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2856:1 A Cativa (í-a) (ficha no.: 2660)
Versión de Algarve s. l. (dist. Faro, Algarve, reg. Algarve, Portugal). Recogida por S. P. M. Estácio da Veiga, publicada en Veiga 1870, Romanceiro do Algarve, pp. 60-63. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 121-122, H12. 092 hemist. Música registrada. |
****Eu na terra fui gerada, nas ondas do mar nascida, | |
2 | do meu triste nascimento minha mãe foi falecida. |
A mim para me criarem a Itália me levariam; | |
4 | a ama que me criou, oh que bem que me queria! |
Comigo estava ela sempre, de ao pé de mim não saía; | |
6 | chamava à luz dos meus olhos a luz do seu claro dia. |
De tudo ela me ensinava, que de tudo bem sabia; | |
8 | a educar me mandara nas escolas de harmonia. |
Ao cabo de sete anos era a triste falecida. | |
10 | Coitada de mim, coitada, que para sempre a perdia, |
que tão moça em terra alheia, tão sozinha que me via. | |
12 | Eu por minha devoção à cova rezar-lhe-ia; |
ali lhe prantava flores, de suspiros a cobria. | |
14 | As lágrimas dos meus olhos, olhos que eram o seu dia, |
sem que detê-las pudesse, aquela terra bebia. | |
16 | A filha do senador, que amizade me fingia, |
a um escravo prometera sua carta de alforria, | |
18 | se me ele degolara quando eu a rezar ia. |
À sombra do cemitério o negro me aparecia; | |
20 | olhava-me ele de longe, que ao perto não se atrevia; |
um dia quis degolar-me, mas eu dele me fugia. | |
22 | Junto ao rei de Babilónia, que uma estátua ali havia, |
por uns moiros que espreitavam muito bem fui socorrida. | |
24 | O que me então cativara mais que todos me queria; |
de amor ele me falava, mas eu não lhe respondia. | |
26 | O negro ali o mataram, morto ali se quedaria; |
cativa então me levaram mais ao pranto que eu vertia. | |
28 | Cativaram-me esses moiros para lhes ganhar a vida, |
cuidando que eu a ganhasse como mulher já perdida. | |
30 | Instrumentos eu quisera que assim bem a ganharia. |
Comigo eles caminhavam, comigo eles percorriam; | |
32 | tangendo minha viola, tristes cantos repetia. |
Minha ama me lembrava, só por ela eu cantaria. | |
34 | Numa linda caravela sobre o mar meu pai corria; |
em toda Itália o mesquinho a procurar-me andaria. | |
36 | Sabendo o meu cativeiro noutros mares discorria; |
dia e noite navegava nas costas de Berberia. | |
38 | Lá da sua caravela o nome só eu sabia; |
a minha ama, coitada, quantas vezes mo dizia! | |
40 | A caravela chegava às areias de Tarifa; |
ali me levam os moiros a pensar que ganhariam. | |
42 | --Abre-me a porta, meu pai, que hoje acaba a tua lida; |
abre também os teus braços, que aqui tens a tua filha. | |
44 | --Há sete anos que andava sem saber de ti, mi vida; |
aqui tens estes meus braços, filha de mim tão querida.-- | |
46 | Os moirinhos que tal ouvem, ei-los que vão de fugida. |
Nota: ****Como señala C. F. al colocar el asterisco delante del título, se trata de una invención de un poeta romántico, imitando el estilo popular. |