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Ai, Jesus da minha alma, Senhor do meu coração, |
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quem soubera imitar passos da vossa paixão! |
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Quinta-feira d` Endoenças vos deram sacramentado, |
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p`ra livrar do cativeiro o que está em pecado. |
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Também lavastes os pés àqueles judeus malvados, |
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vos destes por convencido de vos terem condenado. |
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--Ai, filho, não me deixeis em tamanho desamparo; |
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fico coberta de luto à falta de sol mais claro. |
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Filho, haveis de morrer, o que se não pode escusar; |
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as profecias sagradas se não hão-de quebrantar. |
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Filho, haveis de viver para o mundo se salvar. |
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Pedro e João enleiaram, que dormiam descansados. |
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--Acordai, amigo meu, acordai, tende cuidado, |
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vede que lá vem Judas c` os judeus acompanhado, |
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p`ra fazer uma prisão a este inocente culpado.-- |
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Já lá vem o Senhor preso em tão injusta prisão; |
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vem preso por nos livrar do cativeiro de Adão. |
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Já lá vem o Senhor preso, meu verdadeiro Jesus; |
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por amor de nós o cravam no alto daquela cruz. |
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E os judeus lhe fizeram a justiça com rigor: |
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jogaram a pata-cega com meu Deus, Pai e Senhor. |
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O levaram a Caifás: foi a primeira estação |
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onde padeceu sem culpa o Senhor do coração. |
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Oh lenço mais inferior, ditoso rosto coberto; |
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grande é o vosso amor, maior o vosso afecto. |
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Rigorosa bofetada levou o ditoso rosto; |
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bendita e louvada seja a paixão do Redentor. |
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--Já que te dizes Messias, que és um só Deus verdadeiro, |
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dizem que és adivinhão. Adivinha quem te deu?-- |
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O levaram a Anás para tanto padecer; |
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feiticeiro lhe chamaram por maior desprezo ser. |
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O levaram à varanda, botaram capa de louro; |
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na mão uma cana verde lhe puseram em desdouro. |
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Lá vem o Senhor preso pela Rua da Amargura; |
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ele era o sol mais brilhante, mas já vem sem luz nenhuma. |
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Lá vem Simão Cireneu, que à cruz o vem ajudar; |
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vem a dispor nos seus ombros para o não mortificar. |
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Lá vêm os dois varões santos que à cruz o vêm despregar, |
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nos braços da mãe magoada para o irem lançar. |
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Que encontro tão cruel tiveram dois corações, |
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quando a mãe viu o filho mudado em suas feições. |
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--Isto não é o meu filho, alguém aí o trocou; |
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quem isto fez a meu filho, minha alma traspassou.-- |
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Lá vem mulher valorosa, cheia de todo o valor, |
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com a mais alva toalha para alimpar o Senhor. |
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--Muito vos custa, Senhor, lograr o vosso tesouro; |
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descansar já no sepulcro que é mais fino que o ouro. |
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--Filhas de Jerusalém, chorai por vossos pecados. |
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Permita o Padre Eterno que torne a ressuscitar, |
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para na vida eterna connosco ires cantar.-- |
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Quem esta oração souber e a disser com atenção, |
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no meu reino seja salvo e toda a sua geração. |