Sam João, | |
26 | quando todos os mancebos, com as suas damas vão, |
uns levam cravos e rosas, outros um manjaricão. | |
28 | Ai de mim, triste coitado, `stou nesta escura prisão, |
donde não vejo sair, o tão lindo claro sol."-- | |
30 | O rei, que ia passeando, cavalo mandou parar. |
--Que vozes do céu são estas, que eu aqui ouço cantar? | |
32 | Ou são os anjos no céu, ou as sereias no mar. |
--Não são os anjos no céu, nem as sereias do mar, | |
34 | é Dom Pedro Pequenino, que meu pai manda matar. |
Eu o queria por marido, se o pai mo quisera dar, | |
36 | --Chama à pressa o carcereiro, que à pressa o vá soltar, |
aí o tens por marido, Deus vo-lo deixe gozar.-- |
Título original: O Órfão. |
0440:5 Bodas de sangre (á+estróf.) (ficha no.: 6200)
[0101 No me entierren en sagrado, contam.] Versión de Faro s. l. (dist. Faro, Algarve, Portugal). Recogida por S. P. M. Estácio da Veiga, 00/00/1870 publicada en Veiga 1870, Romanceiro do Algarve, pp. 131-133. Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (reed. 198?) 303-305; RGP I 1906, (reed. facs. 1982) 281-283; Anastácio 1985, 173 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 303, pp. 474-475. © Fundação Calouste Gulbenkian. 060 hemist. Música no registrada. |
--Vosso pai, quando morreu, me deixou como penhor, | |
2 | que vos desse bom ensino e entregasse a bom senhor; |
entreguei-vos a el-rei, pois não acho outro melhor. | |
4 | Olhai, filho, que me dizem que vós fostes lo trédor, |
que enganastes la princesa filha d`el-rei, meu senhor. | |
6 | Receiai-vos do castigo, acolhei-vos, se tal for.-- |
Mancebo que tal ouviu, longes terras foi morar; | |
8 | a princesa que o não vira no seu palácio real, |
mandou selar um cavalo, pôs-se logo a caminhar. | |
10 | Chegara a uma terra longe, longe daquele lugar. |
--Mora aqui um cavaleiro? Esse é que eu venho buscar. | |
12 | --Um cavaleiro aqui mora, mas hoje foi a caçar.-- |
Palavras não eram ditas, ele que à porta chegava, | |
14 | olhava um para o outro, nem um nem outro falava; |
nos olhos bem se entendia o que um do outro cuidava! | |
16 | As lágrimas eram tantas que a terra já se banhava; |
os suspiros eram tais, que só de ouvi-los cortava. | |
18 | Ficara-se ela suspensa, ele imóvel se quedara! |
--A que vindes vós, senhora, que vindes buscar aqui? | |
20 | --Que me guardeis a palavra que vós me destes a mim, |
que me aceiteis por mulher, pois que por vós me perdi! | |
22 | --Mulher e filhos já tenho, não os posso abandonar; |
a mulher é muito é muito honesta, eu não a hei-de matar; | |
24 | os filhos são mui pequenos, hei mister de os bem criar.-- |
A princesa que isto ouviu, morta caiu para trás. | |
26 | --Que a soterrar hoje a levem ao mosteiro de San` Braz, |
num ataúde coberto com ricos panos de Arrás. | |
28 | Vinte padres a acompanham com tochas por cada lado, |
c` um letreiro à cabeceira em oiro fino esmaltado: | |
30 | "Quem morre de mal de amores, leva um mal desesperado!" |
Variante: -22b. não os posso desdeixar. Título original: O Órfão. |
0440:6 Bodas de sangre (á-o+á.) (ficha no.: 6201)
[0078 El prisionero and 0049 Conde Niño, contam.] Versión de S. Martinho (c. Funchal, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal). Recitada por Victória de Jesus. Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 78-81. Reeditada en RGP I 1906, (reed. facs. 1982) 321-324; Resende 1961, 323-326; Galhoz 1987-1988, 40-41; Carinhas 1995, II. 127-128) y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 304, pp. 475-476. © Fundação Calouste Gulbenkian. 096 hemist. Música no registrada. |
Morreu lo duque nas guerras, d` antigo tempo passado, | |
2 | dos quatro filhos varões, que tinham dele ficado, |
cada qual tev` um lugar, que por el-rei lhe foi dado. | |
4 | Ao filho mais velho deu seu real almirantado, |
ao filho segundo deu, um muito rico bispado, | |
6 | ao filho terceiro deu, la mordomia d` estado. |
Esguardou p`r`ó derradeiro, de Montalvão lo condado, | |
8 | este, por nino, ficou, pera ser d`el-rei criado, |
e era d`el-rei mui qu`rido, da infanta namorado, | |
10 | com ela passava horas, num campo bem inrelvado. |
Mas dum invejoso mau, foi est` amor espreitado, | |
12 | a el-rei, lo invejoso, tudo contou bem contado. |
E el-rei foi, e los viu, ele com el` abraçado, | |
14 | el` e ela se beijando, no campo bem inrelvado. |
--Prendam-me já aquel` homem, nã no deixem escapar, | |
16 | treidor de tamanha culpa, caro lo há-de pagar. |
Los saiões da minha corte, que se vão aparelhar, | |
18 | um frade, bom confessor, que lo vá já confessar, |
amanhã de manhãzinha quero lo ver inforcar.-- | |
20 | Estando lo conde preso, pola mãe foi procurado. |
--Oh, que malditos amores, de ti filho malfadado! | |
22 | --Por eles vou padecer, sendo lo menos culpado. |
--E teu pai, quando morreu, que deixou recomendado, | |
24 | que t` intregass` a el-rei, p`ra com ele seres criado. |
--Ai, filho, p`ra te livrar, cá formei minha tenção, | |
26 | donde lo teu mal proveio, pode-te vir salvação. |
Aqui tens esta viola, ó meu filho de benção, | |
28 | cant` aí antigas trovas, em palácio t` ouvirão. |
--Ai, Jesus, ai minha mãe, que nã tendes coração, | |
30 | vel lo filho d` oratório, mandá-lo cantar centão. |
--Canta, canta, filho meu, canta filho de benção, | |
32 | nas trovas que tu deitares, pod` estar la salvação. |
Canta, canta, filho meu, canta filho de benção, | |
34 | trovas que teu pai deitava, na noite de Sã João, |
talvez que del` em palácio, por elas se lembrarão.-- | |
36 | --"É linda manhã de flores, la manhã de Sã João, |
visital lo seu amor, todol los rapazes vão, | |
38 | uns com cravos, outros, rosas , outros com manjericão. |
Só eu, triste condenado, aqui `stou nesta prisão, | |
40 | eu nã sei quando amanhece, nem quando las noites são, |
só se cantam passarinhos, ou se caladinhos `stão." | |
42 | --Vinde cá, ó filha minha, ouvir sirena cantar, |
como tão soidosa canta, la sirena de la mar. | |
44 | --Senhor pai, não é sirena, é lo conde a se chorar, |
senhor pai, nã lo mateis, quero com ele casar. | |
46 | --Criei-lo de pequenino, vou já mandá-lo soltar, |
ide fidalgos da corte, p`ra lo vir acompanhar, | |
48 | toma-lo tu por marido, genro lo quero tomar.-- |
Notas: Omitimos as seguintes didascálias: entre -14 e -15 E disse; entre -24 e -25 Abraçou-se ao filho, e disse; entre -35 e -36 Toca lo conde na viola e canta assim; entre -41 e -42 El-rei ouviu este cantar, e disse à filha, e depois de -48 Logo se foram casar, e lo invejoso, que los delatou, só muitos pedidos teve perdão da forca, mas foi desaforado. Emendas prostas por Álvaro Rodrigues de Azevedo: -7a Deu ao filho derradeiro; -26b pode vir la salvação. Título original: O Órfão. |
0440:7 Bodas de sangre (á-o+á) (ficha no.: 6202)
[0366 Conde Claros preso, contam.] Versión de Porto da Cruz (c. Machico, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal). Recitada por Rita Rosa de Jesus. Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 72-77. Reeditada en RGP I 1906, (reed. facs. 1982) 316-321; Carinhas 1995, II. 126-127 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 305, pp. 477-479. © Fundação Calouste Gulbenkian. 138 hemist. Música no registrada. |
Lo conde morreu nas guerras, grandes guerras dalgum dia, | |
2 | seu filho, lo conde Nino, nos paços d`el-rei se cria, |
e no condinho criado, la infanta se revia, | |
4 | todos lo sabem na corte, só el-rei lo nã sabia. |
Indo lo conde passando, pela mãe foi incontrado. | |
6 | --Teu pai, quando faleceu, me deixou incomendado, |
qu` a el-rei eu t` intregasse, p`ra d`el-rei seres criado. | |
8 | Olha, qu` em trato d` amores, paço real é sagrado, |
e, se tu lá tens amores, fuje, filho malfadado.-- | |
10 | Mas nem lo conde fugiu, nem emendou lo pecado, |
mais namorou la infanta, mais foi dela namorado, | |
12 | passavam horas e horas, num laranjal inrelvado. |
--E se de vós, meu amor, eu deixar de ser amado? | |
14 | --Só quando lo mar for serra, ou la serra for a nado.-- |
No comenos, outro conde, de quem ele é invejado, | |
16 | passa, vê, e a el-rei tudo conta, bem contado. |
--Vind`, el-rei senhor, cá ver, ele com el` abraçado, | |
18 | lo conde mail la infanta, no laranjal inrelvado. |
--Correi, correi, meus criados, ide lo cond` agarrar, | |
20 | chamem los do meu conselho, que me quero conselhar. |
--Vinde cá, lidos prelados, eu vos quero perguntar, | |
22 | este pecado d` amor, como lo vou castigar? |
--Paço real é sagrado, acima só lo altar, | |
24 | um réu de tamanha culpa, caro lo deve pagar. |
Mandai-lhe vasal los olhos, com que veio namorar, | |
26 | mandai-lhe rasgal la boca, com que la veio beijar, |
mandai-lhe quebral los braços, com que la foi abraçar, | |
28 | mandai-lhe quebral las pernas, com que se foi ao lugar, |
mandai-lh` arrancar do peito, coração de tal pecar. | |
30 | Tudo com qu` ele pecou, mandai-lhe tudo cortar, |
e no laranjal relvado, que vá por fim, interrar. | |
32 | Fique-lh` um braço de fora, com letreiro p`ra lembrar, |
las letras rezem assim, em romance de rezar: | |
34 | Justiça d`el-rei mandou, neste conde justiçar, |
morreu por crime d` amor, amor de mortal pecar. | |
36 | --Criei-lo de pequenino, basta ir a degolar, |
ela, só por ser quem é, nã na mando já matar.-- | |
38 | La mãe dele, que tal sabe, doida lá vai a chorar, |
com ser velha, corre tanto, que nã na há alcançar, | |
40 | quando chegou ao tronco, ía quas` a rebentar. |
--Ó filho destas intranhas, quem te pôs neste lugar? | |
42 | --Um treidor mexeriqueiro, que foi de mim delatar, |
por me ver mail la infanta, no laranjal a brincar. | |
44 | --Ai, nunca teu pai mandasse, na mão d`el-rei t` intregar, |
ai, nunca te fora eu, pôr-te na cort` a criar. | |
46 | Ai, filho destas intranhas, eu como t` hei-de livrar? |
--Oiça-me cá, minha mãe, vá-m` um recado levar. | |
48 | --Aqui me tens, filho meu, a quem no hei-d` ir eu dar? |
Ele disse, e ela foi, tão depress` a caminhar, | |
50 | que, com ser velha, ninguém, ninguém na pod` alcançar. |
--Que vos salve Deus, Infanta, filha do rei a reinar, | |
52 | por amor de vós, Infanta, vai meu filho a degolar.-- |
E ela, que tal ouviu, pôs-s` a correr sem parar, | |
54 | com seus cabelos caídos, suas roupas a `rrastar. |
--Deus vos salve, senhor pai, neste reino a reinar, | |
56 | que fez conde Montalbano, pera ir a degolar? |
--Outra filha qu` eu tivera, p`ra no meu trono sentar, | |
58 | também vós, Dona Infanta, eu mandaria matar. |
--Lo pai dele vos serviu, nas guerras a batalhar, | |
60 | lo filho é meu marido, só falta ir ao altar, |
se vós lo matais agora, quem me há-d` a mim honrar? | |
62 | Que marido acharei eu, pera pôr em seu lugar? |
Quem será pai deste filho, neste meu ventr` a pular? | |
64 | --Arrenego de ti, filha, e desse teu porfiar, |
se são mulher e marido, nã los quero separar.-- | |
66 | Lo conde de Montalbano, lá vai solto, e vai casar, |
lo conde mexeriqueiro, lá vai preso a degolar, | |
68 | e lo conselho d`el-rei, vai los noivos companhar, |
que s` el-rei agora reina, la infant` há-de reinar. |
Notas del editor de RºPortTOM 2000: Omitimos as seguintes didascálias: entre -18 e -19 E el-rei foi, e cramou logo; entre -20 e -21 Lo conde foi preso, e el-rei disse aos seus bispos; entre -22 e -23 Respondem eles; entre -35 e -36 Mas el-rei teve dó, e disse; entre -40 e -41 E perguntou ao conde preso; entre -41 e -42 E ele respondeu-lhe; entre -43 e -44 La condessa se pôs a carpir, e falou esta fala; entre -50 e -51 E, chegada onde la infanta `stava, lhe disse; entre -54 e -55 Encontra-se c` o pai, e falam, e entre -63 e -64 Responde el-rei. Emendas propostas por Álvaro Rodrigues de Azevedo: 10b. no pecado; -14a la mar; -23b arriba só; -24b la deve; -56a Cond` Montalbano; -66a Lá vai Cond` Montalbano. Título original: O Órfão. |