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--Deus te salve, Rosa, claro serafim; |
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dizei-me, menina, que fazeis aqui? |
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--Guardando o meu gado, que aqui o deixei. |
4 |
Aqui dou um grito, além dou um brado, |
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Senhora da Penha acuda ò meu gado. |
6 |
--O gado, menina, aqui vo-lo trago; |
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venturoso fui ser vosso criado. |
8 |
[. . . . . . . . . . . .] --Com meias de seda |
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que se rompem todas por essas estevas. |
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--Sapatos e meias, tudo romperei, |
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só por vos dar gosto, minh` alma, meu bem. |
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--Palavras como essas `inda as não ouvi; |
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não quero conversa, pode-se ir daqui, |
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que hão-de vir meus amos trazer-me a merenda. |
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--Eu não se me dá que seus amos venham; |
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quero que eles saibam que ambos nós falemos. |
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--Vá-se daqui, senhor, não me dê tormentos, |
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que o não posso ver nem por pensamentos. |
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--Pastora ingrata, pastora formosa, |
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para que és ingrata e tão rigorosa? |
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--Quero ser ingrata, faço muito bem, |
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e ser rigorosa, que assim me convém. |
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--Se quer`s ser ingrata, sejas muito embora, |
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que eu me vou chorando pela serra fora. |
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--Volte cá, senhor, [. . . . . . . . . . . .] |
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dê-me um abraço, dê-mo apertado, |
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que quero espalhar mágoas que em meu peito trago. |
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Volte cá, senhor, que eu já me arrependo; |
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o amor é cego, já me vai vencendo. |
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--Volta cá, pastora, conhece a verdada: |
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a aposta que eu fiz a tenho ganhada. |
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Anda cá, pastora, conhece a razão, |
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que eu quero que saibas que eu sou teu irmão. |
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--Se eras meu irmão, eu não o sabia; |
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perdoa-me, irmão, quanto te dizia.-- |