0457:1 Nao Catarineta (á) (ficha no.: 2859)
Versión de Portugal s. l. (Portugal). Documentada en o antes de 1913. Publicada en Thomás 1913, Velhas Canções, pp. 43-46. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 323, X1. 070 hemist. Música registrada. |
Lá vem a nau Catrineta que tem muito que contar: | |
2 | escutai, se quereis ouvir uma história de pasmar. |
Muito tempo era passado que iam na volta do mar; | |
4 | já não tinham que comer, já não tinham que manjar. |
Deitaram sola de molho para o outro dia jantar, | |
6 | mas a sola era tão dura que a não podiam rilhar. |
Deitam sortes à ventura, quem haviam de matar, | |
8 | mas a sorte foi cair no capitão-general. |
--Sobe, sobe, marujinho, àquele mastro real; | |
10 | vê se vês terras d` Espanha ou praias de Portugal. |
--Não vejo terras d` Espanha nem praias de Portugal; | |
12 | vejo sete espadas nuas que estão para te matar. |
--Arriba, arriba, gajeiro, alcança o tope real; | |
14 | vê lá se enxergas Espanha, areias de Portugal. |
--Dá-me alvíçaras, capitão, meu capitão-general; | |
16 | já vejo terras d` Espanha e as praias de Portugal. |
Também vejo três meninas debaixo dum laranjal: | |
18 | uma sentada a coser, outra na roca a fiar, |
e a mais linda delas todas está no meio a chorar. | |
20 | --Todas três são minhas filhas, quem nas pudera abraçar! |
A mais linda delas todas há-de contigo casar. | |
22 | --Eu não quero a vossa filha, que vos custou a criar. |
--Dou-te então tanto dinheiro que o não possas contar. | |
24 | --Não quero o vosso dinheiro, que vos custou a ganhar. |
--Dou-te o meu cavalo branco sempre pronto a galopar. | |
26 | --Guardai o vosso cavalo, que vos custou a ensinar. |
--Quer`s tu a nau Catrineta para nela navegar? | |
28 | --Não quero a nau Catrineta porque a não sei governar. |
--Que queres então, meu gajeiro, que alviç`ras te hei-de dar? | |
30 | --Quero só a tua alma para comigo a levar. |
--Renego de ti, demónio, que me estavas a tentar; | |
32 | a minh` alma é só de Deus, o meu corpo é para o mar.-- |
Pegou-lhe um anjo nos braços, não no deixou afogar; | |
34 | deu um estoiro o demónio e sossegou logo o mar, |
e à noite a nau Catrineta estava em terra a varar. |
Título original: NAU CATRINETA (Á) |
0457:32 Nao Catarineta (á) (ficha no.: 7785)
Versión de Portugal s. l. (Portugal). Documentada en o antes de 1913. Publicada en Thomás 1913, 43-46. Reeditada en Cortesão 1942, 145-147 e 279; Costa Fontes 1997b, 323; Mendonça Soares 1998, 22-23 y RºPortTOM2000, vol. 4, nº 1683, pp. 400-401. © Fundação Calouste Gulbenkian. 070 hemist. Música registrada. |
Lá vem a nau Catrineta que tem muito que contar, | |
2 | escutai, se quereis ouvir, uma historia de pasmar. |
Muito tempo era passado que iam na volta do mar, | |
4 | já não tinham que comer, já não tinham que manjar, |
deitaram sola de molho para o outro dia jantar, | |
6 | mas a sola era tão dura, que a não podiam rilhar. |
Deitam sortes à ventura quem haviam de matar, | |
8 | mas a sorte foi cair no capitão-general. |
--Sobe, sobe, marujinho, àquele mastro real; | |
10 | vê se vês terras de Espanha ou praias de Portugal. |
--Não vejo terras de Espanha, nem praias de Portugal; | |
12 | vejo sete espadas nuas que estão para te matar. |
--Arriba, arriba, gajeiro, alcança o tope real; | |
14 | vê lá se enxergas Espanha, areias de Portugal. |
--Dá-me alvíssaras, capitão, meu capitão-general, | |
16 | já vejo terras de Espanha e as praias de Portugal; |
também vejo três meninas debaixo dum laranjal: | |
18 | uma sentada a coser, outra na roca a fiar |
e a mais linda delas todas está no meio a chorar. | |
20 | --Todas três são minhas filhas, quem nas pudera abraçar. |
A mais linda delas todas há-de contigo casar. | |
22 | --Eu não quero a vossa filha, que vos custou a criar. |
--Dou-te então tanto dinheiro que o não possas contar. | |
24 | --Não quero o vosso dinheiro, que vos custou a ganhar. |
--Dou-te o meu cavalo branco, sempre pronto a galopar. | |
26 | --Guardai o vosso cavalo, que vos custou a ensinar. |
--Queres tu a nau Catrineta para nela navegar? | |
28 | --Não quero a nau Catrineta porque a não sei governar. |
--Que queres então, meu gajeiro, que alvíssaras te hei-de dar? | |
30 | --Quero só a tua alma para comigo a levar. |
--Renego de ti, demónio, que me estavas a tentar; | |
32 | a minha alma é só de Deus, o meu corpo é para o mar.-- |
Pegou-lhe um anjo nos braços, não no deixou afogar; | |
34 | deu um estoiro o demónio e sossegou logo o mar |
e à noite a nau Catrineta estava em terra a varar. |