Pan-Hispanic Ballad Project

Total: 75


0095:75 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 7283)

Versión de Viçosa de Alagoas (Alagoas, Brasil).   Recogida por Téo Brandão, (Colec.: Brandão, T.). Publicada en Brandão 1952b, Diário de Notícias.  038 hemist.  Música registrada.

     O sol já deu na vidraça    resplandeu no claro dia;
  2   o que não sabia ninguém    nem gente na corte sabia,
     sabia dona Bernarda    filha da própria rainha.
  4   --Filha, se sois sabedora,    a mim não queiras encobrir
     que dom conde de Alemanha    de ouro quer te vestir.
  6   --Arrenego de tal ouro    e também de tal bocal,
     que me levou em seu braço    e à força me quis beijar.
  8   --Filha, se sois sabedora,    a mim não queiras encobrir
     que dom conde de Alemanha    de ouro quer te vestir.
  10   --Não quero saber de tal ouro    nem dele quero saber,
     que meu pai vindo da missa    um conto eu hei de fazer.
  12   --Chegue, chegue, senhor meu pai    e Deus queira lhe chegar,
     que dom conde de Alemanha    a força quer me beijar.
  14   --Filha, se o conde fez isso,    eu o mandarei matar;
     por sete homens de força    mandarei o degolar.
  16   --Arrenego de tal leite    que eu vos dei de mamar
     antes fosse uma besta fera    que não soubesse falar.
  18   --Cale-se, cale-se, minha mãe    e Deus queira lhe calar;
     não queira louvar a morte    que seu dom conde vai levar.--

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0095:1 Conde Alemán (í-a+á)            (ficha no.: 1594)

Versión de España. Recogida 00/00/1550 Publicada en Canc. de rom. 1550 f. 205 (Romance de Valdovinos)*. Reeditada en Wolf 1856b, Primavera y Flor de Romances, nº 170, vol. II, pp. 220-221 (Valdovinos.--VI.).  036 hemist.  Música registrada.

     Atan alta va la luna    como el sol a mediodía
  2   cuando el buen conde Alemán    ya con la reina dormía.
     No lo sabe hombre nascido    de cuantos en la corte había,
  4   sino era la infanta,    aquesta infanta su hija.
     Su madre le hablaba,    de esta manera decía:
  6   --Cuanto viéredes tú, infanta,    cuanto vierdes, encobrildo;
     daros ha el conde Alemán    un manto de oro fino.
  8   --¡Mal fuego queme, madre,    el manto de oro fino,
     cuando en vida de mi padre    tuviese padrastro vivo!--
  10   De allí se fuera llorando,    el rey su padre la ha visto.
     --¿Por qué lloráis, la infanta,    decí ¿quién llorar os hizo?
  12   --Yo me estaba aquí comiendo,    comiendo sopas en vino,
     entró el conde Alemán,    echómelas por el vestido.
  14   --Calléis, mi hija, calléis;    no toméis de eso pesar,
     que el conde es niño y mochacho,    hazerlo ía por burlar.
  16   --¡Mal fuego quemase, padre,    tal reír y tal burlar!
     Cuando me tomó en sus brazos    conmigo quiso holgar.
  18   --Si él os tomó en sus brazos    y con vos quiso holgar,
     en antes que el sol salga    yo lo mandaré matar.--

Variante: -2b El texto del Canc. de rom. ed. de 1550 y ed. posteriores lleva: y con etc. Claro está que esto, no teniendo sentido, es yerro de imprenta. Que se ha de leer «ya» viene comprobado por la versión portuguesa que empieza así: Ja lá vem o sol na serra / ja lá vem o claro día // e inda a conde d`Allemanha / com a raina dormía//.
Nota: *De este romance hay una versión portuguesa muy linda y muy popular, publicada por el señor Almelda-Garrett en su Romanceiro, Tomo II pag. 78, con el título de: O conde d`Allemanha (Allamanha o Aramanha). Esta versión tiene además una especie de epílogo, entre la madre y la hija sobre el suplicio del conde Alemán, acusándose reciprocamente de haberlo causado.

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0095:4 Conde Alemán (í-a)            (ficha no.: 4551)

Versión de Moire (ay. Piñor, p.j. Piñor, Ourense, España).   Recitada por María García (62a). Recogida por Víctor Said Armesto, 00/00/1904 (Archivo: AMP; Colec.: María Goyri-Ramón Menéndez Pidal). Publicada en Said Armesto 1997, Poesía popular gallega, p. 120. Reeditada en RT-Galicia 1998, nº 67bis, p. 565 (Addenda).  040 hemist.  Música registrada.

     Xa bate o sol na vidreira,    xa no pazo loce o dia,
  2   cando o conde d`Alemana    coa linda reina dormía.
     O rei non sabía nada,    ninguén na corte o sabía,
  4   sólo era a infanta Juliana,    filla da misma reina.
     --Por Dios che pido, Juliana,    que esto non sea sabido.--
  6   Palabras no eran ditas,    o rei á porta batía.
     ¿Que é iso, filla Juliana,    que esmorrente te ponías?
  8   --Vena, vena, señor pai,    que eu xa contarllo quería:
     estando ala no sobrado    tecendo no meu tear,
  10   ven o conde d`Alemana    e un biquiño me foi dar.
     --Filla, como o conde é neno,    gusta moito de brincar.
  12   --Xuncras leven ó tal neno    que me quixo deshonrar.
     --Altos, altos, miña filla,    que eu o mandarei matar.--
  14   Á mañán do i-outro dia    óyense sinos dobrar.
     --¿Que sinos serán aqueles    que no pazo oyo dobrar?
  16   --E o conde d`Alemana    que o levan a degollar.
     ¡Oh, mal hayas ti, Juliana,    máis o leite que mamaste,
  18   era o conde tan bonito    y a morte lle procuraste!
     --Cálese, mi madre, cálese,    cálese, que ben debía,
  20   que a morte que o conde leva    tamen vosté a merecía.--

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0095:5 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6742)

Versión de N/A (facticia)* (Portugal).   Documentada en o antes de 1842. Publicada en Almeida Garrett 1842, 5-6 e 27 y Almeida Garrett 1843; 1851; 1851, 78-82. Reeditada en Hardung 1877, I 170-172; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 1-3; Lima 1959, 54-55; Coelho 1962, 83-84; Pinto-Correia 1984, 262-264; Viana 1985, 97-99; Costa Dias 1988, 99 y 101 y Carinhas 1995, II. 92 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 784, pp. 11-13. © Fundação Calouste Gulbenkian.  058 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o sol na serra,    já lá vem o claro dia,
  2   e `inda o conde d` Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabe homem nascido    de quantos na corte havia;
  4   só o sabia a infanta,    a infanta sua filha.
     --Não nas chegue eu a romper,    mangas da minha camisa,
  6   se em vindo meu pai da caça,    eu logo lho não diria.
     --Cal`-te, cal`-te, la infanta,    não digas tal, minha filha,
  8   que o conde d` Alemanha    de oiro te vestiria.
     --Não quero vestidos d` oiro;    mau fogo em quem nos vestira!
  10   Padrasto, com meu pai vivo,    nunca o eu consentiria.--
     Palavras não eram ditas,    el-rei que à porta batia.
  12   --Deus venha c` o senhor pai    e o traga na sua guia!
     Tenho para lhe contar    um conto de maravilha.
  14   Estando eu no meu tear,    seda amarela tecia,
     veio o conde d` Alemanha,    três fios dela me tira.
  16   --Cal`-te, daí, minha filha,    ninguém te oiça dizer tal,
     que o conde d` Alemanha    é menino, quer brincar.
  18   --Arrenego dos seus brincos,    mais do seu negro folgar!
     Que me tomou nos seus braços,    à cama me quis levar.
  20   --Cala-te já, minha filha,    ninguém te oiça mais falar,
     que em antes que o sol se ponha    vai o conde a degolar.--
  22   --Veis lo conde d` Alemanha,    veis-lo vai a degolar;
     ao rabo do seu cavalo    lá o levam a arrastar.
  24   --Venha cá, senhora mãe,    venha ao mirante folgar,
     veja um conde tão formoso    que aí vai a degolar.
  26   --Mal haja, filha, o meu leite,    mais quem to deu de mamar,
     que a um conde tão bonito    a morte foste causar.
  28   --Cale-se daí, minha mãe,    ninguém lhe oiça dizer tal,
     que a morte que o Conde    leva não lha faça eu levar.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos Garrett II (1851).
Notas y variantes de Almeida Garrett: -1a Já o sol dá na vidraça - Ribatejo. -4a Sabia-o dona Silvana - Minho. Sabia-o dona Bernarda - Beira Alta. -5a Mangas da minha camisa, / não nas chegue eu a romper, // se em vindo meu pai da missa / logo lho não for dizer. -Minho. -9a Não quero vestidos de oiro, / pois os tenho de damasco: // `inda tenho meu pai vivo, / já me querem dar padrasto. -Ribatejo, Trás-os-Montes e Beira Alta. -14a Estando eu no meu tear / tecendo seda amarela, // veio o conde d` Alemanha / três fios me tirou dela. - Porto e outras. -18a Arrenego de tal conde - Beira Baixa. -24a Aqui as variantes são infinitas: é a passagem que todos os engenhos de aldeia se comprazeram mais a parafrasear e a fazer tema de seus floreados e variações, modernizando-a sem obedecer à rima certa do romance e quando menos ao seu toante ou assoante obrigado, cujas severas leis não permitem que se mude senão em espaços regulares, e nunca mais de duas ou três vezes em todo o decurso do mais extenso deles. Ponho aqui uma amostra destas que não são variantes, mas variações modernas. Venha cá, senhora mãe, / para a janela do meio, // ver o conde d` Alemanha / enfeitado de vermelho. // Venha cá, senhora mãe, / à janela do quintal, // ver o conde d` Alemanha / como vai a degolar. // Venha cá, ó minha mãe, / venha à janela do canto, // venha ver o senhor conde / como lhe parece o branco. // Venha ver, ó minha mãe, / à janelinha do poço, // venha ver o senhor conde / com uma corda ao pescoço. -29b Algumas cópias, especialmente as da Beira Alta e Ribatejo, trazem no fim uma espécie de conclusão ou rabo-leva; o que G[arcia] de Resende chamaria cabo ou fim (vej. Canc[ioneiro] de Res[ende]): remate que todavia se encontra quasi pelas mesmas palavras em muitas outras xácaras e romances. Numa campa rasa e triste / já o deixam enterrado; // puseram-lhe à cabeceira / um letreiro bem lavrado, // para quem passar que diga: / aqui jaz o malfadado, // que morreu de mal de amores, / que é mal desesperado.
Notas: Versão composta, segundo Garrett, por versões do Minho, Trás-os-Montes, Douro Litoral, Beira Alta, Beira Baixa e Ribatejo. Garrett 1842, edita parcialmente esta versão. Assim, em O Alfageme de Santarém no primeiro acto, cena primeira, o Alfageme pronuncia os seguintes versos: Já lá vem o sol na serra, / já lá vem o claro dia. // E `inda o conde de Alemanha / com a . . . [tosse] hum, hum, hum!. . . dormia. Por sua vez, na cena 10, o Coro canta: assomai-vos, minha mãe, / a essa janela do mar, // vinde ver o conde Alarcos / que aí vai a degolar. E prossegue: conde Alarcos. . . conde Andeiro, / que aí vai a enforcar. Hardung I (1877), Braga (1907)/Braga (1985), Pires Lima (1959), Prado Coelho (1962), Pinto-Correia 1984, e Viana 1985, editam Garrett II (1851). Costa Dias 1988, e Carinhas (1994) editam a partir do manuscrito depositado na Faculdade de Letras de Coimbra. Carinhas 1995, II. edita apenas os versos referentes à ilha do Faial.

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0095:6 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6743)
[0101 No me entierren en sagrado, contam.]

Versión de N/A (facticia)* (Portugal).   Documentada en o antes de 1851. Publicada en ms. de Almeida Garrett, incluído en el `Cancioneiro de Romances Xácaras e Solaos`, depositado en la sala Ferreira Lima de la Fac. de Letras de la Universidad de Coimbra, pp.42-45 y 48-51. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 784a, pp. 13-15. © Fundação Calouste Gulbenkian.  052 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá na vidraça,    já lá vem o claro dia,
  2   e `inda o conde d` Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabia el-rei    nem quantos na corte havia;
  4   sabia-o dona Bernarda,    filha da própria rainha.
     --Mangas da minha camisa,    não nas chegue eu a romper
  6   se em meu pai vindo da missa,    logo lho não vou dizer.
     Venha embora, senhor pai,    boa seja a sua vinda;
  8   tenho para lhe contar    um conto de maravilha.
     `Stando eu no meu tear    bordando de ouro na tela
  10   veio o conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
     --Cala-te, ó minha filha,    ninguém te oiça dizer tal.
  12   Deixa o Conde d` Alemanha    que é menino, quer brincar.
     --Arrenego de tal conde,    mais de seu negro brincar!
  14   Pegou-me logo na mão    e à cama me quis levar.
     --Cala-te já, minha filha,    que eu o mandarei matar.
  16   Ao rabo do meu cavalo    vê-lo-ás logo arrastar.--
     Vai o Conde d` Alemanha,    ei-lo vai a degolar.
  18   Ao rabo de um cavalo    lá o levam a arrastar.
     Numa campa rasa e triste    já o deixam enterrado.
  20   Puseram-lhe à cabeceira    um letreiro bem gravado
     e quem passar que lhe diga:    "aqui jaz o malfadado
  22   que morreu de mal d` amores    que é um mal desesperado!"
     --Mal hajas, ó cruel filha,    mais ao leite que mamaste,
  24   a um conde tão formoso    tu a morte lhe causaste.
     --Cale-se aí, minha mãe,    não me obrigue a mais falar,
  26   que a morte que ele teve    não lha faça eu levar.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Reproduz-se a versão estabelecida por Garrett, no respectivo manuscrito autógrafo, e assinalam-se as variantes por ele fixadas a partir de versões oriundas de Coimbra (Co), Borda d` Água (V), Lisboa (L), Faial (Gf), versão recolhida por Gomes Monteiro a um seu criado faialense, Ponte de Lima (G), enviada também por Gomes Monteiro e Castelo Branco (B).
Variante autógrafa de Garrett por ele inscrita na margem direita da página 43: -6 da caça.
Variantes: -1a Já lá vem o sol abaixo (Co); Já lá vem o sol na serra (V). -3b nem na corte se sabia (Co). -4b a infanta sua filha (V). Entre -4 e -5 Se o sabes, minha filha, / não me queiras descobrir (V); Se o sabes, ó Bernarda, / tu me queiras encobrir // que o Conde de Alemanha (L); que o conde é rapaz novo (Co); de oiro te há-de vestir. // Não quero vestidos de ouro / pois os tenho de damasco // ainda tenho meu pai vivo / já me querem dar padrasto (L). Palavras não eram ditas / o pai à porta batia (Gf). -7 Deus venha co` senhor pai / e o traga na sua guia (Gf); Bem vindo seja meu pai / mais a sua bizarria (L). -7a Vinde embora (Co). -8b um conto à maravilha (Co). Entre -8 e -9 Conta, conta, minha filha, / que folguei de te ouvir (Co). 9 Estando eu no meu estrado / tirando seda amarela (Gf); Estando eu na minha cela / a dobar seda amarela (Co). -9b bordando ouro na tela. -10a Passa o Conde da Alemanha (Gf). -10b três fios me levou dela (G). -11 Cala-te daí, minha filha, / manda-me pôr de jantar (G). -12 que o Conde de Alemanha / é mancebo, quer brincar (G); porque o conde é menino / fá-lo-ia por brincar (V). -13a Arrenego de seu brincos (G); Maldito seja o tal conde (Gf). 13b de tal modo de brincar. -14a que pegou em mim nos braços (G). -14b na cama me quis deitar (Co). -15a Cala-te daí, minha filha (G). -15b manda-me por de jantar (G); manda chamar os criados (Co). -16a que o Conde de Alemanha (G); que daqui a uma hora (Co). -16b logo vai a degolar (G); o mandarei a matar (B); vai o conde a degolar (Co). Entre -18 e -19 Venha ver, ó minha mãe(Co); Venha cá, ó minha mãe (V). À janelinha do canto (Co); para a janela do meio (V). Venha ver o senhor conde (Co); ver o Conde d` Alemanha (V). Como lhe parece o branco (Co); enfeitado de vermelho (V). Venha ver, ó minha mãe (Co); venha cá, senhora mãe (V). À janelinha do poço (Co); à janela do quintal (V). Venha ver o senhor conde(Co); ver o Conde d`Alemanha (V). Com uma corda ao pescoço (Co); com vai a degolar (V). -23a Ó maldita, minha filha (Co); mal o hajas tu, princesa (G). -23b Foi o leite que mamaste (Co); mai` lo leite que mamaste (G). -25a Cale-se, ó minha mãe (Co). -25b Não me faça agoniar (B); não oiça meu pai na rua (Co). -26a Que a morte que o conde leva (B e Co); -27a Não lha faça eu apanhar (B); ainda pode ser a sua (Co).

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0095:71 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6808)

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 152-153. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 850, pp. 70-71. © Fundação Calouste Gulbenkian.  052 hemist.  Música registrada.

     Já lá baixo vem a noite,    vai-se a luz do claro dia,
  2   vem o Conde d` Alemanha    a dormir com a rainha.
     Ninguém o sabe na corte,    ninguém na corte o sabia,
  4   sabe-o só Dona Joana,    filha da mesma rainha.
     --Bem podias, minha filha,    ajudar-me a encobrir,
  6   o Conde é nobre e rico,    d` ouro nos há-de vestir.
     --Não quero vestidos d` ouro,    que os tenho de damasco;
  8   `inda tenho meu pai vivo,    já me quereis dar padrasto.
     As mangas desta camisa    eu as não cheque a romper,
  10   se assim que meu pai vier,    eu lho não for dizer.--
     Bem-vindo sejais, meu pai,    e a vossa coroa real,
  12   tenho muito que vos dizer,    muito mais que vos contar.
     Veio o Conde d` Alemanha,    comigo queria brincar.
  14   --Põe a mesa, minha filha,    que são horas de cear,
     o Conde é muito novo,    isso era por brincar.
  16   --Mal o haja ele, o Conde,    e tal modo de brincar,
     pegou em mim em seus braços    e à cama me foi levar.
  18   --Se isso é, ó minha filha,    eu o mandarei matar.
     --É tão certo, ó meu pai,    como eu pôr-lhe de cear.
  20   --Amanhã por estas horas    verá-lo a degolar.--
     --Venha cá, ó minha mãe,    à janelinha do meio,
  22   se quer ver passar o Conde    vestidinho de vermelho.
     --Mal hajas tu, filha minha,    fora o leite que mamaste,
  24   a morte que teve o Conde f    oste tu quem lha causaste.
     --Cal`-se lá, minha mãe,    que a não ouçam na rua,
  26   a morte que leva o Conde    bem podia ser a sua.--

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0095:72 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6809)

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 153. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 851, pp. 71-72. © Fundação Calouste Gulbenkian.  046 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá nas vidraças,    já lá vem o claro dia,
  2   já o Conde d` Alemanha    com a rainha dormia.
     Não no sabia el-rei    nem nas cortes se dizia,
  4   só o sabia a infanta,    qu` ela era sua filha.
     --As mangas deste vestido    eu as não chegue a coser,
  6   em o papá vindo da missa,    se lho eu não for dizer!
     --Cala-te lá, minha filha,    deixa o Conde adevertir,
  8   que o Conde é muito rico,    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero vestidos d` ouro,    cá os tenho de amasco,
  10   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     As mangas deste vestido,    eu as não chegue a talhar,
  12   em o papá vindo da missa,    se lho eu não for contar!--
     --Ande cá, ó meu paizinho,    tenho muito que lhe contar.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  14   `stando eu no meu tear    tecendo seda amarela,
     veio o Conde da Alemanha,    três fios me quebrou nela.
  16   --Cala-te lá, minha filha,    manda-me pôr de jantar,
     qu` ele o Conde é muito novo,    gosta muito de brincar.
  18   --Mal o hajam nos seus brincos,    que têm tão reles brincar!
     Por um braço me pegou    para à cama me levar.
  20   --Cala-te lá, minha filha,    manda-me pôr de jantar,
     qu` amanhã por estas horas    já o mando degolar.
  22   --Ande cá, ó minha mãe,    veja s` aqui pode chegar,
     venha ver o condito,    já o vão a degolar.--

Nota de J. L. de Vasconcelos: -9b de damasco.

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0095:73 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6810)

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1960. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, II. 494-495. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 852, pp. 72-73. © Fundação Calouste Gulbenkian.  052 hemist.  Música registrada.

     Já dá o sol na vidraça,    já lá vem o claro dia,
  2   já o Conde d` Alemanha    com a rainha dormia.
     Ninguém em casa o sabia    senão a Dona Juliana,
  4   senão a Dona Juliana,    filha da mesma rainha.
     --Bem podias, Juliana,    minhas faltas encobrir,
  6   o Conde é muito rico,    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero vestidos d` ouro,    pois os tenho de damasco;
  8   ainda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     As mangas desta camisa    não chegue eu a fazer,
  10   em meu pai vindo da missa    se lho eu não for dizer.--
     As razões que eram ditas,    o pai que à porta chegava.
  12   --Que razões sam cá estas,    entre uma mãe e uma filha?
     --Que razões hão-de ser, pai,    por vergonha as não diria:
  14   o Conde d` Alemanha    comigo brincar queria.
     --Cal`-te, cal`-te, ó minha filha,    busca horas de jantar,
  16   que o Conde é menino e moço,    fá-lo-ia por brincar.
     --Mal o haja o seu brincar,    mais a sua brincaria,
  18   que me agarrou num braço,    à cama me acometia.
     --Cal`-te, cal`-te, minha filha,    busca horas de cear,
  20   que antes dum quarto d` hora    o Conde há-de ir a degolar.--
     --Mal o haja Juliana,    mais o leite que mamou:
  22   o Conde que era tão bom,    a morte que lhe causou.
     --Cale-se, cale-se, ó minha mãe,    não me faça arrenegar,
  24   a morte que o Conde leva    não lha faça eu levar.
     --Bem o haja Juliana,    mais o leite que mamou,
  26   menina de sete anos    dum pecado me livrou.--

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0095:74 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6811)

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1960. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, II. 495. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 853, pp. 73. © Fundação Calouste Gulbenkian.  037 hemist.  Música registrada.

     Estando eu no meu tear,    tecendo seda amarela,
  2   vem o Conde d` Alemanha,    três fios me tira dela.
     Deixe vir meu pai    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  4   --Venha, senhor pai, ora venha,    pela sua vinda estava espirando:
     estando eu no meu tear,    tecendo seda amarela,
  6   vem o Conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
     --Cala-te, ó minha filha,    que isso foi a brincar.
  8   --Mal o haja, ó meu pai,    tais brinquedos a mangar!
     Pegou-me pelo braço,    na cama me quis deitar.
  10   --Cala-te já, ó minha filha,    vem-me pôr de jantar,
     que ao depois, por sobremesa,    vai o Conde a degolar.--
  12   --Venha ver, senhora mãe,    pela janela do canto,
     venha ver o senhor Conde,    como lhe reluz o branco.
  14   Venha ver, senhora mãe,    pela janela do meio,
     venha ver o senhor Conde,    como reluz o vermelho.
  16   --Mal o haja, ó minha filha,    o leite que tu mamaste;
     a um Conde tão bonito    a morte que lhe causaste!
  18   --Cale-se lá, ó minha mãe,    que a não ouçam na rua,
     que a morte que o Conde leva    já esteve para ser sua.--

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0095:69 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6806)
[0101 No me entierren en sagrado, contam.]

Versión de S. Jorge s. l. (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Documentada en o antes de 1869. Publicada en Braga 1869, (y Braga 1982), 208211. Reeditada en Hardung 1887, I. 277279; Soares de Sousa 1902, 256259; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 2729 y Cortes-Rodrigues 1987, 427429; Carinhas 1995, II. 40-41RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 848, pp. 68-69. © Fundação Calouste Gulbenkian.  082 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá na vidraça,    ai Jesus! tão claro dia,
  2   ainda o Conde de Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabia el-rei,    nem quantos na corte havia,
  4   sabia-o Dona Bernarda,    filha da mesma rainha.
     --Senhora Dona Bernarda,    bem nos podeis encobrir,
  6   que este Conde é muito rico,    de ouro vos há-de vestir.
     --Não quero vestido de ouro,    que eu o tenho de damasco,
  8   ainda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     Mangas da minha camisa,    não as chegue eu a romper,
  10   se meu pai vier p`ra casa,    se lho eu não for dizer.--
     Estando com este verso,    o pai à porta a bater:
  12   --Que tendes, Dona Bernarda,    que tendes, ó filha minha?
     Conta-me das tuas mágoas,    que eu contarei maravilhas.
  14   --Estando no meu tear,    bordando ouro e tela,
     veio o Conde de Alemanha,    dois fios me furtou dela.
  16   --Calai-vos, Dona Bernarda,    andai p`r`à mesa jantar,
     que o Conde é pequenino,    é menino, quer brincar.
  18   --Leve o diabo seus brincos,    mais o seu lindo brincar,
     que me pegou pela mão,    à cama me quis levar.
  20   --Calai-vos, Dona Bernarda,    vinde p`ra mesa jantar,
     que o pajem de Alemanha,    amanhã vai a matar.
  24   --Meu pai, se o mandar matar,    não o enterre em sagrado,
     enterre-o em campo verde,    onde se apastou o gado,
  26   com um letreiro na testa,    um letreiro bem lavrado.
     Que o letreiro vi dizendo:    «Já morreu o namorado.»
  28   Senhora Dona Maria andai,    chegai à janela,
     vede o Conde de Alemanha,    a companhia que leva!
  30   Ó minha mãe, vinde ver    o Conde da bizarria,
     ele acolá vai morto,    leva toda a fidalguia.
  32   Chegue-se, senhora mãe,    chegue à janela do mar,
     ver o Conde de Alemanha    , como vai a desbancar.
  34   Chegue-se, senhora mãe,    chegue à vidraça do meio,
     ver o Conde de Alemanha,    como lhe fica o vermelho.
  36   --Eira-má te leve, filha,    mais o leite que mamaste!
     Era um Conde tão perfeito,    a morte que lhe causaste.
  38   Oh que corpo tão pequeno,    maldito te seja, filha,
     ó cadela, que mataste,    minha leal companhia!
  40   --Calai-vos, senhora mãe,    calai-vos por cortesia,
     se o senhor pai tal soubera,    outro tanto lhe faria.--

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0095:70 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6807)

Versión de Praia da Vitória (c. Praia da Vitória, isla de Ilha Terceira, Açores, reg. Açores, Portugal).   publicada en Lima 8 de junio 1935, 2829; Carinhas 1995, II. 41. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 849, p. 70. © Fundação Calouste Gulbenkian.  053 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá na vidraça,    desponta o claro dia,
  2   e o Conde da Alemanha,    com a rainha dormia.
     Não o sabia o rei,    nem quantos na corte havia;
  4   sabia-o Dona Paulina,    filha da mesma rainha.
     --Queira Deus, Dona Paulina,    que me saibas encobrir,
  6   que o Conde da Alemanha    de seda te quer vestir.
     --Não me importa a sua seda,    nem tão pouco o seu damasco,
  8   ainda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     As mangas da minha camisa,    não as chegue a romper,
  10   se quando o meu pai vier,    não lhe for a dizer.--
     A menina nestas práticas,    o pai à porta a bater:
  12   --Que tendes, Dona Paulina,    que tendes, ó filha minha?
     --Estando na minha cela,    dobando seda amarela,
  14   vem o Conde da Alemanha,    três fios me quebrou dela.
     --Cala-te, Dona Paulina,    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
  16   cala-te, filha minha,    não te estejas a zangar,
     que o Conde é menino,    o faria por brincar.
  18   --Arrenego dos seus brincos,    do seu tão negro brincar,
     pegou-me pela mão    e à cama me quis levar.
  20   --Se isso é verdade,    eu o quero mandar matar,
     e ao rabo dos meus cavalos,    o mandarei arrastar.--
  22   --Vinde ver, senhora mãe,    vinde, vinde, com cortesia,
     ver o Conde de Alemanha,    entre tanta fidalguia.
  24   --Arrenego de ti, filha,    mais o leite que mamaste,
     a flor dum homem tão lindo,    a morte que the causaste.
  26   --Cale-se, senhora mãe,    cale-se em cortesia,
     que a morte que lhe causei,    não a cause também a si.--

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0095:61 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6798)

Versión de Lagos (c. Lagos, dist. Faro, Algarve, Portugal).   Documentada en o antes de 1900. Publicada en Nunes 1900-1901, 168-169. Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 386-387; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 14-15; Anastácio 1985, 216 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 840, pp. 59-60. © Fundação Calouste Gulbenkian.  049 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o claro sol,    já lá vem o claro dia
  2   e o Conde de Lamanha    com a rainha dormia.
     --Ninguém no palácio o sabe,    ninguém no palácio o sabia,
  4   sabia-o só a vossa filha,    infanta dona Maria.
     --Ó filha, se vós sabeis,    bem me podes encobrir
  6   que o conde é muito rico    d` oiro vos há-de vestir.
     --Eu não vos quero o seu oiro,    nem tão-pouco o seu damasco,
  8   que `inda tenho o meu pai vivo    já me querem dar padrasto.
     As mangas do meu vestido    não nas chegue eu a romper,
  10   que em meu pai vindo da corte    tudo lhe hei-de dizer.
     As mangas do meu roupão    não nas chegue eu a rasgar,
  12   que em meu pai vindo da corte    tudo lhe hei-de contar.--
     Nestas razões que estavam    o seu pai que chegava.
  14   --O que é isto senhores?    --É uma mãe c` uma filha.
     --É o conde, ó meu pai,    que comigo quer zombar.
  16   --Deixa-te lá, minha filha,    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
     que o conde é zombador,    contigo gosta de zombar.
  18   --Não gosto do seu zombar,    nem tão pouco de zombaria,
     se eu fosse p`lo seu zombar    não era infanta Dona Maria.
  20   --Filha, se isso assim é,    dá cá um copo d` água,
     antes do sol raiar    vai o conde a degolar.--
  22   --Maldição te deito eu, filha,    pelo leite que mamaste,
     que uma morte tão tirana    tu mesma a casuaste!
  24   --Cale-se lá, minha mãe,    não vos oiça aqui ninguém,
     que a morte que o conde teve    não na tinhais vós também.--

Variantes de Oliveira (1905): -2a de Alemanha; 5a omite ó; de oiro te; -7a lhes; -8a porque; 10b hei-de eu; -13a em que; 13b que ali; -14a senhora; 14b uma filha; 18b de; 19b omite infanta; -20a se isso é assim; -21a que antes; 22a omite eu; -23b mesmo tu a; -24b nos.
Nota: RGP II 1907 (reed. facs. 1985) edita parcialmente esta versão.

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0095:62 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6799)

Versión de Loulé s. l. (dist. Faro, Algarve, Portugal).   Documentada en o antes de 1905. Publicada en Athaide Oliveira 1905, (reed. 198?), 93-95. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 14-16; Anastácio 1985, 217 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 841, pp. 60-61. © Fundação Calouste Gulbenkian.  068 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem a luz da aurora,    já lá vem o claro dia,
  2   `inda o Conde da Alemanha    com a rainha dormia.
     Sabia-o a Dona Infanta,    filha da mesma rainha.
  4   --Cala-te lá, minha filha,    não nos queiras descobrir
     que o conde é muito rico    de curo te ha-de vestir.
  6   --Não quero vestidos de ouro    nem de seda ou de damasco
     que eu tenho ainda pai vivo    não me queiram dar padrasto;
  8   as mangas desta camisa    não as chegue eu a romper,
     se meu pai, quando chegar,    tudo lhe não for dizer.--
  10   Estando nestas razões    seu pai à porta chegava.
     --O que é isso, ó filha minha,    por que estás tão enfadada?
  12   --Estava eu no meu tear    tecendo seda amarela,
     vem o conde da Alemanha    e três fios me tirou dela.
  14   --Deixa lá, ó minha filha,    que ele é novo e quer brincar.
     --Mui mal haja esse seu rir    e também o seu brincar,
  16   ele me pegou pela mão    à cama me quis levar.
     --Cala-te lá,. ó minha filha,    vamos ao nosso jantar,
  18   quando derem duas horas    eu o mandarei matar.--
     --Venha cá, ó minha mãe,    venha à janela terceira,
  20   ver o Conde da Alemanha    que lá vai na dianteira.
     Venha cá, ó minha mãe,    venha à janela do canto,
  22   ver o Conde da Alemanha    todo vestido de branco.
     Venha cá, ó minha mãe,    à janelinha do poço,
  24   ver o Conde da Alemanha    com uma corda ao pescoço.
     Venha cá, ó minha mãe,    à janelinha do meio,
  26   ver o Conde da Alemanha,    parece um cravo vermelho.
     Venha, venha, minha mãe,    à janela do quintal,
  28   ver o conde da Alemanha    que já se vai enforcar.
     --Mui maldita sejas filha,    mais o leite que mamaste,
  30   a um Conde tão bonito    a morte que lhe causaste.
     --Cale-se lá, minha mãe,    não me faça arrenegar
  32   que a morte que o Conde leva    não lha f aça eu levar.
     --Mui bendita sejas filha,    mais o leite que mamaste,
  34   és menina de quinze anos    e da morte a mãe livraste.--

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0095:63 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6800)

Versión de Monchique (c. Monchique, dist. Faro, Algarve, Portugal).   Recitada por una mujer. Recogida 01/08/1917 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 151-152. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 842, pp. 61-62. © Fundação Calouste Gulbenkian.  049 hemist.  Música registrada.

     --As mangas do meu vestido    eu não as chegue a romper,
  2   s` adonde meu pai vindo da missa    eu lho não for logo dizer.
     As mangas do meu roupão    eu não nas chegue a estragar,
  4   s` adonde mê pai vindo da missa,    eu não lho for a contar.
     --Cala-te lá, minha filha,    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
  6   que o conde é muito rico,    de seda te há-de vestir.
     --Eu não quero a sua seda    que já cá tenho o meu damasco;
  8   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!--
     As razões que eram ditas,    o pai que chegava.
  10   --Que razões são essas,    que vai a mãe com a filha?
     --Venha cá, ó meu pai,    espelho donde m` eu via,
  12   tenho um conto a lhe contar,    um conto às sete maravilhas!
     Veio cá o conde Lamanha,    comigo brincar queria.
  14   --Vai-me prantar o jantar,    ó filha Dona Maria,
     que o conde é zombador,    contigo zombar qu`reria!
  16   --Mal o haia o seu zombar,    mais a sua zombaria!
     Se lh` eu desse confiança,    p`r`à cama me levaria!
  18   --Vai-me prantar o jantar,    ó filha Dona Maria,
     que o conde vai a morrer    antes duma ave-maria.--
  20   --Eu te amaldiçoo, filha,    pelo leite que mamaste,
     que a um conde tão bom    a morte causaste!
  22   --Cal`-se lá, minha mãe,    não me faça vós falar,
     se a morte que o conde leva    não a queira vós levar.
  24   --Eu t` abendiçoo, filha,    pelo leite que mamaste,
     sendo tu tão pequenina,    tua mãe da morte livraste!--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos a seguinte didascália: antes de 1 Uma mãe brincava com um homem de fora, e afilha, que viu, disse.

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0095:64 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6801)

Versión de Faro s. l. (dist. Faro, Algarve, Portugal).   Documentada en o antes de 1900. Publicada en Nunes 1900-1901, 169-170. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 843, pp. 62-63. © Fundação Calouste Gulbenkian.  041 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o sol nascendo,    já lá vem o claro dia
  2   e o Conde de Lamanha    com a rainha dormia.
     Ninguém na corte o sabia    senão a princesa sua filha.
  4   --Ó filha, se tu o sabes,    tu me queiras encobrir,
     que o Conde é muito rico    d` oiro vos ha-de vestir.
  6   --Eu não quero o seu oiro,    que cá tenho meu damasco;
     `inda tenho o meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.
  8   Pelas mangas da camisa,    pelas mangas do meu jibão,
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    não nas chegue eu a `stragar,
  10   qu` em vindo meu pai da missa,    logo lhe vou contar.--
     --Que razões são essas    entre a mãe e a filha?
  12   --É o Conde de Lamanha    comigo zombar queria.
     --Ó filha, deixe o Conde,    que ele é muito zombador.
  14   --Mal haja o seu zombar,    mais a sua zombaria;
     pegou-me pela mão    p`r`à cama levar-me qu`ria.
  16   --Ó filha, se isso é assim,    eu o mandarei matar.--
     Vindo a volta da tarde,    o Conde que vai a enforcar.
  18   --Eu te amaldiçoo, filha,    pelo leite que mamaste;
     a um Conde tão bonito,    a morte lhe casuaste.
  20   --Cale-se, ó minha mãe,    queira-se vós calar,
     que a morte que o Conde teve    não na queira vós levar.--

Nota: A fixação foi feita pelas notas de Nunes que esclarecem as intervenções por ele efectuadas para o estabelecimento do texto.

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0095:55 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6792)

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Documentada en o antes de 1885. Publicada en Pires 1885e, IX; Pires 1900-1901b, 99-100; Pires 1899-1902, 91; Pires 1920, 50-51 y Pires 1986, 68-69. Reeditada en Caratão Soromenho 1963, 55 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 834, pp. 53-54. © Fundação Calouste Gulbenkian.  050 hemist.  Música registrada.

     Já bate o sol na vidraça,    já lá vem o claro dia,
  2   é o príncipe da Alemanha    que com a rainha dormia.
     Ninguém do palácio o sabe    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
  4   senão Dona Bernarda,    filha da mesma rainha.
     --Tu que o sabes, ó Bernarda,    não me queiras descobrir,
  6   que o príncipe é muito rico,    de ouro te há-de vestir.
     --Que se me dá do seu ouro,    mais também do seu damasco,
  8   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     Deixe vir meu pai da missa    que eu lho irei a dizer.--
  10   Palavras não eram ditas,    o rei à porta a bater.
     --Que tendes, Dona Bernarda,    que assim estais agoniada?
  12   --Que hei-de ter, ó meu pai!    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
     Estando no meu tear    fiando ouro e tela,
  14   veio o príncipe da Alemanha,    dois fios me quebrou dela.
     --Cala-te, Dona Bernarda,    que ele é rapaz, quer brincar.
  16   --Mal o haja a sua brinca,    mais também o seu brincar
     que me pegou pela mão    e à cama me quis levar.
  18   --Cala-te, Dona Bernarda,    que o verás ir degolar.--
     --Mal o hajas tu, Bernarda,    mais o leite que mamaste,
  20   sendo o príncipe tão bonito    a morte que lhe causaste.
     --Cale-se, senhora mãe,    não me faça aleivosia,
  22   que a morte que o príncipe leva    vossa alteza é que a merecia.
     --Mal o hajas tu, Bernarda,    mais o leite que mamaste,
  24   sendo o príncipe tão bonito    a morte que lhe causaste.
     --Cale-se, senhora mãe,    não me faça arrenegar
  26   que a morte que o príncipe leva    `inda vós a havereis de levar.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos Soromenho (1963).
Variantes: -9b omite a (1885e e 1900-1901b); -16a omite o (1920); -22b omite a (1900-1901b); -23b mamastes (1885e e 1900-1901b) e -26b haveis (1900-1901b).

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0095:56 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6793)

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Recogida por José Joaquim Ferreira, publicada en Pires 1885g, XIV; Pires 1900-1901b, 108-109; Pires 1899-1902, (reed. 1982) 91; Pires 1920, 52-54 y Pires 1986, 69-70. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 10-11 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 835, pp. 54-55. © Fundação Calouste Gulbenkian.  065 hemist.  Música registrada.

     Já bate o sol na vidraça,    já lá vem o claro dia,
  2   já o conde da Alemanha    com a rainha dormia.
     Nem criados nem criadas,    ninguém na corte o sabia;
  4   sabe-o Dona Bernarda,    filha da mesma rainha.
     --Tu que o sabes, ó Bernarda,    não me queiras descobrir,
  6   que o conde é muito rico,    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero seu vestido d` ouro,    que eu tenho os meus de damasco,
  8   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     As manguinhas da camisa    eu não as chegue a romper,
  10   se em meu pai vindo da missa    eu não lhe for a dizer.--
     Palavras não eram ditas,    o rei à porta a bater.
  12   --Deus vos salve, senhor meu pai,    boa seja a vossa vinda,
     que se deu aqui um caso,    um caso que maravilha.
  14   --Que tendes, Dona Bernarda,    que assim estais agoniada?
     --Que hei-de ter, ó meu pai!    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
  16   Estando no meu tear,    fiando ouro e tela,
     veio o conde da Alemanha,    dois fios me quebrou dela.
  18   --Cala-te, Dona Bernarda,    ninguém tal te ouça falar,
     que o conde é muito novo,    fá-lo-ia por brincar.
  20   --Mal o haja a sua brinca    mais também o seu brincar,
     que me pegou pela mão    e à cama me quis levar.
  22   --Cala-te, Dona Bernarda,    ninguém tal te oiça dizer,
     que antes do sol se pôr,    o conde há-de padecer.--
  24   --Oh, que enterro é aquele?    Quem vai além a enterrar?
     --É o conde da Alemanha    que meu pai mandou matar.
  26   --Mal o hajas tu, Bernarda,    mais o leite que mamaste,
     sendo o conde tão bonito,    a morte que lhe causaste.
  28   --Cale-se, senhora mãe,    não me faça aleivosia,
     que a morte que o Conde leva    Vossa Alteza é que a merecia.
  30   --Mal o hajas tu, Bernarda,    mais o leite que mamaste,
     sendo o conde tão bonito    a morte que lhe causaste.
  32   --Cale-se, senhora mãe,    não me faça arrenegar,
     que a morte que o Conde leva    `inda vós a havereis levar.--
Editamos Pires (1901)/Pires (1982)
Variantes: -6a, -27a, -29a, -31a, -33a príncipe (1885g e 1900-1901b); -9b as não chega (1920); -l0b lho (1885g e 1900-1901b); -l2a Deus nos salve senhor pai (1885g e 1900-1901b); -l3a sucedeu aqui (1885g e 1900-1901b); -25b que o meu (1920); -33b omite de (Pires 1899-1902, [reed. 1982] e 1920).

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0095:57 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6794)

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Recogida por Manuel Coimbra, publicada en Pires 1885k, XXX; Pires 1900-1901b, 136 y 172-173; Pires 1899-1902, 91-92; Pires 1920, 55-57 y Pires 1986, 70-71. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 12-13 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 836, pp. 56-57. © Fundação Calouste Gulbenkian.  064 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o claro sol,    o claro luzeiro do dia,
  2   e o conde d` Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabia o rei,    nem quantos na corte havia;
  4   sabia-o só Juliana,    filha da mesma rainha.
     --O que te peço, Juliana,    não me queiras descobrir,
  6   que o conde da Alemanha    d` ouro e prata te há-de vestir.
     --Eu dou o seu ouro ao demo,    também dou os seus damascos,
  8   pois se tenho meu pai vivo,    para que quero eu padrasto?
     As manguinhas da camisa    não as chegue eu a romper,
  10   quando meu pai vier da missa    eu lhe hei-de ir a dizer.--
     Palavras não eram ditas,    o pai que à porta chegava.
  12   --O que é isso, ó Juliana,    que estás tão apaixonada?
     --Estando eu no meu tear,    tecendo ouro e tela,
  14   veio o conde da Alemanha,    três fios me quebrou dela.
     --Deixa-te disso, Juliana,    que isso seria brincar,
  16   tu és nova, ele é novo,    isso seria zombar.
     --Eu não gosto de tal brinca,    nem de tal zombaria,
  18   porém o conde me levou    à cama onde eu dormia.
     --Cavaleiro que tal faz    merece ir a enforcar.
  20   --P`ra maior vingança minha,    mande-o meu pai degolar.--
     --Oh! que sinos são aqueles    que eu oiço aqui a dobrar?
  22   --É o Conde da Alemanha    que já lá vai enterrar.
     --Mal o haja, Juliana,    mais o leite que a alimentou,
  24   a morte dum tão bom Conde Juliana    é que a causou.
     --Cale-se, ó minha mãe,    cale-se com cortesia,
  26   que a morte que o conde leva    vossa mercê é que a merecia.
     --Mal o haja minha filha,    mais o leite que mamou,
  28   que a separação de mim e do Conde Juliana    é que a causou.
     --Cale-se, ó minha mãe,    cale-se por seu bel` estar,
  30   que a morte que o conde levou    não lha faça eu levar.
     --Oh! que razões são essas    entre a mãe e entre a filha?
  32   --Quebrou-se-me um fio d` oiro,    end`reitá-lo não podia.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos Pires 1899-1902, (reed. 1982).
Variantes: -1b luzente (1920); -8a o meu (1885k e 1900-1901b); -10b omite a (1885k e 1900-1901b); -18a porque (1885k e 1900-1901b); -21b omite aqui (1885k e 1900-1901b); -32a quebrou-se (1920).
Nota: -28 verso que no conforma al metro romancístico.

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0095:58 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6795)

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Documentada en o antes de 1900. Publicada en Pires 1900-1901b, 86-87; Pires 1899-1902, (reed. 1982) 92; Pires 1920, 58-59 y Pires 1986, 71-72. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 837, p. 57. © Fundação Calouste Gulbenkian.  046 hemist.  Música registrada.

     Já bate o sol na vidraça,    já lá vem o claro dia,
  2   já o conde da Alemanha    com a princesa dormia.
     Nem criados nem criadas,    ninguém na corte o sabia;
  4   sabia-o Dona Bernarda,    filha da mesma rainha.
     --Tu que o sabes, ó Bernarda,    não no queiras descobrir,
  6   que o conde é muito rico,    d` ouro fino te há-de vestir.
     --Não quero vestidos d` ouro    que tenho os meus de damasco
  8   `inda tenho meu pai vivo    já me querem dar padrasto.
     As mangas desta camisa    eu não as chegue a romper
  10   se em meu pai vindo da missa,    eu lho não for já dizer.--
     Palavras não eram ditas    e o pai à porta batia.
  12   --Venha cá, oiça, ó meu pai,    um caso de maravilha:
     estando eu no meu tear,    a bordar a ouro em tela,
  14   veio o conde da Alemanha,    três fios me roubou dela.
     --Deixa-o lá, ó minha filha,    que é menino, quer brincar.
  16   --Mal o haja a sua brinca,    mais o seu tanto brincar,
     agarrou em mim em braços    e à cama me quis levar.
  18   --Alto, alto, minha filha,    que eu o mandarei matar,
     debaixo de meus palácios    há-de vir a enterrar.--
  20   --Mal o hajas tu, Bernarda,    mais o leite que mamaste
     era o conde tão bonito    e a morte que lhe causaste.
  22   --Cale-se aí, ó minha mãe,    cale-se com cortesia,
     que a morte que o conde leva    vossa alteza é que a merecia.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos Pires 1899-1902 (reed. 1982).
Variante: 7b damascos (sic) (1900-1901a).

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0095:59 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6796)

Versión de Alandroal (c. Alandroal, dist. Évora, Alto Alentejo, Portugal).   Recitada por una señora de edad analfabeta. Recogida 00/00/1891 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 150-151. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 838, p. 58. © Fundação Calouste Gulbenkian.  064 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem no sol nascendo,    já lá vem no claro dia,
  2   e o Conde d` Alamanha    que co` a rainha dormia.
     Ninguém na corte sabia,    nem quantos na corte havia,
  4   senão Dona Juliana,    filha da mesma rainha.
     --Tu que sabes, filha minha,    quêras-me tu encobrir,
  6   que o Conde d` Alamanha    di oiro t` há-de vestir.
     --Ê na quero vestidos d` oiro,    que `inda os tenho de damasco;
  8   que `inda tenho mê pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     Mangas da minha camisa    ê na nas chegue a romper,
  10   qu` em vindo mê pai da missa,    já lo hê-de ir dizer.--
     --Qui vozes hai em palácio    entri a mãe e mais a filha?
  12   --Vinde, vinde, ó mê paizinho,    boa sej` a sua vinda!
     Quero contar uma farsi,    uma farsi à maravílha:
  14   `tando ê no mê quarto,    bordando oiro e tela,
     veio o Conde d` Alamanha,    um fio me tirou dela.
  16   --Pôs cala-t` ó minha filha,    manda vazar o jantar,
     qu` o Conde, como criênça,    contigo qu`ria brincar!
  18   --Arrenego dos sês brincos,    mais de sua brincaria!
     Agarrou-me pela mão    e à cama me luvaria,
  20   [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]qu` isso era    o que o Conde qu`ria.
     --Pôs cala-t` ó minha filha,    manda vazar o jantar,
  22   qu` antes das três da tarde,    ele há-d` ir a inforcar,
     `ó rabo do mê cavalo    para mais penas dêxar!--
  24   `Ind` às três não erom dadas,    já el` i` a intarrar.
     --Que toques há em palácio?    É de pessoal real!
  26   --`Some `i, ó minha mãe,    àquela janela do cabo,
     se quer ver o Conde d` Alamanha    se vai bem amortalhado.
  28   --Mal o haja Juliana,    mais o lête que mamou,
     um Conde c`ma rosa,    el` a morte le cuasô!
  30   --Cal`-s` ó minha mãe,    não me faça infadar,
     que a morte que lev`ó Conde    não la faça ele luvar!
  32   Qu` ê` o mê rosto sujei    p`r`ó seu ir a alimpar!--

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0095:60 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6797)

Versión de Castro Verde (c. Castro Verde, dist. Beja, Baixo Alentejo, Portugal).   Recogida 00/00/1917 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, II. 493-494. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 839, p. 59. © Fundação Calouste Gulbenkian.  048 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá nas vidraças,    a rainha, que se erguia,
  2   tinha dormido com o Conde    e el-rei não o sabia.
     --Eu te peço, ó minha filha,    que me queiras encobrir;
  4   vindo o Conde de Lamanha,    de ouro te há-de vestir.
     --Eu não preciso do seu ouro,    que eu também tenho damasco.
  6   Ainda o meu pai é vivo,    já me querem dar padrasto.
     Estas manguinhas de seda    que as eu não for a fazer,
  8   s` em o meu pai vir da missa    que lhe eu não for a dizer.--
     As palavras não eram ditas,    o rei as escadas subia.
  10   --Venha daí, ó meu pai,    tenho maravilha a contar.
     Estando eu no meu tear,    tecendo ouro e vitela,
  12   veio o Conde de Lamanha,    três fios me tirou dela.
     --Deixa lá, Dona Bernarda,    que isso é tudo por mangar.
  14   --Mal vai ao seu mangar,    mais a sua zombaria:
     até na mão me pegou,    p`r`à cama me levar qu`ria.
  16   --Conta lá, Dona Bernarda,    torna-me lá a contar,
     se isso tudo for assim,    o conde se vai degolar.--
  18   Estando a mãe mais a filha    debaixo dum laranjal:
     --Eu te arrenego, ó minha filha,    pelo leite que mamaste;
  20   menina, ao Conde tão novo,    já a morte lhe causaste.
     --Cale-se aí, ó minha mãe,    não me faça arrenegar,
  22   que a morte que o Conde    leva não a faça a vós levar.
     --Eu te abendeçou, minha filha,    pelo leite que mamaste,
  24   uma menina tão nova,    já da morte me livraste.--

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0095:34 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6771)

Versión de Nave de Haver (c. Almeida, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1957. Publicada en Reinas 1957, 425. Reeditada en Galhoz 1987-1988, 293 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 813, pp. 36-37. © Fundação Calouste Gulbenkian.  020 hemist.  Música registrada.

     Já lá vanh` a bal` aurora    já lá vanh` o balo dia
  2   já lá vanh` o dom condi    cum canh` a rainha drumia
     [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]    mas ninganh` o sabia;
  4   sabi` ó Juliata    Juliata su filha.
     --Cal`-te lá `nha filha    bainh mo podes incobrir
  6   que dom condi à muto rico    de seda ti ha-de vistir.
     --E nu cáro vistidos de seda    qui os tênho di `amasco
  8   `inda tênho mê pai vivo    já me qu`rias dar padrasto.
     --Ó maldita sarás tu filha    mais o leiti que mamaste,
  10   só `inda tanhes quinzi anos    já a morti me causaste.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Por se tratar de uma versão cuja transcrição tenta "representar" a fonética d área onde foi recolhida, optamos por apresentar, a seguir, uma fixação normativa da mesma, a fim de se tornar mais compreensível.

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0095:35 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6772)

Versión de Rapa (c. Celorico da Beira, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1911. Publicada en Furtado de Mendonça 1911, 1-2. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 814, pp. 37-38. © Fundação Calouste Gulbenkian.  048 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá no castelo,    já lá vem o claro dia,
  2   ele o Conde d`Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabia el-rei,    nem quantos na corte havia;
  4   sabia-o Dona Infanta,    Dona Infanta, sua filha.
     --Se o sabes, minha filha,    não me queiras descobrir,
  6   que o Conde é muito rico,    de oiro te há-de vestir.
     --Não quero seus fatos d` oiro,    também os tenho de damasco;
  8   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     As mangas desta camisa    eu as não cheguem a romper,
  10   se em meu pai vindo da missa,    eu lho não for dizer!
     --Venha com Deus, ó meu pai,    mais a sua bizarria!
  12   Ele o conde d` Alemanha    comigo brincar queria.
     --Isso é de ser rapaz,    seria por zombaria.
  14   --Malo haja o seu zombar,    mais a sua zombaria,
     qu` ele pegou-me pela mão,    à cama levar-me queria!
  16   --Deixa tu dar as três horas,    manda-me pôr de jantar;
     deixa tu bater as quatro,    vê-lo-ás ir a degolar.--
  18   --Venha ver, ó minha mãe,    venha ver a fidalguia,
     com a cabeça num prato    e o sangue numa bacia.
  20   --Mal o hajas, minha filha,    mais o leite que mamaste!
     A uma cara tão linda    que morte lhe tu causaste!
  22   --Cale-se lá, minha mãe,    não a faça eu calar:
     a morte que teve o Conde    não lha faça eu levar,
  24   que a minha cara sujei    para a sua lhe limpar.--

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0095:36 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6773)

Versión de Pinhel (c. Pinhel, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1908. Publicada en Monteiro do Amaral 1908, 102-103. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 815, p. 38. © Fundação Calouste Gulbenkian.  038 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o sol nascendo,    já lá vem o claro dia,
  2   vem o Conde d` Amarantes    de dormir co` a rainha.
     Não o sabia el-rei    nem quantos na corte havia,
  4   só o sabia a princesa,    a princesa sua filha.
     --As mangas desta camisa    eu as não chegue a romper,
  6   em meu pai vindo da missa    quem lho não há-de dizer.
     [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]    --Não lho digas, minha filha,
  8   ele o Conde d` Amarantes    de oiro te vestiria.
     --Não lhe quero o seu oiro,    que os tenho de escumilha.
  10   [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]    --Não lho digas, minha filha,
     que ele o Conde d` Amarantes    de oiro te vestirá.
  12   --Não lhe quero o seu oiro,    que os tenho de damasco,
     ainda meu pai é vivo,    já me querem dar padrasto!
  14   Venha embora, meu pai,    santa seja a sua vinda;
     ele o Conde de Amarantes,    ele comigo brincar queria.
  16   --Ele é menino e moço,    por zombaria o faria.--
     --Mal hajas tu, minha filha,    e o leite que mamastes;
  18   àquela cara tão linda    a morte tu lha causastes.
     --Cale-se lá, minha mãe,    olhe se se quer calar;
  20   a morte qu` ele levou    não lha faça eu levar.--

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0095:37 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6774)

Versión de Lajeosa (c. Sabugal, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una joven. Recogida 00/00/1929 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 145-146. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 816, pp. 38-39. © Fundação Calouste Gulbenkian.  040 hemist.  Música registrada.

     Já dá o sol no castelo,    já lá vem o claro dia,
  2   já o Conde de Alemanha    co` a rainha dormia.
     `Inda o não sabia o rei    nem quanto cordal havia,
  4   sabia-o a bela infanta,    porque era sua filha.
     --Se o sabes, minha filha,    bem o podes encobrir,
  6   que o conde é muito rico,    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero vestido de ouro,    cá os tenho de damasco;
  8   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     As mangas desta camisa    não as chegue eu a fazer,
  10   deixe vir meu pai da missa,    logo lho hei-de dizer.--
     --Bons dias, ó meu pai,    bons dias lhe venho dar,
  12   o Conde de Alemanha    comigo queria brincar.
     --Cala-te lá, minha filha,    não é por velhacaria.
  14   --Agarrou-me pelo braço,    à cama me levar queria.
     --Anda cá, ó minha filha,    vem ver a fidalgaria:
  16   a cabeça num prato,    o sangue numa bacia.
     --Mal hajas tu, minha filha,    mais o leite que mamaste!
  18   Sendo o Conde tão bonito    tu a morte lhe causaste!
     --Cale-se lá, ó minha mãe,    que não na ouçam na rua,
  20   a morte que foi do Conde    era para ser sua!--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: entre -14 e -15 O pai matou o conde; entre -16 e -17 Diz a mãe.

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0095:38 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6775)

Versión de Lajeosa (c. Sabugal, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 146-147. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 817, pp. 39-40. © Fundação Calouste Gulbenkian.  061 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá nas vidraças,    já lá vem o claro dia,
  2   já o Conde da Alemanha    com a rainha dormia.
     `Inda ninguém o sabia,    nem nas cortes se dizia,
  4   só o sabia a princesa,    ela era a sua filha.
     --As mangas deste vestido    eu não chegue a fazer,
  6   deixe vir meu pai da missa,    se eu lho não for dizer.
     --Cala-te lá, minha filha,    manda-me dar de jantar.
  8   --São os rastos dos meus sapatos    que se não querem calar.
     --Cala-te lá, minha filha,    não me hajas descobrir,
  10   que o Conde é muito rico,    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero vestidos d` ouro,    cá os tenho de damasco;
  12   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.--
     --Estando eu no meu tear    tecendo seda amarela,
  14   veio o Conde da Alemanha,    três fios me quebrou nela.
     --Ele é um rapaz novo,    é novinho, quer brincar.
  16   --Não me agradam os seus brincos    nem o seu belo brincar,
     ele me agarrou por um braço,    à cama me quis levar.
  18   --Cala-te lá, ó minha filha,    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
     que amanhã por estas horas    já o mando degolar.--
  20   --Vá depressa, minha mãe,    chegue à janela do meio,
     vá ver o seu condinho,    que vai num belo asseio.
  22   Vá depressa, ó minha mãe,    chegue à janela do fundo,
     vá ver o seu condinho,    que vai para o outro mundo.
  24   --Mal hajas tu, minha filha,    mais o leite que mamaste,
     sendo o Conde tão bonito,    tu a morte lhe causaste.
  26   --Cale-se lá, ó minha mãe,    não me faca arreliar,
     a morte que o conde levou,    não a vá também levar.
  28   Cale-se lá, ó minha mãe,    que não nos sintam na rua,
     eu sujei a minha cara    para lhe lavar a sua!
  30   --Bem hajas, ó minha filha,    mais o leite que mamaste,
     menina de onze anos,    tu da morte me livraste.--

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0095:39 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6776)

Versión de Trancoso (c. Trancoso, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1960. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, II. 493. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 818, pp. 40-41. © Fundação Calouste Gulbenkian.  043 hemist.  Música registrada.

     Já lá baixo vem o sol,    já dá em palácio de el-rei,
  2   mas a rainha com Dom Carlos dormia,    mas el-rei que não sabia;
     só o sabia a sua infanta    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
  4   --Infanta, tu se o sabes,    bem o podes encobrir,
     Dom Carlos é muito rico,    de ouro te pode vestir.
  6   --Não quero vestidos d` ouro,    que os tenho de damasco;
     tenho o meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.
  8   A manga do meu vestido    eu já a não chegue a romper,
     em vindo o papá da missa    se lho eu não for dizer.--
  10   --Venha cá, ó papazinho,    temos muito que falar,
     Dom Carlos d` Além-Mar    comigo queria brincar.
  12   --Cala-te lá, minha filha,    que isso foi brincadeira.
     --Rai`s parta tais brincos,    mais quem deles gostar,
  14   ele na mão me agarrou    para à cama me levar.
     --Cala-te lá, minha filha,    manda-me pôr de jantar,
  16   que amanhã por estas horas    tu o vais ver degolar.--
     --Venha cá, ó mamãzínha,    pela porta do quintal.
  18   Venha ver o Dom Carlos,    já o estão a degolar.
     --Infanta, maldita infanta,    fora o leite que mamastes!
  20   Que era um rapaz tão bonito    e tu a morte lhe causastes!
     --Cale-se lá, minha mãe,    que a não ouçam na rua,
  22   eu sujei a minha cara    para lhe limpar a sua.--

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0095:40 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6777)

Versión de Cinfães (c. Cinfães, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 142. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 819, pp. 41-42. © Fundação Calouste Gulbenkian.  048 hemist.  Música registrada.

     Já bate o sol no Tejo,    lá vem o claro dia,
  2   Levantou-se o Conde d` Alemanha    que co` a rainha dormia.
     Nem el-rei o sabia,    nem quantos na corte havia,
  4   sabia-o Dona Bernarda,    que era sua própria filha.
     --Se o sabes, ó Bernarda,    não me queiras descobrir,
  6   que o conde é muito brioso,    d` oiro te pode vestir.
     --Não quero vestidos d` oiro    que os trago de damasco;
  8   `inda tenho pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     As mangas desta camisa    eu as não chegue a romper,
  10   s` assim que vier meu pai    eu não lho for dizer.--
     --Venha, venha, meu pai, venha,    dou a Deus a sua vinda.
  12   Estando eu no meu quarto    dobando seda amarela,
     veio o Conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
  14   --`Scuita, `scuita, minha filha,    qu` isso era a brincar.
     --Valha aos diabos tais brincos,    mais quem os desejar,
  16   pegou em mim nos braços,    p`r`à cama me quis levar.
     --`Scuita, `scuita, minha filha    manda-me pôr de jantar,
  18   que amanhã por estas horas    o conde vai a degolar.--
     --Venha, venha, minha mãe,    à janela do pombal,
  20   venha ver o amado conde    que lá vai a degolar.
     --Malo hajas tu, Bernarda,    fora o leite que mamaste,
  22   que o conde era tão lindo,    tu a morte lhe causaste.
     --`Scuita, `scuita, minha mãe,    que não a ouçam na rua,
  24   qu` a morte que leva o conde,    `stava p`ra ser a sua.--

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0095:41 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6778)

Versión de Outeiro de Espinho (c. Mangualde, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una mujer. Recogida 00/00/1903 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 144-145. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 820, p. 42. © Fundação Calouste Gulbenkian.  050 hemist.  Música registrada.

     Já lá dá o sol ao Tejo,    já lá vem o claro dia,
  2   lá vem Conde d` Alemanha,    co` a rainha dormia.
     Não o sabia d`el-rei,    nem q`antos na corte havia,
  4   sabia-o dona Infanta,    filha da mesma rainha.
     --Tu, se o sabes, minha filha,    bem me deves encobrir,
  6   que o Conde é pontual,    d` ouro te há-de vestir.
     --Não quero vestidos d` ouro,    já que os tenho de damasco;
  8   que `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     As mangas do meu vestido    eu não as chegue a romper,
  10   em vindo meu pai da missa,    se lho eu não for dizer!
     `Stavam nesta circunstância,    seu pai à porta batia.
  12   --Que barulho é este aqui,    entre tu e tua mãe?
     --O barulho que aqui há    se lho eu fora a contar.--
  14   --`Stando eu no meu tear    tecendo ouro e prata,
     veio o Conde d` Alemanha,    três fios me fez quebrar.
  16   --Cala-te lá, minha filha,    que te mando eu calar,
     que o conde é muito novo,    passa a vida a brincar!
  18   --Valha o diabo tais brincos    e tal negro brincar!
     Ele pegou-me pela mão,    à cama me quis levar.
  20   --`Scuta, `scuta, minha filha,    que te mandarei calar,
     amanhã por estas horas    vai-se o conde a degolar.--
  22   --Malo hajas tu, ó filha,    mais o leite que mamaste!
     Menina de quinze anos,    já uma morte causaste!
  24   --Cale-se lá, minha mãe,    que a mando eu calar,
     a morte que o conde leva    não la faça eu levar.--

Nota de J. L. de Vasconcelos: -11b Batia não rima, mas ouvi assim. Primitivamente seria trupava, que na Beira significa batia à porta.
Variantes: -5b Bem no podes encobrir; -11a `Stavam nesta resoluta.

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0095:42 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6779)

Versión de Vilar Seco de Nelas (c. Nelas, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una señora de edad. Recogida 30/08/1930 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 143-144. Reeditada en Viegas Guerreiro 1976, 36; Viegas Guerreiro 1982, 34 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 821, p. 43. © Fundação Calouste Gulbenkian.  048 hemist.  Música registrada.

     Já o sol era raiado,    já lá vem claro dia,
  2   já o conde de Alemanha    com a rainha dormia.
     Ninguém o sabia,    nem quantos na corte havia,
  4   sabia-o só Juliana,    Juliana sua filha.
     --Juliana, minha filha,    tu me queiras encobrir,
  6   o conde ainda é muito novo,    de oiro te há-de vestir.
     --Não quero vestidos de oiro,    também os tenho de damasco;
  8   ainda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     As mangas do meu vestido    que não as chegue a romper,
  10   que meu pai vindo da caça    eu tudo lhe hei-de dizer.--
     Vinde, vinde, meu pai, vinde,    santa seja a vossa vinda,
  12   quero-lhe contar um caso    de tão grande maravilha.
     --Conta, conta, minha filha,    que eu bem gosto de te ouvir.
  14   --Estando eu no meu jardim,    ao longo da minha cela,
     veio o conde de Alemanha,    três fios me tirou dela.
  16   --Cala-te lá, minha filha,    isso seria a brincar.
     --Leve o diabo tais brincos,    mais tais modos de brincar,
  18   e agarrando-me nos braços    à cama me quis levar.
     --Se tu queres, ó minha filha,    mandamo-lo nós matar.
  20   --Se é vontade do papá,    a minha está a sobejar.--
     --Maldita foi Juliana,    mais o leite que mamou,
  22   a morte que o conde teve    foi ela que lha causou.
     --Cale-se lá, minha mãe,    não me esteja a incomodar,
  24   a morte que o conde teve    não lha faça eu causar.--

Nota: Guerreiro 1976 e Guerreiro 1982 editam parcialmente esta versão.

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0095:43 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6780)

Versión de Resende (c. Resende, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una señora de edad. Recogida 00/00/1908 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 143. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 822, pp. 43-44. © Fundação Calouste Gulbenkian.  048 hemist.  Música registrada.

     Ninguém sabe o que há nas cortes,    nem o que nelas havia,
  2   só o sabe o conde novo,    a mais a Dona Maria.
     --Se o sabes, minha filha,    bem mo podes encobrir,
  4   que o conde é rapaz novo,    d` oiro te pode vestir.
     --Não quero vestidos d` oiro    que os tenho di amasco;
  6   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem pôr madrasto.
     As mangas do meu vestido    nunca as eu chegue a romper,
  8   se, quando vier meu pai,    se lho eu não for dizer!--
     Qando veo seu pai da missa,    correu-lhe co` a notícia.
  10   --Venha cá, ó senhor pai,    um conto lhe quero contar.
     `Stando eu no meu tear    tecendo seda amarela,
  12   veio o conde di Alemanha,    três fios me tirou dela.
     --Três fios que te tirou,    foi a modo de brincar.
  14   --Valha o diabo tais brincos    e mais quem deles gostar!
     --Anda cá, ó minha filha,    anda-me pôr de jentar,
  16   qu` amanhã, por esta hora,    vai o conde a degolar.--
     --Venha cá, ó minha mãe,    chegue à janela do meio,
  18   venha ver o conde novo    que vai com belo asseio.
     --Malo hajas, minha filha,    e `ó leite que mamastes!
  20   A morte que teve o conde    foste tu que lha causastes!
     --Cale-se lá, minha mãe,    cale-se lá, por seu bem,
  22   que a morte que teve o conde    mer`cia-a você também.
     Fale baixo, minha mãe,    que a não ouçam na rua,
  24   a morte que teve o conde    devia de sê` la sua.--

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0095:44 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6781)

Versión de Tinalhas (c. Castelo Branco, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Recitada por Maria Guilhermina (41a). Documentada en o antes de 1954. Publicada en Dias Martins 1954, 267-268. Reeditada en Galhoz 1987-1988, I. 295-296 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 823, pp. 44-45. © Fundação Calouste Gulbenkian.  052 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem a manhã clara,    já lá vem o claro dia,
  2   já o Conde de Alemanha    comigo brincar queria.
     --Se o sabes, minha filha,    não o vás a descobrir.
  4   Olha que o Conde é rico    de ouro te há-de vestir!
     --Eu não os quero de ouro    que eu tenho-os de diamasco,
  6   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     As mangas desta camisa    não chegue eu a fazer,
  8   se o meu pai não vier da missa    se eu o não for a dizer!
     As mangas desta camisa    não chegue eu acabar,
  10   se o meu pai não vier da missa    se eu o não for a contar!--
     O meu pai que ia antrando    eu nesta conversa estando.
  12   --Assente-se aqui, meu pai,    com toda a sua alegria,
     já a sua filha muito    le contar queria:
  14   já o Conde de Alemanha    comigo brincar queria.
     --Não te agastes, minha filha,    não te deves de agastar
  16   que isso era malícia    contigo brincar.
     --Mal o haja o Conde de Alemanha    mais o seu brincar!
  18   Que me agarrou numa mão,    à cama me quis levar.
     --Alevanta-te, ó minha filha,    vem-me a pôr de jantar,
  20   lá `ó justo, `ó sol posto    tu o verás degolar.--
     --Mal o hajas tu, minha filha,    mais o leite que mamaste,
  22   se o Conde era tão lindo    tu `ma morte le cuasaste.
     --Cale-se aí, minha mãe,    se a não faço calar!
  24   Qu`a morte que se fez ao Conde    não lo faço eu tomar.
     --Bem hajas tu, minha filha,    mais o leite que mamaste,
  26   uma menina de doze anos,    de uma morte me livraste.--

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0095:45 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6782)

Versión de Castelo Branco (c. Castelo Branco, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Recitada por una mujer. Recogida 00/00/1916 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 147-148. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 824, pp. 45-46. © Fundação Calouste Gulbenkian.  054 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá na verdaça,    já lá vem no claro dia,
  2   já o conde d` Alamanha    com a rainha dormia.
     --Se o sabes, minha filha,    não no vás a descobrir,
  4   qu` o conde é munto rico,    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero vestidos d` ouro    qu` ê tenho-os de deamasco;
  6   `inda tenho mê pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     As mangas desta camisa    não nas chegue eu a fazer,
  8   se, em meu pai vindo da missa,    s` o eu não lho for dezer.
     As mangas desta camisa    não chegue eu a acabar,
  10   se, quando mê pai vier,    eu não lho for a contar.--
     Meu pai que vinha antrando    e eu nesta conversa estando.
  12   --Assente-se aqui, mê pai,    eu munto contar lhe queria.
     Saiba: o conde d` Alamanha    comigo brincar queria.
  14   --Não t` agastes, minha filha,    não te deves agastar,
     tudo isso foi sem malícia,    tudo era por brincar.
  16   --Malo haja o cond` Alamanha,    malo haja o seu brincar,
     até na mão me pegou,    à cama me quis levar.
  18   --Levanta-te, minha filha,    vem-me a pôr de jantar,
     lá junto ao sol-posto    tu o verás degolar.--
  20   --Levante-se, minha mãe,    venha ver a bizarria:
     qu`a cabeça está num prato    e o sengue numa bacia.
  22   --Malo hajas, minha filha,    mais o lête que mamaste,
     pois o conde era tão lindo,    tu a morte lhe cuasaste.
  24   --Cale-se lá, minha mãe,    senão a faço calar,
     a morte que o conde teve    não la faça eu cuasar.
  26   --Bem hajas, minha filha,    mais o leite que mamaste,
     tens apenas doze anos    e da morte me livraste.--

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0095:46 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6783)

Versión de Alcongosta (c. Fundão, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1954. Publicada en Dias Martins 1954, 265-266. Reeditada en Galhoz 1987-1988, I. 294-295 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 825, pp. 46-47. © Fundação Calouste Gulbenkian.  048 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dá do castelo    já lá vem o claro dia.
  2   --A manga desta camisa    não a chego ir fazer
     se o meu pai vier da missa    se eu não lhe for a dizer.
  4   --Cala-te aí, ó minha filha,    não me queiras descobrir,
     que ele o Conde é menino    de seda te há-de vestir.
  6   --Eu não quero vestidos de seda    que o meu pai dá-mos de diamasco,
     `inda tenho meu pai vivo    já me querem dar padrasto.--
  8   --Com Deus venha, ó meu pai,    com Deus venha a sua vinda:
     que ele o Conde de Alemanha    comigo já brincar queria.
  10   --Cala-te aí, ó minha filha,    manda-me pôr de jantar,
     que ele, o Conde,    é menino fez isso para brincar!
  12   --Mal haija o seu zombar,    mais o seu zombaria,
     com um braço ele me pegou,    à sala me levaria.
  14   --Cala-te aí, ó minha filha,    manda-me pôr de jantar,
     às duas horas da tarde    tu o verás degolar.--
  16   --Venha ver, ó minha mãe,    venha ver a fidalguia.
     Vai com toda a vesdarria!    para o cemitério ia.
  18   Leva a cabeça da salva,    o sangue numa bacia.
     --Mal haijas tu, ó minha filha,    mais o leite que mamaste,
  20   uma morte tão tirana    que tu é que é cuàsaste.
     --Cale-se aí, ó minha mãe,    se eu a mando calar!
  22   A morte que eu dei ao Conde    é mais fácil de a eu levar.
     --Bem hajas tu, minha filha,    mais o leite que mamaste,
  24   menina de quinze anos    de uma morte me livraste.--

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0095:47 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6784)

Versión de Beira Baixa s. l. (dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1867. Publicada en Braga 1867a, 75-77. Reeditada en Hardung 1887, I. 168-170 y RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 4-6 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 826, pp. 47-48. © Fundação Calouste Gulbenkian.  070 hemist.  Música registrada.

     Já o sol nasce na serra,    já lá vem o claro dia,
  2   `inda o Conde de Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabia o rei,    nem quantos na corte havia,
  4   sabia-o só a princesa    Juliana, sua filha.
     --Juliana, se o sabes,    não o queiras descobrir;
  6   porque o Conde é muito rico,    de ouro te ha-de vestir.
     --Não quero seus fatos de oiro,    já os tenho de damasco;
  8   `inda meu pai não é morto,    já me querem dar padrasto!
     As pregas desta camisa    eu não as chegue a fazer,
  10   quando meu pae vier da missa    se eu lho não for dizer.
     As pregas desta camisa    não as chegue eu a acabar,
  12   em meu pai vindo da missa    se lho eu não for contar.--
     Estando nestas razões,    o pai à porta batia:
  14   --Oh que razões serão essas    entre uma mãe e a filha?
     --Com bem venha, senhor pai,    com Deus seja a sua vinda;
  16   tenho para lhe contar    um conto de maravilha:
     estando eu no meu tear    tecendo cambraia fina,
  18   veio o Conde de Alemanha    --Algum fio te quebraria?
     Não te zangues, minha filha,    nem me faças tu zangar,
  20   porque o Conde é divertido,    talvez fosse por brincar.
     --Mal o hajam os seus brincos,    mais o seu negro brincar;
  24   que me pegou por um braço    e à cama me quis levar.
     --Acomoda-te pois, filha,    não me, faças mais zangar,
  26   amanhã, por estas horas,    vai o Conde a degolar.--
     --Levante-se, minha mãe,    venha ver a bizarria!
  28   E o Conde de Alemanha    também vai na companhia,
     Com a cabeça num prato,    e o sangue numa bacia.
  30   --Mal o hajas tu, ó filha,    fora o leite que mamaste;
     sendo o Conde tão bonito,    a morte que lhe causaste.
  32   --Acomode-se, minha mãe,    não me faça mais zangar,
     a morte que o Conde leva    não lha faça eu levar.
  34   --Bem hajas, ó minha filha,    mais o leite que mamaste;
     menina de doze anos    da morte que me livraste.--

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0095:48 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6785)

Versión de Beira Baixa s. l. (dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1905. Publicada en Thomás 1905-1908, 281 y Thomás 1913, 5-7. Reeditada en Graça [1953], 77-78; Redol 1964, 384-386; Graça 1974, 76-77; Graça - Giacometti 197?, 82-83; Giacometti 1981, 179-180; Graça 1991, 115 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 827, pp. 48-49. © Fundação Calouste Gulbenkian.  062 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o sol nascendo,    já lá vem o claro dia,
  2   e o conde de Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabe nem el-rei    nem quantos na corte havia:
  4   sabe-o só a Dona Infanta,    filha da mesma rainha.
     --Minha filha, se o sabes,    não o dês a descobrir
  6   que o conde é muito rico    de oiro te há-de vestir.
     --Não quero os seus fatos d` oiro    que tenho os meus de damasco,
  8   `inda meu pai não é morto,    já me querem dar padrasto.
     As mangas desta camisa    eu não as chegue a romper
  10   que em meu pai vindo da missa    eu lho saberei dizer!--
     --Venha, venha, ó meu pai,    boa seja a sua vinda:
  12   tenho um conto p`ra contar-lhe    muito triste, à maravilha.
     --Conta lá, ó minha filha,    que eu folgarei de te ouvir.
  14   --Estando eu no meu tear,    na minha teia a tecer,
     veio o conde de Alemanha    e a teia quis desfazer.
  16   --Deixa o conde de Alemanha    que é rapaz e quer brincar.
     --Mal hajam os seus brincos    mais também o seu brincar
  18   que num braço me pegou    e à cama me quis levar.
     --Cala-te lá, minha filha,    cala e torna a calar,
  20   se eu o soubera mais cedo    tinha-o mandado matar:
     mas hoje por dois algozes    o mandarei degolar.--
  24   --Venha, venha, ó minha mãe,    venha. à janela do cabo,
     ver o conde de Alemanha    vestidinho de encarnado.
  26   Venha, venha, ó minha mãe,    não se deve demorar,
     ver o conde de Alemanha    que lá vai a degolar.
  28   --Mal o hajas, minha filha,    mais o leite que mamastes,
     que é um conde tão bonito    e a morte lhe causastes.
  30   --Cale-se lá, minha mãe,    bem se pode já calar,
     que a morte que o conde leva,    a podia a mãe levar!--

Nota: Graça 1991 edita apenas a transcrição musical com os dois primeiros versos.

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0095:49 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6786)

Versión de Mação (c. Mação, dist. Santarém, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1921. Publicada en Serrano 1921, 30-32. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 828, pp. 49-50. © Fundação Calouste Gulbenkian.  060 hemist.  Música registrada.

     Já lá na serra amanhece,    já lá vem o claro dia,
  2   `inda o Conde d` Alemanha    com a rainha dormia!
     Não o sabia el-rei    nem quantos na corte havia,
  4   só o sabia a Infanta,    filha da mesma rainha.
     --Bem podes tu, minha filha,    minhas faltas encobrir,
  6   que o bom Conde d` Alemanha    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero os seus fatos d` ouro    que tenho os meus de damasco;
  8   `inda tenho o meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     As mangas desta camisa    eu não as chegue a romper,
  10   se em meu pai vindo da caça    logo lhe o não for dizer!--
     Palavras não eram ditas,    o pai à porta batia:
  12   --Então que razões são estas    entre a mãe e sua filha?
     --Vou contar-lhas, senhor pai,    que contar-lhas não devia.--
  14   Ouvindo isto, a rainha    de susto toda tremia!
     --Foi o Conde d` Alemanha    que comigo brincar queria;
  16   a teia do meu tear    empeçou em demasia.
     --Eu não vejo nisso ofensa    que o Conde fazer-te queria;
  18   ele é moço, tu és moça,    fazia-o por zombaria.
     --Arrenego o seu zombar    mais a sua zombaria!
  20   Que até me quis encostar    à cama onde eu dormia!
     --Oh! Cala-te, ó minha filha!    E vem me pôr o jantar,
  22   que hoje antes de o sol ser posto    hei-de mandá-lo matar!
     Nas ameias do castelo    seus dias há-de acabar,
  24   sobre a mais alta ventana    lá o vereis enforcar!--
     --Venha cá, senhora mãe,    não se deve demorar,
  26   ver o Conde d` Alemanha    que o levam a enforcar!
     --Mal hajas tu, minha filha,    mais o leite que mamaste,
  28   que a morte de tão bom Conde    foste tu só que a causaste.
     --Cale-se, ó senhora mãe,    porque o calar lhe convém,
  30   que a morte que teve o Conde    pode a mãe tê-la também!--

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0095:23 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6760)

Versión de S. Tomé de Covelas (c. Baião, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Recogida 00/00/1902 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 135. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 802, p. 28. © Fundação Calouste Gulbenkian.  035 hemist.  Música registrada.

     --Venha, venha, meu paizinho,    depressa, não devagar,
  2   uma nova muito grande    le tenho pera contar:
     --`Stando eu na minha cela    cosendo na minha bandela,
  4   veu o condes co` a manha,    três fios me tirou dela.
     --`Scuita lá, ó minha filha,    [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
  6   que o conde era menino,    fez isso a mangar.
     --Malo haja tal mangar    a mais a quem no gabar!
  8   Ele agarrou-me a um braço,    à cama me qu`ria levar!
     --`Scuita lá, ó minha filha,    qu`eu to mandarei matar.
  10   --Mande, mande, meu paizinho,    depressa, não devagar,
     mande-me fazer tão miúdo    que nem nas pedras de sal;
  12   nem nos pombos que são pombos,    meu pai, o posso apanhar.--
     --Já lá vem a amanhecer,    lá vem no claro dia,
  14   `stá o condes d` Alamanha    morto sob terra fria.
     --Malo hajas tu, Bernarda,    e o leite que mamastes,
  16   qu`a morte daquele condes tu,    Bernarda, lha causastes!
     --Cal`-se lá, minha mãe,    cal`-se por sua via,
  18   qu` a morte daquele condes    também na você mer`cia!--

Variante: -6b zombar.

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0095:24 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6761)

Versión de Felgueiras (c. Felgueiras, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 132. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 803, p. 29. © Fundação Calouste Gulbenkian.  046 hemist.  Música registrada.

     Já dá o sol na vidraça,    já lá vem o claro dia,
  2   donde o Conde de Lamária    com a rainha dormia.
     --Se o sabes, minha filha,    tu o queiras encobrir,
  4   que o Conde de Lamária    d` oiro te pode vestir.
     --Não quero vestidos d` oiro    que os tenho de damasco!
  6   A camisa que eu trago,    eu não a chegue a romper,
     se assim que meu pai vier,    se lho eu não for dizer!--
  8   --Venha, venha, senhor pai,    dou a Deus sua chegada,
     continhos maravilhos    eu tenho para lhe contar!
  10   Estando eu no meu estrado    torcendo seda amarela,
     veio o Conde de Lamária,    três fios me tirou dela.
  12   --Anda cá, ó minha filha,    anda-me dar o jantar,
     que o Conde de Lamária    é novo, quer brincar.
  14   --Dou a Deus o seu brinquedo    e ao diabo seu falar!
     Pois pegou-me a mim nos braços,    para a cama me quis levar!
  16   --Anda cá, ó minha filha,    anda-me dar de jantar,
     que o Conde de Lamária    já lá vai a degolar.
  18   --Venha, venha, minha mãe,    à janelinha do mar,
     venha ver o condezinho    que lá vai a degolar.
  20   --Arrenego-te eu, minha filha,    e o leite que tu mamastes,
     que a morte do Conde lindo fostes    tu que o causastes.
  22   --Escute lá, ó minha mãe,    cale-se e não diga nada!
     A morte do Conde lindo    estava para si taixada!--

Nota: -7a y -13a Leite 1958-1960 transcribe com parêntesis (as)sim y Conde (de) Lamária.

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0095:25 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6762)

Versión de Marco de Canaveses. (c. Marco de Canaveses, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1944. Publicada en Monteiro 1944, 71-72. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 804, pp. 29-30. © Fundação Calouste Gulbenkian.  056 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o sol abaixo,    já lá vem o claro dia,
  2   e o Conde de Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabe nem el-rei    nem quantos na corte havia;
  4   sabia-o a Dona. Infanta,    filha da mesma rainha.
     --Filha minha, se o sabes,    não o dês a descobrir,
  6   que o Conde de Alemanha    de oiro te há-de vestir.
     --Não quero os seus fatos d` oiro,    pois tinha os meus de damasco;
  8   `inda meu pai não é morto,    já me querem dar padrasto.
     As mangas desta camisa    eu não as chego a romper;
  10   deixe vir meu pai da missa,    eu lhe saberei dizer.--
     --Venha, venha, ó meu pai,    boa seja a sua vinda;
  12   tenho um conto p`ra contar-lhe,    muito triste, à maravilha.
     --Conta lá, ó minha filha,    que eu folgarei de te ouvir:
  14   --Estando eu no meu tear,    na minha teia a tecer,
     veio o Conde de Alemanha    ter comigo e me empecer.
  16   --Deixa o Conde de Alemanha    que é rapaz, e quere brincar.
     --Mal hajam os seus brinquedos    e também o seu zombar,
  18   que no braço me pegou    e à cama me quis levar!
     --Cala-te lá, minha filha,    não mo tornes a contar;
  20   s` eu o soubera mais cedo,    tinha-o mandado matar,
     mas hoje por dois algozes    eu o mando degolar.--
  22   --Venha, venha, ó minha mãe,    venha à janela do cabo,
     ver o Conde de Alemanha    vestidinho de encarnado!
  24   Por mandado de meu pai    vai o Conde a degolar!
     --Má-lo hajas, minha filha,    mai` lo leite que mamaste,
  26   que é um Conde tam bonito    e a morte lhe causaste!
     Dá cá aquela toalha    que me veio de Castilha;
  28   apertá-la na garganta,    e acabar já co` a vida!--

Variante: -6b cobrir.

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0095:26 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6763)

Versión de Vila Cova de Carros (c. Paredes, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 133-134. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 805, pp. 30-31. © Fundação Calouste Gulbenkian.  044 hemist.  Música registrada.

     Já dá o sol na vidraça,    lá vem o claro dia,
  2   que é do Conde de Alemanha,    que co` a rainha dormia?
     Ninguém no sabia,    nem na Sua Fidalguia,
  4   mas sabia-o sua filha,    chamada Dona Justina.
     --Se o sabes, minha filha,    não no digas a ninguém,
  6   que o Condes é muito rico,    de ouro te há-de vestir.
     --Nem lhe quero seus vestidos,    nem de ouro, nem de laço;
  8   meu pai `inda é muito novo,    `inda não quero madrasto.
     As mangas deste vestido    não as chegue eu a romper,
  10   se, quando meu pai vier,    se lo eu não for dizer!--
     --Venha, venha, senhor pai,    que eu muito le hei-de contar,
  12   que o Conde de Alemanha    que me queria pegar.
     --Cal`-te lá, minha filha,    que isso seria a brincar.
  14   --Dou a Deu` lo brincar dele,    e o dito do seu brincar,
     ele pegou-me pelo braço,    à cama me foi botar.
  16   --Pois cal`-te lá, minha filha,    eu to mando degolar.
     --Venha, venha, minha mãe,    venha às grades do quintal,
  18   venha ver o seu benzinho,    que lá vai a degolar.
     --Malo hajas, minha filha,    o leite que tu mamaste,
  20   que era o Condes tão bonito,    que a morte lhe causaste!
     --Cal`-se lá, minha mãe,    ninguém lo ouça dizer!
  22   A morte que o Condes teve    havia você de a ter!--

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0095:27 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6764)

Versión de Penafiel (c. Penafiel, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 134-135. Reeditada en Pinto-Correia 1984, 265; Pinto-Correia 1986a, 52-53 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 806, pp. 31-32. © Fundação Calouste Gulbenkian.  046 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o sol à serra,    lá vem o claro dia,
  2   e o conde de Alemanha    com a rainha dormia.
     --Cala-te aí, minha filha,    não me faças afligir,
  4   que o conde de Alemanha    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero vestido d` ouro,    já o tenho de damasco;
  6   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     --Só tu viste, minha filha,    só tu mo hás-de calar!
  8   --Deixe vir meu pai da caça,    se lho eu não for dizer,
     as mangas do meu vestido    eu não as chegue a romper.
  10   Estando eu no meu palácio    dobando seda amarela,
     veio o conde d` Alemanha,    por três vezes me tirou dela.
  12   --Não te admires, minha filha,    não te deves admirar,
     o conde é rapaz novo,    de certo que quer brincar.
  14   --Arrenego eu tais brinquedos,    de à cama me querer levar!
     --Descansa, minha filha,    que ele vai a degolar.
  16   --Chegue-se, minha mãe, chegue-se,    à janela do campo,
     ande ver o conde    todo vestido de branco.
  18   Chegue-se, minha mãe, chegue-se    , à janela do jardim,
     ande ver o conde    que agora vai ter fim.
  20   --Maldita sejas, minha filha,    afora o leite que mamaste!
     Olha um rapaz tão novo    a morte que lhe causaste!
  22   --Cale-se lá minha mãe,    não me faça agoniar,
     a morte que lhe eu causei    a si a posso causar.--

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0095:28 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6765)

Versión de Porto (c. Porto, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Recitada por una mujer de Gaia. Documentada en o antes de 1911. Publicada en Pereira 1911, 138-139. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 807, pp. 32-33. © Fundação Calouste Gulbenkian.  048 hemist.  Música registrada.

     Dá o sol na vidraça,    lá vem o claro dia;
  2   é segredo encoberto    ainda o rei o não sabia,
     sabia-o Dona. Bernarda,    que era filha da rainha.
  4   --Estando eu no meu tear    tecendo seda amarela,
     veio o Conde d` Alamar,    três fios tirou dela.
  6   Deixe vir meu pai de fora    que logo lho vou dizer.--
     Palavras não eram ditas,    o rei à porta a bater.
  8   --Venha, venha, meu pai,    venha, estimarei sua vinda,
     tenho para lhe contar    uma nova maravilha.
  10   --Conta, minha filha, conta,    conta o que tens a contar.
     --Estando eu no meu tear,    tecendo seda amarela,
  12   veio o conde d` Alamar,    três fios me tirou dela.
     --Cala-te lá, minha filha,    anda-me dar de jantar
  14   o conde é rapaz novo,    fez-te isso a brincar.
     --O demo leve tal modo,    tal modo de brincar:
  16   ó meu pai, dê-lhe o castigo,    se não eu lho mando dar.
     --Cala-te lá, minha filha,    anda-me dar de jantar:
  18   amanhã às quatro horas    irá o conde a queimar.--
     --Venha, venha, minha mãe,    à janela do meio,
  20   venha ver o Conde arder,    arder com todo o aceio.
     --T` arrenego, minha filha,    e `ó leite que mamaste:
  22   a um rapaz de quinze anos    olha a morte que causaste.
     --Cale-se lá minha mãe    ponha-se no meio da rua,
  24   que a morte que foi do conde    estava para ser a sua.--

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0095:29 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6766)

Versión de Porto (c. Porto, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Recogida 00/00/1876 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 133. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 808, p. 33. © Fundação Calouste Gulbenkian.  044 hemist.  Música registrada.

     Estando eu na minha cela    dobando seda amarela,
  2   passa o Conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
     --Venha, venha cá, meu pai,    que eu tenho que lhe contar.
  4   --Conta, conta, minha filha,    que eu gosto de te ouvir falar.
     --Estando eu na minha cela    dobando seda amarela,
  6   passa o Conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
     --Cala-te aí, minha filha,    que isso seria a mangar.
  8   --Malo haja tal brinquedo,    que na cama me quis deitar!
     --Cala-te aí, minha filha,    vai-me tirar o jantar,
  10   que amanhã por estas horas    vai o Conde a degolar.--
     --Venha, venha, minha mãe,    à janelinha do meio,
  12   venha ver o senhor Conde    como vai pelo passeio;
     venha, venha, minha mãe,    à janelinha do canto,
  14   venha ver o senhor Conde    vestidinho de branco;
     venha, venha, minha mãe,    à janela do quintal,
  16   venha ver o senhor Conde    como vai a degolar.
     --Malo haja a minha filha,    fora o leite que mamaste,
  18   que a morte que o Conde leva,    foste tu que lha causaste
     --Cale-se aí, minha mãe,    não me faça arrenegar,
  20   a morte que o Conde leva    não a faço eu causar.
     Tendo eu vestidos de seda,    mos queria dar de damasco;
  22   `Inda tinha meu pai vivo,    já me queria dar padrasto!--

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0095:30 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6767)

Versión de Santo Tirso (c. Santo Tirso, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1942. Publicada en Carneiro 1942b, 26-27 y Carneiro 1958a, 52-54. Reeditada en Redol 1964, 386 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 809, p. 34. © Fundação Calouste Gulbenkian.  032 hemist.  Música registrada.

     Estando eu no meu tear,    tecendo seda amarela,
  2   veio o Conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
     --Anda, anda, minha filha,    anda-me dar de jantar,
  4   deixa lá o Conde novo,    qu` ele é novo, quer brincar.
     --Leve o demo tais brinquedos,    e a mais o tal brincar,
  6   que pegou em mim ao colo,    à cama me queria levar.
     --Anda, anda, minha filha,    à janela do pomar;
  8   anda ver o Conde Alberto    a morte que vai levar.
     Anda, anda, minha filha,    ouvi bem o teu conselho;
  10   anda ver o Conde Alberto,    como le cai o vermelho.
     --Maldito, ó minha filha,    fora o leite que mamaste!
  12   Era um Conde tão lindo,    a rnorte que lhe causaste.
     --Cale-se lá, minha mãe,    não ponha tudo na rua;
  14   a morte que o Conde leva,    ela havia de ser sua.
     --Abençoada, minha filha,    mais o leite que mamaste.
  16   Da idade de oito anos,    a morte à mãe livraste.--

Variantes: 14b não a leveis vós também.

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0095:31 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6768)

Versión de Santo Tirso (c. Santo Tirso, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1914. Publicada en Lima 1914-1917, 297 y Lima 1948, 498-499. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 810, pp. 34-35. © Fundação Calouste Gulbenkian.  020 hemist.  Música registrada.

     Estando eu na minha sala,    dobando seda amarela,
  2   veio o Conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Cala, cala, minha filha,    não te dês pelo pesar;
  4   é um rapazinho novo    fez-te isso para brincar.
     --Valha-lhe um corno o seu brinco,    e mais o seu brinquedar,
  6   que me pegou por um braço,    à cama me quis levar.--
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Venha, venha, minha mãe,    à janelinha do meio;
  8   venha ver o senhor conde,    que dá braços ao passeio.
     Venha, venha, minha mãe,    à janelinha do canto;
  10   venha ver o senhor conde,    todo vestido de branco.--

Variantes: -1b vestidinha de amarelo; -3b nem disso tenhas pesar.
Nota: Lima (1948-1949) reúne, numa só versão, o fragmento aqui editado e o publicado neste volume com o número 811.

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0095:32 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6769)

Versión de Santo Tirso (c. Santo Tirso, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1914. Publicada en Lima 1914-1917, 16 y Lima 1948, 498-499. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 811, p. 35. © Fundação Calouste Gulbenkian.  010 hemist.  Música registrada.

     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Eu te amaldiçoo, filha,    e o leite que mamaste:
  2   um conde tão bonito,    a morte que lhe causaste!
     --`Scuita, `scuita, minha mãe,    enquanto que me eu calei;
  4   a morte que o conde leva,    não a leveis vós também.--

Nota: Lima 1948/1949 reúne, numa só versão, o fragmento aqui editado e o publicado neste volume com o número 810.

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0095:33 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6770)

Versión de Lavadores (c. Vila Nova de Gaia, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1902. Publicada en Pedroso 1902, 459. Reeditada en Pedroso 1988, 377 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 812, pp. 35-36. © Fundação Calouste Gulbenkian.  056 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o sol abaixo,    já lá vem o claro dia,
  2   e o conde da Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabia ninguém    nem quantos na corte havia.
  4   Sabia-o Dona Silvana    filha da mesma rainha.
     --Se tu, minha filha, o sabes    tu me queiras encobrir;
  6   darei-te vestidos d` ouro,    também tenho-os de Damasco.
     --Meu pai ainda não é morto    já me querem dar padrasto.
  8   As mangas desta camisa    não as chegue eu a romper,
     assim que meu pai vier    se eu não lhe for dizer.--
  10   --Venha, venha, meu pai, venha,    santa seja a sua vinda,
     tenho um conto para lhe contar    , um conto a maravilha.
  12   Estando eu no meu tear    tecendo seda amarela,
     veio o conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
  14   --Cala-te lá, minha filha,    qu` isso foi só por brincar.
     --Maldito seja o seu brinco    se comigo quis brincar,
  16   que pegou em mim nos braços    à cama me foi deitar.
     --Cala-te lá, minha filha,    a ninguém o vás dizer,
  18   amanhã por estas horas    irá o conde a morrer.
     Cala-te lá, minha filha,    a ninguém o vás contar,
  20   que amanhã por estas horas    vai o conde a degolar.--
     --Venha, venha, minha mãe,    à janelinha do meio,
  22   venha ver o conde Alberto    vestidinho de vermelho.
     Ande, ande, minha mãe,    ande depressa, venha ver,
  24   venha ver o conde Alberto    que hoje vai a morrer.
     --Maldita sejas tu, filha,    fora o leite que mamaste,
  26   a um mancebo tão belo,    a morte que lhe causaste.
     --Cale-se lá, minha mãe,    que não se ouça na rua.
  28   A morte que o conde leva    também pode ser a sua.--

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0095:50 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6787)

Versión de Aldeia Galega da Merceana (c. Alenquer, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).   Recogida por Manuel F. Silva, publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 148-149. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 829, pp. 50-51. © Fundação Calouste Gulbenkian.  047 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem o sol à serra,    já lá vem o claro dia,
  2   e o Conde d` Alamanha    com a rainha dormia.
     [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]    como ninguém o sabia,
  4   só o sabe Juliana,    Juliana sua filha.
     --Juliana, se o sabes,    não o queiras descobrir,
  6   que o Conde é muito rico,    d` oiro t` há-de vestir.
     --Não quero fatos d` oiro,    que os tenho de damasco;
  8   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     As mangas do meu gibão    eu as não chegue a romper,
  10   deixe vir meu pai da missa,    eu lhe saberei dizer.--
     Ora venha, meu pai, venha,    boa seja a sua vinda,
  12   eu lhe quero já contar    os contos da maravilha:
     estando eu no meu tear,    tecendo seda amarela,
  14   veio o Conde d` Alamanha,    três fios me quebrou dela.
     --Cala a boca, ó minha filha,    não te estejas a mortificar,
  16   que o Conde é novinho,    o seu regalo é brincar.
     --Leve o diabo tais brinquedos,    tais maneiras de brincar,
  18   ele agarrou-me pela mão,    ao meu quarto me quis levar.
     --Diz-me lá, ó minha filha,    que morte le queres dar.
  20   --Dê-lhe um golpe na cabeça    e mande-o deitar ao mar.--
     --Amaldiçoada filha minha,    mais o leite que mamaste!
  22   --Um Conde tão bonito,    tão cruel morte le causaste.
     --Cale-se, ó minha mãe,    cale-se para seu bem,
  24   a morte que o Conde teve    não a queira ter também.--

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0095:51 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6788)

Versión de Cadaval (c. Cadaval, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 148. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 830, p. 51. © Fundação Calouste Gulbenkian.  024 hemist.  Música registrada.

     Bate o sol na vidraça,    responde claro dia,
  2   o Conde da Alemanha    com a rainha dormia.
     Mas o rei não o sabia,    nem ninhuma fidalguia,
  4   sabia-o a Dona Bernarda,    filha da mesma rainha.
     --Minha filha, se o sabes,    não o queiras descobrir,
  6   que o conde é muito rico,    de oiro te manda vestir.
     --Não quero vestidos de oiro,    pois já os tenho de damasco;
  8   ainda tenho meu pai vivo,    não preciso de padrasto!
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Renego de ti, minha filha,    mais ao leite que mamaste,
  10   um mancebo tão bonito,    a morte que lhe causaste!
     --Cale-se lá, minha mãe,    não me esteja a amofinar,
  12   a morte que o mancebo leva    lha posso a si causar.--

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0095:52 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6789)

Versión de Mafra (c. Mafra, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 149-150. Reeditada en Redol 1964, 386-387 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 831, pp. 51-52. © Fundação Calouste Gulbenkian.  050 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem no sol à serra,    lá vem no claro dia,
  2   vem no Conde d` Alemanha    com qu` a rainha dormia.
     --Se o sabes, minha filha,    bem me podes encobrir,
  4   que o Conde é muito rico,    d` oiro te pode vestir.
     --Não quero vestido d` oiro,    que já o tenho de damasco;
  6   meu pai ainda é vivo,    já o quer fazer madrasto.--
     --Venha cá, ó meu pai,    um conto lhe vou contar,
  8   que o Conde da Alemanha    co` a nossa mãe `stava a brincar.
     --Cala-te, ó minha filha,    que tu estás a mangar,
  10   não me trates d` asneiras,    cuida mas é do jantar.
     --Venha cá, o meu pai,    venha cá, ó meu paizinho,
  12   que o Conde d` Alemanha    sempre lhe deu um beijinho.
     --Não te exaltes, minha filha,    hás-me de falar a preceito,
  14   que o Conde d` Alemanha    para isso ja não tem jeito.
     --Venha cá, ó meu pai,    que sempr` há-d` acraditar,
  16   que ele pegou na minha mãe,    à cama a quije levar,
     deitando-s` ambos os dois    trataram de brincar.--
  18   Depois mandou o pai    esse homem amortalhar.
     Gozou-se do que era dele,    coisa que não devia a gozar.
  20   --A Vossa Real Majestade    me tenho a desculpar,
     que le não faltei ao respeito    para me mandar matar.
  22   Mal o haja a minha sorte,    sorte tão infeliz!
     que me mandaram matar    por coisas que eu não fiz.
  24   --Vou-te mandar matar,    homem horrendo e carrasco,
     porque sabes que eu que sou rei    e me quijestes fazer madrasto.--

Nota de J. L. de Vasconcelos: -6b Sinónimo de cuco (homem traído pela mulher).

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0095:53 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6790)

Versión de Murteira (c. Loures, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).   Recitada por Adelaide (66a). Recogida 00/00/1957 Publicada en Costa 1957, 440-441 y Costa 1961, 320. Reeditada en Galhoz 1987-1988, I. 298-299 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 832, pp. 52-53. © Fundação Calouste Gulbenkian.  027 hemist.  Música registrada.

     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Cala-te minha filha    que me deves d` incobrir
  2   o Conde d` Alamanha é rico,    d` ouro te pode vestir.
     --Nã me quero vestir d` ouro    `inda tenho mê damasco,
  4   `inda tenho meu pai vivo    nã me quêra dar padrasto!
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Arrenego do seu brinco,    má`s do seu novo brincar,
  6   ele me puxou pela mão    e à cama me quis levar.
     O que le peço, mê pai,    que mo fora já matar.--
  8   --Chegue, minha mãe, chegue,    àquela janela do mêo,
     veja o Conde d` Alamanha    como leva um bonito assêo.
  10   --Cala-te minha filha,    me devias d` incobrir
     [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]    pelo lête que mamastes;
  12   era um Conde tão bonito,    tu a morte le causastes!
     --Cale-se, minha mãe,    nã ouça por i alguêim,
  14   a morte que o Conde    leva marcia vocêi tameim.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: antes de 1 O rei foi pr` à guerra; fecou a mulher e a fílha; a mãe portou-se mal com o Conde d` Alamanha. Atão a filha ralhou com a mãe; entre -4 e -5 O pai veio e a filha contou-le; o pai não acarditou; entre -7 e -8 O pai mandou matar o conde; quando o conde ia a passar morto, disse a filha.

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0095:54 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6791)

Versión de Murteira (c. Loures, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).   Recitada por Adelaide (66a). Recogida 00/00/1957 Publicada en Costa 1957, 441-442 y Costa 1961, 320-321. Reeditada en Galhoz 1987-1988, I. 297-298 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 833, p. 53. © Fundação Calouste Gulbenkian.  026 hemist.  Música registrada.

     --Venha ver, meu pai, venha,    tenho novas a contar,
  2   olha que o Conde d` Alamanha    p`r`à cama me quis levar.
     --Ó filha nã faças caso    qu` isso saria a mangar.
  4   --Nõ era, meu pai, nõ era,    eu peço que mo vá matar.--
     Ó minha mãe, minha mãe,    chegue à janela do mêo,
  6   vai o conde à forca,    leva tão bonito assêo.
     --Incobre, filha, incobre,    mêmo deves d` incobrir,
  8   ele era um conde tão rico    d` oiro podia vestir,
     e os segredos duma mãe    nã se deve descobrir.
  10   --Cala-se lá, minha mãe,    nó oiça por i alguêim,
     a morte que o Conde leva    marci-a vocêi também.
  12   --Incobre, filha, incobre,    já o bom lêite mamastes,
     levou uma morte desgraçada    e tu mesmo é que la causastes.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: -7b mêmo (sic).

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0095:3 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 3800)

Versión de Porto Moniz (dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recitada por Antónia Luisa de Souza. Recogida por Joanne B. Purcell, 05/05/1970 (Archivo: JBP; Colec.: JBP 1969-1970; cinta: 167A, n° 8, rotação 562). Publicada en Purcell 1987, Ilhas, 10.1, pp. 188-189.  068 hemist.  Música registrada.

     Dava o sol na vidraça,    já lá responde meio-dia;
  2   ainda o conde d` Alemanha    co` a rainha dormia.
     Nã sabia o bom do rei    nem o mal que a corte vinha,
  4   sabia a Dona Bernarda,    filha da mesma rainha.
     --Filha, se vós o sabeis,    não o queirais descobrir,
  6   porque o conde d` Alemanho    d` oiro vos há-de vestir.
     --Nã quero vestidos d` ouro,    meu pai mos dá de damasco;
  8   ainda eu tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrastro!
     As mangas deste vestido    eu nã chegue a romper,
  10   em meu pai vindo da caça    eu tudo l`hei-de dizer.--
     --Oh venha, senhor pai, venha,    seja boa a sua vinda!
  12   Eu le tenho p`ra le contar    contiinhos, à maravilha:
     Eu estava na minha cela,    labrando seda amarela,
  14   passa o conde d` Alemanho,    três fios me tirou dela.
     --Calada, filha, calada,    anda vamos a jantar,
  16   o conde d` Alemanho    é mangano, quer brincar.
     --Leve o diabo o conde    e a sua zombadaria!
  18   Ele meteu-me a mão no seio    e comigo brincar queria.
     --Calada, filha, calada,    andavamos a jantar,
  20   porqu` o conde d` Alemanha    vou mandá-lo matar.--
     --Venha cá, senhora mãe,    venha à janelado cabo,
  22   olhe se quer ver o conde    como brilha de encarnado.
     --Calada, filha, calada,    ó filha mal elevada!
  24   Por causa da tua língua,    perdeu-se uma barba honrada.
     --Venha cá, senhora mãe,    venha à janela do meio,
  26   olha se quer ver o conde    como brilha de vermelho.
     --Calada, filha, calada,    ó filha mal elevada!
  28   Por causa da tua língua,    perdeu-se uma barba honrada.
     --Venha cá, senhora mãe,    venha à janelada roda
  30   olhe se quer ver o conde    como ele brilha agora.
     --Calada, filha, calada,    ó filha mal elevada!
  32   Por causa da tua língua,    perdeu-se uma barba honrada.
     --Oh cale-se, minha mãe,    e nã me faça falar,
  34   qu` a morte que leva o conde    ê não la faça levar.--

Notas: -6a Alemanho por Alemanha; -17b zombadaria, `zombaria`; -3b mal elevada, `mal criada`. La recitadora dice haber aprendido el romance con su madre cuando tenía unos 7 u 8 años.

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0095:65 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6802)

Versión de S. Gonçalo (c. Funchal, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 182-185. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 24-26; Redol 1964, 155156; Carinhas 1995, II. 145-146 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 844, pp. 63-65. © Fundação Calouste Gulbenkian.  092 hemist.  Música registrada.

     Vinha lo sol dos oiteiros,    já era claro lo dia,
  2   e lo Conde d` Alemanha    e la rainha dormia.
     La princesa qu` isto soube,    de sua mãe a rainha,
  4   foi ter corn ela dizer-lhe    que tal feito nã convinha.
     --Filha minha, já que sabes,    nã descubras meu segredo,
  6   que só d`el-rei lo sonhar,    toda eu tremo de medo.
     --La camisa do meu corpo,    nã na chegu` eu a romper,
  8   se, vindo meu pai da guerra,    logo lho nã for dizer.
     --Filha de minhas intranhas,    nã me sejas desleal,
  10   aqui me tens de giolhos,    nã lhe vás tu dizer tal;
     e te darei minhas jóias,    que são do rico metal,
  12   e vestidos de brocado,    que não há oiro igual.
     E te prometo marido,    nado de sangue real,
  14   e mais te darei em dote    todo lo meu cabedal.
     --Erguei-vos daí, mãe minha,    nã sou eu la desleal:
  16   nã quero las vossas jóias,    meus oiros têm born metal.
     Nã quero vossos brocados,    los terei d` oiro igual.
  18   Meu pai me dará marido,    nado de sangue real;
     também dote me dará,    de mais grosso cabedal.
  20   La camisa do meu corpo,    nã na chegu` eu a romper,
     se, vindo meu pai da guerra,    logo lho nã for dizer.--
  22   Palavras não eram ditas,    las trombetas a tocar,
     e nas torres da igreja,    los sinos a repicar,
  24   e las portas do castelo,    abertas de par em par,
     e el-rei, corn sua tropa,    pelo portal a entrar.
  26   E, chegado a palácio,    el-rei logo a desmontar,
     todos contentes em roda,    só sua filh` a chorar.
  28   --Porque carpis, filha minha,    em tão pruvico lugar?
     --Senhor pai, sao tristes novas,    que só a vós vou contar;
  30   tomai animo d` ouvi-las,    mal to tenho de las dar,
     que lo Conde d` Alemanha,    vos venho denunciar.
  32   Enquanto vós, pai, na guerra,    andastes a batalhar,
     ele cá mai` la rainha,    n` alcova s` iam deitar!
  34   --Nã los haver eu colhido,    em seu pecado mortal,
     que logo to pagariam,    na ponta do meu punhal.
  36   Mas dessa tamanha culpa,    que me dais vós por sinal?
     --Que só eles aqui faltam,    a vos saudar no portal.--
  38   E el-rei ficou calado,    só consigo a pensar,
     quantos lo viam tremem,    do qu` el` iria mandar.
  40   --Venham los meus saiões,    venham los dois matar;
     ao rabo do meu cavalo    irá lo cond` a `rrastar.
  42   E também a ti, má filha,    nã to quero perdoar:
     em pruvico lo disseste,    minh` afronta vais penar.--
  44   Presos foram todos três,    todos três a degolar,
     lo conde, por ser vassalo,    foi levado a `rrastar.
  46   El-rei nunca mais se riu,    em frade foi acabar.

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: entre -4 e -5: Diz la mae; entre -6 e -7: Responde la filha; entre -8 e 9: La rainha; entre -14 e -15: La princesa; entre -27 e -28: Diz el-rei; entre -28 e -29: Responde ela; entre -33 e -34: Fala el-rei; entre -36 e -37:Responde ela; e entre -39 e -40: E disse.
Emendas propostas por Alvaro Rodrigues de Azevedo: -5a Filha, já que tu lo sabes; -8b e -21b o não for saber.

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0095:66 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6803)

Versión de Campanário (c. Ribeira Brava, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 175178. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 1920; Carinhas 1995, II. 143-144 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 845, pp. 65-66. © Fundação Calouste Gulbenkian.  060 hemist.  Música registrada.

     Já lo sol dá na janela,    impina já a mei`-dia,
  2   `inda Conde de Germanha,    com la rainha dormia.
     La infanta bem lo sabe,    e ninguém mai` lo sabia.
  4   --Minha filha, qu` eu beijava,    qu` eu no colo dormecia,
     guardai-me, filha, segredo,    que ninguém descobriria;
  6   este Conde é tão rico,    que d` oiro te vestiria.
     --Nã quero vestidos d` oiro,    tenho los de born damasco;
  8   ainda meu pai `stá vivo,    e nã quero ter padrasto.
     Las mangas desta camisa    eu nã nas chegue a romper,
  10   se vindo meu pai da caça,    eu nã lhe fora dizer.--
     Da caça lá vem el-rei,    sua bênção deu à filha.
  12   --Ouvide vós, pai, ouvide,    um caso à maravilha:
     `stava eu no meu tear,    lavrando na fina tela,
  14   passou Conde de Germanha    e três fios quebrou dela.
     --Calai-vos, filha, calai-vos,    deixai vós isso passar,
  16   nã vo-lo fez el` a mal,    senão soment` a brincar.
     --Também assim lo cuidava,    e lo mandei arredar,
  18   mas agarrou-me das mãos    e ao chão me quis levar!
     --Isso agora, filha minha,    nã se pode perdoar:
  20   defronte do meu palácio,    vá` lo Cond` a degolar.--
     Vem el- rei mai` la rainha,    la infant` em seu lugar,
  22   com toda la fidalguia,    lo Conde ver acabar.
     --Vinde cá, senhora mãe,    olhai aqui deste lado,
  24   se qu`reis ver lo senhor Conde,    como vai tão descorado!
     Vinde cá, senhora mãe,    olhai aqui doutro lado,
  26   se qu`reis ver lo senhor Conde,    como ficou d` incarnado!
     --De viva peçonha fora,    meu leite que vós mamastes,
  28   vós, sem aprender a ler,    que cartilha estudastes?
     --Falai, mãe, devagarinho,    não oiçam vosso falar,
  30   que da morte qu` ele teve,    nã vades tambem penar.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: entre -3 e -4 Diz la rainha; entre -6 e -7 Responde ela; entre -11 e -12 Diz-lhe ela; entre -14 e -15 Responde el-rei; entre -16 e -17 Acode ela; entre -22 e -23 Diz la infanta; entre -26 e -27 Responde la mãe e entre -28 e -29 Retruca la filha.

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0095:67 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6804)

Versión de Camacha (c. Santa Cruz, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 172-175. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 16-18; Carinhas 1995, II. 143 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 846, pp. 66-67. © Fundação Calouste Gulbenkian.  072 hemist.  Música registrada.

     Bate lo sol na janela,    impina já p`ra mei`-dia,
  2   `inda Conde Dom Germano,    mai` la rainha dormia!
     Na corte ninguém no sonha,    na corte ninguém sabia,
  4   senão sua filha mesma,    que de ciúmes ardia.
     --O filha destas intranhas    e a quem eu tanto qu`ria,
  6   se de vós eu tal soubesse,    a ninguém lo descobria:
     que lo Conde Dom Germano    peso d` oiro me daria;
  8   da cabeça até los pés,    damasco me vestiria.
     --Peso d` oiro tenho eu,    e visto fino damasco,
  10   `inda tenho meu pai vivo    e já vós me dais padrasto?
     Mangas da minha camisa,    eu rompê-las nã chegasse
  12   se, vindo meu pai da guerra,    lo treidor nã castigasse.--
     Palavras não eram ditas,    el-rei à corte volvia,
  14   e, entrado em palácio,    la Infanta se carpia,
     e el-rei lhe perguntava:    --Que tens tu, ó minha filha?
  16   --Ouvi, pai, se qu`reis saber    um caso à maravilha:
     `stava eu no meu tear,    e fina tela tecia,
  18   vem lo Conde Dom Germano,    três lanços dela desfia!
     --Cal`-te, cal`-te, minha filha,    nã tenhas disso pesar,
  20   que lo Conde D.Germano    é mocinho, quer brincar.
     --Leve diabo tais brincos,    mai` lo seu rudo brincar,
  22   s` ele me pegou do corpo,    e saltou a me beijar.
     --Alto lá, senhor condinho,    nisso, então, devagar,
  24   paço real é sagrado,    vou-te mandar degolar.
     --Eu vos peço, senhor pai,    que venha el` a matar,
  26   no terreiro deste paço,    ond` ele me quis afrontar.--
     `lnda lo sol na janela,    passante já do mei`-dia,
  28   e lo Conde Dom Germano    vai a morrer, nã dormia.
     La razão ninguém na sonha,    ninguém na corte sabia,
  30   senão la infanta mesma,    que de ciúmes ardia.
     --Arrenego de vós, filha,    que do meu leite mamastes!
  32   `stando vós sempr` ao tear,    por que livro estudastes?
     --Arrenego de vós, mãe,    que nem lágrima chorastes.
  34   Livro por onde `studei,    fostes vós que lo ditastes.
     E calai-vos, mãe senhora,    que de bom quinhão ficastes,
  36   tendo vós la mesma culpa,    lo mesmo fím nã levastes.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: entre -4 e -5 E despois falaram elas assim; entre -30 e -31 Vem la rainha e diz, e entre -32 e -33 Responde la filha.

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0095:68 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6805)

Versión de Caniço (c. Santa Cruz, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 178181; RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 2123. Reeditada en Carinhas 1995, II. 144-145 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 847, pp. 67-68. © Fundação Calouste Gulbenkian.  094 hemist.  Música registrada.

     Já dos altos dos telhados    lo sol p`ra baixo descia,
  2   `inda Conde d` Aramanha    mai` la rainha dormia.
     Nã lo sonhava el-rei,    nem quantos na cort` havia,
  4   só la princesa real    este segredo sabia;
     que, da janela d` alcova,    velou la noit` a vigia.
  6   --Mangas da minha camisa    nã nas chegu` eu a romper,
     se vindo meu pai da missa,    lhe nã for tudo dizer.
  8   --Calai-vos ` i, rica filha,    nada the vades dizer,
     que lo conde vos dará telas    d` oiro p`ra romper.
  10   --Nã quero tamanhas galas,    tenho linho a damasco;
     el-rei meu pai nã morreu,    nã me venhais dar padrasto.
  12   Mangas da minha camisa    nã nas chegu` eu a romper,
     se vindo meu pai da missa,    lhe nã vou tudo dizer.--
  14   --Subi, pai, vinde ca `riba,    muito vos tenho a contar;
     Conde d` Aramanha veio    vossa casa devassar.
  16   `Stava eu a tecer tela,    nos pentes do meu tear,
     lo atrevido do conde    três fios me foi quebrar!
  18   --Filha, nã façais monta,    coisa é de perdoar,
     fora talvez a caso,    ou foi talvez por brincar.
  20   --Nã lhe perdoo tal caso,    tão pouco lo seu brincar,
     qu` el` agarrado a mim,    debaixo me quis levar.
  22   --Isso leva outra volta    que bem quero castigar,
     correi, correi, meus fidalgos,    minhas justiças chamar.
  24   Vinde cá, velhos letrados,    sentença no caso dar:
     que lo Conde d` Aramanha    bem lo quero castigar.
  26   --Pena tamanha da culpa,    la culpa tem de pagar;
     mandai-lhe vasal los olhos    que tão alto vão olhar,
  28   mandai-lhe quebral las pernas,    com que se foi ao lugar,
     mandai-lhe quebral los braços    com que la quis agarrar,
  30   mandai-lhe, por derradeiro,    la cabeça degolar.
     Todo lo corpo, num feixe,    em cinzas se vá tornar.
  32   --Meirinhos, prendam lo conde,    frades lo vao confessar,
     mas basta, p`ra sua pena,    que só vá a degolar.
  34   --Senhora mãe, vinde ver,    vinde cá for` ao balcao,
     lá vai Conde d` Aramanha,    nos braços dum capelão.
  36   --Pola vida que te dei,    polo leite que mamaste,
     nã zombes filha treidora,    da morte que lhe causaste.
  38   --Senhora mãe, vinde ver,    depressa, devagar não:
     lá `stá Conde d` Aramanha,    já no poder do saião.
  40   --Pola vida que te dei,    polo leite que mamaste,
     nã zombes filha treidora,    da morte que the causaste.
  42   --Senhora mãe vinde ver,    vinde cá a este lado,
     lá `sta Conde d` Aramanha    a rezar agiolhado.
  44   --Pola vida que te dei,    polo leite que mamaste,
     nã zombes filha treidora,    da morte que the causaste.
  46   --Consolai-vos, minha mãe,    que tudo `stá acabado,
     foram dois na mesma culpa    e só um lo degolado.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos as seguintes didascálias: entre -7 e -8 La rainha ouviu, e disse; entre -9 e -10 Responde la princesa; entre -13 e -14 Vem el-rei da missa; entre -23 e -24 Vêm los corregedores, e el-rei diz; entre -25 e -26: Sentença dos corregedores; entre -31 e -32: Diz então el-rei, e entre -33 e -34: E foi logo a padecer. Entrementes, la princesa e la rainha falavam assim. -19a sic.

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0095:2 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 2718)

Versión de S. Simão de Novais (c. Vila Nova de Famalicão, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1943. Publicada en Lima 1943a, 257-258 y Lima 1943b, Romanceiro Minhoto, p. 42. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 184, M9 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 799, pp. 26-27.  052 hemist.  Música registrada.

     Dá o sol na vidraça,    já lá vem claro dia;
  2   o condinho da Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabia o rei    nem quem no palácio havia,
  4   sabia-o só Dona Infanta,    que era a sua própria filha.
     --Minha filha, se o sabes,    não me queiras descobrir:
  6   condinho da Alemanha    de seda te há-de vestir.
     --Não quero vestidos de seda,    que os tenho de damasco.
  8   `Inda tenho o meu pai vivo,    não me queira dar padrasto.
     Destes vestidos que tenho    não os chego a romper.
  10   Assim que o meu pai vier    é que o há-de saber.
     Venha, venha, meu pai, venha,    boa seja a sua vinda,
  12   que tenho p`ra lhe contar    uma história muito linda.
     Estando à minha janela,    dobando seda amarela,
  14   veio o conde da Alemanha    e tirou-me três fios dela.
     --Te peço, ó minha filha,    que lhe queiras perdoar:
  16   o condinho da Alemanha    é menino, quer brincar.
     --Diabo leve o brinquinho,    diabo leve o brincar:
  18   agarrou-me por um braço,    p`ra cama me quis levar.
     --Anda cá, ó minha filha,    manda tirar o jantar:
  20   `inda antes de uma hora    o conde se vai degolar.
     --Venha, venha, minha mãe,    àquela janela ver;
  22   venha ver o seu amante    o que vai a padecer.
     --Maldição te deito, filha,    fora o leite que mamaste;
  24   olha um conde tão lindo,    a morte que lhe causaste.
     --Eu deitei a culpa a mim,    `inda se não quer calar?
  26   Que a morte qu` ele levou    devia-a você levar.--

Título original: CONDE DA ALEMANHA (ESTRÓF.) (=SGA M13)

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0095:20 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6757)

Versión de Celorico de Basto (c. Celorico de Basto, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1879. Publicada en Coelho 1879, 62 y Coelho 1993, 116. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 8-9 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 798, pp. 25-26. © Fundação Calouste Gulbenkian.  044 hemist.  Música registrada.

     Com o Conde d` Alemanha    amores tem a rainha;
  2   ao pai quer contar    a filha que o sabia.
     --Escuta, minha filha,    não o digas a teu pai,
  4   que o Conde d` Alemanha    de seda te há-de vestir.
     --Não quero da seda dele    que os tenho de damasco;
  6   ainda tenho meu pai vivo    e já me quer dar padrasto.
     Ora venha, meu pai, venha,    pelo corredor acima,
  8   que lhe tenho para contar    uma nova maravilha.
     Estando eu a coser    na minha seda amarela,
  10   veio o Conde d` Alemanha    três fios me tirou dela.
     --Ora deixa, minha filha,    anda-me pôr de jantar,
  12   Que ele é rapazinho novo,    fá-lo-ia por brincar.
     --Mal o haja os brincos dele,    mais dele o seu brincar,
  14   que me pegou pela mão    à cama me quis levar.
     --Ora deixa, minha filha,    anda-me pôr o jantar,
  16   que amanhã às tantas horas,    vê-lo ir a degolar.--
     --Saia fora, minha mãe,    à janela do quintal,
  18   vê-l` o Conde da Alemanha    que lá vai a degolar.
     --Amaldiçoada filha,    fora o leite que mamaste,
  20   pois um conde tão bonito    tu a morte lhe causaste.
     --Escuite, escuite, minha mãe,    que a não ouçam na rua,
  22   pois a morte que ele leva    que não vá causar a sua.--

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0095:21 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6758)

Versión de Póvoa de Lanhoso (c. Arcos de Valdevez, dist. Viana do Castelo, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1940. Publicada en Sampaio 1940/1944/1986, 145; Castro 1951, 125-128. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 800, p. 27. © Fundação Calouste Gulbenkian.  004 hemist.  Música registrada.

     Já lá bat` o sol no Tejo,    já lá ben o claro dia;
  2   já lá ben o Conde Nino    de dormir cun a rainha.

Nota: Figura apenas a transcrição musical com os quatro primeiros hemistíquios.

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0095:22 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6759)

Versión de Minho s.l (Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1917. Publicada en Landolt 1917, 84-85. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 801, pp. 27-28. © Fundação Calouste Gulbenkian.  040 hemist.  Música registrada.

     Estando eu na minha cela,    dovando seda amarela,
  2   chega o Conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
     Deixa vir meu pai da caça,    muito tenho que contar.--
  4   --Conta, conta, minha filha,    manda-me pôr de jantar.
     --Estando eu na minha cela,    dovando seda amarela,
  6   chega .o Conde d` Alemanha,    três fios me tirou d` ela.
     --Escuta, escuta, minha filha,    manda-me pôr de jantar,
  8   que o Conde é rapaz novo,    fez-te isso para brincar.
     --Mal o haja o seu brinquinho,    mal o haja o seu brincar,
  10   pegou em mim pelos braços,    à cama me quis levar.
     --Escuta, escuta, minha filha,    manda-me pôr de jantar,
  12   que às quatro horas em ponto,    chega o Conde a degolar!--
     --Venha, venha, minha mãe,    à janelinha do meio,
  14   venha ver o rico Conde,    vestidinho de vermelho.
     Venha, venha, minha mãe,    à janela do quintal,
  16   venha ver o rico Conde,    que ele está a degolar!
     --Mal o haja, minha filha,    o leite que tu mamaste,
  18   era um Conde tão bonito,    perdes-te e degolas-te!
     --Escute, escute, minha mãe,    não me faça agoniar,
  20   a morte que o Conde leva    não lha faça eu levar!--

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0095:7 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6744)

Versión de Bragança (c. Bragança, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Recogida por José Furtado Montanha, 00/00/1935 publicada en Alves 1938, (reed. facs. 1979) 564-565. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 785, p. 15. © Fundação Calouste Gulbenkian.  034 hemist.  Música registrada.

     Estando eu no meu tear    a tecer seda amarela,
  2   passa o conde da Alemanha,    três fios me tirou dela.
     Venha vindo ó meu pai,    boa seja a sua vinda,
  4   hei-de-lhe contar um conto,    um conto de maravilha.
     Estando eu no meu tear    a tecer seda amarela,
  6   passa o conde da Alemanha,    três fios me tirou dela.
     --Cala-te, ó minha filha,    que te não ouçam falar:
  8   é o conde da Alemanha,    menino que quer brincar.
     --Maldito sejam os seus brincos    e o seu doce brincar;
  10   agarrou-me em seus braços,    à cama me quis levar.
     --Se é isso, minha filha,    eu o mando já matar.
  12   --Venha vindo, minha mãe,    à janela do pomar,
     se quer ver o amado conde    que o vão a degolar.
  14   --Maldita sejas, Francisca,    fora o leite que mamaste,
     que morte tão cruel tu,    Francisca, lhe causaste.
  16   --Cale-se lá, minha mãe,    que bem se podia calar;
     a morte que o conde leva    devia-a você levar.--

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0095:8 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6745)

Versión de Rebordainhos (c. Bragança, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 139. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 786 p. 16. © Fundação Calouste Gulbenkian.  044 hemist.  Música registrada.

     --Envergonhe-se, minha mãe,    bem se pode envergonhar,
  2   uma dama já casada    andar com o conde a brincar.
     --Deixa brincar, minha filha,    deixa o conde brincar,
  4   o conde é muito rico,    vestidinhos de ouro te há-de dar.
     --Não quero vestidinhos de ouro    que os tenho de damasco;
  6   ainda tenho o pai vivo,    já me querem dar padrasto.
     Lá vem o papá da caça,    bendita seja a sua vinda,
  8   eu tenho para lhe contar    continhos à maravilha.
     --Conta, conta, minha filha,    mas vai-me a mesa servir,
  10   no fim do jantar    estimarei de te ouvir.
     --Estando eu no meu tear    a tecer seda amarela,
  12   veio o conde da Alemanha,    três fios me tirou dela.
     --Deixa brincar, minha filha,    deixa o conde brincar,
  14   que amanhã por estas horas    já o vês ir a arrastar.
     --Venha cá, ó minha mãe,    a esta janela daqui,
  16   ver o conde da Alemanha    que vem arrastado ali.
     --Mal hajas, minha filha,    e o leite que mamaste,
  18   uma morte tão cruel    foste tu quem a causaste.
     --Cale-se aí, minha mãe,    não me esteja a apoquentar,
  20   a morte que o conde leva    não a queira assim levar.
     --Que tens tu, minha filha,    quem te está a apoquentar?
  22   --É o salto duma bota    que não me quer assentar.--

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0095:9 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6746)

Versión de Rebordainhos (c. Bragança, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Recogida 00/00/1874 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 140. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 787, pp. 16-17. © Fundação Calouste Gulbenkian.  040 hemist.  Música registrada.

     Já lá baixo vem o sol,    já lá vem no claro dia,
  2   vem o duque de Alemanha    que co` a rainha dormia.
     Eis eram tantos na corte    e mais nenhum o sabia,
  4   sabia-o dona Silvana,    filha da mesma rainha.
     --As mangas deste vestido    se não cheguem a romper,
  6   se, quando vier meu pai,    eu não lho for a dizer.
     --Não lho digas, ó Silvana,    darei-te vestidos d` ouro.
  8   --Não quero vestidos d` ouro    que os tenho de verdamasco;
     `inda tenho vivo meu pai,    já me querem dar padrasto!--
  10   --`Stando eu na minha alcofa,    bordando a seda amarela,
     veio o duque d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
  12   --Cala, cala, ó Silvana,    o menino quer brincar.
     --Mal o hajam nos seus brincos,    mal o haja o seu brincar!
  14   Ele pegou em mim ao colo    e à cama me quis levar!
     --Diz lá tu, ó minha filha,    que morte lhe queres dar?
  16   --Que vá preso a quatro cavalos,    que o quero ver despedaçar.--
     --Mal o hajas tu, Silvana,    e o leite que mamaste!
  18   A morte que o duque teve,    Silvana, tu lha causaste.
     --Cale-se lá, minha mãe,    não na ouçam lá na rua!
  20   A morte que o duque teve    bem pudera ser a sua.--

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0095:10 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6747)

Versión de Bragança s. l. (dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Recogida por Pe. Francisco Manuel Alves (abade de Baçal), hacia 1902 (fecha deducida) y publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 140-141. Reeditada en Marques 1985, 644 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 788, pp. 17-18. © Fundação Calouste Gulbenkian.  038 hemist.  Música registrada.

     Lá de baixo vem o sol,    vem a luz do claro dia,
  2   aquele conde de Lamala    a dormir vai co` a a rainha.
     Nem o sabia o rei,    nem a sua infantaria,
  4   só o sabia a princesa,    filha da mesma rainha.
     --Queres tu, ó Bernardina,    segredo me hás-de guardar?
  6   Darei-te um vestido de seda,    bordado de prata fina.
     --Não quero seus vestidos    que de damasco eu os tinha.
  10   Minhas manguinhas de seda    não se cheguem a romper,
     se em vindo meu pai da missa,    eu não lo for dizer.--
  12   --Bôs dias tenha, meu pai,    novas tenho que le dar,
     aquele conde de Lamala    andava p`ra me enganar.
  14   --Isso era, Bernardina,    isso era por brincar.
     --Mal o hajam tais brincos    e um tal modo de brincar,
  16   caçava-me pela mão    e à cama me iba a levar.
     --Mal o hajas, Bernardina,    e o leite que tu mamaste.
  18   --Calai-vos lá, minha mãe,    que bem vos podeis calar,
     a morte que o conde leva    havíeis de a vós levar.--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Editamos Marques 1985, por ter corrigido Leite de Vasconcellos 1958-1960, a partir dos manuscritos do Abade de Baçal.

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0095:11 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6748)

Versión de Açoreira (c. Torre de Moncorvo, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 141-142. Reeditada en Damião 1997, 64-65 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 789, p. 18. © Fundação Calouste Gulbenkian.  046 hemist.  Música registrada.

     --Envergonhe-se, minha mãe,    bem se pode envergonhar,
  2   uma dama já casada    `inda gosta de brincar!
     --Cala-te lá, minha filha,    não me estejas a afligir,
  4   que o conde da Alemanha    d` ouro te pode vestir!
     --Não quero vestidos d` ouro,    cá os tenho de damasco;
  6   ainda meu pai é vivo    já me quer dar padrasto!
     As mangas do meu vestido    se não cheguem a romper,
  8   se, em vindo meu pai da caça,    se o não chegar a saber!
     Venha, venha, ó meu pai,    depressa, não devagarinho,
  10   que eu tenho que lhe contar    continhos à maravilha.
     --Cala-te lá, minha filha,    vem a minha mesa servir,
  12   que depois da mesa posta    gosto mais de te ouvir.
     --Estando eu no meu tear    a tecer seda amarela,
  14   veio o conde da Alemanha,    três fios me cortou dela.
     --Cala-te lá, minha filha,    isso não há que estranhar,
  16   o conde é rapaz novo,    também gosta de brincar.
     --De tais modos de brincar    bem se pode arrenegar,
  18   agarrou-me pelo braço    e à cama me quis levar!--
     Saiu o pai porta fora    e logo o foi a matar.
  20   --Venha cá, ó minha mãe,    venha à janela do meio,
     olhe o conde da Alemanha    pela rua ao passeio.
  22   Venha cá, ó minha mãe,    venha à janela do lado,
     ver o conde da Alemanha    pela rua maltratado!--

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0095:12 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6749)

Versión de Carviçais (c. Torre de Moncorvo, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Documentada en o antes de 1906. Publicada en Tavares 1906, 311; RGP III 1909, (reed. facs. 1985) 500. Reeditada en Damião 1997, 65-66 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 790, p. 19. © Fundação Calouste Gulbenkian.  052 hemist.  Música registrada.

     Já lá vem clara noite,    já lá vem claro dia;
  2   já o conde da Alemanha    com a rainha dormia.
     Não no sabia el-rei    o que no palácio havia;
  4   sabia-o dona Bernarda,    filha da mesma rainha.
     --Se o sabes, minha filha,    não no queiras descobrir;
  6   que o conde é muito rico,    de ouro te há-de vestir!
     --Eu não quero vestidos de ouro,    cá os tenho de damasco;
  8   ainda meu pai era vivo    já me queria dar padastro!
     --As mangas deste vestido    não as chegue eu a romper,
  10   em vindo meu pai da missa    já tenho que lhe dizer.--
     --Venha embora, meu pai,    boa seja a sua vinda!
  12   Que eu tenho que lhe contar    uma grande maravilha:
     estando eu no meu tear,    tecendo seda amarela,
  14   veio o Conde da Alemanha    três fios me tirou dela!
     --Cal`-te lá, ó minha filha,    não queiras duvidar;
  16   que o Conde é rapaz novo,    é menino, quer brincar!
     --Mal o hajam os seus brincos    e mais tal brincar!,
  18   que me puxou por a mão,    à cama me quis levar!
     --Cal`-te lá, ó minha filha,    não o queiras duvidar;
  20   nas cordas desta guitarra    eu o mando enforcar!
     --Assome-se, ó minha mãe,    à janela do pomar,
  22   se quer ver o senhor Conde    a morte que vai luvar!
     --Mal o hajas, minha filha,    o leite que mamaste!
  24   Um conde tão bonito    a morte que lhe causaste!
     --Cal`-se lá, ó minha mãe,    não o ouçam lá na rua;
  26   que a morte do senhor Conde    devia de ser a sua!--

Notas: -8b padastro (sic). RGP III 1909/1885 edita apenas quatro hemistíquios.

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0095:13 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6750)

Versión de Vinhais (c. Vinhais, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Documentada en o antes de 1928. Publicada en Martins 1928, (reed. 1987), 218. Reeditada en Pinto-Correia 1984, 264-265 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 791, pp. 19-20. © Fundação Calouste Gulbenkian.  034 hemist.  Música registrada.

     Já lá baixo vem a noite,    foi-se a luz `ó claro dia,
  2   vem o conde d` Alemanha    p`ra dormir co` a rainha,
     sete filhas que tinha,    só a mais nova o sabia.
  4   --Ajuda-me, ó minha filha,    ajuda-me a encobrir,
     pois o conde é mui` brioso,    de seda t` há-de vestir.
  6   --Não quero vestidos de seda,    já os tenho de damasco,
     ainda meu pai era vivo,    já me queria dar padrasto;
  8   as mangas desta delgada    eu não as chegue a romper,
     quando meu pai vier da missa,    se eu lo não for dizer.--
  10   Agarrou-me pela mão,    p`r`à cama me ia levar.
     --Cala-te lá, minha filha,    que isso era p`ra brincar.
  12   --Diabos levem tais brincos    e tais modos de brincar.--
     Chamou pela sua mãe:    --Saíde à janela do meio
  14   se queredes ver o conde    vestidinho de vermelho.
     --Mal hajas, ó minha filha,    mais o leite que te dei.
  16   --Cale-se lá, minha mãe,    que a não ouçam na rua,
     que a morte que teve o conde    bem podia ser a sua.--

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0095:14 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6751)

Versión de Régua (c. Peso da Régua, dist. Vila Real, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Recogida 00/00/1902 Publicada en Pedroso 1902, 459-460; Pedroso 1988, 377-378. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 792, pp. 20-21. © Fundação Calouste Gulbenkian.  058 hemist.  Música registrada.

     Já lá baixo vem o sol,    lá vem o claro dia,
  2   já o conde d` Alemanha    com a rainha dormia.
     Não o sabia el-rei,    nem quantos na corte havia;
  4   sabia-o Dona Bernarda    filha da mesma rainha.
     --Ó Bernarda, se o sabes,    bem me podes encobrir,
  6   que o conde é mui` brioso,    de ouro te há-de vestir.
     --Não quero vestidos de ouro,    eu `inda os tenho de damasco,
  8   `inda meu pai é vivo,    já me querem dar padrasto.
     As mangas desta camisa    eu as não chegue a romper;
  10   logo que venha meu pai,    logo lho hei-de dizer.--
     --Venha, venha, ó meu pai,    boa seja a sua vinda,
  12   que lhe quero contar un conto,    um conto a maravilha.
     --Conta lá, ó minha filha,    folgarei de te ouvir.
  14   --Estando eu no meu tear,    tecendo seda amarela,
     veio o conde d` Alemanha,    três fios me tirou dela.
  16   --Cala-te aí, minha filha,    qu` isso seria a brincar,
     que o conde é gracioso,    gosta muito de brincar.
  18   --Mal hajam os seus brincos,    e também o seu brincar,
     que me puxou por um braço    e à cama me quis levar.
  20   --Cala-te aí, minha filha,    não estejas a dizer tal,
     que em antes de um quarto d` hora    o verás ir a queimar.--
  22   --Venha, venha, minha mãe,    à janela do quintal,
     venha ver o seu benzinho,    qu` ele lá vai a queimar.
  24   --Mal o hajas, minha filha,    fora o leite que mamastes,
     que a morte daquele conde,    foste tu que lha causastes.
  26   --Cale-se aí, minha mãe,    não me faça agoniar,
     que a morte que ele leva,    também lha faço levar.
  28   --Que é isso? minha filha,    em que estás tu a falar?
     --Com a fivela do sapato    que me não quer assentar.--

Nota: -12b un (sic).

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0095:15 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6752)

Versión de Santa Marta de Penaguião (c. Santa Marta de Penaguião, dist. Vila Real, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 136-137. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 793, p. 21. © Fundação Calouste Gulbenkian.  032 hemist.  Música registrada.

     `Stando eu na minha sala    dobando seda amarela,
  2   veu o Conde d` Alemana    três fios me tirou dela.
     --Venha cá, ó meu paizinho,    muito tenho que lhe contar,
  4   que o Conde d` Alemanha    de mim queria zombar.
     --Cala-te lá, minha filha,    já te podes ir calando,
  6   certo conde adevertido    `stava rindo e brincando.
     --Mal o hajam nos seus brincos    e o seu modo de brincar,
  8   que ele pegou-me na mão,    à cama me qu`ria levar.
     --Anda cá, ó minha filha,    anda-me pôr de jantar,
  10   que o Conde d` Alemanha    logo vai a degolar.--
     --Minha mãe, minha mãezinha,    muito tenho que lhe contar:
  12   que o Conde d` Alemanha    logo vai a degolar.
     --Mal o hajas tu, infanta,    fora o leite que mamastes,
  14   a quem eu queria tanto    tu a morte le causastes!
     --Fale baixo, minha mãe,    que se não ouça na rua,
  16   que eu sujei a minha cara    para le alimpar a sua.--

Nota: Alemana sic.

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0095:16 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6753)

Versión de Alvações do Corgo (c. Santa Marta de Penaguião, dist. Vila Real, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Recitada por una señora de edad. Recogida 00/00/1902 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 137-138. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 794, p. 22. © Fundação Calouste Gulbenkian.  058 hemist.  Música registrada.

     Já vai arraiando o sol,    próprio e claro dia,
  2   veu o conde da Alemanha,    com a rainha dormia.
     `Inda o não sabia o rei,    nem as cortes que havia,
  4   sabia-o Dona Bernarda,    filha própria da rainha.
     --Tu se o sabes, Bernarda,    não no queiras descobrir,
  6   que o conde da Alemanha    d` oiro te há-de vestir.
     --Não quero vestidos de oiro,    que os tenho de damasco;
  8   `inda tenho meu pai vivo,    já me querem dar padrasto!
     As mangas desta camisa    eu não nas chegue a romper,
  10   assim que vier meu pai,    logo lho hei-de dezer.
     É chegado o rei de fora:    --Boa seja a sua vinda.
  12   Quero-lhe contar um conto,    um conto à maravilha.
     --Conta, conta, ó Bernarda,    qu` eu gosto de te ouvir.
  14   --`Stando eu na minha cela    dobando seda amarela,
     veu o conde da Alemanha,    três fios me tirou dela.
  16   --Não t` agonies, Bernarda,    nem te queiras agoniar,
     que o conde é rapaz novo,    sempre há-de qu` rer brincar.
  18   --Não gosto do seu brinquinho,    nem também de tal brincar,
     que pegou em mim nos braços,    à cama me quis deitar.
  20   --Chama pela Silvaninha,    anda-lhe dar de jantar,
     qu` às três horas da tarde    conde vai a degolar.--
  22   --Venha cá, ó minha mãe,    à janelinha do meio,
     venha ver o senhor conde    enfeitado de vermelho;
  24   venha cá ó minha mãe,    à janela do pombal,
     venha ver o senhor conde    que já vai a degolar.
  26   --Maldita sejas, Bernarda,    fora o leite que mamastes:
     era um conde tão bonito,    oh! que morte lhe causastes!
  28   --Cal` se lá, minha mãe,    que a não ouçam na rua,
     qu` a morte que o conde teve    devia de ser a sua!--

Nota del editor de RºPortTOM 2003: Omitimos a seguinte didascália: entre -8 e -9 Era bem fina; depois de -29 É certo.

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0095:17 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6754)

Versión de Alvações do Corgo (c. Santa Marta de Penaguião, dist. Vila Real, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 138-139. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 795, p. 23. © Fundação Calouste Gulbenkian.  046 hemist.  Música registrada.

     Já dá o sol na vidraça,    já vem o claro dia,
  2   e o conde D` Alamanha    com a rainha dormia;
     não no sabia ninguém,    nem quantos na corte havia,
  4   sabia-o Dona Josefa    e a infanta, sua filha.
     --Se o sabes, minha filha,    não no queiras descobrir,
  6   o conde é muito brioso,    de oiro t` há-de vestir.
     --As mangas desta camisa    eu as não chegue a romper,
  8   assim que meu pai vier,    se eu não lho for dizer!--
     --Venha, venha, ó meu pai,    boa seja a sua vinda!
  10   Quero-lhe contar um conto,    um conto à maravilha:
     `stando eu na minha cela    dobando seda amarela,
  12   veu o conde d`Alamanha,    estes fios me tirou dela.
     --Cala-te lá, minha filha,    isso seria a brincar.
  14   --Leve o diabo tal brinco,    tal modo de brincar,
     que me prendeu pela mão,    à cama me queria luvar!
  16   --Cala-te lá, minha filha,    e põe-me d` almoçar:
     amanhã por estas horas    vai o conde a degolar.
  18   Venha ver, ó minha mãe,    à janela do quintar,
     venha ver o seu amor,    como vai a degolar.
  20   --Malo hajas, ó minha filha,    e mai` lo leite que mamaste,
     uma cara tão formosa,    as penas que me causaste!
  22   --Cale-se lá, minha mãe,    que não na ouçam na rua,
     a morte que leva o conde    devia de ser a sua!--

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0095:18 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6755)

Versión de Vila Real (c. Vila Real, dist. Vila Real, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 136. Reeditada en RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 796, pp. 23-24. © Fundação Calouste Gulbenkian.  036 hemist.  Música registrada.

     Lá vem a nascer o sol,    lá vem a romper o dia,
  2   lá vem o conde d` Alemanha,    com a condessa dormia.
     --Se sabes, ó minha filha,    bem o podes encobrir,
  4   o conde da Alemanha    de damasco te podia vestir.
     --Eu tenho vestidos d` ouro,    não os quero de damasco,
  6   ainda tenho meu pai vivo,    já me querem pôr padrasto.
     As solas dos meus sapatos    não as chegue a romper,
  8   quando vier o papá,    se eu não lho for dizer.--
     --Venha cá, ó meu papá,    muito tenho que lhe contar,
  10   o conde da Alemanha    comigo queria brincar.
     --Escuta, ó minha filha,    anda-me pôr o jantar,
  12   o conde de Alemanha    logo se vai inforcar.
     --Venha cá, minha mamã,    à janela do jantar,
  14   venha ver os seus amores,    que eles se vão inforcar
     --Amaldiçoada sejas tu, ó filha,    fora o leite que mamaste,
  16   a morte que leva o conde,    foste tu que lha causaste.
     --Cale-se lá, minha mamã,    de modo que se não ouça na rua,
  18   a morte que leva o conde    devia hoje ser a sua.--

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0095:19 Conde Alemán (estróf.)            (ficha no.: 6756)

Versión de Trás-os-Montes e Alto Douro s. l. (Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal).   Documentada en o antes de 1867. Publicada en Braga 1867a, 77-79. Reeditada en Hardung 1887, I. 274-276 y RGP II 1907, (reed. facs. 1985) 6-8 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 797, pp. 24-25. © Fundação Calouste Gulbenkian.  070 hemist.  Música registrada.

     Já o sol dava na corte,    e já era o claro dia,
  2   `inda o Conde de Allemanha    com a rainha dormia.
     Não no saberia el-rei,    nem quantos na corte havia,
  4   sabia-o a Dona Infanta,    filha da mesma rainha.
     --Infantinha, se o sabes,    não me queiras descobrir,
  6   que o Conde é mui` brioso,    de ouro te ha-de vestir.
     --Não quero vestidos d` ouro,    que os tenho de damasco,
  8   meu pai ainda é bem novo,    já me querem dar padrasto.
     As mangas desta camisa    não as chegue eu a romper,
  10   se quando vier meu pai,    eu lho não fora dizer.--
     --Venha, venha, senhor, pai,    santa seja a sua vinda,
  12   um conto quero contar,    um conto à maravilha.
     --Conta, conta, minha filha,    que eu gosto de te ouvir!
  14   --Estando eu na minha cela,    dobando seda amarela,
     veio o Conde de Alemanha    três fios me tirou dela.
  16   --Cala-te lá, ó filha,    vamos p`r`à mesa jantar,
     que o Conde é rapaz novo,    é menino, quer brincar.
  18   --Mal hajam os seus brinquedos,    mal haja do seu brincar,
     que pegou em mim nos braços,    à cama me foi lançar.
  20   --Dize pois, ó minha filha,    que castigo lhe hei-de dar?
     --Quero escadas dos seus ossos    para o jadim passear.
  22   --Cala-te lá, ó filha,    vamos para a mesa jantar,
     que amanhã por estas horas    vai o Conde a degolar.--
  24   --Arrenego-te, Mariana,    mais o leite que mamaste,
     ó que Conde tão bonito    e a morte que lhe causaste.
  26   --Minha mãe, minha mãezinha,    venha à janela do canto,
     venha ver o senhor Conde    todo vestido de branco.
  28   Venha ver, ó minha mãe,    à janelinha do poço,
     venha ver o senhor conde    com uma corda ao pescoço.
  30   Venha, venha, minha mãe,    venha p`r`à sala do meio,
     ver o Conde da Alemanha    feito num cravo vermelho.
  32   --Mal o hajas tu, ó filha,    fora o leite que mamaste,
     sendo o conde tão bonito    a morte que lhe causaste.
  34   --Cale-se aí, minha mãe,    ninguém a ouça falar;
     que a morte que leva o Conde    não a vá você levar.--

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