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--Cavaleiro, por quem sois, pelo divino amor de Deus, |
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dai a esmola à triste cega que cegou dos olhos seus.-- |
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Cavaleiro, que ouviu isto, seu cavalo refreou, |
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pôs os olhos na ceguinha e a pobreza o contristou. |
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De remendos e farrapos todo era o seu trajar; |
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metera a mão em um bolso, três peças lhe quisera dar. |
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--Não quero esse dinheiro, cavaleiro, na minha mão, |
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que podem assim, assim, arreigar-me o coração. |
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Donde vindes, cavaleiro, de tão longo viajar? |
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Novinhas do meu filho, se vós mas viesses dar! |
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Novinhas do meu filho, isso não é para ti; |
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há sete anos que ceguei e há trinta que o não vi. |
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--Dizei-me vós, ó ceguinha, como é o vosso nome? |
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--Margarida d` Atouguia, mulher do capitão-mor. |
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--Perdoai-me, ó minha mãe, por vos eu não ter escrevido; |
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é porque me tinham dito que vós já tinhais morrido. |
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--Graças a Deus para sempre; agora posso dizer |
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que abracei o meu filho sem eu tal conta fazer.-- |