Pan-Hispanic Ballad Project

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0440:1 Bodas de sangre (á)            (ficha no.: 2656)

Versión de S. Jorge s. l. (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Documentada en o antes de 1869. (Colec.: Teixeira Soares de Sousa, J.). Publicada en Braga 1869, 249-253 (y Braga 1982, 26). Reeditada en Soares de Sousa 1902,305-309; RGP I 1906, (reed. facs. 1982) 341-345; Cortes-Rodrigues 1987, 190-193; Carinhas 1995, II. 16-17 y Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 116-117, H9 ; RºPortTOM 2000, vol. 1, nº 306, pp. 479-481.  118 hemist.  Música registrada.

     A condessa teve um filho,    teve um só, não teve mais;
  2   foram oferecer ao rei    p`ra saber e valer mais.
     Se o rei muito lhe queria,    a rainha muito mais.
  4   El-rei dava o bom vestido,    a rainha o bom calçado;
     mandavam-no passear    com cavaleiros fidalgos.
  6   Os vassalos, com inveja,    ao rei foram-no acusar,
     que ele estava e a rainha    debaixo de um laranjal:
  8   ele em gibão de linho,    ela em rico saial.
     --Corre, corre, cavaleiro,    anda, vai-mo apanhar;
  10   logo que chegar aqui,    quero-o mandar castigar.--
     Mandou-lhe tirar as pernas    para lhe quitar seu andar;
  12   mandou-lhe tirar os olhos    para mais não a mirar;
     mandou-lhe tirar a língua    para perder seu falar;
  14   mandou-lhe tirar os braços    para mais não abraçar.
     Nem os olhos nem a língua,    não lhos quiseram tirar.
  16   Mandou-o deitar na praça    para ir a apedrejar.
     --Passasse um anjo do céu,    novas a minha mãe levasse!
  18   Se não tivesse papel,    sobre as asas lhas levasse.--
     Passara um anjo do céu    voando pelo seu ar.
  20   --Ó moço, dá-me uma carta,    que ta quero ir levar;
     jornada é de outo dias,    hoje lha vou entregar.--
  22   Chega a casa da condessa,    ela o mandou entrar;
     mandou-lhe deitar cadeira    p`ra com ele conversar.
  24   --Não quero sua cadeira,    que me não venho assentar;
     trago-vos novas, senhora,    bem custosas de vir dar.
  26   --Que fará a quem as ouve,    se são caras de contar!
     --Trago-vos novas, senhora,    seu filho quer-se casar.
  28   --Diga-me o senhor menino    que tal é a qualidade:
     se é filha de algum duque    ou de rei de Portugal.
  30   --Pois não é filha de duque    nem de rei de Portugal;
     é filha de um carniceiro,    neta de um que talha carne.--
  32   Logo cobriu seu manto,    começou de caminhar;
     criados que vão com ela    não a podem alcançar.
  34   Quando lá chegou à praça    aquele vulto viu estar;
     meteu a mão no seu manto    para uma esmola lhe dar.
  36   --Não quero vossa esmola,    que lhe não posso pegar;
     dai-me a vossa mão direita,    que vo-la quero beijar.
  38   Ó meu filho, ó meu filho,    quem vos fez tamanho mal?
     --Foram os vassalos do rei    que me foram acusar:
  40   que eu estava mais a rainha    debaixo de um laranjal,
     eu em castelo branco,    ela em rico saial.
  42   --Ó meu filho, ó meu filho,    tua morte vou vingar.--
     Fôra-se a casa do rei,    ele a mandara entrar;
  44   mandara-lhe pôr cadeira    p`ra com ela conversar.
     --Senhor rei, que é do meu filho,    que eu o venho visitar?
  46   --O seu filho é na caça,    é na caça, foi caçar.--
     Botou seu manto p`ra trás,    que queria desabafar.
  48   --Não me sofre o coração    que não torne a perguntar:
     senhor rei, que é do meu filho,    que o quero abraçar?
  50   --O seu filho é na caça,    aqui não pode tardar;
     do meio-dia para a uma    ele aqui há-de ficar.
  52   --Não me sofre o coração    que não torne a perguntar:
     senhor rei, que é do meu filho,    que o venho visitar?--
  54   Que caça tão rigorosa,    tão custosa de apanhar!
     Puxara do seu punhal,    logo ali o matara.
  56   --Ali te fica, rainha,    manda-o agora enterrar;
     também te fica meu filho    para com ele casares.
  58   Fica-te embora, meu filho,    tua morte está vingada,
     que eu vou corrida da morte,    da justiça arreada.--

Título original: BODAS DE SANGUE (Á) (=SGA H26) En RºPortTOM 2000, vol. 1: O Órfão.

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