0183:9 La esposa de don García (í-a+á) (ficha no.: 2727)
Versión de Vinhais (c. Vinhais, dist. Bragança, Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal). Documentada en o antes de 1928. Publicada en Martins 1928, (Martins 1987) I, 199-203.. Reeditada en Redol 1964, 170-172; Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 193-194, O1 y RºPortTOM 2003, vol. 3, nº 1064, pp. 266-268. 164 hemist. Música registrada. |
Chorosa vai a Silvana pelas serras da Hungria. | |
2 | Foi cativada dos mouros dia de Páscoa Florida, |
e duzentos perros mouros vão na sua companhia. | |
4 | Guitarra leva na mão, mas tocá-la não podia. |
No romance vai dizendo: --Valei-me aqui, Dom Garcia; | |
6 | se me não valeis agora, não me valerás outro dia. |
O marido veio da caça como de costume tinha; | |
8 | puseram-lhe de comer como de costume havia; |
serviu-o a mãe à mesa, o que nunca ela fazia. | |
10 | Dom Garcia, suspeitoso, por não saber o que havia: |
--Que é isto, minha mãe, que isto está em demasia? | |
12 | Minha esposa não a vejo, o que é qu` ela teria? |
--Tua esposa, meu filho, cativada ela ia | |
14 | com duzentos perros mouros; vão em sua companhia. |
Ela vai toda contente com muito grande alegria. | |
16 | Guitarra leva na mão, muito bem que a cingia, |
e no romance vai dizendo: "Morra, morra Dom Garcia". | |
18 | --Isso não é, minha mãe, minha esposa não dizia, |
porque era o haver dos meus olhos, a quem eu tanto le queria. | |
20 | Não me desejava a morte nem esse poder havia, |
mas eu vou já, minha mãe, tomar uma nova guia: | |
22 | procurar-lo à mãe dela, que a verdade me dizia, |
porque entre sogras e noras sempre há uma covardia.-- | |
24 | Correu todo apressado e para casa da sogra ia. |
--Diga-me aqui, minha mãe, diga pela sua vida: | |
26 | onde está minha esposa, e sua filha querida? |
--Tua esposa aí vai por essa serra da Hungria, | |
28 | e duzentos perros mouros vão em sua companhia. |
Guitarra leva na mão, mas tocá-la não podia. | |
30 | No romance vai dizendo: "Valei-me aqui, Dom Garcia, |
esposo da minha vida a quem eu tanto queria; | |
32 | se me não valereis hoje, não me valeis outro dia".-- |
Ele correu a toda a pressa pelas serras da Hungria, | |
34 | avistou-os muito longe, mas ela ainda mais corria. |
Desceu pela serra abaixo o mais depressa que podia, | |
36 | e lá no fundo da serra um grande rio havia, |
donde eles não passavam porque o rio os impedia. | |
38 | Puseram-se a descansar aonde a água corria; |
a mulher, que o avistou, bem contente ficaria. | |
40 | Virou p`r`ò chefe deles, estas palavras dizia: |
--Cavaleiro que além vem uma pinga boberia. | |
42 | --Ah, se ele era o teu marido, de boamente se le daria.-- |
A mulher baixou o rosto, desfarçou quanto podia: | |
44 | --Ele meu marido não era, qu` eu solteirinha seria; |
--Ah, mas se ele era teu pai, de boamente se le daria. | |
46 | --Pois ele meu pai não era, qu` eu órfãzinha seria; |
fiquei só de pequenina e eu a ninguém conhecia. | |
48 | --Se era algum teu parente, de boamente se le daria. |
--Eu não tenho pai nem mãe nem parentes conhecia.-- | |
50 | O chefe ficou contente com o que a senhora dizia. |
O cavaleiro chegava, que a mulher conhecia. | |
52 | --Deus los guarde, senhores, Deus los queira guardar. |
--Donde era o cavaleiro tão cortês no falar? | |
54 | --Eu sou mouro da Mourama e p`ra lá vou caminhar. |
--Se tu és mouro da Mourama, ninha nos hás-de passar. | |
56 | --Uma ninha desonrada em meu cavalo não ia. |
--A ninha, se honrada estava, a ninha honrada vinha, | |
58 | que a levamos de regalo ò nosso rei da Turquia. |
Passa-nos tu, ó mourinho, passa-nos pela tua vida, | |
60 | que o rio é muito grande e a água nos impedia; |
se não levamos a ninha, a vida nos custaria.-- | |
62 | Passara-os um a um p`rà outra banda do rio. |
Quando ele voltava atrás, a esposa se sorria. | |
64 | Ele desfarçava o que pôde e a mulher o que podia. |
Passou-os todos em grupo p`rà outra banda do rio. | |
66 | Nenhum deles ficava atrás, que isso era o que ele queria. |
Desde que os passou a todos, o chefe lhe respondia: | |
68 | --Mourinho de boa sorte, peço-te por tua vida |
que voltes atrás buscar a senhora que o ouvia, | |
70 | e que não tenha desastre na veia da água fria, |
que é o nosso resgate. Peço-te por tua vida.-- | |
72 | O cavaleiro, voltando, muito bem que se sorria; |
veio ò pé de sua esposa, estas palavras dizia: | |
74 | --Minha esposa e cara amiga, muito bem t` eu defendia.-- |
O chefe, do outro lado, fazia-lhe gritaria: | |
76 | --Passa-nos cá, ó mourinho, passa-nos a cristaninha! |
--Não vo-la posso passar porque era esposa minha! | |
78 | --Passa-nos cá os vestidos para resgate da vida! |
--Vestidos não vo-los passo, que os vestidos são da ninha!-- | |
80 | Montou-a no seu cavalo, p`ra trás com ela volvia. |
--Esposa da minha vida, ainda te vim resgatar.-- | |
82 | Os mouros foram-se embora, não cessavam de gritar. |
Nota: RºPortTOM 2003 omite los versos 63-65. Título original: A ESPOSA DE D. GARCIA (POLIAS.) (=SGA O1) |