0184:27 Blancaflor y Filomena (é-a) (ficha no.: 2642)
Versión de Portimão. (c. Portimão, dist. Faro, Algarve, Portugal). Recogida por S. P. M. Estácio da Veiga, publicada en Veiga 1870, Romanceiro do Algarve, pp. 91-94 y Oliveira 1905, (reed. 1987?) 361-363; RGP I 1906, (reed. facs. 1882) 598-601; Redol 1964, 403-404; Anastácio 1985, 133-134. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 102-103, F1; RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 252, pp. 424-425 y RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 252, pp. 424-425. 098 hemist. Música registrada. |
Achava-se Dona Branca sentada à sua janela, | |
2 | com as suas duas filhas que Nosso Senhor lhe dera. |
Quem as via não sabia qual delas era a mais bela. | |
4 | O ladrão de Dom Tarquino zombava e ria com elas. |
Vai-se a pedir a mais moça, mas só lhe dão a mais velha. | |
6 | Assim se correm as bodas ao gosto dele mais dela. |
Ao cabo de sete meses leva-a para a sua terra; | |
8 | mal que lá fora chegado, um mau sentido lhe dera. |
--Fica-te aí, Dona Branca, que eu por mim vou para a guerra, | |
10 | mas `inda serei de volta pelos pajens que m` esperam.-- |
Lá no meio do caminho lhe lembra a irmana que houvera; | |
12 | a casa da sogra corre com má tenção que tivera. |
--Deus vos salve, ó minha sogra, a quem tanto bem quisera! | |
14 | --Dona Branca onde a deixastes, que novas me trazeis dela? |
--Dona Branca está mui triste de se ver em `stranha terra; | |
16 | aqui me mandou, senhora, em quanto não vou à guerra, |
para ver se lhe eu levava sua irmana Filomena | |
18 | para ser sua comadre do que Deus lhe dar quisera.-- |
Filomena se prepara, ninguém já por ela espera; | |
20 | já veste saia de lana, já veste saia de seda, |
já põe toucas engomadas que de Flandres lhe vieram. | |
22 | Dom Tarquino em seu cavalo logo d` ancas a pusera. |
Sete léguas são andadas sem que nada lhe dissera. | |
24 | Lá em meio do caminho de amores a acometera. |
--Tem-te, ó perro traiçoeiro, que eu por mim te não quisera. | |
26 | Se meu irmão tu não fôras, maldição te logo dera.-- |
Arrancando um punhal d` ouro, para que nada dissera, | |
28 | a língua ali cortaria à desgraçada donzela. |
Assim a deixa sozinha, que ele vai-se a outra terra. | |
30 | Passa após um pastorinho que la granada vendera; |
por acenos o chamara, que língua não a tivera. | |
32 | Na ponta da sua touca cinco letras escrevera, |
e todas de sangue puro, que outra tinta não houvera. | |
34 | Assim a manda à irmana para que tais letras lera. |
Sua irmã, quando tal vira, logo um infante movera, | |
36 | e o mete numa caçoila para o pai quando estivera. |
O perro estava de volta, antes ele não viera. | |
38 | --Põe a mesa, Dona Branca, que a fome já não espera. |
Come carne, mulher minha, que ela está gostosa e tenra. | |
40 | Que carne tão doce é esta, que outra assim nunca eu comera? |
--É a tua mesma carne, e a língua de Filomena.-- | |
42 | Ele quando aquilo escuta nem mais ouve nem tolera; |
com o punhal que trazia cem punhaladas lhe dera. | |
44 | À mãe já chega a notícia, como doida a recebera. |
--Mulheres que tendes filhas, casai-as na vossa terra, | |
46 | que de duas que eu amava, bem mágoas que recebera. |
Uma me ficou sem língua, sem que mais dela soubera; | |
48 | outra morta às punhaladas por mão de sedenta fera. |
Como flores as criara, e um ladrão se gozou delas.-- |
Título original: FLORBELA E BRANCAFLOR (É-A) (=SGA F1) Nota: las siglas bibliográficas que aparecen entre corchetes en la cabecera corresponden a las empleadas en RºPortTOM 2000 |