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****Era de Maio uma tarde, de tais flores perfumada, |
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que a Virgem Mãe do Rosário de tanto enlevo enlevada, |
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junto à margem de um ribeiro céu e terra contemplava. |
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Nas águas que ali corriam via-se ela retratada, |
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e dos mirtais e roseiras que o ribeiro refrescava, |
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uma capela tecera para a Senhora da Orada. |
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Tecida que era a capela, logo dali se ausentara, |
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levando no seu regaço o filhinho da su` alma. |
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Indo em meio do caminho grande calor apertava; |
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água o menino pedia, mas sua mãe lha não dava, |
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que d` entre aquelas restevas olho d` água não brotava. |
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Crescia a sede, crescia, e então a Virgem parara. |
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Lança olhos à ventura, vê uma rocha escarpada, |
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onde o sol dava de face com tal ardor, que crestava. |
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Palavras que a Virgem disse logo pelo céu entraram, |
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e o rochedo, que as ouvira, em fonte se transformara. |
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O caso é que em bem pouco água tão fresca jorrava, |
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que aos pés da santa corria como quem lhe os pés beijava. |
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Bebendo que era o menino, toda a fonte se cercava |
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de alecrins e manjeronas e rosas de toda a casta. |
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Desde então ficou a fonte chamada "A Fonte Fadada". |
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Dera-lhe a Virgem três chaves, uma d` oiro e as mais de prata, |
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uma para ser aberta, outra para ser fechada, |
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e outra para ali guardar almas puras como a água. |
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Das almas que a Santa Virgem muitas vezes lá guardava, |
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ficou o povo chamando à fonte "A Fonte das Almas". |