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--Ai que saudades m` apertam por a casa dos mês pais! |
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Também m` apertam as dores s` a minha mãe nã chegar. |
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--S` as saudades t` apertam, bem as podes ir matar, |
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que as dores não serão muitas, toma o caminho e andar. |
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--Mas à noite, ò meu marido, quem le dará de cear? |
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--Da caça qu` ele trouxer, eu a farei amanhar. |
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Do meu pão e do meu vinho, o qu` ele quiser tomar. |
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--Qu` é da minha esposa Helena, que não me dá de cear? |
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--Tua esposa Helena, filho, foi-se para nã voltar, |
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qu` ia para a sua casa, que nã nos pode aturar; |
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chamou-me a mim perra velha e a ti filho de mãe tal. |
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--O mê cavalo andaluz já e já mo vão selar, |
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qu` essa mulher, por Deus juro, qu` ela que me há-de pagar. |
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--Boas novas, ó mê genro, qu` ê tenho para vos dar: |
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um filho varão, é tão lindo, anjo de pôr no altar. |
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--Novas me dão, boas novas; más as trago eu para dar, |
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porque a mãe qu` o pariu não é que o há-de criar. |
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E ergue-te daí Helena, que me tens d` acompanhar. |
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--Paridinha duma hora, p`a onde é qu` a quereis levar? |
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--Para perto e bom caminho, nã tem muito que penar, |
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qu` o cavalo andaluz anda mais do qu` o luar. |
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--E ande ele que não ande, p`a ond` é qu` a quereis levar? |
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--Cale-se, ó minha mãe, cale-se, já s` havia de calar, |
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qu` a mulher qu` é bem casada o marido há-d` acompanhar. |
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Que me dêem minha cinta p`ra melhor me conchegar; |
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dê-me o meu gibão forrado para melhor m` abafar; |
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agora dê-m` o meu filho, qu` ê o quero abraçar. |
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Ai destes beijos, meu filho, se tu souberas lembrar! |
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Lembrai-lhos vós, minha mãe, quand` ele souber falar. |
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--Que dizes, filha, que dizes? --Minha mãe, isto é folgar, |
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qu` é tão perto e bom caminho p`a onde temos d` andar, |
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qu` o cavalo andaluz anda mais qu` o luar.-- |
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O cavalo era andaluz, andava mais do qu` o luar. |
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O caminho era de pedras, ia sempre a tropeçar. |
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Vão andando, vão andando, sem um nem outro falar; |
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chegou ao alto da serra, deu um ai, quis desmaiar. |
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--Que ais são esses, Helena, por quem `tás a suspirar? |
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--E é que se m` acaba a vida, e é que m` estou a finar; |
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paridinha duma hora, sinto-me em sangue alagar.-- |
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Já se não tem no cavalo, ali o foi apear. |
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Ela já tem as mãos frias, o corpo estava a leixar, |
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era a agonia da morte que já le `tava a apertar. |
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--A quem deixas essa cruz e as pedras do tê colar? |
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--A cruz deixo a minha mãe, que por mim há-de rezar; |
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as pedras não as quer ela, tu bem as podes guardar, |
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mas s` a outra as deres, marido, melhor as deixes lucrar. |
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--A quem deixas a fazenda, que ta saiba granjear? |
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--Deixo a ti, ó marido, que a deixe Deus gozar. |
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--A quem deixas lo teu oiro, que to haja d` o estimar? |
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--Deixo a minhas irmãs se tu lo quiseres dar. |
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--E a quem deixas o tê filho, que to haja de criar? |
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--A tua mãe que, Deus queira, amor le venha a ganhar. |
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--Não deixes a essa perra, qu` é capaz de to matar; |
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antes deixo à tua, qu` ela bem há-d` o criar |
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Toucas da sua cabeça tirara par`o pensar.-- |
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Co`as lágrimas dos sês olhos, ela bem há-d` o lavar.-- |
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Ela, ao ouvir estas palavras, `inda se quis animar, |
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mas a voz que vem do peito à hora não le chegava. |
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`Inda le disse c` os olhos que l` estava a perdoar. |
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--Tu nã me perdoes, Helena, que Deus te há-d` escutar, |
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qu` ê vejo subir ao céu mê anjo tutelar. |
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Mal hajam línguas traidoras, ouvidos qu` ê les fui dar, |
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que por amor das más línguas mê anjo vim a matar. |
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Set` anos e mais um dia irei eu peregrinar; |
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à porta santa de Roma me quero ir ajoelhar. |
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Aqui um santo convento fundarei neste lugar, |
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com sete missas por dia, cada uma em seu altar, |
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que digam todas qu` o virem: «Foi aqui sê mal pecar, |
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e aqui fez penitência para Deus le perdoar».-- |