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Dom Rodrigo, Dom Rodrigo, rei sem alma e sem palavra, |
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com a vida pagas hoje a traição de Dona Cava. |
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Dom Juliano lá em Ceita, lá em Ceita, a bem fadada, |
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a jurar está vingança pelas suas mesmas barbas. |
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Não estivera ele enfermo, já com armas se voltara, |
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que onde Juliano chega, ninguém chega nem chegara. |
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Cavaleiro de armadura não se lhe mostre com armas, |
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que fadado foi Juliano para só vencer batalhas. |
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Sete noites pensa o conde, todas las sete pensara |
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como pudera vingar-se de quem tanto o magoara. |
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Quer escrever mas não pode, por seus servos rebradara; |
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ao mais velho escrever manda, e o conde a carta notava. |
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Mal acaba de escrever-se, ao rei mouro a enviava. |
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Na carta lhe dava o conde todo o reino de Granada, |
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se logo ao campo mandasse sua gente bem armada, |
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para vingar sua filha, que el-rei godo desonrara. |
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Mal recebe el-rei a carta, sua gente aparelhava, |
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para vingar Juliano, para conquistar Granada. |
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Triste Espanha, flor do mundo, tão nobre e tão desgraçada; |
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por vingança de um trèdor serás dentro em pouco escrava. |
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Tuas cidades e vilas, todas te serão ganhadas. |
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Andaluzia não há-de dar-te mais vida nem alma. |
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Terras bem-ditas são logo de perros moiros cercadas. |
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O triste de Dom Rodrigo ao campo vai dar batalha, |
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mas lo trèdor de Dom Opas tudo ali lhe atraiçoara. |
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Grande senhor de Moirama comandava grande armada. |
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Pondo o pé em terra firme, toda a terra conquistava. |
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O sangue já era tanto, que todo o campo ensanguava. |
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Assim perde Dom Rodrigo a sua grande batalha. |
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Também perde Andaluzia, e também perde Granada. |
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Guadalete outra não vira tão fera e tão pelejada. |
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Toda Espanha se converte em poderosa moirama. |
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Dom Juliano e Dom Opas Dona Cava assim vingavam. |
