Pan-Hispanic Ballad Project

Total: 12


0112:2 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 4411)

Versión de Beira (freg. Beira, isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Recitada por Maria Santa Pires (80a). Recogida por Manuel da Costa Fontes y Maria-João Câmara Fontes, 23/07/1977 (Archivo: ASF; Colec.: Fontes SJ 1977). Publicada en F.E.R. L-B. S. Jorge 1983 , nº 7, pp. 4-5 (M. Costa Fontes).  050 hemist.  Música registrada.

     [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]    A Virgem mandou ao mar
  2   que s` aparelhasse o conde    para de noite ir brigar.
     Dom João se aparelhou    nu~a fragata bem bela
  4   para em pinos do meio-dia    largarem logo de vela.
     Mandou tocar os sinos    p`r`à campanha s` ajuntar.
  6   Vinham uns pobres para bordo,    outros para o cais a chorar.
     --Deixai-vos ficar em terra,    homens com maior idade;
  8   deixai vir mancebez,    que vem para o mar brigar.--
     Iam por o mar fora,    tocaram sinos de prata;
  10   alferes e comandantes    mostraram as suas forças.
     Já iam mais pelo mar fora,    ouviram grandes terrores;
  12   alferes e comandantes    experimentaram seus valores.
     Mandou o gajeiro acima    para ver que descobria.
  14   --Novecentas e oitenta    que galérias traz Turquia.
     Pegou em Jasus nos braços    e de popa à popa dizia:
  16   --Não permitais, meu Jesus,    filho da Virgem Maria,
     [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]    que eu vá morrer à Turquia,
  18   nem os fracos portugueses    s` encham de cobardaria,
     nem os alferes turcos    s` encham de galantaria.--
  20   Pegou em Jesus nos braços    e de popa à proa dizia:
     --Vós sois filho de Sant` Ana,    filho da Virgem Maria;
  22   não permitais, meu Jasus,    qu` eu vá morrer à Turquia.--
     Chegou a armada uã à outra    lá em pinos do meio-dia.
  24   mandou o gajeiro acima    p`a ver que descobria.
     As cabeças ero tantas,    que o sol de Deus encobria
  26   e o sangue era tanto,    nem um pingo d` água havia.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Go Back
0112:7 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 5972)

Versión de Ribeira do Nabo (c. Velas, isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Documentada en o antes de 1869. (Colec.: Teixeira Soares de Sousa, J.). Publicada en Braga 1869, (y Braga 1982), 304-307 y RGP II 1907, (reed. facs. Braga 1985) 362-364. Reeditada en Hardung 1887, I. 34-37; Neves - Campos 1893, 186-187; Soares de Sousa 1902, 370-373; Redol 1964, 219-220; Cortes-Rodrigues 1987, 497-499; Carinhas 1995, II, 5-6 e 8-9 y Mendonça Soares 1998, 28-29 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 62, pp. 185-187. © Fundação Calouste Gulbenkian.  090 hemist.  Música no registrada.

     Sua alteza, a quem Deus guarde,    aviso mandou ao mar,
  2   que se aparelhasse o Conde,    para de noite largar.
     Dom João se aparelhou,    numa fragata mui bela,
  4   para em pino do meio-dia,    pegar a largar à vela.
     Em pinos do meio-dia,    deitou a peça de leva,
  6   p`ra a companha se ajuntar,    que queria dar à vela.
     Uns a saltarem p`ra bordo,    outros no cais a chorar,
  8   com saudades da terra,    não ousavam embarcar.
     --Deixai-vos ficar em terra,    homens de maior idade,
  10   deixai ir a mancebia,    que vai para o mar brigar.--
     À partida da galera,    houve tais gritos e choros,
  12   capitão e comandantes,    todos se encheram de dores.
     Entrando pelo mar dentro,    ouviram grandes terrores,
  14   eram mestres, contra-mestres,    amostrando os seus valores.
     Indo mais pelo mar fora,    ouviram tinos de prata,
  16   oh, que rico comandante,    leva esta real fragata!
     Indo mais pelo mar fora,    onde terras se não viam,
  18   chegou a armada uma à outra,    lá em pinos do meio-dia.
     --Dize-me, alferes da bitante,    que na retaguarda vinha,
  20   dize-me alferes da bitante,    galeras que traz Turquia.
     --Se me perdoas a morte,    Dom João, eu to diria:
  22   novecentas e oitenta galeras    que traz Turquia.--
     Pegara em Jesus nas mãos,    de popa à proa dizia:
  24   --Sondes neto de Santa Ana,    filho da Virgem Maria,
     Vós, Senhor, não permitais,    que eu vá parar à Turquia,
  26   nem permitais que alperros    se encham de valentia,
     nem os fracos portugueses    se encham de cobardia.--
  28   Chegou a armada uma à outra,    lá em pinos do meio-dia,
     as balas que lhe atiravam,    tornavam-se mosquetaria,
  30   as que Dom João lhe atirava,    eram de grande valia,
     as cabeças pelos ares,    a luz do sol encobriam.
  32   Oh, Jesus, oh, tanto sangue,    nem um pingo d` água havia!
     Mandou o gajeiro acima,    para ver que descobria.
  34   O gajeiro lá de cima,    que em altas vozes dizia:
     --Alvíssaras, senhor, alvíssaras,    alvíssaras com alegria,
  36   de novecentos e oitenta,    só uma galera havia.
     Leva a bandeira de rasto,    à popa a traz rendida,
  38   e rendida traz a popa,    só para desprezar Turquia.--
     Ainda a nau não apontava,    lá na barra de Lisboa,
  40   já diziam: --Vem a armada,    com o ceptro mais a coroa.
     --Dize-me, alferes da bitante,    que na retaguarda vinhas,
  42   quem venceu esta batalha,    que era de tanta valia?
     --Foi Dom João, rei da armada,    que é o rei da valentia.
  44   Capitão e comandantes,    vamo-nos para a Turquia,
     vamos fazer um rei novo,    desta nossa fidalguia.--

Nota del editor de RºPortTOM 2000: Neves/Campos (1893) edita nestas páginas uma versão factícia composta pela aqui referenciada e pelas versões 63. e 64. desta edição (entradas 5973 y 5974). Carinhas 1995, II segue as fixações de Braga (1869)/Braga (1982) e Neves/Campos (1893).

Go Back
0112:8 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 5973)

Versión de Ribeira de Areias (c. Velas, isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Recitada por Bárbara de Azevedo (unos 90a) y Mariana da Conceição. Recogida por Mariana da Conceição, (Colec.: Teixeira Soares de Sousa, J.). Publicada en Braga 1869, (y Braga 1982), 307-310. Reeditada en Hardung 1887, I. 37-40; Neves - Campos 1893, 186-187; Soares de Sousa 1902, 373-377; RGP II 1907, (y Braga 1985), 365-367; Cortes-Rodrigues 1987, 500-502; Carinhas1995, II, 6 e 8-9 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 63, p. 187-188. © Fundação Calouste Gulbenkian.  086 hemist.  Música no registrada.

     Dom João se preparou,    numa fragata mui bela,
  2   atirou peça de leva    que queria gente nela.
     --Ó homens do mar mais velhos,    não vos queirais embarcar,
  4   deixai ir a mancebia,    p`r`ó meio do mar brigar.
     Oh, que choro vai no porto,    apartamento no cais,
  6   choram os pais pelos filhos,    não os tornam a ver mais!
     oh, que choro vai no porto,    ao partir dos mareantes,
  8   choram as mães pelos filhos,    as sécias pelos amantes!
     oh, que choro vai no porto,    ao embarcar dos soldados,
  10   choram os pais pelos filhos,    as sécias p`los namorados!
     Ao ir das lanchas a bordo,    ouviu-se grandes terrores,
  12   eram mestre e contra-mestre,    amostrando os seus amores.
     A içar panos acima,    com seus apitos de prata,
  14   oh, que ricos mandadores,    traz esta real fragata!
     Já estavam em mar largo,    onde terras não havia.
  16   --Acima, acima, gajeiro,    vai ver o que descobria.
     Gajeiros da nossa nau,    alimpem a artilheria,
  18   que aqui para a nossa nau,    vem uma combataria,
     aonde vinha um belchor,    que na retaguarda vinha.
  20   --Dize-me tu, ó belchor,    que navios traz Turquia?
     --Se Dom João me perdoa,    eu tudo lhe contaria,
  22   novecentas e oitenta    galeras traz a Turquia,
     fora doze naus de linha,    que trazem a fidalguia.
  24   Pegara em Jesus nos braços,    da ré p`r`à proa dizia:
     --Vós sois neto de Santa Ana,    filho da Virgem Maria,
  26   Vós não permitais, Senhor,    que morra tal cristandia,
     morram esses mouros perros,    bem cheios de fantasia.
  28   O que eles de lá botavam,    tornou-se em mosquetaria,
     o que ele de cá botava,    lindo emprego fazia.
  30   Pelas duas horas da tarde,    passado do meio-dia.
     --Acima, acima, gajeiro,    a ver o que descobria.
  32   O gajeiro lá de cima,    em altas vozes dizia:
     --Tanto sangue derramado,    já nenhuma água havia,
  34   cabeças por esses ares,    sol e lua encobriam.
     De novecentos e oitenta,    só uma galera havia,
  36   leva seus mastros quebrados,    suas velas vão rendidas,
     leva bandeira de rastos,    só p`ra desprezar Turquia.
  38   --Leva novas, leva novas,    mexeriqueira afamada,
     leva novas a el-rei turco,    que sua armada é tomada.
  40   --Eu não se me dá dos navios,    eu outros de pau fazia,
     dá-se-me da gente deles    que era a flor da bizarria.
  42   Dom João mal apontava,    contra a barra de Lisboa.
     --Já lá vem Dom João da Armada,    traz o ceptro mais a coroa.--

Notas del editor de RºPortTOM 2000: La atribución a Bárbara o Mariana es sólo una probablilidad. En todo caso, Mariana da Conceição recogió la versión para la colección de João Teixeira Soares de Sousa.
Neves/Campos (1893) edita nestas páginas uma versão factícia composta pela aqui referenciada e pelas versões 62. e 64. desta edição (entradas 5972 y 5974).Carinhas 1995, II segue as fixações de Braga (1869)/Braga (1982) e Neves/Campos (1893).

Go Back
0112:9 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 5974)

Versión de Velas (c. Velas, isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Documentada en o antes de 1869. (Colec.: Teixeira Soares de Sousa, J.). Publicada en Braga 1869, (y Braga 1982), 310-313; y Braga 1876a, 238-240; RGP II 1907, (reed facs. 1985), 367-370. Reeditada en Hardung 1877, I, 40-43; Neves - Campos 1893, 186-187; Soares de Sousa 1902, 377-380Redol 1964,185-186; Giacometti 1981, 284-286; Pinto-Correia 1984a, 133-134 y Cortes-Rodrigues 1987, 489-491; Carinhas 1995, II. 7 y 8-9; RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 64, p. 188-190. © Fundação Calouste Gulbenkian.  084 hemist.  Música no registrada.

     Sua alteza, a quem Deus guarde,    aviso mandou ao mar,
  2   que se aparelhasse o conde,    para uma manhã largar.
     O conde se aparelhou,    de uma maneira tão bela,
  4   pela meia-noite em ponto,    atirou peça de leva.
     As lágrimas eram tantas,    em riba daquele cais,
  6   choram as mães pelos filhos    que vão para nunca mais.
     Chegando à dita nau,    ouviram grandes terrores,
  8   eram mestre e contra-mestre,    amostrando os seus valores.
     Oh, que rico comandante,    leva esta real fragata,
  10   tocando novos apitos,    encastoados em prata!
     Oh, que rico comandante,    leva este real tesouro,
  12   tocando novos apitos,    encastoados em ouro!
     Caminhara Dom João,    na sua viagem seguida,
  14   era meio-dia em ponto,    mandou gajeiro acima.
     O gajeiro subiu logo,    para ver que descobria,
  16   o gajeiro lá de cima,    em altas vozes dizia:
     --Safa, safa, Dom João,    safa a tua artilheria,
  18   que aqui vem tamanha armada    que o sol e a lua encobria.
     Dentro da mesma armada,    um arrenegado vinha,
  20   empenhando as suas barbas,    Dom João lho pagaria.--
     Dom João, que tal ouvira,    de tristeza se cobria,
  22   pega em Jesus nos seus braços,    de popa à proa corria.
     --Sondes neto de Santa Ana,    filho da Virgem Maria,
  24   não permitais Vós, Senhor,    de eu acabar em Turquia.
     Não permitais que os mouros    se encham de fantasia,
  26   não queirais que os vossos filhos    se encham de cobardia.--
     Chegou a armada uma à outra,    em pino do meio-dia,
  28   a fumaria era tanta,    nem uns, nem outros se viam.
     Bala que Dom João botava,    era de ferro, rendia,
  30   bala que eles deitavam,    tornava-se em mosquetaria.
     A sangreira era tanta,    que p`los embornais corria,
  32   era tanta a gente morta,    os navios empeçariam.
     De setecentos e oitenta,    só uma galera havia,
  34   com os seus mastros quebrados,    o seu garupés rendido,
     com a bandeira de rastos,    p`ra desprezo da Turquia.
  36   Chegando à sua terra,    ancoram em francaria,
     o seu rei, que o ouvira,    pergunta que sucedia.
  38   --Foi o Dom João da Armada    que a todos meteu a pique.
     --Não se me dá dos navios,    eu outros melhores faria,
  40   dá-se da minha gente,    que era a flor da Turquia.
     Quem venceu esta batalha,    que era de tanta valia?
  42   --Foi o Dom João da Armada,    que era o rei da valentia.--

Notas del editor de RºPortTOM 2000: Omitimos a seguinte didascália: entre 38 e 39 O rei lhe respondeu. *Neves/Campos (1893) edita nestas páginas uma versão factícia composta pela aqui referenciada e pelas versões 62. e 63. desta edição. Carinhas 1995, II segue as fixações de Braga (1869)/Braga (1982) e Neves/Campos (1893).

Go Back
0112:10 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 5975)

Versión de S. António (c. Nordeste, isla de S. Miguel, Açores, reg. Açores, Portugal).   Recitada por una mujer (90a). Recogida por Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro, (Colec.: Braga, T.). Publicada en RGP II 1907 (reed. facs. 1985) 370-373. Reeditada en Cortes-Rodrigues 1987, 492-494 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 65, p. 190-191. © Fundação Calouste Gulbenkian.  090 hemist.  Música no registrada.

     O nosso rei Dom João,    aviso mandou p`r`ó mar,
  2   que se preparasse o conde,    para à noite vogar.
     O conde se preparou    duma maneira tão bela,
  4   era meia-noite em pino,    logo deu peça de leva.
     Tocam os clarinetes,    encastoados em prata,
  6   Oh, que lindo mandador,    leva esta real fragata!
     --Esta lancha vai de bordo,    vai de bordo, arreou vela,
  8   quando vossa Alteza queira,    pode vir a bordo dela.
     --Os meus marinheiros novos,    bem se podem despedir,
  10   esta manhã em que estamos,    esta Nau há-de partir.--
     Uns a embarcar para bordo,    outros no cais a chorar,
  12   com saudades da terra,    sem se poderem apartar.
     Era meia noite dada,    foi quando a nau partia,
  14   ainda o sol não era nado,    já vista a terra perdia,
     avistaram uma nau    que meio mar encobria,
  16   pelos sinais que lhe davam,    parecia da Turquia.
     Quando o conde ouviu a nova,    de tristeza se cobria,
  18   andava de popa à proa,    abraçado com o Menino.
     --Vós sois neto de Santa Ana,    filho da Virgem Maria,
  20   não permitais, meu Menino,    morrermos contra a Turquia.
     Não deixeis o perro mouro,    na mais alta valentia,
  22   não deixeis os Vossos filhos,    na mais baixa cobardia.--
     Chegam-se as naus uma à outra,    era em pino do meio-dia,
  24   pegaram-se a combater,    a qual mais combateria.
     Três dias eram findados,    nem um nem outro vencia,
  26   era tanta a fumaceira,    nem uns nem outros se viam,
     era tanta a sangreira    que pelos embornais saía,
  28   era tanta a mortandade,    que as naus entorpecia.
     Três dias eram findados,    nem um nem outro vencia,
  30   subiu gajeiro ao topo,    desceu com muita alegria.
     --Vitória, senhor, vitória,    vitória contra a Turquia!--
  32   Cento e oitenta naus,    só uma escaparia,
     já leva os mastros `rubados,    a sua popa rendida,
  34   ela vai andando breve,    fazendo grande maresia,
     pela noite vai dar fundo,    ao porto da Barbaria.
  36   Perguntou o perro mouro,    o que era acontecido,
     respondeu o almirante,    que nada tinha vencido.
  38   --Parabéns dou à fortuna,    em de todo não morrer,
     com a nau de Dom João,    ninguém se vá combater.
  40   Cento e cinquenta naus,    só uma escaparia,
     suas velas traz de arrasto,    p`ra desprezo da Turquia.
  42   --Nada se me dá das naus,    que outras melhores faria,
     dá-se-me da minha tropa,    que era a flor da Turquia.
  44   Ó Mafoma desgraçado,    não tens nenhuma valia,
     todo o bem que eu te quisera,    em raiva se tornaria.--

Go Back
0112:12 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 8783)

Versión de Velas (c. Velas, isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Recitada por Maria Albina Garcia Pedro. Recogida por Joanne B. Purcell, 24/10/1969 (Archivo: JBP; Colec.: JBP 1969-1970; cinta: 73B, rom. nº 17, rotação 475). Publicada en Purcell 1987, Ilhas 5.7, pp. 78-79.  067 hemist.  Música registrada.

     Dom João se preparou    numa fragata mui bela;
  2   atirou peça de leva    que queria gente nela.
     --Ó homens do mar mais velhos,    não querais mais embarcar;
  4   deixai vir a mancebia    p`ra cima do mar brigar!--
     Fortes choros vão no porto,    no porto dos mareantes;
  6   choram os pais pelos filhos    e as sécias por seus amantes.
     Fortes choros vão no porto    e apertamento no cais:
  8   choram os pais pelos filhos    que não os tornam a ver mai
     Ao irem os botes p`ra bordo    vão com forte devoção:
  10   --Espero de me ajudar    a Virgem da Conceição!--
     Ao meter os botes dentro    ouviam-se grandes terrores;
  12   eram os mestres e contra-mestres    a mostrarem os seus valores.
     Indo pelo mar fora    onde terras não havia,
  14   mandou a gajeiro acima    para ver o que descobria.
     O gajeiro lá de cima    em altas vozes dizia:
  16   --Tantas são as velas que eu vejo    que o sol e a lua encobria.--
     Onde vem um balchior    que na ré da frente a vinha.
  18   --Dizei-me vós, meu balchior,    que galerias traz Turquia?
     -Se Dom João me perdoa,    tudo lhe contaria:
  20   Novecentas e oitenta    galérias de artilharia,
     fora doze naus de linha    que vêm com a fidalguia.--
  22   Pegou em Jesus nos braços    de popa a popa a corria.
     --Valha-me, Jesus do Céu,    valha-me a Virgem Maria!
  24   Vós, Senhor, não permitais    que morra esta cristandia
     p`ra qu` aqueles mouros perros    não se encham de valentia.--
  26   --Debaixo desta fumaça,    torna-te acima, gajeiro!--
     O gajeiro lá de cima    em altas vozes dizia:
  28   --De novecentas e oitenta    galérias d` artilharia,
     só não vejo senão uma:
  30   leva os mastros quebrados,    sua bandeira rendida.
     --Leva novas, leva novas,    minha mistiqueira afamada,
  32   leva novas ao rei turco    que a sua armada é tomada.
     --Não se me dá dos navios,    que outros de pau se faria,
  34   dá-se-me é da nossa gente    que era a flor da bezerria.--

Notas: -17a balchior, `belchior`; -18b galérias, `galeras`; -31b mistiqueira, `mosquetaria`; -34b bezerria, `bizarria`.

Go Back
0112:4 Batalla de Lepanto (á)            (ficha no.: 5969)

Versión de Faro s. l. (dist. Faro, Algarve, Portugal).   Recogida por S. P. M. Estácio da Veiga, publicada en Veiga 1870, Romanceiro do Algarve, pp. 48-52 y Hardung 1887, I. 26-30. Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 412-416; RGP I 1906 (reed. facs. 1982) 4-8; Lima 1954, 133-137; Redol 1964, 224-226; Anastácio 1985, 269-271 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 59, pp. 182-183. © Fundação Calouste Gulbenkian.  136 hemist.  Música no registrada.

     Nau Catrineta tão linda    que anda nas voltas do mar,
  2   manda el-rei que se aparelhe    para de manhã largar.
     o conde se aparelhara,    nem mais tinha que esperar.
  4   Ao sair da barra em fora    tudo era arrebicar.
     Por um lenho cacilheiro    amarras manda levar,
  6   para navegar em cheio    manda as velas desfraldar,
     salva a torre do Bugio    quando a nau ia a passar.
  8   --Adeus marinheiros velhos,    adeus, que vamos largar!
     Nau Catrineta tão linda    já vai nas voltas do mar.
  10   Três anos e mais um dia    era a nau a navegar,
     já de beber não havia,    nem havia que manjar.
  12   Deitaram sola de molho    que a fome vinha a apertar,
     mas a sola era tão dura    que a não podiam tragar.
  14   Dizem todos à porfia    que um se havia de matar,
     mas as sortes só caíam    no capitão general.
  16   --Arriba, arriba, gageiro,    àquele tope real,
     vê se vês terras de Espanha,    areias de Portugal.
  18   --Não vejo terras de Espanha,    nem praias de Portugal,
     só vejo uma grande armada    que além cobre todo o mar.
  20   Dentro dela vem um turco    pelas barbas a jurar
     que o conde, nosso almirante,    há-de ele vir degolar.
  22   O conde que tal ouvira    `de rastos se foi prostar,
     abraçado a um santo lenho    e gritando a bom gritar.
  24   --Valei-me, Senhor do céu,    vinde-me aqui ajudar!
     Não permitais vós, Senhor,    que à moirama vá parar!
  26   Palavras não eram ditas    e as balas de par a par.
     O sangue já era tanto    que ensanguava todo o mar,
  28   pelos imbernais corria,    de contínuo sem cessar.
     Uma naus já trebucavam,    outras iam a escapar.
  30   Ganhara o conde a batalha    não mais havia a ganhar.
     Tocam-se logo os apitos,    tudo corre a manobrar.
  32   Nau Catrineta, tão linda,    faz-se nas voltas do mar.
     --Arriba, arriba, gageiro,    àquele tope real,
  34   vê se vês terras de Espanha,    areias de Portugal.
     --Não vejo terras de Espanha,    nem praias de Portugal,
  36   vejo três espadas nuas    que vos são a ameaçar.
     --Mira, mira, marujinho,    sobre esse tope real,
  38   vê se-vês terras de Espanha,    areias de Portugal.
     Se alvíssaras me trouveres    melhores tas hei-de eu dar.
  40   --Alvíss` as, meu capitão,    alvíss` as, meu general!
     Alvíss` as tenho ganhadas,    se vás me quiserdes dar.
  42   Já vejo terras de Espanha,    areias de Portugal.
     Também vejo três meninas    debaixo dum laranjal:
  44   uma está fiando ouro,    outra na tela a bordar
     e a mais pequena de todas,    com sua mãe a brincar.
  46   --Todas três são minhas filhas,    meu é esse laranjal.
     As meninas que lá vistes,    todas eu te quero dar.
  48   uma para te vestir,    outra para te calçar
     e a que mais formosa for,    para contigo casar.
  50   --Eu não quero as vossas filhas    que não tenho onde as guardar,
     só quero a nau Catrineta    que anda nas voltas do mar.
  52   --Não dou a nau Catrineta,    não a dou, não posso dar.
     Dar-te-ei- tamanha terra    que a não possas avistar.
  54   --Eu não quero a vossa terra    que por mim não sei lavrar.
     A nau Catrineta quero    que anda nas voltas do mar.
  56   --Não dou a nau Catrineta,    não me venhas atentar.
     Dar-te-ei tanto dinheiro    que o não as tu contar.
  58   --Não quero o vosso dinheiro    que me faz afugentar;
     so quero a nau Catrineta    para no mar navegar.
  60   --Não dou a nau Catrineta    que é d`el-rei de Portugal.
     Não tens mais que me pedir,    nem eu tenho mais que dar,
  62   vai-te daqui, inimigo,    ou te vou a esconjurar.
     --Não quero a nau Catrineta    que ela aí se vai talar.
  64   Este mar será a terra    que vos há-de sepultar,
     os peixes serão os homens    que vos hão-de acompanhar,
  66   os mastros serão as velas    que vos hão-de alumiar.
     Muito não era passado    e a nau a terra a varar.
  68   Não creiam, não, em feitiços    lá mesmo em meio do mar.

Go Back
0112:5 Batalla de Lepanto (í-a)            (ficha no.: 5970)

Versión de Faro s. l. (dist. Faro, Algarve, Portugal).   Recogida por S. P. M. Estácio da Veiga, publicada en Veiga 1870, Romanceiro do Algarve, pp. 55-57 y Hardung 1887, I. 43-44; Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 416-418. Reeditada en RGP II 1907 (reed. facs. Braga 1985) 358-360; Lima - Carneiro 194?, 73; Lima 1959a, 153-154; Redol 1964, 127-128 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 60, p. 184; Mendonça Soares 1998, 28-29; Lima - Carneiro 1984, 94-95; Anastácio 1985, 131.  058 hemist.  Música no registrada.

     Sua Alteza, que Deus guarde,    aviso ao mar mandaria:
  2   que se aparelhasse a armada    para largar no outro dia.
     A armada se aparelhara    com extrema galhardia.
  4   Meia noite, que era em ponto,    Dom Joaquim já não dormia.
     Mal o sol vinha raiando,    tudo já manobraria,
  6   tirara peças de leva    em sinal de que saía.
     Saindo de barra em fora,    quando já terra não via,
  8   forte armada avista ao longe,    que em todo o mar se estendia.
     Uma à outra se chegara    pelo pino do meio dia,
  10   a batalhar se puseram,    cada qual com mais porfia,
     a salva que o perro dava,    tudo era mosqueteria.
  12   Muito tempo já durava,    nem um nem outro vencia,
     Dom Joaquim, quase perdido,    sem saber o que faria,
  14   a um Santo Cristo abraçado,    da popa a proa dizia:
     --Deus do céu, que me estais vendo,    filho da Virgem Maria;
  16   não permitais, Deus bendito,    que vamos dar à Turquia!--
     Palavras não eram ditas,    sua voz o céu ouvia,
  18   pois passado pouco tempo    o rei moiro se perdia.
     As galés que ele trouvera    todas lo mar engolia.
  20   De quatrocentas e oitenta    uma só lhe escaparia,
     essa co` leme quebrado,    e a popa em grande avaria,
  22   com a bandeira de rastos    em desprezo da Turquia.
     --Que nobre armada era aquela,    que tão briosa vencia?
  24   --Comandava-a Dom Joaquim,    mais valente não a havia.--
     Já voltava às suas praias    com soberba galhardia.
  26   O perro moiro vencido    com muita mágoa dizia:
     --Não se me dá das galeras,    nem do que nelas havia,
  28   dá-se-me da minha gente,    que era la flor de Turquia
     e mais de uma filha moça    que era a estrela do meu dia!--

Nota: Para un estudio comparativo de la versión publicada por Veiga y la transcripción original de la versión oral única que le sirvió de base, véase el interesante artículo de Dias Marques 2008, Al Gharb, 3, pp. 21-36 donde analiza el autor no sólo el qué y cuánto, sino el por qué de cada tipo de retoque realizado por Veiga. Pulse aquí para la confrontación de las dos versiones incluída en dicho artículo (reproducida con permiso del autor).

Go Back
0112:1 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 2630)

Versión de Buarcos (c. Figueira da Foz, dist. Coimbra, Beira Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1883. Publicada en Thomás 1913, Velhas Canções, pp. 40-42 y [Cortesão (1942) 142-144 e 278 e Mendonça Soares (1998) 26-27]. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 86, C7 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 58, pp. 180-181.  072 hemist.  Música registrada.

     Dom João, que Deus lá guarde,    aviso mandou ao mar,
  2   que se aparelhasse o conde    para de manhã largar.
     O conde se aparelhou    em fragata muito bela;
  4   ao pino do meio-dia    deitou a peça de leva.
     Mandaram a lancha à terra    para a maruja embarcar.
  6   Uns saltaram logo a bordo,    outros quiseram ficar,
     e com saudades da terra    `stavam no cais a chorar.
  8   O conde, vendo tal coisa,    põe-se dali a gritar:
     --Deixai-vos ficar em terra,    homens velhos da cidade;
  10   deixai partir os rapazes,    que vão para o mar brigar.--
     À partida das galés    ouviam-se altos clamores;
  12   capitães e marinheiros    ali carpem suas dores.
     Entrando pelo mar dentro,    ouviram-se apitos d` oiro;
  14   oh que belo comandante    que leva o real tesoiro!
     Entrando mais para dentro,    ouvem-se apitos de prata;
  16   oh que belo comandante    que leva a real fragata!
     Mandou subir o gajeiro    a ver o que descobria;
  18   o gajeiro subiu logo    e em altas vozes dizia:
     --Gajeiros da nossa nau,    apontem a artilharia,
  20   que aqui para a nossa armada    vem uma combataria.--
     Chegaram as naus dos turcos    em pinos do meio-dia.
  22   As balas que eles botavam    era só mosquetaria;
     as que Dom João atirava    eram de grande valia,
  24   mas a bala da moirama    nem matava nem feria.
     A sangueira era tanta    que dos embornais corria;
  26   era tanta a gente morta,    que os navios empecia.
     Pelas duas horas da tarde    cessava a mosquetaria.
  28   Dom João manda o gajeiro    a ver o que sucedia.
     --De novecentas e oitenta    só uma galera via,
  30   mastros e borda quebrados    pela nossa artilharia.--
     Leva a bandeira de rastos    p`ra desprezo da Turquia,
  32   as suas velas rasgadas    o casco com avaria.
     Dom João manda um cativo    ao rei mouro da Turquia,
  34   contar-lhe o grande desastre    que houve naquele dia:
     que da sua grande armada    poucos navios havia,
  36   e da gente que mandara    quasi nenhuma existia.

Título original: BATALHA DE LEPANTO (ESTRÓF. + Í-A)
Nota: las siglas bibliográficas que aparecen entre corchetes en la cabecera corresponden a las empleadas en RºPortTOM 2000.

Go Back
0112:3 Batalla de Lepanto (estróf.)            (ficha no.: 5968)

Versión de Coimbra s. l. (c. Coimbra, dist. Coimbra, Beira Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1867. Publicada en Braga 1867, 157-159. Reeditada en RGP II 1907, (reed. facs. 1985), 356-358; Estremadura 1947, 14-15 e Redol 1, 217-218 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 57, pp. 179-180. © Fundação Calouste Gulbenkian.  060 hemist.  Música no registrada.

     Dom João, que Deus guarde,    aviso mandou ao mar,
  2   que se aparelhasse o conde    para uma manhã largar.
     O conde se aparelhou,    de uma maneira tão bela!
  4   Era meia noite em ponto,    deitou o tiro de leva,
     deitaram a lancha a terra,    para a maruja embarcar,
  6   uns a bordo, outros na praia,    outros na lancha a chorar.
     Deitaram novos apitos,    encastoados em ouro,
  8   Oh que belo comandante    que leva o real tesouro!
     Deitaram novos apitos    encastoados em prata,
  10   Oh que belo comandante    que leva a real fragata!
     Deitaram novos apitos    encastoados em latão
  12   Oh que mestre e contra-mestre,    tão malvado guardião.
     Adeus, oh Beato Antonio,    melhor cousa de Lisboa!
  14   Deus nos leve a salvamento    a esta coverta boa.
     Adeus, oh Cais do Tojo,    aonde está o cativo,
  16   eu me encomendo ao santo    que me livre deste perigo!
     Adeus, Fundição de cima,    do armamento d`el-rei,
  18   eu cá vou nesta viagem,    não sei quando tornarei.
     Adeus, oh venda do peso,    onde se vende o azeite,
  20   adeus, Praça da Figueira,    adeus, saloias do leite.
     Adeus, oh Casa da Índia,    despacho do algodão,
  22   adeus, oh caixões do açúcar,    e os faiantes do torrão.
     Adeus, Terreiro do Paço,    Adeus, do Paço Terreiro,
  24   adeus, memória real    que és de Dom José Primeiro.
     Adeus, também, Arsenal,    onde se fazem navios,
  26   adeus, escaler real,    és fama dos algarvios.
     Adeus, adeus, Corpo Santo,    armazém dos pucarinhos,
  28   adeus, ó moças bonitas,    adeus, quartilhos de vinho.
     Adeus, castelos e torres    da cidade de Lisboa
  30   que eu cá vou nesta viagem,    na corveta Nova Goa.

Go Back
0112:6 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 5971)

Versión de Porto da Cruz (c. Machico, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recitada por Rita Rosa de Jesus. Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 219-221. Reeditada en RGP II 1907, (y Braga 1985), 360-361; Redol 1964, 218; Carinhas 1995, II.114-115 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 61, p. 185. © Fundação Calouste Gulbenkian.  042 hemist.  Música no registrada.

     --Adeus, vós, mãe da minh` alma,    que já nã torno a ver,
  2   lá vai esta nau à guerra,    pelejar até morrer.
     Oh, que choro vai na praia,    imbarcam los navegantes,
  4   choram las mães polos filhos,    las moças, polos amantes.
     Todos são rapazes novos    que vão à guerra do mar,
  6   homens velhos já nã podem,    tamanhos p`rigos passar.
     Quando já de mar em fora,    capitão terra nã via,
  8   mandou pol la gente pronta,    safar su` artilheria,
     porque lá longe avistara,    galera da Grã-Turquia.
  10   Perguntou lo capitão:    --Quem trazeis em companhia?--
     Ela de lá respondeu    qu` arrenegados trazia.
  12   Ele c` um Cristo nos braços,    de pop`à proa dizia:
     --Soides neto de Sant` Ana,    filho da Virgem Maria,
  14   nã deixeis los moiros perros,    em pontos de galhardia,
     e nós que somos cristões,    em pontos de cobardia.--
  16   E chegaram-s` um` à outra,    uma e outr` à porfia,
     entraram de combater,    uma nem outra vencia.
  18   Tanto era de cabeças,    que no convés nã cabia,
     tanto já era de sangue    que todo lo mar tingia,
  20   la bandeir` andav` a rastos,    só la popa combatia,
     esta nau, que foi p`r`à guerra,    já nã pelejava, morria.

Go Back
0112:11 Batalla de Lepanto (í-a+estróf.)            (ficha no.: 8782)

Versión de Machico (c. Machico, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recitada por Maria Martins. Recogida por Joanne B. Purcell, 23/05/1970 (Archivo: JBP; Colec.: JBP 1969-1970; cinta: 174B, rom. n°15, rotacão 682). Publicada en Purcell 1987, Ilhas 5.1, pp. 74-75.  067 hemist.  Música registrada.

     No domingo de manhã    Dom João partir queria;
  2   ao sábado embarca a gente,    ao domingo à vela ia.
     Era uns a embarcar pa` bordo,    outros na praia a chorar.
  4   Ai, que grito vai na praia    ao embarcar de marinhantes!
     Choram os pais por seus filhos    e as sécias por seus amantes,
  6   Fora levar-los afora,
     Meio mares de fora    Dom João mandou major à tropa.
  8   Major que foi à tropa    desta maneira dizia:
     --Ja lá vem a armada moura    da parte da Breberia.
  10   Perro mouro vem jurando    que Dom João le pagaria,
     qu` a braba de Dom João    na mão dele ficaria,
  12   Perro mouro vem jurando    que Dom João le pagará,
     qu` a braba de Dom João    na mão dele ficará.-
  14   Don João qu` ouviu aquilo,    já s` é posto d` alegria,
     com o Santo Cristo nos braços    de popa a proa dizia:
  16   --Vós, neto de Sant` Ana,    filho da Virgem Maria,
     não permitas, ó meu Deus,    que vá morrer à Truquia!
  18   Nã ponhas a perros mouros    em ponto de fantasia,
     pòe a nós que semos cristãos    em ponto de meio-dia.--
  20   Chegou a armada uma p`rà outra,    à distância nã seria,
     mandaram arear as armas,    mostraram sua artilharia.
  22   Três dias na batalha    nem um nem outro vencia;
     a cabo dos três dias    Dom João que venceria,
  24   As cabeças eram tantas    que no convés não cabia,
     o sangue era tanto    que rios jamais corria.
  26   Da parte da mourama    nem sequer um se colheria,
     e da parte da cristiandade    nem um só se morreria,
  28   A cabo de oito dias    Dom João venceria.
     --Perro mouro,    vai dar novas ao rei truco,
  30   que a armada moura foi tomada    por a nau Fernão Buco.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    que força trazerias?
  32   --Vinha trinta reis . . . . . . . . .    donde vinha o meu herói
     e . . . deixasse . . . . . . . . .    pela borda falsa afora
  34   . . . . . . . . . rompeu,
     levou a bandeira d` arrasto    pa` envergonhar a Truquia.

Notas: -4b marinhantes, cruzamento de marinheiros e mareantes; la mares sic; -19a semos por `somos`; -31a omitido; -31b trazerias, `trazias`; -32a, -33a e -34a ininteligíveis. Disse ter aprendido o romance com a sua mãe que o cantava.

Go Back
Back to Query Form