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Enfermo el-rei de Castela em cama de prata estava; |
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desque seu mal o turgira, sete doutos consultava, |
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qual deles de mais sabença, quasi todos de Granada. |
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Uns e outros lhe diziam que o seu mal não era nada, |
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mas o mais velho de todos outras falas lhe falava |
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--Confessai vos, Dom Rodrigo, fazei bem por vossa alma. |
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Sete horas tendes de vida e uma já quase passada. |
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--Fazer, quero testamento nesta hora atribulada: |
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deixo a Dom Ramiro o burgo, a Dom Gaifeiros a barra, |
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a Dona Almansa, a formosa, minha riqueza contada.-- |
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A isto acode a princesa muito triste e magoada: |
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--Que Deus vos salve, ó meu pai, e a mim filha abandonada, |
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que assim dais a minha herança a quem a vós não é nada! |
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Uma só filha que tendes, bem que a deixais deserdada. |
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Ai, pobre de minha vida, pobre de mim, malfadada! |
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Para as portas de Sevilha irei demandar pousada, |
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ganharei com triste pranto para ser alimentada. |
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--Mulher que tais falas reza, devera ser degolada! |
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Eu só te deixo em Zamora uma torre por coutada, |
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e a quem lá for procurar te seja a cabeça cortada. |
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Não tenho mais que deixar a uma filha desonrada.-- |
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Ao romper do novo dia Zamora estava cercada. |
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--Que parta já Dom Ramiro, leve em punho a minha espada; |
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que parta já Dom Gaifeiros, comandando a minha armada; |
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e que em Zamora não fique uma torre alevantada. |
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--Lesto, lesto, Dom Ramiro, com vossa real espada; |
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lesto, lesto, Dom Gaifeiros com a vossa nobre armada, |
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que não fique uma só torre, Zamora fique arrasada. |
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--Dom Ramiro avante, avante com vosso cavalo e malha, |
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minha mãe vos deu vestidos, meu pai dá vos sua espada |
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e eu vos dou esporas de ouro, pendão de seda encarnada, |
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que de um lado leva o sol, de outro a lua prateada. |
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Vencei com esta bandeira por minha mão só lavrada, |
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de há muito que vo la dera, se essa mão não fora dada. |
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Hoje é de Ximena Gomes, filha, do conde Lousada. |
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Não m` importara que o fora se me não devesseis nada. |
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--Pois como assim é, senhora, vai ela ser degolada. |
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--Não o queira Deus bendito, nem a Virgem consagrada, |
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que união que o céu permite, seja por mim apartada! |
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Adiante, ó Dom Ramiro, com vossa real espada, |
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que já lá vai Dom Gaifeiros comandando nobre armada. |
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Eu só nasci neste mundo para infanta desgraçada.-- |
