| Vindo um lavrador da lavra, encontrou um pobrezinho; | |
| 2 | pobrezinho lhe pediu se o deixava ir no carrinho. |
| Deu-lhe a mão o lavrador e no seu carro o metia; | |
| 4 | levou-o para a sua casa, p`r`à melhor sala que tinha. |
| Mandou-lhe fazer a ceia do melhor manjar que havia; | |
| 6 | sentou-o na sua mesa, mas o pobrezinho não comia: |
| as lágrimas eram tantas, que pela mesa corriam; | |
| 8 | os suspiros eram tantos, que até a mesa estremecia. |
| mandou-lhe fazer a cama da melhor roupa que tinha: | |
| 10 | por cima damasco roxo, por baixo cambraia fina. |
| Quando era meia-noite, o pobrezinho gemia; | |
| 12 | levantou-se o lavrador p`ra ver o que o pobre tinha. |
| Deu-lhe o coração um baque, como ele não ficaria! | |
| 14 | Achou-o crucificado numa cruz de prata fina. |
| --Meu Jesus, se eu soubera que em minha casa vos tinha, | |
| 16 | mandava fazer preparos do melhor que encontraria. |
| --Cala lá, ó lavrador, não fales com fantasia; | |
| 18 | no céu te tenho guardada cadeira de prata fina, |
| tua mulher a teu lado, que também o merecia.-- |
