Pan-Hispanic Ballad Project

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0153:53 Mala suegra (á)            (ficha no.: 2702)

Versión de Madeira s. l. (dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recogida por Pere Ferré, publicada en Ferré 1982f, 151. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 168-169, L3.  138 hemist.  Música registrada.

     --Ai que saudades m` apertam    por a casa dos mês pais!
  2   Também m` apertam as dores    s` a minha mãe nã chegar.
     --S` as saudades t` apertam,    bem as podes ir matar,
  4   que as dores não serão muitas,    toma o caminho e andar.
     --Mas à noite, ò meu marido,    quem le dará de cear?
  6   --Da caça qu` ele trouxer,    eu a farei amanhar.
     Do meu pão e do meu vinho,    o qu` ele quiser tomar.
  8   --Qu` é da minha esposa Helena,    que não me dá de cear?
     --Tua esposa Helena, filho,    foi-se para nã voltar,
  10   qu` ia para a sua casa,    que nã nos pode aturar;
     chamou-me a mim perra velha    e a ti filho de mãe tal.
  12   --O mê cavalo andaluz    já e já mo vão selar,
     qu` essa mulher, por Deus juro,    qu` ela que me há-de pagar.
  14   --Boas novas, ó mê genro,    qu` ê tenho para vos dar:
     um filho varão, é tão lindo,    anjo de pôr no altar.
  16   --Novas me dão, boas novas;    más as trago eu para dar,
     porque a mãe qu` o pariu    não é que o há-de criar.
  18   E ergue-te daí Helena,    que me tens d` acompanhar.
     --Paridinha duma hora,    p`a onde é qu` a quereis levar?
  20   --Para perto e bom caminho,    nã tem muito que penar,
     qu` o cavalo andaluz    anda mais do qu` o luar.
  22   --E ande ele que não ande,    p`a ond` é qu` a quereis levar?
     --Cale-se, ó minha mãe, cale-se,    já s` havia de calar,
  24   qu` a mulher qu` é bem casada    o marido há-d` acompanhar.
     Que me dêem minha cinta    p`ra melhor me conchegar;
  26   dê-me o meu gibão forrado    para melhor m` abafar;
     agora dê-m` o meu filho,    qu` ê o quero abraçar.
  28   Ai destes beijos, meu filho,    se tu souberas lembrar!
     Lembrai-lhos vós, minha mãe,    quand` ele souber falar.
  30   --Que dizes, filha, que dizes?    --Minha mãe, isto é folgar,
     qu` é tão perto e bom caminho    p`a onde temos d` andar,
  32   qu` o cavalo andaluz    anda mais qu` o luar.--
     O cavalo era andaluz,    andava mais do qu` o luar.
  34   O caminho era de pedras,    ia sempre a tropeçar.
     Vão andando, vão andando,    sem um nem outro falar;
  36   chegou ao alto da serra,    deu um ai, quis desmaiar.
     --Que ais são esses, Helena,    por quem `tás a suspirar?
  38   --E é que se m` acaba a vida,    e é que m` estou a finar;
     paridinha duma hora,    sinto-me em sangue alagar.--
  40   Já se não tem no cavalo,    ali o foi apear.
     Ela já tem as mãos frias,    o corpo estava a leixar,
  42   era a agonia da morte    que já le `tava a apertar.
     --A quem deixas essa cruz    e as pedras do tê colar?
  44   --A cruz deixo a minha mãe,    que por mim há-de rezar;
     as pedras não as quer ela,    tu bem as podes guardar,
  46   mas s` a outra as deres, marido,    melhor as deixes lucrar.
     --A quem deixas a fazenda,    que ta saiba granjear?
  48   --Deixo a ti, ó marido,    que a deixe Deus gozar.
     --A quem deixas lo teu oiro,    que to haja d` o estimar?
  50   --Deixo a minhas irmãs    se tu lo quiseres dar.
     --E a quem deixas o tê filho,    que to haja de criar?
  52   --A tua mãe que, Deus queira,    amor le venha a ganhar.
     --Não deixes a essa perra,    qu` é capaz de to matar;
  54   antes deixo à tua,    qu` ela bem há-d` o criar
     Toucas da sua cabeça    tirara par`o pensar.--
  56   Co`as lágrimas dos sês olhos,    ela bem há-d` o lavar.--
     Ela, ao ouvir estas palavras,    `inda se quis animar,
  58   mas a voz que vem do peito    à hora não le chegava.
     `Inda le disse c` os olhos    que l` estava a perdoar.
  60   --Tu nã me perdoes, Helena,    que Deus te há-d` escutar,
     qu` ê vejo subir ao céu    mê anjo tutelar.
  62   Mal hajam línguas traidoras,    ouvidos qu` ê les fui dar,
     que por amor das más línguas    mê anjo vim a matar.
  64   Set` anos e mais um dia    irei eu peregrinar;
     à porta santa de Roma    me quero ir ajoelhar.
  66   Aqui um santo convento    fundarei neste lugar,
     com sete missas por dia,    cada uma em seu altar,
  68   que digam todas qu` o virem:    «Foi aqui sê mal pecar,
     e aqui fez penitência    para Deus le perdoar».--

Título original: A MÁ SOGRA (Á) (=SGA L4)

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