Pan-Hispanic Ballad Project

Total: 146


0503:16 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 5801)

Versión de Alagoas s. l. (Alagoas, Brasil).   Recogida antes de 1965 (fecha deducida) (Colec.: Vilela). Publicada en Vilela 1983, nº 3.1, pp. 51-52.  069 hemist.  Música no registrada.

     Mandei chamar meu conselheiro    pelo bem que lhe queria:
  2   --Tu mata tua condessa    para casar com minha filha.
     Não me diga, senhor rei,    que é grande covardia;
  4   não mato minha condessa,    não caso com sua filha.
     --Não me digas, atrevido,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  6   tu mata tua condessa    e casa com minha filha
     e traz a cabeça dela    nesta mimosa bacia.--
  8   --O que é que tem, meu conde    alegre meus olhinhos de alegria?
     Se lhe morreu pai ou mãe,    eu sentir também queria.
  10   Se morreu alguém na corte,    eu pouco me engraçaria.--
     Ele mandou amornar água,    que lavar os pés queria.
  12   --A água já está pronta    para vossa senhoria.--
     Ele mandou aprontar o café,    que tomar café queria.
  14   Depois do café pronto,    nem um nem outro comia,
     as lágrimas já eram tantas    que pela mesa corriam.
  16   Ele mandou forrar a cama,    que descansar queria.
     Depois da cama pronta,    nem um nem outro dormia,
  18   as lágrimas já eram tantas que    pelo colchão corriam.
     --Que é que tem, meu conde alegre,    meus olhinhos de alegria?
  20   Se lhe morreu pai ou mãe,    eu sentir também queria.
     Se morreu alguém na corte,    eu pouco me engraçaria.
  22   --Não morreu ninguém na corte,    nem você sentir queria.
     É levar esta mimosa cabeça    nesta malvada bacia.
  24   --Não me mate de punhar    que é morte de covardia;
     me mate com uma toalha    que é morte de fidalguia;
  26   depois corta minha cabeça    e coloca na bacia.
     Venha cá, meu filhinho,    mamar leite de maldade,
  28   você hoje ainda tem mãe,    amanhã terá madrasta.
     Venha cá, meu filhinho,    mamar leite de amargura,
  30   você hoje terá mãe,    amanhã estarei na sepultura.--
     --Os sinos estão repicando,    ó meu Deus, quem morreria,
  32   ó meu Deus quem morreu hoje    para minha companhia?
     --Não morreu ninguém hoje    para sua companhia.
  34   Morreu a bela enfante,    pelos sinais que fazia;
     descasava os bem casados,    coisa que Deus não queria.--

Nota: vv. 24-25 el mismo motivo aparece en la versión alagoana de Bernal Francés (vv. 18-19).
Título original: Dona Silvana (A Condessa malvada).

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0503:17 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 5802)

Versión de Alagoas s. l. (Alagoas, Brasil).   Recogida antes de 1965 (fecha deducida) (Colec.: Vilela). Publicada en Vilela 1983, nº 3.2, pp. 52-53.  113 hemist.  Música no registrada.

     Estava a princesa um dia    chorando na camarinha,
  2   perguntou-lhe o rei seu pai:    --Por que choras, filha minha?
     --Por ver as outras casadas    e só a mim viver sozinha.
  4   --Eu não vejo nesta corte    com quem case a minha filha.
     Eu só vejo o conde Abelo    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  6   este mesmo é casado,    ele tem mulher e filho.
     --Este mesmo, senhor pai,    este mesmo é que eu queria;
     que no tempo de eu pequena,    grande amor me prometia.
  8   Vou mandar chamar Conde Abelo    com tão grande cortesia,
     para matar sua condessa    para casar com minha filha.--
  10   --Aqui cheguei, meu Conde Abelo,    meu rostinho de alegria,
     que o rei mandou lhe chamar    com tão grande desmasia.
  12   --Bom dia, senhor Dom Rei,    --Bom dia, Dona Prugia,
     para que mandou me chamar    com tão grande demasia?
  14   --Eu mandei te chamar    com tão grande cortesia
     para matar tua condessa,    para casar com a minha filha.
  16   Eu só quero a cabeça dela    nesta adorada bacia.
     --Eu não mato minha condessa,    que a morte não merecia.
  18   Vou botá-la na casa do pai    dela tanto bem que lhe queria.
     --Cala a boca, Conde Abelo,    meu rostinho de alegria,
  20   vai matar tua condessa,    para casar com a minha filha.
     Eu só quero a cabeça dela    nesta adorada bacia.
  22   --Eu não mato minha condessa,    que a morte não merecia.
     Vou botá-la nas montanhas,    que os bichos lhe comeria.
  24   --Eu só quero a cabeça dela    nesta adorada bacia.
     --Minha condessa tão mocinha,    que a morte não merecia,
  26   vou botá-la em cantos nobres    aonde é sua moradia;
     nem as próprias folhas do mato    nova dela não daria.
  28   --Eu só quero a cabeça dela    nesta adorada bacia.
    
                              (A mulher)
     Já chegou meu Conde Abelo,    meu rostinho de alegria,
  30   para que o rei mandou te chamar    com tão grande desmasia?
     --Eu te conto de tristeza,    tu me contas de alegria.
  32   É para matar minha condessa    para casar com sua filha.
     --Não me mate, meu Conde Abelo,    meu rostinho de alegria.
  34   vá botar-me na casa de meu pai    tanto bem que me queria.
     --Isto eu já disse,    nada disso ele queria.
  36   Ele só quer tua cabeça    nesta malvada bacia.
     --Não me mate, meu Conde Abelo,    meu rostinho de alegria,
  38   vá botar-me nas montanhas,    que os bichos me comeria.
     --Tudo isto eu já disse,    nada disso ele queria.
  40   Ele só quer tua cabeça    nesta malvada bacia.
     --Não me mate, meu Conde Abelo,    meu rostinho de alegria,
  42   vá botar-me em cantos nobres,    onde é minha moradia;
     nem as próprias folhas do mato    nova minha não daria.
  44   --Cala-te, minha Condessa,    faz por te consolar.
     Vai botar ceia para nós ir cear,    para cear por despedida.--
  46   Foram dois ombros para mesa,    nem um nem outro mais comia,
     que as lágrimas eram tantas    que pela mesa corria.
  48   --Cala-te, minha condessa,    faz por te consolar.
     --Vai forrar a cama    para nós irmos se deitar,
  50   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    para deitar por despedida.--
     Foram dois ombros para cama,    nem um e nem outro dormia,
  52   que as lágrimas eram tantas    que pela cama corria.
     --Me dê aí este menino    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  54   --Mama, mama, meu filhinho,    este leite de amargura,
     amanhã por esta hora    ela estará na sepultura.--
  56   Ela disse: . . . . . . . . . . . .    --O sino do céu tocou,
     ó meu Deus, que morreria?--    Nisto a criança falou:
  58   --Foi a moça bela enfança    tanto mal que nos queria,
     descasar um bem casado,    coisa que Deus não queria.--

Nota: -47a dois ombros (ambos); -59a infanta.
Título original: Conde Abelo.

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0503:18 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 5803)

Versión de Ingazeira (Alagoas, Brasil).   Recogida por Manoel dos Passos Vilela, antes de 00/00/1965 (fecha deducida) (Colec.: Vilela). Publicada en Vilela 1983, nº 3.3, pp. 53-54.  036 hemist.  Música no registrada.

     --Se choras, Dona Maria,    se choras de alegría?
  2   --Se eu choro, senhor pai,    alguma razão teria:
     que as moças de meu tempo    todas casadas seria;
  4   sendo eu a mais formosa,    por que razão ficaria?
     --Se no meu reino tivesse    homem que a vós merecia.
  6   Só o Conde de Flores,    este tem mulher e filhos.
     --Este mesmo, senhor pai,    este mesmo é que eu queria;
  8   mandai chamar, senhor,    jantará com nós um dia.--
     Logo o rei mandou chamar,    mandou dizer que já vinha.
  10   --O que quer, o meu Dom Rei,    o que quer, sua Monarquia?
    
(Chegando, o Conde de Flores, disse o Rei que era para matar a mulher e casar com a princesa Maria. O Conde voltou em soluços. Chegando em casa, contou à Duquesa.)
     À noite botaram a ceia,    nem um nem outro comia,
  12   que as lágrimas eram tantas    que toda mesa cobria.
     Eles dois posto na cama,    nem um (nem) outro dormia,
  14   que as lágrimas eram tantas    que toda cama cobria.
     --Dê cá lá uma toalha--,    pediu em lágrimas sentida,
  16   --Vinde, minha filhinha,    mamai por despedida.--
     O Conde mais a Condessa    grandes dores sofriria.
  18   Descasar um bem casado,    coisa que Deus não queria.
    
(Termina Dona Maria morrendo, ficando o Duque descansado.)

Título original: Xácara de Dona Maria.

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0503:19 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 5804)

Versión de Alagoas s. l. (Alagoas, Brasil).   Recitada por Joaquina Mendes. Recogida por José Aloísio Brandão Vilela, antes de 00/00/1965 (fecha deducida) (Colec.: Vilela). Publicada en Vilela 1983, nº 3.4, pp. 54-55.  058 hemist.  Música no registrada.

     --Mas ó que casa tão grande    entre portas e janelas.
  2   --Casa grande, minha filh,a    pra tu morar dentro dela.
     --Não desfaço do favor    por não ser interesseira.
  4   As outras todas casadas,    só eu ainda solteira.
     --Dizei-me, minha filha,    com (quem) tu queres casar,
  6   debaixo de penas e mortes,    eu hei de realizar.
     --Quero me casar com o Conde,    marido de Dona Maria,
  8   que é um moço fidalgo    e tem a minha simpatia.
     --Como quer casar com o Conde    e entrar nessa porfia?
  10   ele é casado, tem filhos,    e ama Dona Maria.--
     --Conde, mandei lhe chamar.    --E para que me queria?
  12   --Para matar a Condessa    e casar com minha filha.
     E mandai-me a cabeça dela    dentro de dourada bacia.
  14   --Eu nem mato a Condessa,    nem caso com sua filha;
     nem mando a cabeça dela    dentro da malvada bacia.
  16   --Conde, me mate a Condessa,    deixemos de mais porfia,
     e me mande a cabeça dela    dentro da dourada bacia.
  18   --Eu nem mato a Condessa,    nem caso com sua filha;
     que a Condessa é bonita    que é mesmo em demasia.
  20   --Dê cá aí um tinteiro,    também minha escrivaninha,
     quero escrever a meu pai,    desgraçada da sua filha,
  22   ele mande me buscar    na hora da Ave-Maria.
     Mama, mama, meu filhinho,    este leite de amargura,
  24   daqui mais um pedacinho,    tua mãe na sepultura.
     --"Não permita Deus do céu,    nem as chagas de Maria,
  26   que minha mãe chegue a morrer    por senhora Dona Maria".
     --O sino já está tocando.    --Ai meu Deus quem morreria?
  28   --Aquela bela infame    Senhora Dona Maria;
     descasar os bem casados,    coisa que Deus não queria.--

Nota: La identidad de la recitadora no es seguro.
Título original: Xácara da Condessa malvada.

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0503:14 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 3450)

Versión de Atelcura (Coquimbo, Chile).   Recitada por Carmen Olivares (40a). Recogida entre 1900-1912 (Colec.: Vicuña Cifuentes, J.). Publicada en Vicuña Cifuentes 1912, nº 7, pp. 15-26.  142 hemist.  Música registrada.

     Retirada está la infanta,    que no está como solía
  2   porque el rey no la casaba    ni tal cuidado tenía.
     Atinó a llamar al rey,    como otras veces solía;
  4   vino el rey a su llamado    a ver pa qué lo quería.
     --¿Qué tienes, hija--, le dice,    --qué tiene, la vida mía?
  6   Dame cuenta de tu enojo,    no tengas melancolía,
     que en sabiendo yo la causa    todo se remediaría.
  8   --Menester será, señor,    remedio del alma mía
     A vos quedé encomendada    de la madre que tenía,
  10   y déme estado, señor,    porque mi edad lo pedia.
     --De lo que dices, infanta,    tuya es la culpa y no mía:
  12   no admitiste por esposo    al príncipe de la Hungria
     que entre los de mis reinados    otro de mí igual no había,
  14   tan sólo el conde de Arco    e hijos y mujer tenía.
     Y retornando y volviendo    con enojo le decía:
  16   --Hija, dame tu consejo    que el mío no bastaria,
     y ya murió vuestra madre    a quien consejo pedia.
  18   --Yo te lo daré, buen rey,    del pequeño que tenía:
     mate el conde a la condesa    y quenadie lo sabría;
  20   d` esta suerte, mi buen rey,    mi honra se restauraría.
     De allí se sale el buen rey    sin ninguna compañía;
  22   de otra parte viene el conde,    y a un caballero decía:
     --En un tiempo quise yo    a una deidad peregrina,
  24   y si yo antes la quise    hoy mucho más la quedría,
     que en mí se cumple el refrán:    «quien bien quiere tarde olvida,»
  26   --Se encontraron con el rey    y con mucha cortesía
     se dieron acatamiento,    como ellos lo merecían.
  28   --Convidarte quiero, conde,    pa mañana en aquel día,
     que allá tomarás manjares    con los que en palacio había.
  30   --Allá me tendrás mañana,    aunque estaba de partida,
     que la condesa me espera,    según su carta me avisa.
  32   Llegó al palacio del rey    con toda su comitiva;
     se asentaron a la mesa,    y cuando la gente s` iba:
  34   --Una nueva te doy, conde,    de que tú no la sabias:
     que le ofreciste a la infanta    lo qu` ella no te pedia:
  36   que tú ibas a ser su esposo    y ella tu mujer seria;
     y que se quede engañada,    en ella no convendría.
  38   Luego mata a tu mujer,    por la honra de mi hija.
     --De matar a mi mujer,    eso sí que yo no haría.
  40   --Si no la matas, buen conde,    te costará a ti la vida,
     que por palabra de rey    muchos sin culpa morían.
  42   --Yo la mataré, buen rey,    mas no será intención mía;
     allá te acomodarás    con Dios en la otra vida.
  44   [D`] ahí sale llorando el conde,    llorando, sin alegria:
     y también lloraba el conde    por tres hijos que tenía:
  46   uno que tiene de pecho    que la condesa lo cría,
     que no quería mamar    de tres amas que tenía,
  48   sólo mamar de la madre;    porque ya la conocía.
     El conde viene llegando,    y ella a esperarlo salía;
  50   pero él no podía hablar    con la pena que traía;
     y el dolor del corazón    que del alma le salía.
  52   Le pregunta la condesa:    --¿Qué trae la vida mía?
     --Sí te lo diré, condesa,    cuando la hora seria.
  54   --Dígamelo luego, conde,    antes que llegue otro día.
     --En un tiempo quise yo    a una deidad peregrina,
  56   súpolo su padre el rey,    porque ella se lo diria
     y ahora me manda que mate    por la honra de su hija.
  58   --No me mate, mi buen conde,    a mi patria me remita,
     que mi padrerito es viejo    y mi madre fallecida,
  60   --Que morir tienes, condesa,    antes que llegue otro día.
     --No me mate; mi buen conde,    a mi patria me remita,
  62   que cuidaré de sus hijos    mejor que la que vendría.
     --Que morir tienes, condesa,    antes que llegue otro día.
  64   Y del cuello la tomó,    que prevenido tenía.
     --Pásame mi hijito, conde,    yo te lo agradeceria,
  66   pa que mame de su madre    por última vez, pedía.
     --Déjalo dormir, condesa,    que ya el sueño le vendría.
  68   La mató por la mañana,    y se corrió al otro día
     que la condesa había muerto    por un mal qu` ella tenía.
  70   Pero lo dejó citado    para antes de treinta días
     ante el Tribunal Supremo,    que allá se acomodarían.

Notas de V. C. : -14a Conde de Arco por Conde Alarcos; -24b Por asimilación con otros verbos de uso frecuente, como poner, tener, venir, el pospretérito del verbo querer se conjuga en Chile: quedría, quedríae, quedría, etc. Lo mismo ocurre con el futuro: quedré, etc.
Comenterio parcial de V. C. : Este es uno de los más hermosos romances juglarescos que se conocen. Faltan en la versión chilena muchas de las bellezas del original, pero--¿por qué no decirlo?--encuentro también que en algunos lugares el romance ha ganado en rapidez y concisión, aligerándose de no pocos versos prolijos y vulgares que retardan a veces su marcha. Con respecto al argumento, nada esencial se echa de menos en la versión chilena, como puede verse comparándola con lá que publicó Wolf, reproducida por Menéndez Pelayo en su Antología, t. VIII, p. 290. El señor Menéndez Pidal ha dicho de la versión chilena que "es notable por lo fiel al texto antiguo, mucho más que las catalanas y la asturiana hasta ahora conocidas". (Cultura Española, p. 87.) El Conde Alarcos, dice Menéndez Pelayo, no es una canción popular en el verdadero sentido de la frase; es un romance juglaresco, obra de la inspiración personal de un poeta que, a nuestro entender, no tuvo más guía que la tradición oral, si es que él no inventó completamente el argumento. Pudo muy bien ser el Pedro de Riaño que figura como autor en los pliegos sueltos del siglo XVI, y no creemos anterior a esta fecha la composición de su obra, que es lenta, pausada y reflexiva, con un arte del cual todavía están muy distantes los viejos romances carolingios que por su estilo pudieran parecer más próximos a éste, El Conde Dirlos, por ejemplo. En El Conde Alarcos todo concurre para el efecto de la catástrofe: no hay distracciones, pesadeces ni arrepentimientos. Alguna frase débil y prosaica, alguna expresión desmañada, no bastan para enervar la emoción poética del conjunto. . . » (Antología, t. XII, p. 536.) Durán cree que este romance y el del Duque de Braganza, que se le parece mucho, tienen un mismo fondo histórico, pues los entiende como alusivos a la muerte de doña María de Téllez, perpetrada por su marido, el príncipe don Juan de Portugal, a instigación de la propia hermana de la víctima, la reína doña Leonor, que con fines políticos y de ambición personal, anhelaba el matrimonio de su cuñado con su hija, la infanta doña Beatriz. (Romancero General, t. lI, p. 219.) Wolf reproduce el parecer de Durán; . . . (sigue págs. 21-26).

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0503:7 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 1586)

Versión de España. Recogida 00/00/1547 Publicada en Canc. de rom. s. a. f. 107; Canc. de rom. 1550 f. 107; Silva de 1550 t. II. f. 191 (Romance del conde Alarcos y de la infanta Solisç); Floresta de varios rom. (Romance del Conde Claros) y Pliego suelto del siglo XVI. Romance del conde Alarcos y de la infanta Solisa [Dicc. 485]**. Reeditada en Wolf 1856b, Primavera y Flor de Romances, nº 163, vol. II, pp. 111-126.  428 hemist.  Música registrada.

     Retraída está la infanta,    bien así como solía,
  2   viviendo muy descontenta    de la vida que tenía,
     viendo que ya se pasaba    toda la flor de su vida
  4   y que el rey no la casaba,    ni tal cuidado tenía.
     Entre sí estaba pensando    a quién se descubriría,
  6   acordó llamar al rey    como otras veces solía
     por decirle su secreto    y la intención que tenía.
  8   Vino el rey siendo llamado,    que no tardó su venida;
     vidola estar apartada,    sola está sin compañía;
  10   su lindo gesto mostraba    ser más triste que solía.
     Conociera luego el rey    el enojo que tenía.
  12   --¿Qu` es aquesto, la infanta?    ¿qu` es aquesto, hija mía?
     Contadme vuestros enojos,    no toméis malenconía,
  14   que sabiendo la verdad    todo se remediaría.--
     --Menester será, buen rey,    remediar la vida mía,
  16   que a vos quedé encomendada    de la madre que tenía.
     Dédesme, buen rey, marido,    que mi edad ya lo pedía;
  18   con vergüenza os lo demando,    no con gana que tenía,
     que aquestos cuidados tales    a vos, rey, pertenecían.--
  20   Escuchada su demanda,    el buen rey le respondía:
     --Esa culpa, la infanta,    vuestra era, que no mía,
  22   que ya fuérades casada    con el príncipe de Hungría;
     no quesistes escuchar    la embajada que os venía,
  24   pues acá en las nuestras cortes,    hija, mal recaudo había,
     porque en todos los mis reinos    vuestro par igual no había,
  26   sino era el conde Alarcos,    hijos y mujer tenía.
     --Convidaldo vos, el rey,    al conde Alarcos un día,
  28   y después que hayáis comido    decilde de parte mía,
     decilde que se acuerde    de la fe que d`él tenía,
  30   la cual él me prometió,    que yo no se la pedía
     de ser siempre mi marido    yo que su mujer sería.
  32   Yo fui de ello muy contenta    y que no me arrepentía;
     si casó con la condesa,    que mirase lo que hacía,
  34   que por él no me casé    con el príncipe de Hungría;
     si casó con la condesa,    d`él es culpa, que no mía.
  36   Perdiera el rey en oírlo    el sentido que tenía,
     mas después en sí tornado    con enojo respondía:
  38   --¡No son estos los consejos,    que vuestra madre os decía!
     ¡Muy mal mirastes infanta    do estaba la honra mía!
  40   Si verdad es todo eso    vuestra honra ya es perdida:
     no podéis vos ser casada,    siendo la condesa viva.
  42   Si se hace el casamiento    por razón o por justicia,
     en el decir de las gentes    por mala seréis tenida.
  44   Dadme vos, hija, consejo,    que el mío no bastaría,
     que ya es muerta vuestra madre    a quien consejo pedía.
  46   --Yo os lo daré, buen rey,    de este poco que tenía:
     mate el conde a la condesa,    que nadie no lo sabría,
  48   y eche fama que ella es muerta    de un cierto mal que tenía,
     y tratarse ha el casamiento    como cosa no sabida.
  50   D`esta manera buen rey,    mi honra se guardaría.
     De allí se salía el rey,    no con placer que tenía;
  52   lleno va de pensamientos    con la nueva que sabía.
     Vido estar al conde Alarcos    entre muchos que decía:
  54   --¿Qué aprovecha, caballeros,    amar y servir amiga,
     que son servicios perdidos    donde firmeza no había?
  56   No pueden por mí decir    aquesto que yo decía,
     qu` en el tiempo que yo serví    una que tanto quería,
  58   si muy bien la quise entonces,    agora más la quería;
     mas por mí pueden decir    "quien bien ama tarde olvida".--
  60   Estas palabras diciendo    vido al buen rey que venía,
     y hablando con el rey    de entre todos se salía.
  62   Dijo el buen rey al conde    hablando con cortesía:
     --Convidaros quiero, conde,    por mañana en aquel día,
  64   que queráis comer comigo    por tenerme compañía.
     --Que se haga de buen grado    lo que su Alteza decía;
  66   beso sus reales manos    por la buena cortesía
     de tenerme he aquí mañana    aunque estaba de partida,
  68   que la condesa me espera    según la carta me envía.--
     Otro día de mañana    el rey de misa salía;
  70   asentóse luego a comer    no por gana que tenía,
     sino por hablar al conde    lo que hablarle quería.
  72   Allí fueron bien servidos    como a rey pertenecía.
     Después que hubieron comido,    toda la gente salida,
  74   quedóse el rey con el conde    en la tabla do comía.
     Empezó de hablar el rey    la embajada que traía:
  76   --Unas nuevas traigo, conde,    que d`ellas no me placía,
     por las cuales yo me quejo    de vuestra descortesía.
  78   Prometistes a la infanta    lo que ella no vos pedía:
     de siempre ser su marido,    y a ella que lo placía.
  80   Si otras cosas pasastes    no entro en esa porfía.
     Otra cosa os digo, conde,    de que más os pesaría:
  82   que matéis a la condesa    que cumple a la honra mía;
     echéis fama que ella es muerta    de cierto mal que tenía,
  84   y tratarse ha el casamiento    como cosa no sabida
     porque no sea deshonrada    hija que tanto quería.--
  86   Oidas estas razones    el buen conde respondía:
     --No puedo negar, el rey,    lo que la infanta decía
  88   sino que otorgo ser verdad    todo cuanto me pedía.
     Por miedo de vos, el rey,    no casé con quien debía:
  90   no pensé que vuestra Alteza    en ello consentiría.
     De casar con la infanta    yo, señor, bien casaría;
  92   mas matar a la condesa,    señor rey, no lo haría
     porque no debe morir    la que mal no merecía.--
  94   --De morir tiene, el buen conde,    por salvar la honra mía
     pues no mirastes primero    lo que mirar se debía.
  96   Si no muere la condesa    a vos costará la vida.
     Por la honra de los reyes    muchos sin culpa morían,
  98   porque muera la condesa    no es mucha maravilla.
     --Yo la mataré, buen rey,    mas no será la culpa mía;
  100   vos os avendréis con Dios    en fin de vuestra vida.
     Y prometo a vuestra Alteza,    a fe de caballería,
  102   que me tengan por traidor    si lo dicho no cumplía
     de matar a la condesa,    aunque mal no merecía.
  104   Buen rey, si me dais licencia,    yo luego me partiría.
     --Vayáis con Dios, el buen conde,    ordenad vuestra. partida.--
  106   Llorando se parte el conde,    llorando sin alegría;
     llorando por la condesa,    que más que a sí la quería.
  108   Lloraba también el conde    por tres hijos que tenía,
     el uno era de teta,    que la condesa lo cría,
  110   que no quería mamar    de tres amas que tenía
     sino era de su madre    porque bien la conocía;
  112   los otros eran pequeños,    poco sentido tenían
     Antes que llegase el conde    estas razones decía:
  114   --¡Quién podrá mirar, condesa,    vuestra cara de alegría,
     que saldréis a recebirme    a la fin de vuestra vida!
  116   Yo soy el triste culpado,    esta culpa toda es mía.--
     En diciendo estas palabras    la condesa ya salía,
  118   que un paje le había dicho    como el conde ya venía.
     Vido la condesa al conde    la tristeza que tenía,
  120   vióle los ojos llorosos,    que hinchados los tenía
     de llorar por el camino    mirando el bien que perdía.
  122   Dijo la condesa al conde:    --¡Bien vengáis, bien de mi vida!
     ¿Qué habéis, el conde Alarcos?    ¿Por qué llorais, vida mía?,
  124   que venís tan demudado    que cierto no os conocía.
     No parece vuestra cara    ni el gesto que ser solía;
  126   dadme parte del enojo    como dais de la alegría.
     ¡Decídmelo luego, conde,    no matéis la vida mía!
  128   --Yo vos lo diré, condesa,    cuando la hora sería.
     --Si no me lo decís, conde,    cierto yo reventaría.--
  130   --No me fatiguéis señora,    que no es la hora venida.
     Cenemos luego, condesa,    de aqueso que en casa había.
  132   --Aparejado está, conde,    como otras veces solía.--
     Sentóse el conde a la mesa,    no cenaba ni podía,
  134   con sus hijos al costado,    que muy mucho los quería.
     Echóse sobre los hombros,    hizo como que dormía;
  136   de lágrimas de sus ojos    toda la mesa cubría.
     Mirándolo la condesa,    que la causa no sabía,
  138   no le preguntaba nada,    que no osaba ni podía.
     Levantóse luego el conde,    dijo que dormir quería;
  140   dijo también la condesa    que ella también dormiría;
     mas entr`ellos no había sueño,    si la verdad se decía.
  142   Vanse el conde y la condesa    a dormir donde solían,
     dejan los niños de fuera    que el conde no los quería;
  144   lleváronse el más chiquito,    el que la condesa cría.
     Cierra el conde la puerta,    lo que hacer no solía.
  146   Empezó de hablar el conde    con dolor y con mancilla:
     --Oh desdichada condesa,    grande fue la tu desdicha!
  148   --No so desdichada, el conde,    por dichosa me tenía
     sólo en ser vuestra mujer:    esta fue gran dicha mía.
  150   --¡Si bien lo sabéis condesa,    esa fue vuestra desdicha.
     Sabed que en tiempo pasado    yo amé a quien servía,
  152   la cual era la infanta,    por desdicha vuestra y mía.
     Prometí casar con ella    y a ella que le placía,
  154   demándame por marido    por la fe que me tenía.
     Puédelo muy bien hacer    de razón y de justicia;
  156   díjomelo el rey su padre    porque de ella lo sabía.
     Otra cosa manda el rey    que toca en el alma mía:
  158   manda que muráis, condesa,    a la fin de vuestra vida,
     que no puede tener honra    siendo vos, condesa, viva.--
  160   Desque esto oyó la condesa    cayó en tierra amortecida;
     mas después en sí tornada    estas palabras decía:
  162   --Pagos son de mis servicios,    conde, con que yo os servía!
     si no me matais, el conde,    yo bien os aconsejaría
  164   enviédesme a mis tierras    que mi padre me ternía;
     yo criaré vuestros hijos    mejor que la que vernía;
  166   yo os mantendré castidad    como siempre os mantenía.
     --De morir habéis, condesa,    en antes que venga el día.
  168   --¡Bien parece, el conde Alarcos,    yo ser sola en esta vida
     porque tengo el padre viejo,    mi madre ya es fallecida
  170   y mataron a mi hermano    el buen conde don García,
     qu` el rey lo mandó matar    por miedo que d`él tenía!
  172   No me pesa de mi muerte,    porque yo morir tenía,
     mas pésame de mis hijos,    que pierden mi compañía;
  174   hacémelos venir, conde,    y verán mi despedida.
     --No los veréis más, condesa,    en días de vuestra vida.
  176   Abrazad este chiquito,    que aqueste es él que os perdía.
     Pésame de vos, condesa,    cuanto pesar me podía;
  178   no os puedo valer, señora,    que más me va que la vida.
     Encomendaos a Dios    que esto hacerse tenía.
  180   --Dejéisme decir, buen conde,    una oración que sabía.
     --Decilda presto, condesa,    enantes que venga el día.
  182   --Presto la habré dicho, conde,    no estaré un Ave María.--
     Hincó las rodillas en tierra    esta oración decía:
  184   --En las tus manos, Señor,    encomiendo el alma mía;
     no me juzgues mis pecados    según que yo merecía,
  186   mas según tu gran piedad    y la tu gracia infinita.
     Acabada es ya, buen conde,    la oración que sabía;
  188   encomiénd` os esos hijos    que entre vos y mí había
     y rogad a Dios por mí    mientra tuvierdes vida,
  190   que a ello sois obligado    pues que sin culpa moría.
     Dédesme acá ese hijo,    mamará por despedida.
  192   --No lo despertéis condesa,    dejaldo estar, que dormía,
     sino que os demando perdón    porque ya viene el día.
  194   --A vos yo perdono, conde,    por el amor que os tenía;
     mas yo no perdono al rey,    ni a la infanta su hija,
  196   sino que queden citados    delante la alta justicia,
     que allá vayan a juicio    dentro de los treinta días.--
  198   Estas palabras diciendo    el conde se apercebía;
     echóle por la garganta    una toca que tenía,
  200   apretó con las dos manos    con la fuerza que podía,
     no le aflojó la garganta    mientra que vida tenía.
  202   Cuando ya la vido el conde    traspasada y fallecida,
     desnudóle los vestidos    y las ropas que tenía;
  204   echóla encima la cama,    cubrióla como solía;
     desnudóse a su costado,    obra de un Ave María.
  206   Levantóse dando voces    a la gente que tenía:
     --¡Socorré, mis escuderos,    que la condesa se fina!--
  208   Hallan la condesa muerta    los que a socorrer venían.
     Así murió la condesa    sin razón y sin justicia;
  210   mas también todos murieron    dentro de los treinta días:
     los doce días pasados    la infanta ya moría;
  212   el rey a los veinte y cinco,    el conde al treinteno día;
     allá fueron a dar cuenta    a la justicia divina.
  214   Acá nos dé Dios su gracia,    y allá la gloria cumplida.

Variantes: -31a y yo Canc. de rom. s. a. y 1550, Flor; -33a Si la condesa es burlada. Pl. s. ; -35b si la condesa es burlada, / d` él es la culpa y no mía Flor; -37a tornando. Silva; -47b sabía. Canc. de rom s. a., Silva. Esta lección, como la más antigua, sería de conservar y de integrar: que nadie sabía que el conde lo prometió; -66b por la merced que me hacía. Silva; -70a sentóse. Silva. Luego se asentó a comer. Las ed. posteriores del Canc. de rom; sentose a comer. Flor; -75a comenzó Silva, Flor; -77a una nueva os traigo conde / que de ella no me placía,// por la cual estoy quejoso. Silva. Sabed que estoy muy quejoso. Flor; -80b Después de este verso intercala la Flor. los dos siguientes: que no lo he demandado / ni se lo demandaría.; -98a pues que muera. Flor; Que muera pues. Pl. s.; -102a que me escriba. Flor, Pl. s.; -103b no lo. Silva; -130a condesa. Silva; -131a presto. Silva; -136b corría. Flor, Pl. s; -137a mirábalo. Flor, Pl. s.; -150a miráis. Pl. s.; -151b a quien no debía. Flor; A quien bien servía. Pl. s.; -158b y que se os quite la vida. Flor; -191a niño. Flor; chiquillo. Pl. s.; -193a pido. Silva, Las ed. post. del Canc. de rom.;sino que me perdoneis. Flor; -193b se viene. Flor, Pl. s.` llegaba Las ed. post. del Canc. de rom.
Notas: *Los pliegos sueltos que llevan este romance, lo dicen "hecho por Pedro de Riano".
**De este romance tan célebre hay versiones en las lenguas catalana y portuguesa y lo que es bien de notar, siempre con la misma asonancia (en í-a). La catalana de: El conde Floris se halla en la obra citada del señor Milá Fontanals (pag. 118 y 119). La portuguesa que dicen también del Conde Alarcos pero, en "los districtos menos próximos al contacto castellano", Conde Yanno. Va impresa con este título en el Romanceiro del señor Almeida Garrett (Tomo II. pag. 41 y sig.), y es tan linda, tan sencilla y verdaderamente popular que creemos servir bien a los aficionados reimprimiendo entero este romance portugués del Conde Yanno. [Traspaso la transcripción a la siguiente entrada, con enumeración consecutiva: IGR# 0503: __ SHP]

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0503:20 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 5854)

Versión de Cataluña s. l. (España).   Recogida por Manuel Milà i Fontanals, (Colec.: Milà i Fontanals, M.). Publicada en Milá y Fontanals 1882, Romancerillo catalán, nº 237A, pp. 207-208.  090 hemist.  Música no registrada.

     Aquí está la hija del rey    qu` ella la fresca prenía
  2   [y] viene muy descontenta    de las novas que corrían.
     Dona la culpa á su padre    porque no era casadita.
  4   Su padre se ho escuchò    de la cambra ahont vivia.
     --De que lloras, la infanta,    de que lloras y suspiras?
  6   --Vosté li diré, mi padre,    qu` á un altre no lo diria:
     de las ninas de mi tiempo    todas casadas ya sigan,
  8   y yo como á hija vuestra    casadita aun no siga.
     Ya podría sé casada    con el conde de Sevilla,
  10   sino por Don Juan de Larca,    que su fé me prometia.
     Padre, fassi[`n] un diná    y convidel`hi un dia,
  12   Mentre n` estará dinando    párleli de parte mia.--
     Dient aquestas palabras    el comte pet casa arriva.
  14   --¿No `vías promés, el comte,    casarte con la meva hija?
     --Yo bien li havia promés,    peró no li mantenía.
  16   --Mata ta mujer, el comte,    casa`t con la meva hija.
     --Válgame Dios del Cielo    y la Virgen Madre Maria,
  18   que yo n` haji de matá    la que mal no mereixia.
     --Mata ta mujer, el compte,    antes que no venga el dia.--
  20   Posa la sella al cavall,    casa seva se volvia,
     condesa lo veu vení    á recibirlo salía.
  22   --Aparta`t de mí, condesa,    apartat por vida mia.--
     Posa los hijos á taula    todos tant com ne tenia;
  24   de tant que llorava el comte    toda la mesa corria.
     --¿De que lloras tu, bon comte,    de que lloras y suspiras?
  26   --Yo ya t` ho diré, condesa,    quant serem á la cambrilla.--
     El comte dice que té    hont la comtesa dormía;
  28   la traidora de l` infanta    d` amores l` en requería,
     --Yo te tengo de matar    antes que no vinga el dia.
  30   --Tórname á casa mis padres,    que muy bien m` aplegarían.
     --No puede ser, no, condesa,    que descubierto sería.
  32   --Pórtam`en amb un convenia    que faré molt santa vida.
     --No puede ser, no, condesa,    [que] dos mujeres tendría.
  34   --Pórtam`en ab un bosquito    qu` els perros me comerian.
     --No puede ser, no, condesa    que [esto] tambien se sabria.
  36   Que t` estimas mes, condesa,    la tua mort ó la mia?
     --La mia m` estimo, comte,    per los amors que `ns teníam;
  38   Pusam un mocadó al coll    que `m mate de garrotillo.--
     De tant que llora `l bon comte,    mes estrenye no podía.
  40   --Estrenya, estrenya, `l bon comte,    que no `m fassi tan patirne.--
     Estant en aquest instant    un criat del rey arriva:
  42   --Detente, detente, el comte,    detente por vida mia,
     que l` infanta ya está muerta    y el rey tambien se moría.
  44   --Yo no perdono al rey,    ni menos la seva filla,
     y al comte sí que `l perdono    perque mal no hi mereixía.--

Notas del editor: -10 Mi padre D. J. d. L. / no m` `via prometido; -15b pro n. li ****`via mantenido; -22a Parlat delante ,c.; -31b q. seria descobrido; -44b y. e. r. s` enestá muriendo.
Título original: La cruel infanta.

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0503:12 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 3227)

Versión de Cangas de Onís (ay. Cangas de Onís, p.j. Cangas de Onís, Asturias, España).   Recitada por Cesárea García (19a). Recogida por José Amador de los Ríos, entre 1860-1865 (Archivo: AMP; Colec.: Amador de los Ríos, J.; cinta: Ms. Rodrigo A., n. 38, pp. 193-198). Publicada en J. Menéndez Pidal 1885, Colección de los viejos romances... asturianos (1885), pp. 185-7, nº XLVIII y MMP ASW 1900, [M. Menéndez Pelayo, Antología], X (1900), pp. 116-7 (nº 44).. Reeditada en SilAstur I 1999, (J. Antonio Cid, ed.), pp. 87-88 y SilAstur II 2003, pp.185-7, nº XLVIII.  068 hemist.  Música registrada.

     La infantina está muy mala,    llena de melancolía,
  2   porque no la dejan casar    con el conde de Mayorguía.
     --Cuando te quería casar    con el conde Mayorguía
  4   por respuestas me dijistes    que todavía eras muy niña;
     ya ahora te quieres casar,    ningún de tu igual no había.
  6   --Cáseme usted, mi padre,    pues que tengo mucha prisa,
     que hay muchachas de mi tiempo    mantienen pueblo y famillia.
  8   Mándele a llamar, mi padre,    a comer de mediodía,
     y al acabar de comer    le dirá de parte mía
  10   que mate a la su mujer    y case con la infantina.--
     Mandóle llamar el rey    por un paje que tenía.
  12   --¿Qué me quería el buen rey,    el buen rey qué me quería?
     --Que mates a tu mujer    y casar con la infantina.
  14   --¿Cómo he de matar yo, rey,    a quien tanto me quería?
     --Mata la tu mujer, conde,    si no a ti te mataría.--
  16   Marchó el conde para casa    con más pesar que alegría,
     y la mujer a la puerta    que una estrella parecía.
  18   --¿Qué te quería el buen rey,    el buen rey qué te quería?
     --Lo que me quería el rey    a ti no te placería,
  20   que te matara yo a ti    y casar con la infantina.
     --¿Cómo has de matar tú, conde,    a quien tanto te quería?
  22   --Está la sentencia dada    que ha ser la tuya o la mía.
     --Para ser la tuya, conde,    la mía pertenecía.
  24   Enviarasme a largas tierras,    que padre y madre tenía,
     los camisones de holanda    de allá te los mandaría,
  26   te quisiera y te estimara    mejor que la que vendría.
     ¿Me dejarás decir, conde,    una oración que sabía?
  28   --Si la oración es muy larga    primero amanecería.
     --La oración no es muy larga,    que luego se acabaría.--
  30   Le echó un pañuelo al cuello,    le apretó cuanto podía,
     con el fervor de la sangre    de esta manera decía:
  32   --¡Válgame el rey de los cielos,    válgame Santa María!--
     No había dicho estas palabras,    el paje del rey venía.
  34   --No mates tu mujer, conde,    que ya murió la infantina.--
     ¡Válgame Nuestra Señora,    válgame Santa María!

Notas del editor: J. M. P. publicó un texto muy retocado que le proporcionó el hijo del colector; de allí lo reprodujo M. Menéndez Pelayo. En cambio, aquí se sigue el texto original ms de A. de los Ríos (en que dice tener 15 años la recitadora).

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0503:140 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 8313)

Versión de Sisterna (parr. Santa María de Sisterna, ay. Ibias, p.j. Cangas del Narcea, ant. Cangas de Tineo, Asturias, España).   Recitada por Belarmina Sal González (83a en 1991). Recogida por Anita Gavela, Juan José Pérez, y Jesús Suárez López, en dos ocasiones, 02/08/1991+00/03/1992 (Colec.: Gavela Sal). Publicada en SilAstur VI 1997, nº 22:01, pp. 222-223. Reeditada en Petersen-Web 2006. Texto © R. Gavela Sal. Reproducida con permiso del recolector.  043 hemist.   Música registrada.

     --Cáseme mi padre, cáseme,    que el tiempo ya lo tenía,
  2   los árboles dieron hoja    y ahora ya les caían.
     --¿Con quien te voy a casar yo,    para ti no hay igualía
  4   a no ser el conde Flores    que hijos y mujer tenía.
     --Llame al conde para acá    para sus mesas un día
  6   llame al conde para acá    y háblele de parte mía.--
     --Te he llamado, conde,    pa casar con la infantía.
  8   --¿Cómo voy a casar yo,    si hijos y mujer tenía?
     --Mata a la condesa, conde,    antes de que venga el día;
  10   si no matas la condesa    la tuya la pagaría.--
     El conde va pa su casa    más triste que no salía,
  12   le dieron de comer,    el buen conde no comía;
     se acostó pa dormir un sueño,    el buen conde no dormía.
  14   --Dame de tú pesar, conde,    te daré de mi alegría.
     --De mi pesar, la condesa,    la mitad le bastaría:
  16   mándame el rey matarte    pa casar con la infantía.
     --Mándame para mi casa    y nadie te lo sabría.
  18   --Eso no, condesa, no,    esa no es partida mía.--
     Estando en estas razones
  20   la campana de palacio    de par en par se tañía
     por el alma de la infanta    que a los cielos se subía.
  22   Quedó el conde y la condesa    por lo bien que se querían.

Variantes: -2a los campos ya dieron flores (1991 y SilAstur VI, 20:01); -2b a no siendo; -7a --Te he hecho llamar, conde; (R. Gavela Sal) --Yo te llamo, buen conde, (SilAtur VI, 20:01; -7b y -16b infantina (R. Gavela Sal); -11a Se volviera pa s.c. (SilAtur VI, 20:01; -12a Le pusieron de c. (R. Gavela Sal); -13a se acostaron en la cama; -16a que me manda (SilAtur VI, 20:01; -17a --Me mandas p. (SilAtur VI, 20:01.

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0503:15 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 5456)

Versión de Santander (ay. Santander, p.j. Santander, Cantabria, España).   Recogida por José María de Cossío y Tomás Maza Solano, entre 1933-1934 publicada en Cossío 1933-1934, I. XXX (nº 134), pp. 239-240.  032 hemist.  Música registrada.

     Estaba doña Isabel    sentadita en su balcón
  2   bordando medias de seda    y zapatos de charol.
     --Ya sube mi rey, mi conde;    ya sube mi rey, mi vida.--
  4   Estaba la mesa puesta,    estaba como otros días,
     estando comiendo el pan    el cuchillo le caía.
  6   --¿Qué tienes, mi rey, mi conde,    qué tienes, mi rey, mi vida?
     --Me ha dicho el rey que te mate    pa casarme con su hija.
  8   --No me mates con puñales    que es una muerte muy fría;
     mátame tú con la horca    que yo no lo sentiría.--
  10   Estándola ya ahorcando    estas palabras decía:
     --Ahógame, mi rey, mi conde,    ahógame, mi rey, mi vida,
  12   que quiero dar a mis hijos    la última despedida:
     Hijos míos de mi alma    y también del corazón,
  14   otra madre ya tenéis    pero no la que teníais;
     si por la noche vos quiere,    por el día vos olvida.--
  16   La madre murió el día veinte    y el padre el veintidós.

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0503:1 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 818)

Versión de Pereda de Ancares (ay. Candín, p.j. Ponferrada, ant. Villafranca del Bierzo, comc. Ancares, León, España).   Recitada por Belarmina Fernández (57a). Recogida por Mercedes Cano, Débora Catalán, J. Antonio Cid y Paloma Díaz-Mas, 18/07/1985 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta LEÓN 85; cinta: 1.18-7.1/A-06). Publicada en TOL I 1991, pp. 219-220.  066 hemist.  Música registrada.

     Un rey tenía una hija,    las cosas que ella quería;
  2   él de oro la calzaba,    él de plata la vestía.
     --Cuando te quise casar,    no quisistes, hija mía,
  4   ahora, que tú bien quieres,    para ti no hay igualía;
     sólo hay ese buen conde,    casado y hijos tenía.
  6   --Llámelo usted, rey mi padre,    para una comida un día,
     y en el medio del comer    háblele de parte mía.--
  8   Llamó el rey al conde    para una comida un día,
     y en el medio del comer    háblele de parte mía.
  10   --Tiés que matar la condesa    pa casar con la infantina.
     --¡Cómo yo voy a matar    a quien tanto me quería,
  12   si de ella tengo hijos blancos    lo mismo que plata fina!
     --Tiés que matar la condesa,    si no, te cuesta la vida.--
  14   Se marchó el conde a su casa    más triste del que solía.
     La condesa pon la mesa,    el buen conde no comía;
  16   la condesa escancia el vino,    el buen conde no bebía.
     --Dime qué te pasa, conde,    dime qué te pasaría.
  18   --Calles, calles, la condesa,    para ti no faltaría:
     mándame el rey que te mate    prá casar con la infantina.
  20   --Calles, calles, el buen conde,    yo te lo remediaría:
     llévame a casa `e mis padres,    yo de allí nunca vendría.
  22   --No puede casarse el conde    `stando la condesa viva.
     --Llévame a aquel monte escuro,    yo de allí nunca vendría.
  24   --No puede casarse el conde    `stando la condesa viva.
     --Traeme esa niña, mal conde,    que mame la despedida.
  26   --Calles, calles, la condesa,    que la niña está dormida.
     --No me mates con cuchillo,    que es muerte muy repentina,
  28   ahógame con pañuelos,    de los buenos que `o tenía.--
     Noticias el mar abajo,    noticias el mar arriba:
  30   "No mate el conde la condesa,    que ya murió la infantina".
     Por aprisa que llegaron,    ya morira la infantina.
  32   El alma de la condesa    para los cielos camina
     y el alma de la infantina    sabe Dios a dónde iría.

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0503:2 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 819)

Versión de Tejeira (ay. Villafranca del Bierzo, ant. Paradaseca, p.j. Ponferrada, ant. Villafranca del Bierzo, comc. Burbia, León, España).   Recitada por Bárbara Poncelas (69a). Recogida por Débora Catalán, Diego Catalán, Paloma Esteban y Bárbara Fernández, 16/07/1985 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta LEÓN 85; cinta: 2.16-7.1/A-16 y B-01). Publicada en TOL I 1991, pp. 221-222.  086 hemist.  Música registrada.

     El rey tenía una hija,    mucho la quiere y la estima,
  2   vestida la trae de oro,    calzada de plata fina.
     Él la quería casar    y ella dice que es muy niña.
  4   Pasan tiempos, vienen tiempos    y la niña por casar inda.
     Bien la oía su padre    cómo suspira y gemía.
  6   --¿Por qué lloras, la Silvana,    por qué lloras, hija mía?
     --Como no hei llorar, padre,    si me hallo por casar inda.
  8   --Cuando te quise casar,    dijistes que eras muy niña,
     y ahora                         igualanza contigo no había
  10   si no fuera conde Flores,    hijos y mujer tenía.
     --Mándelo llamar, padre,    para una rica comida;
  12   en el medio de la comida    háblale de parte mía,
     si se acuerda de algún tiempo,    si se acuerda de algún día
  14   cuando los dos retozamos    en campos de verde oliva,
     yo con mi blanco jibón    y él con su blanca camisa.
  16   --De esos modos, la Silvana,    tu honra ya está perdida.
     --No están, no, mi padre    que eso nadie lo sabía.--
  18   Mandara llamar al conde    por un paje que tenía.
     --Me manda el rey que lo llame,    yo no sé qué le quería.
  20   --Yo aquí vengo, buen rey,    por ver lo que me quería.
     --Lo que te quiero, buen conde,    bien no te parecería,
  22   que mates a tu condesa    y cases con mi infantina.
     --¿Cómo hei de matar, buen rey,    a quien tánto me quería?
  24   --Si no la matas, buen conde,    pagarás por la tu vida.--
     Se volviera para casa    más triste que salira.
  26   A condesa pone a mesa,    e o conde non lle comía.
     --Dame de tu pesar, conde,    dareite de mi alegría.
  28   --Alegría que che hei dar,    bien no te parecería,
     me manda el rey que te mate,    e case con su infantina.
  30   --Por Dios te pido, buen hombre,    que no me quites la vida,
     yo a mis hijos y los tuyos    yo a criarlos sería.
  32   --No puede casar el conde    `tando la condesa viva.
     --Por Dios te pido, buen conde,    que no me quites la vida,
  34   yo iréme a un desierto    y allí vida santa haría.
     --No puede casar el conde    `tando la condesa viva.
  36   --No me mates con cuchillo,    que muerte puerca sería;
     ahógame con un pañuelo,    que muerte dulce sería.--
  38   Echó la mano al bolsillo    a un pañuelo que tenía.
     Estando en estas razones,    diera habla una niña,
  40   que para tener dos meses    aún le faltaba un día:
     --¡Adiós, querida mi madre,    cómo te quitan la vida
  42   por dar gusto a un traidor    y a una puerca cochina!
     ¡Válgame Nuestra Señora,    válgame Santa María!

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0503:3 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 820)

Versión de Busmayor (ay. Barjas, p.j. Ponferrada, ant. Villafranca del Bierzo, comc. Valcarce, León, España).   Recitada por Asunción López (81a) y Antonia García López (82a) y un hombre (unos 80a). Recogida por Mariano de la Campa, Diego Catalán, Cruz Montero y Esther San-Pastor, 14/07/1985 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta LEÓN 85; cinta: 2.14-7.2/A-12). Publicada en TOL I 1991, p. 223.  042 hemist.  Música registrada.

     Estando dueña Silvana    sentadita en una silla,
  2   tocando en una vigüela,    que muy bien la repartía,
     despertó el rey su padre    con el ruido que hacía.
  4   --¿Qué haces ahí, hija querida,    qué haces ahí, hija qu`rida?
     --Todos los condes se casan,    para mí no habería,
  6   no siendo don conde Flores,    es casado y ten familia.
     Mándalo a llamar, mi padre,    mándalo a llamar un día.--
  8   Inda no eran las once,    el conde en su casa ía.
     --¿Qué me quere usted, don rey    y toda la señoría?
  10   --Lo que quiero, don Condes,
     que mates la tu muller,    que cases con miña filla.--
  12   Marcha el conde para su casa,    triste, que no se tenía;
     cerra puertas y ventanas,    lo que el conde no hacía.
  14   Paseaba o marido dela    de la sala a la cocina.
     --¿Qué te pasa cond` amigo?
  16   --O que me pasa    eu pronto te lo diría:
     Díceme o rei que te mate,    que case ca súa filla.
  18   --Polo mandado de un rei    muita máis xente morría.--
     Mandara llamar un barbero    para hacerle una sangrina.
  20   Oíra tocar las campanas.    --¡Ay Jesús!, ¿quién moriría?
     --Se moriu doña Silvana    por las auciones que hacía:
  22   descasar los ben casados,    lo que Dios no premitía.

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0503:4 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 821)

Versión de Viariz (ay. Corullón, p.j. Ponferrada, ant. Villafranca del Bierzo, comc. Burbia, León, España).   Recitada por Sofía Sánchez (71a). Recogida por Ana Beltrán, Aurelio González, Maite Manzanera y Pilar Moreno, 16/07/1985 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta LEÓN 85; cinta: 3.16-7.2/B-09). Publicada en TOL I 1991, pp. 223-224.  046 hemist.  Música registrada.

     Estando doña Silvana    polo corredor arriba,
  2   tocando na maravalla,    tocando unha maravilla,
     logo despertou o rei    co estrueldo que facía.
  4   --¿Tú qué tes, doña Silvana,    tú qué tes, oh filla miña?
     --De seis hermanas que somos,    `stán casadas, ten familia
  6   i eu, por se-la máis bonita,    ¿por qué razón quedaría?
     --Non vexo con quen te cases,    nin quen a ti te mereza,
  8   sino que fuera el conde,    que está casado ca condesa.
     --Ese é o que a mí me gusta,    ese é o que eu quería;
  10   mandarémolo llamar    da súa parte e da miña.--
     --El rey me mandó llamar,    yo no sé qué me quería.--
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12   Tantas eran las lágrimas    que por la sala corrían.
     --¿Qué tienes marido mío?,    ¿qué es lo que te pasa?
  14   ¿Ese desgraciado del rey    para qué manda llamar?
     --Para que me case con su hija    y a ti te lleve a matar.
  16   --Por eso no sufras nada,    por eso no sufras ya,
     traeme el hijo más pequeño,    que le voy dar de mamare.
  18   Mama, meu filliño, mama,    este leite da pasión,
     que mañana destas horas    non o mamarás, no.--
  20   Las campanas de aquel pueblo    se oyeron tocar,
     [unos] dicen: "¿Por quién sería?";    otros dicen: "¿Quién será?"
  22   --Es la doña Silvana,    que de este mundo se va;
     dejemos los bien casados,    que Dios los mandó casare.

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0503:5 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 822)

Versión de Brugos de Fenar (ay. La Robla, p.j. León, ant. La Vecilla, comc. La Robla, León, España).   Recitada por Valentina Castañón Castañón (71a). Recogida por Josefina Sela, 00/07/1916 (Archivo: AMP; Colec.: Sela, J. (M. Goyri-R. Menéndez Pidal)). Publicada en TOL I 1991, pp. 224-225.  064 hemist.  Música registrada.

     --Casáime, padre, casáime,    que el tiempo ya lo tenía.
  2   --Cuando te quise casar,    no has querido, hija mía,
     y ahora en todas las cortes    uno para vos no había,
  4   si no es el conde, conde Adores,    que hijos y mujer tenía.
     --Cuando guardaba caballos    en las vegas de Almendría,
  6   él me ha dado un pañezuelo    y yo le ha dado una sortija.
     Llámele usted, el mi padre,    a comer a casa un día,
  8   en el medio del comer,    dígale de parte mía.--
     En el medio del comer,    de esta manera decía:
  10   --Mata, conde, a la condesa,    casarás con la infantina.
     --¿Cómo mataré yo conde    a quien tanto yo quería?
  12   --Si no la matas, el conde,    te he de quitar la vida.--
     Ya se fuera para casa,    su esposa lo conocía.
  14   Ya le daba de comer,    él bocado no comía;
     ya le daba de beber,    él pinta no la bebía.
  16   --Dame de tu pesar, conde,    te daré de mi alegría.
     --Tanto te daré, condesa,    que la metad sobraría,
  18   que me ha dicho el buen rey    que te quitara la vida.
     --Calla, calla, el buen conde,    todo se gobernaría:
  20   me diré para mi tierra,    que padre y madre tenía.
     --Un hombre con dos mujeres    tiene la vida perdida.
  22   --No me mate con cochillo,    que mucho lo sentiría,
     máteme con la mi toca,    que al cuello me la traía.--
  24   --Calla, calla, la condesa,    que te he de quitar la vida.--
     --Déjame decir, buen conde,    una oración que sabía.
  26   --Si la oración es muy larga,    esperarte no podía.
     --La oración no era muy larga,    que tres palabras tenía:
  28   Soplico a Dios de los cielos    y a la sagrada María
     todos vaigáis a dar cuenta    antes del tercero día.--
  30   El conde morió a la noche,    la condesa al mediodía,
     y el buen rey por la tarde,    entre la noche e el día.
     ¡Válgame Dios de los cielos,    oh, qué desgracia sería!

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0503:6 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 823)

Versión de Prioro (ay. Prioro, p.j. Cistierna, ant. Riaño, comc. Puente Almuhey, León, España).   Recitada por Asunción (unos 55a). Recogida por Diego Catalán, Thomas Lewis, Madeline Sutherland y Jane Yokoyama, 12/07/1977 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta NORTE 77; cinta: `Dehesa-Prioro` A 12). Publicada en AIER 1 (1982), nº 15:3, pp. 47-48 y TOL I 1991, pp.225-226.  050 hemist.  Música registrada.

     --¿Cómo no me casa, padre,    cómo no me casaría?,
  2   ya podía estar casada    con el conde `e Policía.
     Llámele para acá, padre,    llámele para acá un día.--
  4   --¿No te acuerdas, conde de Arco,    cuándo en el jardín, un día,
     cortando flores y rosas,    distes palabra a mi hija?
  6   Lo que te quiero decir,    lo que decirte quería,
     que mates a tu Isabel    y te cases con mi hija.
  8   --Eso no lo haré, mi rei(na),    porque hacerlo no podría.--
     Se fue el conde para casa    con más pena que alegría,
  10   y vio allí a la su Isabel    sentadita en una silla.
     --Vamos a cenar, mujer,    ganas de cenar traía.--
  12   Se pusieron a cenar    y él bocado no comía.
     --¿Por qué no cenas, mi conde,    como otras veces solías?
  14   --Vamos a dormir, mujer,    ganas de dormir traía.--
     Y al subir las escaleras,    estas palabras decía:
  16   --¡Isabel, ay, mi Isabel,    para qué fuistes nacida!,
     me ha dicho el rey que te mate    y me case con su hija.
  18   --Eso no lo harás, mi conde,    porque hacerlo no podrías.
     Yo me vestiré de luto    y a en ca` mis padres me iría,
  20   y a la mi niña pequeña    conmigo la llevaría,
     que otra madre la vendrá    que otra madre la vendría,
  22   que la pegará de noche,    y la cantará de día.
     --Eso no lo haré, mi reina,    porque hacerlo no podría.
  24   --No me mates con puñal,    que es muerte muy dolorida,
     saca una toca del arca    y con ella me ahogarías.--

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0503:13 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 3399)

Versión de Salio (ay. Pedrosa del Rey, ant. Riaño, p.j. Cistierna, ant. Riaño, comc. Riaño-La Reina, León, España).   Recitada por Leónides Prieto Ibáñez (69a). Recogida en Barniedo de la Reina por José Manuel Fraile Gil y Macario Santamaría Arias, 19/02/1989 (Archivo: ASFG; Colec.: Fraile Gil, J. M.). Publicada en Fraile Gil Rom-Panhisp.-1 1992/5CD, Primera Antología Sonora, v. 4, TECNOSAGA, KPD-(5)10.9004, corte 14.© Fraile Gil. Reproducida aquí con permiso del editor.  046 hemist.   Música registrada.

     --¿Cómo no me casa, padre,    cómo no me casaría?,
  2   yo podía estar casada    con el jefe `e policía.
     Llámele para acá, padre,    llámele pa acá un día.--
  4   --Vengo a decirte, mi conde,    lo que a decirte venía:
     que mates a tu mujer    y te cases con mi hija.--
  6   Volvió el conde para casa    como otras veces solía.
     Viera su dama al balcón,    una rosa parecía.
  8   --Vamos a cenar, condesa,    ganas de cena traía.--
     Se pusieron a cenar    y él bocado no comía.
  10   --Vamos a dormir, condesa,    ganas de dormir traía.--
     Y al subir las escaleras    de esta manera decía:
  12   --¡Ay desgraciada Isabel!,    ¿para qué fuisteis nacida?
     Me manda el rey que te mate    y me case con su hija;
  14   dice que si no lo hago    tengo pena de la vida.
     --No me mates, rey, mi conde,    no me mates por su hija;
  16   yo me vestiré de luto    en ca mis padres me iría.
     --Yo no puedo ser casado    mientras tú, condesa, vivas.
  18   --No me mates con puñal,    que es muerte muy dolorida.
     Saca una toca del arca    y con ella me ahogarías.--
  20   Y cuando la estaba ahogando    de esta manera decía:
     --Afloja un poco, mi conde,    afloja un poco, mi vida;
  22   dame la niña pequeña    la daré la despedida:
     de los tres tragos de leche    que en el mundo la daría.--

Nota: Se repiten todos los hemist. b (menos el -2b), enlazándolos con el hemistiquio siguiente. En lugar de repetir el -2b, repite el -1a y el -3a.
Nota de Fraile Gil: Se cantaba durante las hilas invernales.

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0503:144 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 8945)

Versión de Siero de la Reina (ay. Boca de Huérgano, p.j. Cistierna, ant. Riaño, León, España).   Recitada por Sabina (unos 40a). Recogida por Teresa Catarella, José Manuel Cela, y Paloma Montero, 11/07/1977 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta NORTE 77; cinta: `Siero-Salcedillo` A7). Publicada en AIER 1 (1982), nº 15:2, pp. 46-47.  042 hemist.  Música registrada.

     Estando el conde del Arco    como otras veces solía,
  2   pasó por allí el rey    que iba a hacerle una visita.
     --A lo que vengo a decirte,    a lo que decirte quería,
  4   que mates a tu mujer    y te cases con mi hija,
     porque así lo manda el rey    y ordenado ha la justicia.--
  6   Fuese el conde para casa    como otras veces solía,
     la vio puesta a la ventana    y una rosa parecía.
  8   --¿Por qué no comes, mi conde?    por qué no comes, mi vida?--
     Estando puesta la mesa    ni un bocado que comía.
  10   --Lo que tengo que decirte    lo que decirte tenía,
     que te tengo que matar
  12   porque así lo manda el rey    y ordena la justicia.
     --No me mates, por mi conde,    no me mates, por mi vida;
  14   yo me vestiré de luto    y a casa ` mis padres iría.
     --Eso no puede ser    mientras tú, condesa, vivas.
  16   --No me mates con puñal,    que es muerte muy dolorida;
     saca una toca del arca    y con ella me ahogarías.
  18   Afloja un poco, mi conde,    afloja un poco, mi vida;
     trae a la niña pequeña,    le daré la despedida.
  20   --Por los tres tragos de leche    que te ha dado en esta vida;
     luego te vendrá otra madre
  22   que te pegará de noche    y te cantará de día.--

Variantes: -3b a lo que decirte venía; -5b y también de 1. j.

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0503:9 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 1676)

Versión de As Cancelas (parr. Logares, ay. Fonsagrada, p.j. Fonsagrada, Lugo, España).   Recitada por Magdalena Murias (30a). Recogida por Aníbal Otero Álvarez, 00/00/1929 (fecha deducida) (Archivo: AMP; Colec.: Otero, A. (M. Goyri-R. Menéndez Pidal)). Publicada en RT-Galicia 1998, pp. 219-220.  080 hemist.  Música registrada.

     Estando doña Silvana    en el corredor de arriba
  2   tocando nunha guitarra,    que muy bien la repartía,
     y se llevanta su padre    con el ruido que hacía.
  4   --¿Qué haces ahí, Silvana,    qué haces ahí, Silvana mía?
     --Que casó las hijas todas    y para mí no había
  6   sino el conde de Malvedo    i é casado e ten familia.
     Mándelo llamar, mi padre,    de su parte y más la mía;
  8   para que más pronto venga,    le ponga poder de vida.--
     --¿Qué me quiere usted, buen rey,    qué quiere su señoría?
  10   --Que mataras tu mujer    pra casar coa miña filla.
     --¿Cómo quiere que `o la mate,    si muerte no merecía,
  12   cómo quiere que `o la mate    i-una prenda tan querida?
     --Mátaa, conde, mátaa, conde,    que si no te mataría,
  14   e hasme traer a cabeza    nunha dourada bacía.--
     Vuelve el conde pra su casa    más triste que no venía.
  16   Mandara hacer la comida    las once pra mediodía.
     Está la comida á mesa,    nin un nin outro comía.
  18   --Dime, conde, dime, conde,    ¿que era o rei que che quería?
     --Anda, vámonos al huerto,    que `o allí cho contaría.--
  20   Están las rosas abiertas,    nin un nin outro cogía.
     --Dime, conde, dime, conde,    ¿que era o rei que che quería?
  22   --Anda, vámonos a cama    que `o allí cho contaría.
     --Dime, conde, dime, conde,    ¿que era o rei que che quería?
  24   --Quería que te matara    pra casar coa súa filla.
     --Cala, conde, cala, conde,    pra eso remedio había:
  26   llamarás al cirujano    que me día una sangría,
     para que poquito y poco    me vaya cortando a vida.
  28   Déjame dar un paseo    dende a sala pra a cociña,
     decir adiós a mis criadas,    sirvientas que `o bien quería.
  30   Traeime al niño mayor,    que peinarlo lo quería;
     traeime al niño más nuevo,    que darle el pecho quería.
  32   Mama, niño, mama, niño,    n`este leche de amargar,
     que mañanita a las ocho    me llevan a caminar.
  34   Mama, niño, mama, niño    n`este leche de amargura,
     que mañanita a las once    estaré en la sepultura.
  36   --Tocan al seno y al seno,    mi Dios, ¿quién se moriría?--
     Contesta el niño más nuevo,    que seis meses no tenía:
  38   --Se ha muerto doña Silvana    por culpas que ella tenía:
     descasar los bien casados,    cosa que Dios no quería.
  40   Ella se vaya con Dios,    nós con la Virgen María.

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0503:10 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 1677)

Versión de Santa Mariña (parr. Castro de Amarante, ay. Antas de Ulla, ant. Antas, p.j. Chantada, Lugo, España).   Recitada por Eugenia García Varela (65a). Recogida por Mª Teresa Cillanueva, Michelle Débax, Jon Juaristi, Ana Valenciano, Pere Ferré, Andrea Hamos, Therese  Meléndez y Isabel Ruiz, en dos ocasiones, 12/07/1983+13/07/1983 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta GALICIA 83; cinta: 5.12-7.1-B7 y 8.13-7.1-A8). Publicada en RT-Galicia 1998, pp. 220-221.  074 hemist.  Música registrada.

     --Todas as fillas do rei    casadas e con familia,
  2   e eu, por ser a máis bonita,    aquí me encontro rendida.
     --¿E que queres que che faga,    que che hei facer, miña filla,
  4   [e que queres que che faga]    si pra ti no hay compañía?
     non sendo don conde Alberto,    casado e con familia.
  6   --Mándeo chamar, mi padre,    de súa parte e da miña,
     mándeo chamar, mi padre,    que algún remedio habería.--
  8   --Mándame chamar o rei,    non sei que me querería,
     se será para meu ben,    se será para meu mal.--
  10   --¿Qué me quería, buen rey,    qué me quería usía?
     --Quero que mates a muller,    pra casar coa miña filla.
  12   --¡Ay Dios mío, ay Dios mío,    que eso non o merecía!
     --Mata, conde Alberto, mata,    e casas ca miña filla.--
  14   Chegou o conde á súa casa    con máis pesar que alegría;
     mandou cerrar os palacios,    cousa(s) que nunca facía,
  16   e sentouse á mesa    facendo que comía;
     las lágrimas dos seus ollos    polos manteles corrían.
  18   Baixou a condesa abaixo    pa lle dar alegría.
     --¿Qué te pasa, conde Alberto,    qué te pasa a ti, mi vida?
  20   Dime algo de tus pesares,    que eu che darei alegría.
     --Mándame o rei que te mate    pa casar coa súa filla,
  22   porque non hai outro rei    e que non ten compañía.
     --Cala, home, cala, home,    que algún remedio habería,
  24   cala, home, cala, home,    que eso logo se facía.
     Manda chamar ao ciruxano    que me faga unha sangría,
  26   voume escorrendo da sangre,    váiseme acabando a vida.
     Déixame dar unha volta    da sala para a cociña;
  28   despedirme dos criados    con quen eu tanto vivía,
     [despedirme dos criados]    a mais da miña casiña,
  30   a mais das miñas criadas    con quen eu adevertía.
     Tráiame pa acó esa nena,    que a quería peinar,
  32   traime esa outra máis pequena,    que lle hei de dar de mamar.
     Mama, miña nena, mama,    este leite de amargura,
  34   que mañana de estas horas    estarei na sepultura.--
     Tocan os tinos en Francia,    ¡ay Jesús! quen morrería.
  36   --Morreu a filla do rei,    dunha morte repentina,
     por descasar os ben casados,    cousas que Dios non quería.

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0503:145 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 8946)

Versión de Degrada (parr. Cereicedo, ay. Cervantes, p.j. Lugo, Lugo, España).   Recitada por el tío Lindo "dos Córragos" (unos 70a). Recogida por Diego Catalán y J. Antonio Cid, 20/07/1977 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta NORTE 77; cinta: `Lugo` A7). Publicada en AIER 1 (1982), nº 15:4, pp. 48-49.  046 hemist.  Música registrada.

     Sobía doña Silvana    po lo corredor arriba,//
  2   toucando n`una guitarra,    ¡ay qué bien la repartía!
     Su padre la estaba viendo    desde el palacio de arriba.
  4   --¿Qué haces ahí, Silvana,    que eu de aquí bien te vía?
     --Todos los hombres se casan    y para mí no había,
  6   no siendo el conde Malvado,    y es casado y con familia.--
     Mandan a llamar el conde    para darle nueva vida.
  8   --Tés que matar a muller    p`re casar c`a miña filia.--
     Marchou o conde p`ra sua casa    con tristura y alegría;
  10   chegou and` a sua muller    e decidlo non podía.
     --Eicho decir, a muller,    eicho de decir un día,
  12   e non cho podo decir,    que o corazón non podía.
     --Dime, conde, dime, conde    o qu`a ti che pasaría.
  14   --Anda, vamos al jardín,    y allí sí que cho diría;
     díceme o rey que te mate,    pr`a casar coa sua filia.--
  16   Colleu o neno pequeño,    aquel que de peito tina,
     e póusose a pasearse    do corredor pr`a couciña.
  18   --Mama, niño, mama, niño,    que esta leche ha de amargar,
     que mañana de estas horas    me llevarán a enterrar.--
  20   Al otro día siguiente    repicaba la campana.
     --¿Quién murió, quién no murió?    --Murió la doña Silvana.--

Nota: -8b Repite los versos 2 y 8; 7b pr`e, sic.

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0503:143 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 8944)

Versión de Fontecha de la Peña (ay. Respenda de la Peña, p.j. Cervera de Pisuerga, Palencia, España).   Recitada por Peregrina García (unos 60a). Recogida por J. Antonio Cid, Flor Salazar, y Ana Valenciano, 13/07/1977 (Archivo: ASOR; Colec.: Encuesta NORTE 77; cinta: `Fontecha` A6). Publicada en AIER 1 (1982), nº 15:1, pp. 45-46.  054 hemist.  Música registrada.

     --¿Cómo no me case, padre,    cómo no me casaría?,
  2   ya podía estar casada    con el rey de Pulicía.
     Llámele para acá, padre,    llámele para acá un día.--
  4   --No te acuerdas, conde de Arco,    diste palabra a mi hija
     en el jardín de las flores,    cogiendo rosas un día.
  6   Lo que te quiero decir,    lo que decirte quería,
     que mates a tu mujer    y te cases con mi hija;
  8   mira que si no lo haces    tendrás pena de la vida.--
     Iba el conde para casa,    muy desconsolado iba,
  10   y vio a su dama al balcón,    que una cosa parecía.
     --Vamos a cenar, condesa,    gana de cenar traía.--
  12   Ya se ha puesto a partir pan,    bocado que no comía.
     --Vamos a dormir, condesa,    gana de dormir traía.--
  14   Y al subir por la escalera    estas palabras decía:
     --¡Oh, desgraciada Isabel,    para qué serías nacida!,
  16   me ha dicho el rey que te mate    y me case con su hija.
     --No me mates, el mi conde,    no me mates, por tu vida;
  18   yo me vestiré de negro    y en ca ` mis padres me iría.
     --No consiento estar casado    mientras tú, condesa, vivas.
  20   --No me mates con puñal    que es muerte muy dolorida;
     saca una toca del arca    y con ella me ahogarías.--
  22   Y ya que la estaba ahogando    estas palabras decía:
     --Afloja un poco, mi conde,    afloja un poco, mi vida;
  24   dame la niña pequeña;    la daré la despedida,
     el postrer trago de leche,    que otra madre la vendría,
  26   que otra madre la vendrá,    que otra madre la vendría,
     que la arrollará de noche,    que la pegará de día.--

Nota: -1a C. n. m. dicho por la recitadora pero no grabado. Consta sólo en apuntes.

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0503:141 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 8742)

Versión de Cerdedo (ay. Cerdedo, p.j. A Estrada, Pontevedra, España).   Recitada por Lucía Domínguez (68a). Recogida 00/00/1904 (Archivo: MdeP; cinta: Museo de Pontevedra col. B 232). Publicada en Sampedro y Folgar 1942, I, núm. 177 (música, vol. II, p. 38); BibGal s. p. 29:005.  018 hemist.  Música registrada.

     Estando Doña Silvana    no xardín qu`o Rey lle tiña
  2   dixo tocando a viola    a veira da figueiriña:
     --As miñas hirmás, mi padre,    son casadas con familia,
  4   e y eu por se-ia mais nova    aquí me veo rendida.
     --Xa pudeche estar casada    co o Conde de Granadía,
  6   miña filla, non quixeste,    tiveche-la cobardía;
     ¿Qué querés, ora, che faga,    si non te hacho compañía
  8   a non ser o Conde Alario    que é casado e con familia?
     --Ese mesmo, señor pai,    ese mesmo é o qu`eu quería.--
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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0503:146 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 9526)

Versión de Las Lomadas (ay. San Andrés y Sauces, p.j. Santa Cruz de La Palma, isla de La Palma, Santa Cruz de Tenerife, España).   Recitada por Juana Lorenzo Simón (80a). Recogida por Cecilia Hernández y Hernández, 00/00/1985 (Archivo: ASFG; Colec.: Fraile Gil, J. M.). Publicada en Fraile Gil Rom-Panhisp.-2 2010+2CD, cd 1, corte nº 62, texto nº VI.D.7, pp. 136-137. © Fraile Gil. Reproducida aquí con permiso del editor.  064 hemist.   Música registrada.

     El rey tenía tres hijas    que era lo mejor que había,
  2   una casada en España    y otra casada en Sevilla,
     y la más chica de todas    para monja la quería.
  4   --Papá, no quiero ser monja,    que casarme yo quería.
     --Mi hija, cuando te lo daba    me decías que eras niña
  6   y ahora que me lo pides    en tu corte no lo había.
     --Ese quiero yo, mi padre,    ese es el que yo quería.
  8   --Si ese era el conde Alarca,    mujer y hijos tenía.
     --Mándelo usté a llamar    pa su mesón de un día,
  10   le daremos buen pan blanco,    buen capón, buena gallina,
     le daremos vino tinto,    de aquel que el buen rey bebía--
  12   Se va el conde pa su casa,    triste y lleno de agonía,
     y se sube el conde Alarca    sobre un arca que tenía,
     14 las lágrimas que lloraba    del arca abajo caían.
     --¿Qué tienes tú, conde Alarca?    ¿qué tienes tú, vida mía?
  16   ¿Qué tendremo entre los dos    que a mí no se me decía?
     --Ya que estás tan apurada,    ven acá, te lo diría.
  18   Me manda el rey que te mate    pa casarme con la hija.
     --No me mates, conde Alarca,    no me mates, vida mía,
  20   déjame ir tierra en tierra,    que padre y madre tenía;
     cuando chica me criaron,    `hora no me botarían.
  22   Déjame doblar la ropa    seda y fina que tenía
     pa cuando la infanta venga    no diga que fui perdida.--
  24   (y) Al medio doblar la ropa    esta gran plaga pedía:
     --¡Dios permita lo del Cielo    y la Sagrada María,
  26   que a los hijos de estos padres    Dios les dé muy larga vida
     y con la que él se case    que no se goce ni un día!--
  28   Al pasar la medianoche    siento tocar a agonía.
     "¡Ay, mi Dios, quién se murió!    ¡ay, mi Dios, quién moriría!"
  30   Murió la infanta y el rey    porque andan a la porfía,
     muere el rey a medianoche    y la infanta a mediodía
  32   y se queda el conde Alarca    con la mujer que tenía.

Notas: El editor (Fraile Gil) agradece a Cecilia Hernández y Hernández el haberle cedido esta versión.
Titulo original: La infanta quiere casarse.

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0503:8 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 1587)

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Recogida por João Baptista de Almeida Garrett, publicada en Almeida Garrett, Romanceiro (Tomo II. pag. 41 y sig.)[ficha bibliográfica nº. 67]. Reeditada en Wolf 1856b, Primavera y Flor de Romances, nº 163n, vol. II, pp. 124-126.  220 hemist.  Música registrada.

     Chorava a infanta Solisa,    chorava e razão havia,
  2   vivendo tam descontente,    seu pae por casar a tinha.
     Acordou el rei da cama    com o pranto que fazia:
  4   --Que tens tu, querida infanta,    que tens tu, ó filha minha?
     --Senhor pae, o que hei-de eu ter    se fino dixe me pésa a vida?
  6   De tres irmans que nós eramos    solteira eu só ficaria.
     Que queres tu que te eu faça?    Mas a culpa não é minha
  8   Ca vieram embaixadas    de Guitaina e Normandia;
     nem ouvi-las não quizeste,    nem fazer-lhes cortezia . . .
  10   Na minha côrte não veio    marido que te daria. . .
     Só se fosse o conde Yanno,    o esse ja mulher havia
  12   Ai! ricco pae da minha alma,    pois esse é que eu quería.
     Se elle tem mulher o filhos    a mim muito mais devia,
  14   que me não soube guardar    a fé que me promettia.
     Manda el rei chamar o conde,    sem saber o que faria:
  16   que lhe viesse fallar . . .    em saber que lhe diría.
     --Inda agora vim do paço,    ja el rei lá me quería!
  18   Ai! será para meu bem--    Ai! para meu mal sería?
     Conde Yanno que chegava,    el rei que a buscar o vinha:
  20   --Beijo a mão a vossa Alteza,    que quer vossa senhoria?--
     Responde-lhe agora o rei    com grande merencoria:
  22   --Beijae, que mercè vos faço:    casaréis com minha filha.--
     Cuidou de cahir por morto    o conde que tal ouvia:
  24   --Senhor rei, que sou casado    ja passa mais de anno e día!
     --Mattaréis vossa mulher,    casaréis com minha filha.
  26   --Senhor, como hei de mattá-la    se a morte me não mer`cia?
     --Callae-vos, conde, callae-vos,    não vos quero demazia;
  28   filhas do réis não se inganham    como uma mulher captiva.
     Senhor, que é muita razão,    mais razão que ser devia,
  30   para me mattar a mim    que tanto vos offendia;
     mas mattar uma innocente    com tammanha aleivozia!
  32   Nesta vida nem ha outra    Deus m` o não perdoaria.
     --A condessa ha de morrer    pelo mal que ca facia.
  34   Quero ver sua cabeça    n` esta doirada bacia.--
     Foi-se embora o conde Yanno,    muito triste que elle ia
  36   Adeante uni pagem d`el rei    levava a negra bacia.
     O pagam ia de lutto,    de lutto o conde vestia,
  38   mais dó levava no peito    c` os appertos da agonia.
     A condessa, que o esperava,    muito longe que o via,
  40   com o filhinho nos braços    para abraça-lo corría.
     --Bem vindo sejais, meu conde,    tu vinda minha alegria!--
  42   Elle sem dizer palavra    pelas escadas subía.
     Mandou fechar seu palacio,    coisa que nunca fazia;
  44   mandou logo pôr a cea    como quem lhe appetecia.
     Sentaram-se ambos a mesa,    nem um nem outro comia;
  46   as lagrymas era um rio    que pela mesa corría.
     Foi a beijar o filhinbo    que a mãe aos peitos trazia,
  48   largou o seio o innocente,    como um anjo lhe surria.
     Quando tal viu a condessa,    o coração lhe partia;
  50   desata em tammanho chôro    que em toda a casa se ouvia.
     --Que tens tu, querido conde,    que tens tu, ó vida minha?
  52   Tira-me ja destas âncias,    el rei o que te quería?--
     Elle affogava em soluços,    resonder-lhe não podia;
  54   ella, apertando-o nos braços,    com muito amor lhe dizia:
     --Abre-me o teu coração,    desaffoga essa agonia,
  56   da-me da tua tristesa,    dar te hei da minha alegria.--
     Levantou-se o conde Yanno,    a condessa que o seguia.
  58   Deitaram-se ambos no leito;    nem um nem otro dormía.
     Ouvireis a desgraçada,    ouvide ora o que dizia:
  60   --Peço-te por Deus do ceo    e pela Virgem Maria,
     antes me mates, meu conde,    que eu ver-te n` essa agonia.
  62   --Morto seja quem tal manda    máis a sua tyrannia!
     --Ai! não te intendo meu conde,    dize-me, por tua vida,
  64   que negra ventura é ésta    que entre nós está mettida?
     --Ventura da sem ventura,    grande foi tua mofina!
  66   Manda-me el rei que te matte,    que case com sua filha.--
     Palavras não eram dittaas,    inda mal lh` as ouviria,
  68   a desgraçada condessa    por morta no chão cahia.
     Não quiz Deus que ali morresse . . .    Triste que allí não morria!
  70   Maior dor do que a da morte    a torna a chamar à vida.
     --Calla, calla, conde Yanno,    que inda remedio haveria;
  72   ai! não me mattes, meu conde,    e um alvitre te daria:
     á meu pae me mandarás,    pa que tanto me queria!
  74   Ter-me-hão por filha donzella,    eou a fe te guardaria.
     Criarei este innocente    que a outra não criaria;
  76   manter-te-hei castidade    como sempre t` a mantia.
     --Ai! como pôde isso ser,    condessa minha querida,
  78   se el rei quer tua cabeça    n` esta doirada bacia?
     --Calla, calla, conde Yanno,    que inda remedio teria
  80   metter-me-has num convento    da ordem da freiraria;
     dar-me-hão o pão por onça    e a agua por medida;
  82   eu lá morrerei de pena,    e a infante o não saberia.
     --Ai! como pôde isso ser,    condessa minha querida,
  84   se quer ver tua cabeça    n` esta malditta bacia?
     --Fecháras-me numa tôrre    nem sol nem lua veria,
  86   as horas de minha vida    por meus ais as contaria.
     --Ai! omo póde iso ser,    condessa minha uerida,
  88   se el ei quer tua cabeça    n` esta doirada bacia?
     Palavras não eram dittas,    el rei que à porta batia
  90   --Se a condessa não é morta,    que então elle a mattaria.
     --A condessa não é morta    mas está na agonia.
  92   --Deixa-me dizer, meu conde,    uma oração que eu sabia.
     --Dizei depressa, condessa,    antes que amanheça o dia.
  94   --Ai! quem podéra rezar,    o virgem sancta Maria!
     que eu não me pêza da morte,    pêza-me da alevozia;
  96   mais me pêza de ti, conde,    e da toa covardia.
     Mattas-me por tuas mãos    só porque el rei o queria!
  98   Ai! Deus te perdoe, conde,    lá na hora da contia.
     Deixar-me dizer adeus    a tudo o que eu mais queria:
  100   ás flores deste jardim,    as aguas da fonte fria;
     adeus cravos, adeus rosas,    adeus flor da Alexandria!
  102   Guardae-me vós meus amores    que outrem me não guardaria.
     Deem-me cá esse menino    intranhas de minha vida
  104   deste sangue de meu peito    mamará por despedida.
     Mama, meu filhinho, mama    desse leite da agonia;
  106   que atégora tinhas mãe,    mãe que tanto te queria,
     ámanhan terás madrasta    de mais alta senhoria. . .--
  108   Tocam n` os sinos na sé . . .    Ai Jesus! quem morreria?
     Responde o filhinho ao peito,    respondeu--que maravilha!
  110   --Morreu, foi a nossa infanta    pelos males que fazia.

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0503:11 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 2700)
[0431 Flérida y don Duardos, contam.]

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1913. Publicada en Thomás 1913, Velhas Canções, pp. 32-35. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 165-166, L1; RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 780, pp. 489-490.  110 hemist.  Música registrada.

     Chorava a filha do rei,    chorava de noite e de dia;
  2   sendo ela tão formosa,    seu pai por casar a tinha.
     Desperta el-rei da cama    com o pranto que fazia.
  4   --Que tens tu, ó bela infanta,    que tens tu, ó vida minha?
     --O que hei-de, meu pai, eu ter,    que a si não lhe contaria?
  6   Minhas irmãs são casadas    e eu solteira ficaria?
     --Ninguém encontro na corte    p`ra casares, ó minha filha;
  8   é pena o conde Alberto    ser casado, ter família.
     --Mande-o chamar já, meu pai,    pois é esse o que eu queria.
  10   Que mate a sua mulher    antes de findar o dia,
     que traga a sua cabeça    nesta doirada bacia.--
  12   Manda el-rei chamar o conde    sem saber que lhe diria.
     --`Inda agora de lá venho,    el-rei me manda chamar;
  14   isto é grande novidade,    para tanto se apressar.
     Partiu logo para o paço,    com tanta pressa que ia!
  16   --Que quer vossa majestade,    que quer vossa senhoria?
     --Matareis vossa mulher    p`ra casar com minha filha.
  18   --Como posso eu matá-la    se a morte não merecia?
     --Cala-te lá, conde Alberto,    não fales em demasia;
  20   quero ver morta a condessa    antes de acabar o dia.--
     Foi-se embora o conde Alberto,    muito triste que ele ia.
  22   Mandou fechar seu palácio,    coisa que nunca fazia;
     mandou logo pôr a ceia    e de luto se vestia.
  24   Sentaram-se ambos à mesa,    nem um nem outro comia:
     as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam;
  26   os suspiros eram tantos    que o palácio estremecia.
     --Que tens tu, ó conde Alberto,    que tens tu, ó vida minha?
  28   --Manda-me el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
     --P`ra que me hás-de matar, conde,    se eu a morte não mer`cia?
  30   Manda-me antes p`ra meu pai,    para a sua companhia,
     ou mete-me numa prisão    onde esteja noite e dia.
  32   --Tudo isso eu já lhe disse    e ele disse que não qu`ria;
     quer ver a tua cabeça    nesta doirada bacia.
  34   --Não me pesa a mim da morte,    pesa-me da aleivosia;
     mais me pesa de ti, conde,    mais da tua covardia,
  36   que me quer`s assim matar,    só porque el-rei o queria.
     Deixai-me dizer adeus    a tudo que eu mais queria;
  38   deixai-me dar um passeio    da sala para o jardim.
     --Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, flor de alecrim;
  40   adeus, moças, adeus, aias,    com quem me eu divertia.
     Amanhã por estas horas    já estou na terra fria.
  42   Dai-me cá o meu filhinho,    quero-lhe dar de mamar.
     Mama, mama, meu filhinho,    este leite de amargura;
  44   amanhã por estas horas    tens a mãe na sepultura.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de agonia,
  46   que a tua mãe vai morrer,    ela que tanto te queria.
     Mama, mama, meu menino,    este leite amargurado;
  48   amanhã por estas horas    verás tua mãe no adro.--
     Palavras não eram ditas,    el-rei à porta batia:
  50   se a condessa era morta?    Senão ele a mataria.
     --Dá-me cá essa toalha    que me veio de Castilha:
  52   apertá-la na garganta    e acabar já com a vida.--
     Tocam sinos em palácio;    quem morreu, quem morreria?
  54   Morreu agora a princesa    pelos crimes que fazia:
     apartar os bem casados,    coisa que Deus não queria.

Nota del editor: Ao contrário da variante escolhida como exemplo, muitas versões deste romance começam com versos tomados do príncipio de Silvana (P1) [0005]. Cf. VRP 132: «Indo a D. Silvana / pelo corredor acima / tocando guitarra d` ouro, / oh que tão bem a tangia! / Acordou seu pai e mãe / com o estrondo que fazia». Os versos 37-40 constituem uma contaminação com Flérida (S1) [0431].
Título original: O CONDE ALARCOS (Í-A) (=SGA L1)

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0503:21 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6615)

Versión de N/A (facticia)* (Portugal).   Documentada en o antes de 1842. Publicada en Almeida Garrett 1842, 12 y Almeida Garrett 1843; 1851; 1851, II, 44-55; Bellerman 1864, 76, 78, 80, 82, 84, 86, 88 e 90; Hardung 1877, I, 161-168; Quental 1883, 121-127. Reeditada en RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 488-496; Lima 1959, 47-53; Coelho 1962, 74-82; Alvar 1971c, 279-28; Quental 1983, 144-150; Pinto-Correia 1984, 234-239; Viana 1985, 104-111 y Costa Dias 1988, 93-95, 97-98; Carinhas 1995, II, 35; Quental 1996, 139-145; RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 663, pp. 332-336. © Fundação Calouste Gulbenkian.  222 hemist.  Música registrada.

     Chorava a infanta, chorava,    chorava e razão havia,
  2   vivendo tão descontente;    seu pai por casar a tinha.
     Acordou el-rei da cama    com o pranto que fazia.
  4   --Que tens tu, querida infanta?    Que tens tu, ó filha minha?
     --Senhor pai, o que hei-de eu ter    senão que me pesa a vida?
  6   De três irmãs que nós éramos,    solteira eu só ficaria.
     --Que queres tu que te eu faça?    Mas a culpa não é minha.
  8   Cá vieram embaixadas    de Guitaina e Normandia;
     nem ouvi-las não quiseste,    nem fazer-lhes cortesia.
  10   Na minha corte não vejo    marido que te daria.
     Só se fosse o conde Yano,    e esse já mulher havia.
  12   --Ai! rico pai da minha alma,    pois esse é que eu queria.
     Se ele tem mulher e filhos,    a mim muito mais devia,
  14   que me não soube guardar    a fé que me prometia.--
     Manda el-rei chamar o conde,    sem saber o que faria,
  16   que lhe viesse falar    sem saber que lhe diria.
     --`Inda agora vim do paço,    já el-rei lá me queria!
  18   Ai! será para meu bem?    Ai! para meu mal seria?--
     Conde Yano que chegava,    el-rei que a buscar o vinha.
  20   --Beijo a mão a vossa alteza;    que quer vossa senhoria?--
     Responde-lhe agora o rei,    com grande merencoria.
  22   --Beijai, que mercê vos faço;    casareis com minha filha.--
     Cuidou de cair por morto    o conde que tal ouvia.
  24   --Senhor rei, que sou casado    já passa mais de ano e dia!
     --Matareis vossa mulher,    casareis com minha filha.
  26   --Senhor, como hei-de matá-la    se a morte me não mer`cia?
     --Calai-vos, conde, calai-vos,    não vos quero demasia;
  28   filhas de reis não se enganam    como uma mulher cativa.
     --Senhor, que é muita razão,    mais razão que ser devia,
  30   para me matar a mim    que tanto vos ofendia.
     Mas matar uma inocente    com tamanha aleivosia!
  32   Nesta vida nem na outra Deus    mo não perdoaria.
     --A condessa há-de morrer    pelo mal que cá fazia.
  34   Quero ver sua cabeça    nesta doirada bacia.--
     Foi-se embora o conde Yano,    muito triste que ele ia.
  36   Adiante um pajem d`el-rei    levava a negra bacia.--
     O pajem ia de luto,    de luto o conde vestia,
  38   mais dó levava no peito    c` os apertos de agonia.
     A condessa, que o esperava,    de muito longe que o via,
  40   com o filhinho nos braços    para abraçá-lo corria.
     --Bem-vindo sejais, meu conde,    bem-vinda minha alegria!--
  42   Ele sem dizer palavra    pelas escadas subia.
     Mandou fechar seu palácio,    coisa que nunca fazia;
  44   mandou logo pôr a ceia    como quem lhe apetecia.
     Sentaram-se ambos à mesa,    nem um nem outro comia;
  46   as lágrimas era um rio    que pela mesa corria.
     Foi a beijar o filhinho    que a mãe aos peitos trazia,
  48   largou o seio o inocente,    como um anjo lhe sorria.
     Quando tal viu a condessa,    o coração lhe partia;
  50   desata em tamanho choro    que em toda a casa se ouvia.
     --Que tens tu, querido conde?    Que tens tu, ó vida minha?
  52   Tira-me já destas ânsias,    el-rei o que te queria?--
     Ele afogava em soluços,    responder-lhe não podia;
  54   ela, apertando-o nos braços,    com muito amor lhe dizia.
     --Abre-me o teu coração,    desafoga essa agonia,
  56   dá-me da tua tristeza,    dar-te-ei da minha alegria.--
     Levantou-se o conde Yano,    a condessa que o seguia.
  58   Deitaram-se ambos no leito;    nem um nem outro dormia.
     Ouvireis a desgraçada,    ouvide ora o que dizia.
  60   --Peço-te por Deus do céu    e pela Virgem Maria,
     antes me mates, meu conde,    que eu ver-te nessa agonia.
  62   --Morto seja quem tal manda,    mais a sua tirania!
     --Ai! não te entendo, meu conde,    dize-me, por tua vida,
  64   que negra ventura é esta    que entre nós está metida?
     --Ventura da sem ventura,    grande foi tua mofina!
  66   Manda-me el-rei que te mate,    que case com sua filha.--
     Palavras não eram ditas,    `inda mal lhas ouviria,
  68   a desgraçada condessa    por morta no chão caía.
     Não quis Deus que ali morresse,    triste que ali não morria!
  70   Maior dor do que a da morte    a torna a chamar à vida.
     --Cala, cala, conde Yano,    que `inda remédio haveria;
  72   ai! não me mates, meu conde,    e um alvitre te daria:
     a meu pai me mandarás,    pai que tanto me queria!
  74   Ter-me-ão por filha donzela,    e eu a fé te guardaria.
     Criarei este inocente    que a outra não criaria;
  76   manter-te-ei castidade    como sempre ta mantia.
     --Ai! como pode isso ser,    condessa, minha querida,
  78   se el-rei quer tua cabeça    nesta doirada bacia?
     --Cala, cala, conde Yano,    que `inda remédio teria,
  80   meter-me-ás num convento    da ordem da freiraria;
     dar-me-ão o pão por onça    e a água por medida.
  82   Eu lá morrerei de pena,    e a infanta o não saberia.
     --Ai! como pode isso ser,    condessa minha querida,
  84   se quer ver tua cabeça    nesta maldita bacia?
     --Fecharás-me numa torre,    nem sol, nem lua veria,
  86   as horas de minha vida    por meus ais as contaria.
     --Ai! como pode isso ser,    condessa, minha querida,
  88   se el-rei quer tua cabeça    nesta doirada bacia?--
     Palavras não eram ditas,    el-rei que à porta batia.
  90   Se a condessa não é morta,    que então ele a mataria.
     --A condessa não é morta    mas está na agonia.
  92   --Deixa-me dizer, meu conde,    uma oração que eu sabia.
     --Dizei depressa, condessa,    antes que amanheça o dia.
  94   --Ai! quem pudera rezar,    ó Virgem Santa Maria!
     Que eu não me pesa da morte,    pesa-me da aleivosia;
  96   mais me pesa de ti, conde,    e da tua covardia.
     Matas-me por tuas mãos,    só porque el-rei o queria!
  98   Ai! Deus te perdoe, conde,    lá na hora da contia.
     Deixai-me dizer adeus    a tudo o que eu mais queria;
  100   às flores deste jardim,    às águas da fonte fria.
     Adeus cravos, adeus rosas,    adeus flor da Alexandria!
  102   Guardai-me vós, meus amores,    que outrem me não guardaria.
     Dêem-me cá esse menino,    entranhas de minha vida;
  104   deste sangue de meu peito    mamará por despedida.
     Mama, meu filhinho, mama,    desse leite da agonia;
  106   que até agora tinhas mãe,    mãe que tanto te queria,
     amanhã terás madrasta    de mais alta senhoria.--
  108   Tocam nos sinos na sé,    Ai Jesus! quem morreria?
     Responde o filhinho ao peito,    respondeu, que maravilha!
  110   --Morreu, foi a nossa infanta,    pelos males que fazia;
     descasar os bem casados,    coisa que Deus não queria.--

Notas e variantes de Almeida Garrett: -1a Chorava a infanta Solisa, / razão de chorar havia. - Alentejo. Chorava dona Silvana - Estremadura. -3a Despertou el-rei seu pai - Beira Alta. -8b de Leão e de Castilha - Trás-os-Montes. Guitaina é Aquitânia, bem claramente. -11a Só se fosse o conde Albano - Minho. Só se fosse o conde Alarcos - Beira Baixa. -11b e esse tem mulher e filhas - Beira Alta, Lisboa. -43 o que dantes não fazia - Minho. -44a como quem comer queria - Lisboa. -46a as lágrimas eram tantas / que pela mesa corriam. - Várias. Todas as versões lêem assim; só a de Lisboa como vai no texto. -65b `Mofina` , substantivo, talvez por `mofina sorte` , é usado dos clássicos alguma vez; e comum hoje ao povo das províncias quase todas. -72b um conselho te daria - Beira Baixa. -94a No poemeto castelhano a condessa reza - e não é feia a sua `preghiera`: mais bonito e mais poético é o pensamento do cantor português, que lhe não dá nem ânimo para rezar. -98 Na hora em que contar contigo, em que te tomar contas. É a frase expressiva dos ingleses: `In the hour of reckonning`. -109a Quase todas as lições provinciais omitem os dois versos últimos desta copla, e o pensamento que eles encerram. Só uma lição da borda-d` água os traz, e julguei que mereciam ser incorporados no texto. Este prodígio de falarem os inocentes ao peito das mães, nas grandes circunstâncias públicas ou nas grandes crises domésticas, era mui favorito dos nossos. Na aclamação de Dom João I bem sabido é que uma criança tirou todas as dúvidas bradando do colo da mãe: Real, real pelo mestre de Avis, rei de Portugal. Noutro romance desta colecção, o de Dom Beltrão veremos falar o cavalo de um morto cavaleiro.
Nota del editor de RºPortTOM 2001: Versão composta por versões de Alentejo, Estremadura, Beira Alta, Beira Baixa, Minho e Trás-os-Montes Almeida Garrett 1842, edita apenas 4 hemistíquios: --Só se for o conde Alarcos, / e esse tem mulher e filha. //--Ai rico pai da minha alma, / esse é o que eu queria!. Bellerman (1864), Hardung I (1877), Quental (1883), RGP I 1906, (reed. facs. 1982), Pires Lima (1959), Prado Coelho (1962), Manuel Alvar (1971), Quental (1983), Correia (1984), Viana 1985, e Quental 1996, editam Garrett II (1851). Costa Dias 1988, 97-98; Carinhas 1995, II, trata-se de uma versão oriunda do Faial. De alguns versos desta versão se socorrera Almeida Garrett 1853; 1851; 1851, II, para compôr a sua versão. Para a descrição dos versos utilizados por Garrett, e pelos que o editaram, cf. Carinhas 1995, II, 35. Costa Dias 1988, edita este tema, coligido por Almeida Garrett, a partir do manuscrito depositado na Faculdade de Letras de Coimbra. Carinhas II edita este tema a partir do maunscrito depositado na Faculdade de Letras de Coimbra, com uma fixação divergente da de Costa Dias (1988).

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0503:22 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6616)

Versión de N/A (facticia)* (Portugal).   Documentada en o antes de 1851. Publicada en ms. de Almeida Garrett, incluído en el `Cancioneiro de Romances Xácaras e Solaos`, depositado en la sala Ferreira Lima de la Fac. de Letras de la Universidad de Coimbra, pp. 28-35 e 38-41. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 663a, pp. 336-338. © Fundação Calouste Gulbenkian.  100 hemist.  Música registrada.

     Chorava dona Silvana,    chorava e razão havia.
  2   Acordou seu pai da cama    com o choro que ela fazia.
     --Que tens, ó minha Silvana,    que tens tu ó filha minha?
  4   --De três irmãs que nós éramos    só eu ficarei p`ra tia.
     --Que queres tu que te eu faça,    ó rica Silvana minha,
  6   se em minha corte não acho    noivo que te mereceria;
     só se for o conde Alarcos,    e esse tem mulher e filhas!
  8   --Ai rico pai da minha alma,    ai, esse é que eu queria!--
     --Está em casa o senhor conde?    El-rei que o manda chamar.
  10   --`Inda agora vim do paço,    já lá me fazem tornar!
     Ai será para meu bem,    ai para meu mal será.
  12   --Beijo a mão de Vossa Alteza,    venho ao que me determina.
     --Que mateis vossa mulher    e caseis com minha filha.
  14   --Como a hei-de eu matar    se ela a morte não merecia?
     --Calai-vos daí, meu conde,    não me torneis demasia;
  16   quero ver sua cabeça    nesta formosa bacia.--
     Foi-se embora o triste conde,    triste e aflito que ele ia.
  18   A condessa que o esperava    mal ele à porta batia.
     --Que tens tu, querido conde,    que tens tu, ó alma minha?
  20   Conta-me tua tristeza,    que é para mim alegria.
     --Manda-me el-rei que te mate,    que case com sua filha,
  22   e quer ver tua cabeça    nesta formosa bacia.
     --Sossega-te já, meu conde,    que isso remédio teria.
  24   Meteras-me num convento,    ninguém de mim saberia.
     --Ai, como pode isso ser,    ó rica condessa minha,
  26   se quer ver tua cabeça    nesta formosa bacia?
     --Para meu pai me mandaras,    pai que tanto me queria.
  28   --Ai, como pode isso ser,    ó rica condessa minha,
     se quer ver tua cabeça    nesta formosa bacia?
  30   --Meteras-me numa torre,    nem sol nem lua veria;
     as horas da minha vida    por meus ais as contaria!
  32   --Ai, como pode isso ser,    ó rica condessa minha,
     se quer ver tua cabeça    nesta formosa bacia?--
  34   Sentaram-se ambos à mesa,    à mesa por despedida;
     iam manjares e vinham,    nem um nem outro comia,
  36   as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
     --Ai, não te entendo, meu conde,    e mal te posso entender:
  38   que tanto amor que me tinhas    era de me ver morrer.
     Dai-me cá esses meninos,    que os quero abençoar,
  40   o mais pequeno de todos    para lhe dar de mamar.
     Mama, meu filhinho,    mama este leite de agonia,
  42   que até agora tinhas mãe,    mãe que tanto te queria,
     agora terás madrasta    de mais alta senhoria.
  44   Deixem-me dizer adeus,    ás flores deste jardim:
     Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, ó flor do alecrim!
  46   Dai-me cá essa toalha,    que me quero eu enforcar,
     pouparei a meu marido    o crime de matar.--
  48   Tocam n` os sinos na corte,    ai Jesus, quem morreria!
     Morreu a dona Silvana    pelos males que fazia:
  50   descasar os bens casados,    coisa que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Reproduz-se a versão estebelecida por Garrett, no respectivo manuscrito autógrafo, e assinalam-se as variantes por ele fixadas a partir de versões oriundas de Coimbra (C), Castelo Branco (B), Porto (Po) e Ponte de Lima (G). Esta última, foi enviada por José Gomes Monteiro e recolhida em Ponte de Lima. As variantes que carecem de sigla não contêm informações no manuscrito que esclareçam a sua proveniência.
Variantes: -1a Indo a dona Silvana Po. -1b pelo corredor acima Po. Entre -1 e -2 tocando a sua guitarra / muito bem à maravilha Po. -2b com a bulha que fazia Po; c` o pranto. -3a Que tendes dona Silvana Po. -3b que tendes, ó filha minha, Po. -4a De seis irmãs que nós éramos Po. -4b as outras já têm família Po. Entre -4 e -5 Eu por ser a mais formosa / para o canto ficaria Po. -5a Não tenho com quem te case Po. -5b só se for o conde Alberto Po; só se for o conde Alarcos. -6a e o conde Alberto é casado Po. -6b é casado e tem família Po; e esse mulher havia 7a Mandai-o chamar, meu pai, Po. -7b da vossa parte e da minha Po. -12a Que quer vossa majestade Po. -12b que quer vossa senhoria Po. -13a Quero que mates a condessa Po; Conde matai a condessa B. -13b e cases com minha filha Po; casareis com minha filha B. -14a A condessa não a mato Co. -14b que a morte não merecia Co. Entre -14 e -15 se ela mo merecesse / tudo isso lhe faria Co. 15a Antes de um quarto de hora. -15b antes de uma ave-maria Po; não vos quero demazias G. --17a Foi Dom Duarte p`ra casa Co. -17b rezando a sua agonia Co. Entre -17 e -18 Mandou fechar suas portas / coisa que nunca fazia //mandou vestir seus criados / de luto à maravilha Po; Mandou fechar os portões / coisa que nunca fazia Co. 22a E vossa bela cabeça B. 22b nessa maldita bacia Po; que a leve nesta bacia B. 24a Manda-me deitar ao mar Po; Não pode haver matrimónio G. 24b que a maré me levaria Po; com duas mulheres vivas G. Entre 38 e 39 Palavras não eram ditas / el-rei que à porta batia //se a condessa não está morta / que então ele a mataria //A condessa não está morta / mas está com agonias Po. 7a Dai-me cá uma toalha Po. 37b das mais finas que eu tinha Po. 38a bota-la-ei ao pescoço Po. 38b acabarei minha vida Po. 41b este leite de pesar Po. 42a que amanhã por estas horas Po. 42b vai tua mãe a enterrar Po. 46b afogar. 47a porque nunca ninguém diga Po. 47b que el-rei me mandou matar Po. 49a A filha do rei é morta Co. 49b el-rei vai na companhia Co.

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0503:23 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6617)

Versión de N/A (facticia)* (Portugal).   Documentada en o antes de 1851. Publicada en ms. de Almeida Garrett, incluído en el `Cancioneiro de Romances Xácaras e Solaos`, depositado en la sala Ferreira Lima de la Fac. de Letras de la Universidad de Coimbra, pp. 36-37. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 663b, pp. 338-339. © Fundação Calouste Gulbenkian.  074 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   acordou seu pai da cama    com o estrondo que fazia.
     --Que tens, ó dona Silvana,    que tens tu, ó filha minha?
  4   --De três irmãs que nós éramos    as duas já têm família.
     Eu, por ser a mais formosa,    para o canto ficaria!
  6   --Não sei com quem te casar,    ó Silvana minha filha,
     só se for o conde Alberto    e esse tem mulher e filha.
  8   --Mandai-o sempre chamar    da vossa parte e da minha.--
     --Aqui me tem, Vossa Alteza,    que quer Vossa Senhoria?
  10   --Eu, que mates a condessa    e casai com minha filha.
     --A condessa não a mato    que a morte me não mer`cia.
  12   --Mata, mata, conde Alberto,    dentro de uma avé-maria
     e traz-me a cabeça dela    naquela nobre bacia.--
  14   Foi o conde para casa    muito triste que ele ia.
     Mandou fechar seu palácio,    coisa que nunca fazia,
  16   mandou vestir seus criados    de luto à maravilha;
     mandou por a sua mesa    para fazer que comia,
  18   mas o chorar era tanto    que pela mesa corria.
     Mandou fazer sua cama    para fazer que dormia.
  20   Os suspiros eram tantos    que o palácio estremecia.
     --Que tens tu, ó conde Alberto,    que tens tu, ai que seria!
  22   Conta-me tuas tristezas    que eu te conto alegrias.
     --Manda-me el-rei chamar    da sua parte e da filha,
  24   que te matasse condessa    e case com sua filha.
     --Cala, cala, conde Alberto,    tudo remédio teria:
  26   meteras-me num convento    de freiras arrecolhidas,
     dar-me-iam o pão por onça    e a água por medida.
  28   --Ai como pode isso ser    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha:
  30   adeus pagens, adeus aias,    a quem eu tanto queria.
     Adeus, varanda real, espelho    espelho em que me via.
  32   Dai-me cá o meu menino    que o quero pentear,
     dai-me o mais pequenino,    quero-lhe dar de mamar.
  34   Mama, meu menino, mama    este leite da amargura,
     que amanhã, por estas horas,    estarei na sepultura.--
  36   Tocam n` os sinos em Braga,    ai Jesus, quem morreria!
     Responde o menino ao peito,    responde, que maravilha!
  38   --Morreu a dona Silvana    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Variantes: -14b à maravilha.
Nota del editor de RºPortTOM 2001: -28b Remete Garrett para os versos fixados na página 33 do manuscrito, a saber: ó rica condessa minha //se quer ver tua cabeça / nesta formosa bacia. -38b Mais uma vez, Garrett remete-nos para versos transcritos na sua fixação, agora presentes na página 40: pelos males que fazia; //descasar os bem casados, / coisa que Deus não queria. Designa Garrett esta versão como "Variante inteira do Conde Alarcos (Alberto)". Trata-se de uma complexa versão, coincidente em muitos dos seus versos com as versões do Porto e do Faial, bem como com certas fórmulas fixadas na sua versão manuscrita (aqui editada com o número 663a.). Trata-se, sem dúvida, de mais uma versão factícia, se bem que com um considerável número de versos mais tradicionais do que a anteriormente mencionada.

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0503:133 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6728)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 216-218. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 773, pp. 479-481. © Fundação Calouste Gulbenkian.  108 hemist.  Música registrada.

     Silvana se paneava    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra    muito bem que ela sabia,
     acordou o pai da cama    com o estrondo que fazia.
  4   --Que é isso, ó Silvana?    Que é isso, ó minha filha?
     --Case-me, ó meu pai, case-me,    que a idade já o prometia.
  6   --Tu bem sabes, ó Silvana,    tu bem sabes, ó minha filha,
     que no reino de teu pai    não há quem a ti mer`cia.
  8   Está aí o conde Alverde.    É casado e tem família.
     --Esse, esse, ó meu pai,    era esse quem eu queria.
  10   Mande-o chamar, meu pai,    de sua parte e da minha.
     E, para que venha mais depressa,    deia-lhe pena de vida.--
  12   Vindo eu da minha caça,    el-rei me mandou chamar.
     Não sei se é para meu bem,    se será para meu mal.
  14   --Aqui estou, ó senhor rei,    em vossa companhia.
     --Quero que mates tua mulher    e cases com minha filha.
  16   --Como matarei minha mulher,    se a morte não merecia?!
     --Quero que mates tua mulher    e cases com minha filha,
  18   e me tragas a cabeça    nesta bendita bacia,
     coberta com um véu de seda    que em tua casa havia.--
  20   Ele foi-se para sua casa    muito triste da sua vida.
     Mandou fechar o seu palácio,    costume que nunca havia;
  22   mandou pôr a sua mesa    das onze para o meio dia.
     Um dum lado e outro doutro,    nem um nem o outro comia,
  24   as lágrimas eram tantas,    pela mesa abaixo corriam.
     --Tu que tens, ó conde Alverde?    Tu que tens, ó vida minha?
  26   --Não tenho nada, ó condessa,    nada tenho que se aflija.
     --Diz-me o que tens, conde Alverde,    diz-me o que tens, vida minha?
  28   --Manda el-rei que te mate    e que case com sua filha.
     --Cala-te tu, conde Alverde,    para isso remédio havia,
  30   mete-me tu num convento,    detrás de Santa Maria,
     onde nem as aves do céu    parte de mim saberiam.
  32   --Não é isso, ó condessa,    não é isso, ó filha minha,
     manda el-rei que te mate    e case com sua filha,
  34   e que te leve a cabeça    nesta maldita bacia,
     coberta com um véu    que em nossa casa havia.
  36   --Manda chamar o barbeiro    que me solte uma sangria.
     Deixa-me dar um passeio    da sala p`ra a cozinha.
  38   Adeus, criados e criadas,    a quem tanto eu queria,
     adeus, jardim, adeus, flores,    onde eu me adevertia,
  40   adeus, tu, ó conde Alverde,    adeus, tu, ó vida minha.
     Dá-me cá um livrinho    que me quero encomendar.
  42   --Deixa estar o livrinho    que eu te mandarei encomendar.
     --Dá-me cá esse rosário    que o quero rezar.
  44   --Deixa estar o rosário    que to mandarei matar [rezar].
     --Dá-me cá esse menino    que lhe quero dar de mamar.
  46   Mama, mama, meu menino,    este leite de amargura,
     que amanhã, por estas horas,    já estou na sepultura.
  48   Mama, mama, meu menino,    este leite nesta hora,
     que amanhã, por estas horas,    já tu tens mãe nova.
  50   Mama, mama, meu menino,    este leite desgraçado,
     que amanhã, por esta hora,    já teu pai está casado.--
  52   Tocam os sinos em Braga.    Oh meu Deus! Quem morreria?
     Morreu o perro do rei    e a perra da sua filha,
  54   por descasar os bem casados,    coisa que Deus não queria!

Nota del editor de RºPortTOM 2001: -44b Os colchetes são da responsabilidade de Leite (1958).

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0503:134 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6729)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 218-219. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 774, pp. 481-482. © Fundação Calouste Gulbenkian.  096 hemist.  Música registrada.

     Vindo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    que tão bem na retinia,
     acordou seu pai da cama    c` o estrondo qu` ela fazia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó filha minha?
     --De três irmãs que nós éramos    `stão casadas, têm família,
  6   eu por sê` la mais bonita,    por que razão ficaria?
     . . . . . . . . . . . .--Ó dona Silvana,    a ti ninguém te mer`cia.
  8   Só se fosse o conde Alberto    `Stá casado, tem família.
     --Mande-mo chamar, meu pai,    dentro duma ave-maria.--
  10   As palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --Que quer, Vossa Real Alteza?    Que quer, Vossa Senhoria?
  12   --Quero que mates condessa    p`ra casares co` a minha filha.
     --A condessa não mato,    ela a morte não mer`cia.
  14   Mandarei-a p`ra seu pai    que também ma aceitaria.
     --Mata-a, mata-a, conde Alberto,    dentro de uma ave-maria.
  16   --Meterei-a no convento,    no convento das recolhidas,
     darei-lhe o pão por onça    e a água por medida.
  18   --Mata, mata, conde Alberto,    dentro de uma ave-maria.
     Hás-me trazer a cabeça    nesta doirada bacia.--
  20   O conde foi para casa    mais triste qu` a noute e o dia.
     Mandou pô-la sua mesa    só para ver se comia;
  22   as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
     Deitou-se na sua cama    só para ver se dormia;
  24   os suspiros eram tantos    que os palácios `stremeciam.
     --Tu que tens, ó conde Alberto?    Conta-me a tua agonia,
  26   como inté agora me contavas    também a tua alegria.
     --Como ta hei-de contar,    s` eu contar-ta não podia?
  28   Manda o rei de palácios    que te matasse eu, Maria!
     --Mandarias-me p`ra meu pai    que também m` aceitaria.
  30   --Eu tudo le disse,    ele nada disso qu`ria.
     --Meterás-me no convento,    convento das recolhidas,
  32   darás-mo pão por onça    e a água por medida.
     --Eu tudo isso le disse,    ele nada disso qu`ria.
  34   Que le levasse a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
  36   Adeus, moças, e adeus, aias,    espelho donde me eu via,
     adeus, jardim das flores,    donde m` eu adevertia.
  38   Vem cá tu, filho mais velho,    que te quero enxinar,
     o chapeuzinho na mão,    o joelhinho no chão,
  40   p`ra que não diga a mãe nova    que não tiveste criação.
     Vem cá tu, filho mais novo,    mama o leite de mamar,
  42   amanhã, por esta hora,    tua mãe a degolar.
     Vem cá tu, filho mais novo,    mama o leite de paixão,
  44   amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe no caixão.--
     Tocam nos sinos na corte.    Ai Jesus! Quem morreria?
  46   Morreu o rei de palácios    e Silvana sua filha.
     Descasá` los bem casados    é coisa que Deus não queria.
  48   Morreu o pai pela manhã    e a filha ao meio dia.

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0503:135 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6730)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 219-221. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 775, pp. 482-484. © Fundação Calouste Gulbenkian.  114 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    por seu corredor acima,
  2   com uma guitarra nos braços,    donde ela era tangida,
     acordou seu pai de dentro    co` o estrondo qu` ela fazia.
  4   --Que tens tu, ó Silvaninha?    Que tens tu, ó filha minha?
     --De sete manas que eu tinha    `stão casadas, têm família,
  6   eu por ser a mais bonita,    por que razão ficaria?
     --Não há cá com quem te case,    pessoa ugual a ti.
  8   `Stá aí o conde d` Alverca.    É casado, tem família.
     --Mande-o, meu pai, chamar    à sua presença e à minha.
  10   --`Inda agora de lá vim,    já me el-rei mandou chamar,
     ou será para meu bem    ou será para meu mal.
  12   --Vai lá, conde, vai lá, conde,    palavra de rei não torna atrás.--
     Dentrou p`los palácios dentro    fazendo sua cortesia.
  14   --Aqui me tem, Sua Alteza,    Realeza, que me queria?
     --Que me mates condessa    p`ra casar com minha filha.
  16   --Como hei de matar condessa?    Ela a morte não merecia.
     --Mata, conde, mata, conde,    senão eu tiro-te a vida.
  18   Traz-m` aqui a cabeça    nesta dourada baciga,
     não a troques lá por outra,    olha que eu a conhecia:
  20   tinha dois sinais no rosto    que muito bem lhe parecia.--
     O conde foi para casa    mais triste que a agonia.
  22   Mandou fechar as janelas,    costume que ele não tinha;
     mandou pôr a sua mesa    para fazer que comia;
  24   mandou vestir os criados    do maior luto que havia.
     Os suspiros eram tantos    qu` até a loiça tinia;
  26   as lágrimas eram tantas    qu` até por a mesa corriam.
     --Que tens tu, ó conde d` Alverca?    Conta-me a tua agonia.
  28   --Se ta eu fora a contar,    mil penas t` eu contaria.
     --Conta, conta, conde d` Alverca,    que eu te conto d` alegria.
  30   --Mandou-me el-rei chamar,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     que te havia de matar,    p`ra casar com sua filha.
  32   -Bem puderas tu, ó conde,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     meteres-me na torre,    donde não der sol nem dia.
  34   --Isso não, condessa, não,    qu` el-rei logo o saberia.
     Diz que levasse a cabeça    nesta maldita baciga,
  36   que não trocasse por outra    qu` ele bem te conhecia.
     Tinha dois sinais no rosto,    muito bem te parecia.
  38   --Deixem-me dar um passeio    da sala para o jardim.
     Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, flores do alecrim.
  40   Deixem-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
     Adeus, moças, adeus, aias,    a quem eu tanto queria.
  42   Venha cá esse menino    que lhe quero ensinar,
     quando a mãe nova vier    que lhe saiba falar.
  44   O joelhinho em terra,    o chapeuzinho na mão,
     quando assim não fizer    levará um bofetão.
  46   Venha cá esse menino,    que lhe quero dar a mama.
     Mama, mama, meu menino,    esse leite de amargura,
  48   que amanhã, por estas horas,    já eu `stou na noite escura.
     Mama, mama, meu menino,    esse leite amargurado,
  50   que amanhã, por estas horas,    o teu pai já está casado.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de avenção,
  52   que amanhã, por estas horas,    mãe nova te dará pão.--
     Palavras não eram ditas,    o rei à porta batia.
  54   Se a condessa estava morta,    ela estava na agonia!
     E falou o seu menino,    que ele ânimo não teria!
  56   --Tocam os sinos da Sé.    Ai Jesus! Quem morreria?
     --Morreu o rei e a filha    pela traição que fazia.
  58   Descasar os bem casados    é coisa que Deus não queria.--

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0503:136 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6731)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 221-222. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 776, pp. 484-485. © Fundação Calouste Gulbenkian.  062 hemist.  Música registrada.

     Bem se passeia Silvana    pelo corredor acima.
  2   Se bem canta, melhor baila,    melhor romance fazia.
     Ouviu-a seu pai da cama,    do quarto onde dormia.
  4   --Porque é isso, ó Silvana?    Que é isso, ó vida minha?
     --Todas as manas se casam,    só eu não tenho a dita.
  6   --Não acho neste palácio    quem contigo igualaria,
     não sendo o conde Alvário,    que é casado e tem família.
  8   --Chamai-o vós, ó meu pai,    convosco a jantar um dia,
     que durante esse jantar    tudo se combinaria.--
  10   --Que queria o senhor rei    que tanta pressa metia?
     --Que mates tua condessa,    que cases com minha filha.
  12   --Como a matarei, senhor,    se a morte não me mer`cia?
     --Manda cortar-lhe a cabeça,    traz-ma aqui numa bacia,
  14   coberta co` um véu de seda    que em tua casa o havia.--
     Fora o conde para casa    mui triste da sua vida.
  16   --Tu que tens, ó conde Alvário?    Tu que tens, ó vida minha?
     --Manda-me fazer a ceia    que depois eu to diria.--
  18   Sentaram ambos à mesa,    nem um nem outro comia.
     --Que tens tu, ó conde Alvário?    Que tens tu, ó vida minha?
  20   --Manda-me fazer a cama    que depois eu to diria.--
     As lágrimas eram tantas,    nem um nem outro dormia.
  22   --Que tens tu, ó conde Alvário?    Que tens tu, ó vida minha?
     --Ordena-me o nosso rei    que te corte, vida minha,
  24   a tua linda cabeça    e lha leve numa bacia.
     --Manda chamar o barbeiro    que me abra uma sangria.
  26   Mama, mama, meu menino,    este leite de amargura,
     que amanhã, por estas horas,    estarei na sepultura.
  28   Chama-me um padre de missa,    que eu também confessar-me queria.
     Chama-me também o doutor,    que me doi uma sangria.--
  30   Tocam-se em Braga os sinos.    Oh meu Deus! Quem morreria?
     Foi a mulher do conde    por via da Silvaninha.

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0503:137 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6732)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 222-223. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 777, pp. 485-486. © Fundação Calouste Gulbenkian.  054 hemist.  Música registrada.

     Bem se passeia Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    muito bem que a tangia.
     Saiu seu pai à janela    como estrondo que ela fazia.
  4   --Que é isso, ó Silvana?    Que é isso, minha filha?
     --Mande-me casar, meu pai,    que a idade me requeria.
  6   --Não há homem nesta terra    que te sirva, minha filha.
     Só sendo o conde de Alvana,    mas é casado, tem família.
  8   --Esse mesmo, ó meu pai,    esse mesmo é que eu queria.
     Mande-mo chamar, meu pai,    a um jantar de galinha.--
  10   A fala não era dita,    o conde à porta batia.
     --Que me queres, ó meu rei?    Que me quer tua filha?
  12   --Que mates tua mulher    para casares com Silvaninha.
     --Minha mulher não mato,    que a morte não merecia.
  14   --Se não matas a mulher,    ele te tirará a vida.--
     Marchou o conde para casa    todo cheio de agonia.
  16   --Conta-me aqui, ó meu conde,    conta-me a tua agonia.
     --Manda-me fazer a ceia,    que depois te contaria.--
  18   A ceia já estava feita,    nem um nem outro comia.
     --Conta-me aqui, ó conde,    ó conde da minha vida.
  20   --Manda-me fazer a cama,    que depois te contaria.--
     A cama já estava feita,    nem um nem outro dormia.
  22   --Pois tu não me contas, ó conde,    conta-me a tua agonia.
     --Diz el-rei que te mate    para casar com sua filha.--
  24   Tocam os sinos em Braga.    --Oh meu Deus! Quem morreria?
     --Morreu o rei que reinava    e a perra da sua filha.
  26   --Manda chamar o barbeiro    que me atalhe esta sangria,
     já que Deus assim o quer    e mais a Virgem Maria.--

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0503:138 Conde Alarcos (í-a+estróf)            (ficha no.: 6733)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1960. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, II, 501-502. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 778, pp. 486-487. © Fundação Calouste Gulbenkian.  108 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando cravo d` ouro,    muito bem que o tangia,
     acordou seu pai e mãe    com o estrondo que fazia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó filha minha?
     --Eu, senhor pai, não choro,    se chorasse, razão tinha:
  6   sete manas que nós éramos,    todas sete casaríamos,
     eu, por ser a mais formosa,    para o canto ficaria.
  8   --Não tenho com quem te case,    nem com quem te casaria;
     só se for o conde Alberto,    é casado, tem família.
  10   --Mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha.--
     --Aqui estou, real senhor,    real senhor, que me queria?
  12   --Quero que mates condessa,    p`ra casar com minha filha.
     --A condessa não na mato,    qu` ela a morte não merecia.
  14   --Mata, conde, mata, conde,    antes que te tire a vida,
     traz-me a sua cabeça    nesta tão nobre bacia.--
  16   Vai o conde para casa,    muito triste à maravilha;
     mandou render suas guardas    à hora do meio-dia;
  18   mandou fechar seu palácio,    cousa que nunca fazia;
     mandou vestir seus criados    de preto à maravilha;
  20   mandou pôr a sua mesa,    para fazer que comia;
     as bagadas eram tantas    que pela mesa corriam;
  22   os suspiros eram tantos    que até palácio tremia.
     --Tu que tens, conde Alberto?    Tu que tens, ó vida minha?
  24   Conta-me as tuas tristezas,    que eu te conto alegrias.
     --Ai, como tas eu contara!    Ai, como tas contaria!
  26   Mandou el-rei que te mate,    dentro duma ave-maria,
     que levasse a cabeça    nesta maldita bacia.
  28   --Escuta, conde, escuta, conde,    que isso remédio teria,
     atarás-me àquele monte,    de bichos serei comida.
  30   --Não te vale isso, condessa,    não te vale isso, mi vida,
     mandou el-rei que te mate    dentro duma ave-maria,
  32   e que levasse a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Escuta, conde, escuta, conde,    que isso remédio teria,
  34   meteras-me naquele convento    por freirinha recolhida,
     daras-me o pão por onças    e a água por medida;
  36   daras-me carne salgada    para me arrancar a vida.
     --Não te vale isso, condessa,    não te vale, ó vida minha!
  38   Manda el-rei que te mate    dentro duma ave-maria,
     que lhe levasse a cabeça    nesta maldita bacia.
  40   --Vou-me dar a despedida    da sala para a cozinha.
     Adeus, aias, adeus, moças,    a quem eu tanto queria;
  42   adeus, jardim das flores,    onde eu me divertia;
     adeus, varanda do sol,    espelho onde eu me via.
  44   Mama, mama, meu menino,    este leite de paixão,
     que amanhã, por estas horas,    está tua mãe no caixão.
  46   Mama, mama, meu menino,    este leite de pesar,
     que amanhã, por estas horas,    vai tua mãe a enterrar.
  48   Mama, mama, meu menino,    este leite d` amargura,
     amanhã, por estas horas,    tua mãe na sepultura.
  50   Mama, mama, meu menino,    este leite da condessa,
     amanhã, por estas horas,    mamarás o da princesa.--
  52   Tocam os sinos do paço.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Morreu a dona Silvana,    irmã de dona Maria:
  54   descasar os bem casados,    cousa que Deus não queria.

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0503:139 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6734)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Portugal s. l. (Portugal).   Documentada en o antes de 1902. Publicada en Pedroso 1902, 466-467; Pedroso 1988, 384-385. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 779, pp. 487-489. © Fundação Calouste Gulbenkian.  100 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo seu corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    oh, que estrondo que fazia!
     Acordou seu pai da cama,    da cama aonde dormia.
  4   --Que tendes, ó dona Silvana,    Que tendes, ó filha minha?
     --De três manas que nós éramos,    são casadas, têm família.
  6   Eu por ser a mais bonita,    para um canto ficaria.
     --Não vejo com quem te casar,    nem com quem te dê valia,
  8   a não ser com o conde Alberto,    mas é casado, tem família.
     --Esse mesmo, ó meu pai,    esse mesmo, eu pretendia,
  10   mande-o chamar a palácio    da sua parte e da minha,
     diga-lhe que venha vestido,    vestido à maravilha.--
  12   --Que quereis, real senhor?    Vossa alta senhoria?
     --Quero que mates condessa    p`ra casares com minha filha.
  14   --Eu como a hei-de matar    se ela morte não merecia?
     --Manda el-rei que o faças senão    que te tira a vida,
  16   que lhe mandes a cabeça    nesta dourada bacia.--
     Indo o conde para casa,    muito triste, sem alegria,
  18   mandou fechar seu palácio    coisa que ele nunca fazia;
     mandou vestir seus criados    de do mais pesado que havia;
  20   mandou pôr a sua mesa    à hora do meio-dia.
     Foi o conde para a mesa    para fazer que comia:
  22   as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam;
     os suspiros eram tantos    que em todo o palácio se ouviam.
  24   --Tu, que tens, ó conde Alberto?    Tu que tens, ó vida minha?
     Conta-me as tuas tristezas,    que eu te contarei maravilhas.
  26   --Eu como tu hei-de contar    se elas são tristezas minhas.
     Manda dizer el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha,
  28   e que lhe mande a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Cala-te d` aí, ó marido,    que isso remédio teria.
  30   Meterás-me num convento    das freiras arrecolhidas,
     darias-me o pão por onças    e a água por medida.
  32   --Eu como o hei-de fazer    se o rei logo o saberia?
     --Cala-te d` aí, ó marido,    que isso remédio teria.
  34   Deita-me àquela mar,    que as ondas me sumiriam.
     --E como o hei-de fazer    se o rei logo o saberia?
  36   --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
     Adeus moças, adeus aias,    a quem eu tanto queria,
  38   adeus jardim das flores    adonde me divertia,
     adonde ouvia cantar    rouxinóis ao meio-dia,
  40   adeus espelho real    adonde me eu vestia.
     Dê-me cá esse menino,    que lhe quero dar a mama.
  42   Mama, mama, meu menino    este leite de paixão,
     que amanhã, por estas horas,    está tua mãe no caixão.
  44   Mama, mama, meu menino    este leite d` armargura,
     que amanhã, por estas horas,    está tua mãe na sepultura.
  46   Mama, mama, meu menino,    este leite de pesar,
     que amanhã, por estas horas,    está tua mãe a enterrar.--
  48   Tocam os sinos na corte.    Ai, Jesus, quem morreria?
     Morreu a dona Silvana    que por amores morria.
  50   Descasar os bem casados    cousa que Deus não queria!

Variantes: -48a em Roma; -50b que só Deus fazia.

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0503:24 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6618)

Versión de Faial s. l. (isla de Faial, Açores, reg. Açores, Portugal).   Recitada por un criado de Gomes Monteiro. Recogida por José Gomes Monteiro, 00/00/1839 publicada en ms. de Almeida Garrett, incluído en el `Cancioneiro de Romances Xácaras e Solaos`, depositado en la sala Ferreira Lima de la Fac. de Letras de la Universidad de Coimbra, pp. 218-221. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 663c, pp. 339-340. © Fundação Calouste Gulbenkian.  063 hemist.  Música registrada.

     --Inda agora vim do Paço,    já lá me mandam chamar!
  2   se será para meu bem,    se será para meu mal!--
     `Indo por palácio dentro,    fazendo mil cortesias:
  4   --Guarde Deus a Vossa Alteza,    que quer Vossa Senhoria?
     --Eu, que mates a condessa    e cases com minha filha.
  6   --A condessa não a mato,    que a morte me não m` recia.
     --Traze-me a sua cabeça    nesta dourada bacia.--
  8   Já se foi o conde embora    cheio de melancolia.
     Mandou fechar seu palácio,    coisa que nunca fazia;
  10   mandou tocar ao jantar,    ao toque do meio-dia.
     Sentaram-se ambos à mesa,    nem um nem outro comia.
  12   --Que tendes vós, conde Iano,    com tanta melancolia?--
     O conde olhava para ela,    nem palavras proferia.
  14   Já depois de muito tempo    estas palavras dizia:
     --El-rei quer que eu te mate    e case com sua filha.
  16   --Mas dizei-me, conde Iano,    isso remédio teria.
     Fechai-me num cárcere escuro,    sem eu ver a luz do dia,
  18   a comer o pão por onça    e a água por medida,
     para verdes se com isso    me deixam sequer a vida.
  20   --Ai, como pode isso ser,    ó bela condessa minha,
     se quer ver tua cabeça    nesta formosa bacia?
  22   --Tragam-me cá os meus filhos,    que ainda os quero abraçar,
     não há-de ser a madrasta    que os há-de acalentar.
  24   Dai-me o meu filho mais novo,    quero-lhe dar de mamar.
     Mama, meu filhinho, mama    este leite de amargura,
  26   que amanhã por estas horas    me verás na sepultura.
     Chamem também os meus servos    que tão bem me têm servido,
  28   que amanhã serão mandados    por mais alto senhorio!--
     Responde o filho do berço,    foi coisa de inspiração:
  30   --Viva, viva, minha mãe,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     que já os sinos da Sé    eu já os oiço tocar.
  32   A princesa já morreu,    amanhã vai a enterrar.--

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0503:130 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6725)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de S. Jorge (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Documentada en o antes de 1906. (Colec.: Teixeira Soares de Sousa, J.). Publicada en RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 539-543. Reeditada en Cortes-Rodrigues 1987, 374-377; Carinhas 1995, II, 38-39 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 770, pp. 476-477. © Fundação Calouste Gulbenkian.  108 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvanina    pelo corredor acima,
  2   Tocando numa guitarra,    do melhor modo que podia,
     logo seu pai acordou,    ao estrondo que fazia.
  4   --Que queres, ó Silvanina?    Que queres, ó minha filha?
     --De três irmãs que nós éramos,    eu era a mais bonita,
  6   e já todas estão casadas,    e tem casa de família.
     --Só se te casar com o conde d` Alba,    coisa que ser não podia,
  8   o conde d` Alba é casado,    e tem casa de família.
     --Mas mande-o, meu pai, chamar,    da sua parte e da minha.--
  10   Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
  12   --Quero que mates a condessa,    p`ra casar com minha filha.
     --Alto, senhor, que dizeis?    Tal coisa eu nunca faria,
  14   matar a minha mulher,    p`ra casar com vossa filha.
     --Mata, conde, mata, conde,    não me tornes demasia,
  16   e traze-me a sua cabeça,    nesta dourada bacia.
     --Eu sou um vosso vassalo    e obedecer-vos queria,
  18   mas olhai que isso    é uma grande tirania.
     --Mata, conde, mata, conde,    não me tornes demasia,
  20   e dou-te tempo em que rezes    uma só ave-maria.--
     Foi-se o conde para casa,    sem nenhuma alegria,
  22   vestiu-se logo de luto,    o maior que ser podia;
     mandou fechar o palácio,    cousa que nunca fazia;
  24   mandou tirar o jantar,    antes de ser meio-dia.
     Foi o jantar para a mesa,    nem um, nem outro comia,
  26   as lágrimas eram tantas,    que os mesmos pratos enchia.
     A condessa admirada,    da tristeza que ali via.
  28   --Diz-me, conde, diz-me,    conde, tira-me desta agonia.
     --Quer el-rei que eu vos mate,    p`ra casar com sua filha.
  30   --Tu porque lhe não disseste    que a meu pai me levarias?
     --Eu mesmo assim lho disse,    mas ele não atendia.
  32   --Meter-me-ás numa prisão,    onde não veja a luz do dia;
     dar-me-ás carne por onça    e água por medida,
  34   `té, que de pura fraqueza,    exale os dias de vida,
     ou manda-me p`ra ilha deserta,    aonde gente não vivia,
  36   e aí, meu corpo enfermo,    de pasto às feras sirva.--
     Estando nestas palavras,    o rei à porta batia:
  38   se a condessa não é morta,    que mesmo a mataria.
     Disse-lhe o conde em resposta,    e na mágoa em que se via.
  40   --A condessa não é morta,    mas já está nessa agonia.
     --Deixem-me dar um passeio,    da sala `té à cozinha,
  42   quero ir despedir-me    desta família que tinha.
     Adeus, meu jardim das flores,    aonde eu me divertia,
  44   adeus, moços, adeus, moças,    a quem eu tanto queria.
     Vem cá, meu filho mais velho,    a quem eu tanto queria,
  46   amanhã terás mãe nova,    de mais alta jerarquia.
     Vem cá, meu filho mais moço,    quero-te dar de mamar,
  48   perdes hoje a tua mãe    e madrasta te querem dar.
     Mama, mama, meu menino,    este leite d` agonia,
  50   que amanhã, por estas horas,    hei-de estar na terra fria.
     Tocam os sinos na corte,    ai Jesus! Quem morreria?--
  52   Responde o filho mais moço    que `inda falar não sabia:
     --Morreu a filha d`el-rei,    para nós, que alegria,
  54   queria descasar um casal,    cousa que Deus não queria.--

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Provavelmente da colecção de J. Teixeira Soares de Sousa.

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0503:131 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6726)

Versión de S. Miguel s. l. (isla de S. Miguel, Açores, reg. Açores, Portugal).   Recogida por Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro, publicada en Braga 1883, 162-165; RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 543-547. Reeditada en Cortes-Rodrigues 1987, 367-370; Carinhas 1995, II, 37-38 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 771, pp. 477-479. © Fundação Calouste Gulbenkian.  104 hemist.  Música registrada.

     --Três filhas que meu pai teve,    a todas criou sem mãe,
  2   duas estão casadas,    só eu não tive ninguém.
     --Nesta terra, minha filha,    eu não tenho quem te sirva,
  4   só o conde de Alado,    com sua mulher e filhos.
     --Mande-o meu pai chamar,    para jantar cá um dia,
  6   e no meio do jantar,    tocai-lhe em coisas minhas.--
     --Não sabes tu, conde,    a que te mandei chamar aqui?
  8   É p`ra matar tua mulher    e casar com minha filha.
     --Como posso eu mata-la,    se eu mata-la não podia?
  10   Mando-a p`ra casa dos pais,    seus filhos a sustentariam.
     --Se tu, conde, não a matas,    eu a ti te mataria.
  12   --Como posso eu mata-la,    se eu mata-la não podia?
     Mando-a deitar ao mar,    os peixes a comeriam.
  14   --Se tu não a matas, conde,    eu a ti te mataria.
     --Como posso eu mata-la,    se eu mata-la não podia?
  16   Mando-a deitar no mato,    os bichos a comeriam,
     mando dobrar os sinos,    finjo que ela faleceria.
  18   --Acaba, conde, daí,    com esta grande porfia,
     e traz a sua cabeça,    nesta formosa bacia.--
  20   Montou o conde a cavalo,    sem saber o que fazia,
     cada suspiro que dava,    seu cavalo abalaria,
  22   cada soluço que dava,    seu cavalo arrasaria.
     --Conde Alado, conde Alado,    conde Alado, alma minha,
  24   conta-me as tuas tristezas,    como contas alegrias.
     Se te morreu pai ou mãe,    eu o saber quereria.
  26   --Não me morreu pai nem mãe,    nem donzela que teria,
     morreu-me a melhor prenda,    que eu na minha casa tinha.
  28   Vamos, vamos, para a mesa    que eu lá te contaria.--
     Conde Alado estava à mesa,    conde Alado não dizia.
  30   --Conde Alado, conde Alado,    conde Alado, alma minha,
     se te morreu pai ou mãe,    eu saber o quereria.
  32   Tenho janelas douradas,    de luto as forraria,
     tenho vestidos de seda,    de luto os cobriria.
  34   --O rei me disse, senhora,    que acabasse com a porfia,
     levasse a tua cabeça,    nesta maldita bacia.
  36   --Conde Alado, conde Alado,    tu, tu não me matarias.
     Manda-me para cas` de meus pais,    meus filhos me sustentariam.
  38   --Assim lhe disse eu, senhora,    ele disse-me que não queria,
     e que acabasse depressa,    com escusada porfia.
  40   --Traz-me cá dona Aninhas,    quero-lhe dar de mamar,
     este leite de amargura,    este leite de pesar.
  42   --Dona Aninhas `stá dormindo,    tu não queres acordar.
     --Dá-me cá um copo d` água,    que me quero consolar.
  44   Dá-me uma toalha,    que me quero embrulhar,
     não quero que vejas esta cara    que hás-de matar.
  46   Dai-me licença, senhor,    que reze uma ave-maria.
     --Se nela pedes a morte,    do rei mais da sua filha,
  48   pede também por mim,    que a vida não queria.--
     Batem que batem à porta,    era em pino do meio-dia,
  50   vem dizer: --Morreu o rei,    a infanta não dura um dia.
     Seja o conde Alado rei,    condessa a nossa rainha,
  52   apartar os bem casados,    era o que Deus não podia.--

Nota del editor de RºPortTOM 2001: enviada por Ernesto do Canto para a colecção de Teófilo Braga.

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0503:132 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6727)

Versión de Malaca (Açores, reg. Açores, Portugal).   Documentada en o antes de 1942. Publicada en Rego 1942, 79-80; Rego 1998, 125. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 772, p. 479. © Fundação Calouste Gulbenkian.  020 hemist.  Música registrada.

     --Minha conde di Galardo,    conde, vos dou minha vida;
  2   p`ra matá bôs sa condessa    p`ra casá com mia fila.--
     Chorá pobo pela rua,    qui nunca razão fazê?
  4   --Matá eu sa condessa    p`ra casá fila di rei.
     --Qui bando na bôs sa porta?--    Tranquereano tal fazeu;
  6   screbê com rei di França,    conde sem saber nasceu.
     Recebê sa mãe propri,    nunca êle sua queria;
  8   logo achá unha madrasta    di tão alto senhoria.
     Bôs sa mãe tá bai matava,    o rei sua queria;
  10   Logo morrê êle sua fila    unha morte di repentia.

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0503:122 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6716)

Versión de Lagos (c. Lagos, dist. Faro, Algarve, Portugal).   Documentada en o antes de 1901. Publicada en Nunes 1900-1901, 151-156; Nunes 1902, 52-55. Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 290-294; Anastácio 1985, 179-181 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 761, pp. 456-459. © Fundação Calouste Gulbenkian.  164 hemist.  Música registrada.

     --Ó meu pai, já era tempo    de vós me dar um marido.
  2   Por vergonha não no peço,    de boa vontade lhe digo.
     --Filha, na corte não acho    quem vos sirva de marido,
  4   só o conde da Alemanha:    ele tem mulher e filhos.
     --Com o mesmo é qu` eu quero,    com ele mesmo é qu` eu qu`ria.
  6   Mande-o o meu pai chamar,    para jantar cá um dia;
     fale-lhe o meu pai d` amores,    senão eu lhe falaria.
  8   --Criados, ó meus criados,    os que estão ao meu mandado,
     chamem no conde da Alemanha,    que a palácio é chamado.
  10   --Às ordens do real senhor,    às ordens da real senhoria,
     el-rei vos manda chamar    e a rainha dona Maria.
  12   --Ainda agora vim da corte,    el-rei não me quis falar,
     agora, que estou em casa,    é que me manda chamar.
  14   Ou me quer fazer mercês,    ou p`ra me mandar matar.--
     Monta-se no seu cavalo,    claro como o próprio dia,
  16   chega à porta do palácio.    --Que quer vossa senhoria?
     Ao arrojar das cadeiras,    o rei logo lhe dizia.
  18   --Quero que mates a condessa    p`ra casar com minha filha.
     --Isso não faço eu, senhor,    que ela a morte não mer`cia.
  20   Mandarei-a para a serra,    que as feras a tragariam.
     --Cala-te, ó conde Cravo,    não te ponhas à porfia,
  22   que hás-de matar a condessa    p`ra casar com minha filha.
     --Isso não faço eu, senhor,    que ela a morte não mer`cia.
  24   Mandarei-a para um convento,    qu` ela nem sol nem lua v`ria.
     --Cala-te, ó conde Cravo,    não te ponhas à porfia,
  26   que hás-de matar a condessa    p`ra casar com minha filha.
     Isso não faço eu, senhor,    que a morte não na mer`cia.
  28   Deitarei-a duma janela abaixo,    que ela arrebentaria.
     --Cala-te, ó conde Cravo,    não te ponhas à porfia,
  30   que hás-de matar a condessa    antes duma ave-maria,
     se chegar a pela manhã    não há-de chegar ao meio-dia.
  32   Quero que me tragas a cabeça    nesta doirada bacia.--
     Indo o conde p`ra sua casa,    muito cheio de agonia,
  34   mandou fechar seus portais,    coisa que ele nunca fazia,
     mandou vestir seus criados    de preto à moirania.
  36   --Conta-me lá, meu bom conde,    minha doce companhia,
     conta-me a tua tristeza,    como contas de alegria.
  38   --Não vos conto, ó condessa,    que vos causa muita agonia.
     --Conta-me lá, meu bom conde,    minha doce companhia,
  40   conta-me a tua tristeza,    como contas de alegria.--
     Mandou pôr a sua mesa,    que logo lhe contaria.
  42   A mesa já era posta,    nem um nem outro comiam,
     que as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
  44   --Conta-me lá, meu bom conde,    minha doce companhia,
     conta-me a tua tristeza,    como contas de alegria.--
  46   Mandou fazer sua cama    que logo lhe contaria,
     a cama ja era feita,    nem um nem outro dormiam,
  48   que as lágrimas eram tantas    que pela cama corriam.
     --Conta-me lá, meu bom conde,    minha doce companhia,
  50   conta-me a tua tristeza,    como contas de alegria.
     --Pois é el-rei de Marrocos    e rainha dona Maria,
  52   que quer que te mate a ti    p`ra casar com sua filha.
     --Cala-te, meu bom conde,    que tudo remédio teria.
  54   Mandarás-me para a serra    que as feras me tragariam.
     --Como pode isso assim ser,    se eu já isso lhe diria?
  56   --Cala-te, meu bom conde,    minha doce companhia.
     Mandarás-me p`ra um convento,    qu` eu nem sol nem lua v`ria.
  58   --Como pode isso assim ser,    se eu já isso lhe diria?
     --Cala-te, meu bom conde,    minha doce companhia.
  60   Deitarás-me duma janela abaixo    que eu logo arrebentaria.
     --Como pode isso assim ser,    se eu já isso lhe dizia?
  62   Quer que se chegues p`la manhã    que não chegues ao meio-dia,
     quer que lhe mande a cabeça    nesta maldita bacia.
  64   --Pois eu um favor te peço,    só um favor te pedia:
     não me mates c` um punhal,    que é uso da tirania,
  66   mata-me c` uma toalha    que é uso da fidalguia.
     Dá-me aquele tinteiro,    dá-me aquela escrivaninha,
  68   quero escrever a mi madre    a desgraça de sua filha.
     Dá-me aquele menino,    quero-lhe dar de mamar,
  70   mama filho, mama filho,    este leite agoniado,
     qu` inda hoje tu tens mãe    e amanhã estarei no adro.
  72   Mama filho, mama filho,    este leite de agonia,
     que amanhã já tens madrasta,    da mais alta senhoria.--
  74   As razões que eram ditas,    criados que à porta batiam.
     Se a condessa não era morta,    eles mesmo a matariam.
  76   --A condessa não é morta,    mas já `stá nesses alcances.
     --Eu vos peço a Deus Senhor,    mais à Sagrada Maria,
  78   que el-rei não viva uma hora    nem a sua filha um dia.--
     As razões que eram ditas,    os sinos se dobrariam:
  80   Quem morreu, quem não morreu,    quem morreu, quem morreria?
     Morreu el-rei de Marrocos    e princesa sua filha;
  82   queriam desmanchar casais,    coisa que Deus não queria.

Variantes: -4a, -9a de Lamanha (1900-1901); -5a esse mesmo (1900-1901); -5b esse mesmo (1900-1901); -10a de (1900-1901); -10b de (1900-1901); -11b rainha (1900-1901); -16b que me quer (1900-1901); -31a se chegue pela (1900-1901); -38b causo (1900-1901); -42b comia (1900-1901); -47b dormia (1900-1901); -55b, -58b dizia (1900-1901); -65b de tirania (1900-1901); -68b da sua (1900-1901); -71b estará no (1900-1901); -73b da mais (1900-1901); -75b mesmos (1900-1901).
Nota del editor de RºPortTOM 2001: Editamos Athaide Oliveira 1905 (y Athaide Oliveira 1987?) 290-294 por reproduzir o manuscrito autógrafo de Nunes.

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0503:123 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6717)

Versión de Lagos (c. Lagos, dist. Faro, Algarve, Portugal).   Documentada en o antes de 1901. Publicada en Nunes 1900-1901, 156-158. Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 287-289 e 320-323; RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 524-527; Anastácio 1985, 182-183 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 762, pp. 459-460. © Fundação Calouste Gulbenkian.  090 hemist.  Música registrada.

     Filha d`el-rei de Marrocos    todo o dia está llorando.
  2   Seu pai lh` está perguntando:    --Porque lloras, filha minha?
     --Se eu lhorava, ó meu pai,    tenho motivos para isso:
  4   há meninas dos meus anos    que casa e vida já têem
     eu com toda esta idade n    em caso nem vida tenho.
  6   --Que hei-de fazer, filha minha,    se não acho quem te sirva?
     Só o conde da Alemanha,    esse tem mulher e filhos.
  8   --Esse mesmo, ó meu pai,    esse mesmo é que eu queria;
     mandamos hoje chamá-lo    pela nossa fidalguia.--
  10   --Está em casa o senhor conde,    está em casa a fidalguia?
     El-rei o manda chamar    mais a princesa sua filha.
  12   --Se el-rei me manda chamar,    é p`ra me mandar matar,
     lançando minha cabeça    nas ondas do claro mar.--
  14   --Vinde com Deus, meu bom conde,    vinde com Deus, ó fidalguia.
     Vai matar tua mulher,    casarás com minha filha.
  16   A minha mulher é moça,    ela a morte não merecia,
     meto-a logo num convento,    nem sol nem luz veria.
  18   Faze conde o que te mando,    não uses de mais porfia,
     traze-m` a sua cabeça    nesta dourada bacia.--
  20   Volta o conde para casa,    agoniado d` agonias.
     --Que tindes, ó meu bom conde?    Que tindes, ó alma minha?
  22   Contai las vossas paixões,    eu contarei alegrias.
     Manda-me já por a mesa,    só assim tas contaria.--
  24   A mesa estava já posta    nem um nem outro comiam,
     as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
  26   --Que tindes, ó meu bom conde?    Que tindes, ó alma minha?
     Contai las vossas paixões,    eu contarei alegrias.
  28   --Manda-me fazer a cama,    só assim tas contaria.--
     A cama já era feita,    nem um nem outro dormiam,
  30   as lágrimas eram tantas    que pela cama corriam.
     --Que tindes, ó meu bom conde?    Que tindes, ó alma minha?
  32   Contai las vossas paixões,    eu contarei alegrias.
     --El-rei te manda matar    para eu casar com su` filha.
  34   --Cala-te ó, meu bom conde,    que isso remédio teria,
     vou meter-me num convento,    nem sol, nem lua veria.
  36   Dá cá aquele tinteiro    mais aquela escrivaninha,
     quero escrever a meu pai    as desgraças desta filha.
  38   Dá cá aquele menino,    quero dar-lhe de mamar.
     Mama, mama, ó meu filho,    não deixes pinga de leite,
  40   `inda hoje tindes mãe,    mãe que tanto te queria,
     agora tindes madrasta    da mais alta fidalguia.--
  42   Ela pondo-s` à janela,    os sinos da Sé que ouvia.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    Quem morreu, quem morreria?
  44   Morreu el-rei de Marrocos    e la princesa sua filha:
     queriam desmanchar casais    cousa que Deus não queria.

Variantes: -2b Que lloras tu (1900-1901); -3a llorara (1900-1901); -3b tinha (1900-1901); -4 vejo outras dos meus anos / já terem casa e vida (1900-1901); -5 só eu tenho estes anos / não tenho casa nem vida (1900-1901); -6a minha filha (1900-1901); -7a de Lamanha (1900-1901); -10b ó fidalguia (1900-1901); -12a El-rei me (1900-1901); -13a ou p`ra me mandar deitar (1900-1901); -14b omite ó (1900-1901); -16b omite ela (1900-1901); -17a eu meto-a num (1900-1901); -17b lua (1900-1901); -18b olhes p`ra (1900-1901); -19a que me tragas a cabeça (1900-1901); -20a Vinde (1900-1901); -20b agonias (1900-1901); -22a Conta lá das v. queixas (1900-1901); -22b que eu vos c. d` al` gria (1900-1901); -23b, -28b t` eu (1900-1901); -24a já era (1900-1901); -24b comiam (1900-1901); -27 Conta lá das vossas queixas, que eu vos contarei d` al` gria. (1900-1901); -28b t` eu (1900-1901); -29b dormia (1900-1901); -32 Conta lá das vossa queixas, / que eu vos contarei d` al` gria (1900-1901); -33b p`ra casar (1900-1901); -35a eu meto-me num convento (1900-1901); -37b a desgraça (1900-1901); -38b quero-lhe dar de mamar (1900-1901); 40a ` té agora tiveste (1900-1901); -41a terás (1900-1901); -41b de mais (1900-1901); -42a se pondo (1900-1901); -44b mais a (1900-1901).
Nota del editor de RºPortTOM 2001: Editamos Athaide Oliveira 1905 (y Athaide Oliveira 1987?) 320-323 por reproduzir o manuscrito autógrafo de Nunes.

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0503:124 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6718)

Versión de Lagos (c. Lagos, dist. Faro, Algarve, Portugal).   Documentada en o antes de 1901. Publicada en Nunes 1900-1901, 159-161. Reeditada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 284-286; Anastácio 1985, 184-185 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 763, pp. 461-462. © Fundação Calouste Gulbenkian.  096 hemist.  Música registrada.

     `Inda agora vim da corte    el-rei manda-me chamar.
  2   É para me fazer mercês    ou para me mandar matar?
     --Aqui `stou às vossas ordens,    também ao vosso mandar,
  4   é para me fazer mercês,    ou p`ra me mandar matar.
     --Não p`ra te fazer mercês,    nem p`ra te mandar matar.
  6   É p`ra matar a condessa    p`ra casares com minha filha.
     --Eu não mato a condessa    porque a morte não mer`cia.
  8   Mandarei po-la numa torre    que nem lua nem sol veria.
     --Vai já matar a condessa    p`ra casares com minha filha.
  10   --Eu não mato a condessa    porque ela a morte não mer`cia.
     Mandarei-a p`ra casa dos seus pais    qu` eles logo a aceitariam.
  12   --Vai matar a condessa    p`ra casares com minha filha,
     e traz-me aqui a cabeça    nesta doirada bacia.--
  14   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    Dali saiu com grande agonia.
     As lágrimas eram tantas    que pela rua corriam,
  16   os suspiros eram tantos    que o castelo adormeciam.
     --Conta, bom conde, à condessa,    todas as tuas agonias
  18   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    como contavas as alegrias.
     --Mandai vós pôr a mesa,    qu` eu logo vos contaria.
  20   --Ó criados e criadas,    estejam todos ao meu mandar,
     vão já pôr a mesa    p`ra o bom conde ir jantar.--
  22   Todos dois foram para a mesa,    nem um nem outro comiam,
     os suspiros eram tantos    que o castelo adormeciam,
  24   e as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
     --Conta, bom conde,    à condessa, as tuas agonias
  26   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    como contavas as alegrias.
     --Mandai vós fazer a cama    qu` eu logo vos contaria.
  28   --Ó criados e criadas,    estejam todos ao meu mandar,
     vão já fazer a cama    para o bom conde se deitar.--
  30   Todos dois foram p`r`à cama    nem um nem outro dormiam,
     as lágrimas eram tantas    que pela cama corriam,
  32   e os suspiros eram tantos    que o castelo adormeciam.
     --El-rei te manda matar    p`ra eu casar com a filha.
  34   --Manda-me pôr numa torre    que nem sol nem lua veria.
     --Tudo isso lhe eu disse,    a nada disso obedecia.
  36   --Manda-me p`ra casa dos meus pais    qu` eles logo m` aceitariam
     --Tudo isso eu lhe disse,    nada disso obedecia;
  38   que levasse a tua cabeça    nesta maldita bacia.
     --Dá-me cá aquele menino,    aquele mais pequenino.
  40   Mama, mama, meu menino,    não deixes uma pinguinha,
     porque `inda hoje tindes mãe    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  42   amanhã terás madrasta    da mais alta senhoria.
     Dá-me cá aquele tinteiro    e aquela escrivaninha,
  44   que quero escrever a mi madre    a desgraça desta filha.
     Permita Deus d` Arcelo    ma` la Sagrada Maria
  46   que el-rei não viva uma hora    nem a princesa sua filha.--
     Já os sinos dobravam,    e toda a gente admirava.
  48   O que é isto? O que não é?    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     É el-rei de Marrocos    e a princesa sua filha
  50   que quer desapartar casais,    cousa que Deus não queria.

Variantes: -6b casar (1900-1901); -7b, -10b qu` ela a morte (1900-1901); -8b mandarei-a pôr numa(1900-1901); -9a omite (1900-1901); -11a p`ra à dos (1900-1901); -12b casar (1900-1901); -18b, -26b d` alegria (1900-1901); -19b, -27b qu` eu vos logo (1900-1901); -20b., -28b os que estão ao (1900-1901); -21a, -29a vão, vão (1900-1901); -22b comia (1900-1901); -24a as (1900-1901); -25b todas as tuas (1900-1901); -30b dormia (1900-1901); -32a, -42a omite e(1900-1901); -33a El-rei manda-te (1900-1901); -33b p`ra casar com sua (1900-1901); -36a p`ra a dos (1900-1901); -38a levasse-lhe a cabeça (1900-1901); -40a Mame, mame (1900-1901); -40b deixe nem uma pinga (1900-1901); -41a que `inda (1900-1901); -42a e amanhã (1900-1901); -42b de (1900-1901); -43a Dá cá além aquele (1900-1901); -44a omite que (1900-1901); -45a Oh permita (1900-1901); -46b nem princesa dona Maria (1900-1901); -47b toda a gente se admirava (1900-1901); -49a Morreu el-rei (1900-1901); -49b e princesa (1900-1901).
Nota del editor de RºPortTOM 2001: Editamos Athaide Oliveira 1905 (y Athaide Oliveira 1987?) 284-286 por reproduzir o manuscrito autógrafo de Nunes.

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0503:125 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6719)

Versión de Loulé s. l. (c. Loulé, dist. Faro, Algarve, Portugal).   Documentada en o antes de 1905. Publicada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 60-64 e 323-324. Reeditada en RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 515-519; Anastácio 1985, 186-187 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 764, pp. 462-465. © Fundação Calouste Gulbenkian.  138 hemist.  Música registrada.

     Ergueu-se dona Silvana    uma vez do seu jantar,
  2   com a viola no braço    par` ó jardim foi tocar.
     --Que tendes, dona Silvana?    Que tendes, ó filha minha?
  4   --Raparigas dos meus anos    são casadas, têm família,
     eu que sou a mais formosa    par` um canto ficaria.
  6   --Casa-te, dona Silvana,    casa-te, ó filha minha.
     --Não tenho com quem me case    nem pessoa igual à minha.
  8   Só se for o conde Alberto,    ele se descasaria.
     --Eu lo mandarei chamar    ao meu palácio em um dia.
  10   --Mandaria já chamá-lo    da sua parte e da minha.
     --Alto, alto, ó meus criados,    todos já ao meu mandado!
  12   Vão chamar o conde Alberto    ao meu palácio real.--
     --Anda cá, ó conde Alberto,    el-rei te manda chamar,
  14   que vás já ao seu palácio,    ao seu palácio real.
     --`Inda agora eu vim da côrte,    el-rei me manda chamar.
  16   Será para me dar tença    ou p`ra me mandar matar?--
     --Aqui estou, ó Vossa Alteza,    venha cá a senhoria.
  18   --Quero que mates a condessa    e cases com minha filha.
     --Eu a condessa não mato,    ela a morte não mer`cia.
  20   --Mata, conde, a condessa,    não uses de mais porfia.
     --Eu a condessa não mato,    ela a morte não mer`cia.
  22   Mando-a p`ra seu pai    e nunca mais me veria.
     --Mata, conde, a condessa,    não uses de mais porfia.
  24   --Eu a condessa não mato,    ela a morte não mer`cia.
     Mando-a par` um convento    e nunca mais me veria.
  26   --Mata, conde, a condessa,    não uses de mais porfia
     --Eu a condessa não mato,    ela a morte não merc` ia.
  28   Mando-a par` umas brenhas    manjar dos bichos seria.
     --Mata, conde, a condessa,    não uses de mais porfia
  30   e dela traze a cabeça    nesta dourada bacia.--
     Volta o conde par` ò palácio,    par` ò palácio voltaria.
  32   Portas e janelas fechara,    cousa que nunca fazia.
     Manda vestir os criados    de luto à maravilha.
  34   Manda pôr a sua mesa,    só p`ra fingir que comia,
     com lágrimas dos seus olhos    todos los pratos enchia,
  36   os suspiros que ele dava    em o palácio se ouviam.
     Desceu a condessa abaixo,    que ela de nada sabia.
  38   --Que tendes, ó conde Alberto?    Que tendes, ó vida minha?
     Conta-me as tuas paixões    como contas as alegrias.
  40   --Eu as paixões que tenho,    na cama te as contaria.--
     Pegando-lhe pela mão    p`r`à sua cama a levaria.
  42   As lágrimas dos seus olhos    p`la cama correriam,
     e os suspiros que ele dava    em o palácio se ouviam.
  44   --Que tendes, ó conde Alberto?    Que tendes, ó vida minha?
     Conta-me as tuas paixões    como contas as alegrias.
  46   --Eu as paixões que tenho    no jardim te as contaria.--
     Pegando-lhe pela mão    ao jardim a levaria.
  48   As lágrimas dos seus olhos    pegos no jardim fariam,
     os suspiros que ele dava    em todo o jardim se ouviam.
  50   --Que tendes, ó conde Alberto?    Que tendes, ó vida minha?
     Conta-me as tuas lágrimas,    por Deus e Santa Maria.--
  52   As tristezas que ele tinha    encobri-las não podia.
     --Manda-me el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
  54   --Cala-te, ó conde Alberto,    que remédio te daria,
     vou p`ra casa de meu    que ele me aceitaria.
  56   --Isso mesmo lhe disse eu,    ele só me respondia:
     «Quero ver-lhe a cabeça    numa dourada bacia».
  58   --Não disseste que um convento    mui bem me albergaria,
     e metida numa cela    p`ra sempre lá ficaria?
  60   --Isso mesmo lhe disse eu,    ele só me respondia:
     «Quero ver-lhe a cabeça    numa dourada bacia».
  62   --Não disseste numas brenhas    eu de todo ficaria,
     entre os bichos e mais feras,    ali mesmo morreria?
  64   --Isso mesmo lhe disse eu,    ele só me respondia:
     «Quero ver-lhe a cabeça    numa dourada bacia».--
  66   Palavras não eram ditas    sino da Sé tocaria.
     Ai Jesus, ai, quem morreu?    Ai Jesus, quem morreria?
  68   Já morreu el-rei, o pai,    também Silvana, su filha,
     apartar qu`riam casais    coisa que Deus não qu`ria.

Nota del primer editor: Nas lições de Loulé encontrei alguns versos que no meu entender representam sofisticações modernas. Expurguei-as dali; no entanto, como este meu trabalho tem simplesmente em vista fornecer aos entendidos nestes assuntos os materiais por mim encontrados nesta província e de que os sábios se servirão para construir os monumentos de arte, vou indicar quais foram os versos que eliminei e que figuram quase no final de uma ou outr das lições: --Não me matem com um ferro, / que dum ferro eu tremeria,//num laço dos meus cabelos / eu mesmo me mataria.//Adeus, adeus, meu jardim, / lá onde me divirtia,//adeus, criados fieis, / que muito bem me serviam,//adeus, adeus, conde Alberto, / claro sol e luz do dia,//adeus, adeus, conde Alberto, / minha doce companhia.//Adeus, adeus, conde Alberto, / lindo espelho onde me via.//Dá-me cá o nosso filho, / eu de mamar lhe daria.//Mama, mama, meu filhinho, / este leite amargurado,//agora ainda tens mãe, / amanhã estarei no adro.//Mama, mama, meu filhinho, / este leite de amargura,//hoje ainda tu tens mãe, / amanhã na sepultura.//Mama, mama, meu filhinho, / este leite de agonia,//amanhã terás madrasta / da mais alta fidalguia.//(Athaide Oliveira 1905 [y Athaide Oliveira 1987?] 323-324).

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0503:126 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6720)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Loulé s. l. (c. Loulé, dist. Faro, Algarve, Portugal).   Documentada en o antes de 1905. Publicada en Athaide Oliveira 1905, (y Athaide Oliveira 1987?) 65-69. Reeditada en RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 520-524; Anastácio 1985, 188-190 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 765, pp. 465-467. © Fundação Calouste Gulbenkian.  148 hemist.  Música registrada.

     Caminhando dona Iria    p`lo seu corredor acima,
  2   tocando a sua guitarra    muito triste em demasia,
     o seu pai lá encontrou,    desta sorte lhe falaria.
  4   --O que tendes, dona Iria?    O que tendes, filha minha?
     --Muito triste estou, meu pai,    de nada me alegraria,
  6   outras de menor idade    têm casa e seu marido,
     e só eu, real senhor,    solteira e aborrecida.
  8   --E quem queres tu, ó filha,    p`ra tua companhia?
     --Só o belo conde Alberto,    de amores me perseguia.
  10   --Não te aflijas, filha minha,    e enche-te de alegria.
     Eu mandá-lo vou chamar,    p`ra jantar connosco um dia.
  12   --Que me diz, real senhor,    que me dá tanta alegria?
     --Se fosse vontade minha,    hoje mesmo o chamaria.
  14   --Alto, alto, meus criados,    todos já ao meu mandado,
     a chamar o conde Alberto,    conde Alberto, o meu amado.--
  16   Conde Alberto teve a nova    começou-se a assustar.
     --Haverá alguma guerra    ou será p`ra lá jantar?--
  18   El-rei apenas o viu,    lhe falou em tom amigo.
     --Hoje és apenas meu servo,    amanhã meu genro qu`rido.
  20   --Real Senhor, esquecestes    ou estais acaso dormindo?
     Conde Alberto é casado    e tem um tenro filhinho.
  22   --Conde, mata tua mulher,    casarás com dona Iria,
     e faze isto, que te digo,    antes duma ave-maria.
  24   --Como quereis que eu a mate    se ela a morte não mer`cia?
     Faze, conde o que te digo,    não uses de mais porfia,
  26   traze aqui a sua cabeça    antes duma ave-maria.
     --Mando-a par` ò seu pai,    como solteira estaria.
  28   --Faze, conde, o que te digo,    não uses de mais porfia,
     traze aqui a sua cabeça    antes duma ave-maria.
  30   --Mando-a par` umas brenhas,    ela por lá morreria.
     Faze, conde, o que te digo,    não uses de mais porfia,
  32   traze aqui a sua cabeça    antes de uma ave-maria.
     --Mando-a par` um convento,    nunca mais de lá saía.
  34   --Faze, conde, o que te digo,    não uses de mais porfia,
     traze aqui a sua cabeça    nesta dourada bacia.--
  36   Conde Alberto foi p`ra casa    em muito grand` agonia.
     Mandou fechar suas portas,    cousa que nunca fazia.
  38   Mandou vestir suas aias,    com maior luto que havia.
     A condessa que isto viu    desta sorte lhe dizia.
  40   --O que tendes, conde Alberto?    O que tendes, vida minha?
     Conta-me as tuas paixões,    como contas as alegrias.
  42   --As minhas paixões, senhora,    não são p`ra já vos contar.
     --Conde, conta las paixões    para delas te aliviar.
  44   --Manda, prestes, pôr a mesa    então te as hei-de contar.--
     Sentaram-se à mesma mesa,    nem um nem outro comiam.
  46   As lágrimas eram tantas    que os pratos delas enchiam.
     --Conde, conta las paixões    p`ra delas te aliviar.
  48   --As minhas paixões, senhora,    não são p`ra já vos contar.--
     As palavras não eram ditas    a sua porta se batia,
  50   era o escudeiro do rei    que desta sorte dizia.
     --Lá manda dizer el-rei,    não uses de mais porfia,
  52   que lhe mandes a cabeça,    nesta dourada bacia.--
     Grande foi a sua tristeza    quando ela aquilo ouvia,
  54   aperta o filhinho ao peito    desta sorte falaria.
     --Manda-me par` ò meu pai    e solteira ficaria.
  56   --Isso mesmo disse ao rei    e respondeu que não qu`ria.
     --Manda-me par` umas brenhas,    o bicho me comeria.
  58   --Isso mesmo disse ao rei    e respondeu que não qu`ria.
     --Manda-me par` um convento,    de lá nunca te veria.
  60   Isso mesmo disse ao rei    e respondeu que não qu`ria.
     --Dá-me cá aquele tinteiro,    mais aquela escrivaninha,
  62   quero escrever a meu pai    as desgraças desta filha.
     Mama filho, mama filho,    este leite d` agonia.
  64   Logo tens uma madrasta    da mais alta senhoria.--
     Palavras não eram ditas,    sino da Sé dobraria.
  66   A condessa comovida    desta sorte falaria.
     --Quem será o que morreu?    Quem será que morreria?
  68   E uma voz vinda do céu,    e que ela bem ouviria.
     --Não lastimes, ó condessa,    não vivas com agonia,
  70   que morreu el-rei, o pai,    e também a filha Iria;
     queriam apartar casais,    cousa que Deus não qu`ria.
  72   --Anda cá, ó conde Alberto,    anda cá, ó vida minha.
     Não perdôo a morte ao rei    nem tão pouco à filha Iria;
  74   perdôo ao meu qu`rido conde,    pelo muito que me qu`ria.--

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0503:127 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6721)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Mexilhoeira Grande (c. Portimão, dist. Faro, Algarve, Portugal).   Recitada por un viejo. Recogida 00/00/1919 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 215-216. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 766, pp. 467-468. © Fundação Calouste Gulbenkian.  093 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    p`lo seu corredor acima,
  2   chorando e tocando na sua viola    a melhor moda que sabia,
     seu pai, que defronte estava,    tudo aquilo bem ouvia.
  4   --O que tindes, Silvana?    O que tindes, minha filha?
     --Três manas que me existe    são casadas, têm famila.
  6   --Eu não sinto, Silvana,    eu não sinto, minha filha,
     eu não sinto em palaiço,    aqui na corte, quem te sirva,
  8   senão o conde Alves.    É casado e tem famila.
     --Esse mesmo, ó meu pai,    esse mesmo é qu` eu queria.
  10   Mande-o chamar a palaiço    da sua parte e da minha.--
     Ainda agora eu vim do paço,    el-rei me manda chamar,
  12   não sei se sará p`ra meu bem,    se sará p`ra meu mal.
     Mandou ferrar o seu cavalo    com ferraduras de metal,
  14   caminhando p`ra palaiço,    fazendo mil cortesias.
     --Deus vos salve, ó Vossa Alteza,    da mais alta senhoria,
  16   Vossa Alteza me mandou chamar,    Vossa Alteza o que me queria?
     --Quero que mates a condessa,    p`ra casar com minha filha.
  18   --Condessa não mato eu    que ela a morte não mer`cia.
     --Mata, conde, mata, conde,    não me tornes demasia,
  20   traz-me a cabeça e a língua    nesta dourada bacia.--
     Caminhando p`ra seu palaiço    muito triste em agonia,
  22   mandou fechar os portões,    coisa que nunca fazia;
     mandou vestir os seus criados    de luto à mouraria;
  24   mandou pôr a sua menza,    p`ra fingir que comia:
     as laiguemas eram tantas    que pela menza corriam.
  26   --Contai-me, ó meu bom conde,    que estás em tão triste agonia.
     --Se eu fora a contar,    mais triste ficaria.
  28   El-rei te manda matar    p`ra casar com sua filha,
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    de mais alta senhoria.
  30   --Cala-te aí, ó meu bom conde,    que eu todo o remedo te daria.
     Manda-me fechar numa torre    que eu não veja nem sol nem dia;
  32   manda-me p`ra casa de meu pai,    que meu pai m` aceitaria.
     --Isso não, condensa, não,    que el-rei o sabaria.
  34   --Dá-me cá aquele tenteiro,    mais aquela escravanina,
     quero escrever a meu pai    a desgraça desta filha.
  36   Deixa-me dar um passeio    da sala p`r`à cozinha:
     Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, espelho donde m` eu via.
  38   Dá-me cá aquele menino    que eu quero dar-lhe de mamar.
     Mamai, filho, mamai, filho,    este leite de amargura,
  40   amanhã, por esta hora,    tua mãe na sepultura.
     Mamai, filho, mamai,    filho, este leite amargoado,
  42   amanhã, por esta hora,    já teu pai é rei coroado.--
     As razões que eram ditas,    o sino da Sé que dobraria.
  44   Respondeu a vizinhança:    --Quem morreu, quem morreria?
     Disse o menino do berço,    nove meses não taria:
  46   --Morreu dona Silvana    às quatro horas do dia,
     queria desmanchar os bem casados    qu` era coisa que Deus não queria.--

Nota: condensa (sic).

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0503:106 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6700)

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Documentada en o antes de 1885. Publicada en Pires 1885d, VI; Pires 1900-1901b, 95-97; Pires 1899-1902, (reed. facs. 1982), 148-149; RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 509-512; Pires 1920, 66-69; Pires 1986,74-76. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 745, pp. 433-435. © Fundação Calouste Gulbenkian.  101 hemist.  Música registrada.

     --Casai-me, meu pai, casai-me,    que a idade me obriga;
  2   já todas as do meu tempo    têm casa e têm vida.
     --Com quem te casarei, filha,    se a corte já é corrida,
  4   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    sem achar quem pretendia?
     --Se o conde Alardos não fosse,    mulher, filhos que tenia.
  6   --Esse é que era o que eu amava,    esse é que era o que eu queria.--
     `Inda agora vim do paço,    el-rei me mandou chamar!
  8   Não sei se é para meu bem,    se será para meu mal.
     Entrei pelo paço adentro    fazendo mil cortesias.
  10   --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
     --Quero que mates a condessa    p`ra casares com minha filha.
  12   --Como a hei-de matar, rei,    se a morte não é merecida?
     Mandá-la-ei para a França    onde pai e mãe vivia;
  14   ou metê-la-ei numa torre    onde não veja sol nem dia
     e nem as ávens do céu    notícia dela daria.
  16   --Tudo isso será bom    mas nada disso eu queria;
     quero que me tragas a cabeça    numa dourada bacia.
  18   Não a troques tu por outra,    que eu logo a conhecia:
     tem dois sinais na cara,    que muito bem lhe dizia.--
  20   Foi o conde para casa    muito triste em demasia,
     sentou-se co` a condessa à mesa,    nem um nem outro comia,
  22   as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
     --O que tendes, querido conde?    Quem te causou melancolia?
  24   --Eu não vos queria dizer    mas sempre vos dizia:
     manda el-rei que eu vos mate    p`ra casar co` a sua filha.
  26   --P` ra que me hás-de matar, conde,    se a morte não sou merecida?
     Mandar-me-ás para a França    onde pai e mãe vivia,
  28   ou meter-me-ás numa torre    onde não veja sol nem dia
     e nem as ávens do céu    notícia de mim daria.
  30   --Tudo isso eu já lhe disse    e ele disse que não queria,
     quer que lhe leve a cabeça    numa dourada bacia;
  32   que não lha troque por outra    que ele logo a conhecia:
     tem dois sinais na cara,    que muito bem lhe dizia.
  34   --Não me mates com espadas,    nem com ferros que tenia;
     mata-me com laços finos,    p`ra mais alta senhoria.
  36   Ó criadas, ó criadas,    venha papel e tinteiro
     que me quero despedir    de toda a minha família.
  38   Adeus, palácios, adeus, salas,    adeus, conde d` Alegria,
     adeus, quartos, adeus, cama,    adeus, cama onde eu dormia,
  40   adeus, jardim, adeus, fonte,    adeus, fonte onde eu bebia,
     adeus, criadas, vassalas,    adeus, minha companhia,
  42   que é mandado pelo rei    fazer esta tirania.
     Mamai, filhinhos, mamai,    este leite d` amargura,
  44   que amanhã, por estas horas,    verás tua mãe na tumba;
     mamai, filhinhos, mamai,    este leite d` agonia,
  46   que amanhã tereis madrasta    de mais alta senhoria.--
     Dobram os sinos da Sé,    tocam em Santa Maria,
  48   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    quem morreu, quem morreria?
     Morreu a filha do rei    pelo crime que tenia,
  50   matar a mãe a seus filhos    isso era o que Deus não queria,
     descasar os bem casados    é que Deus não permitia.

Variantes: -2a omite (1920); -23b Contai-me a vossa agonia. (Pires (1901)/Pires (1982)); -43a, -45a filhinho (1920); -44b tereis mãe na sepultura (Pires (1901)/Pires (1982).
Nota del editor de RºPortTOM 2001: Editamos pela versão manuscrita de Paulo Caratão Soromenho, depositado na Faculade de Letras da Universidade de Lisboa.

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0503:107 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6701)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Recogida por Manuel Coimbra, publicada en Pires 1885l, XXXIV; Pires 1900-1901b, 175-176; Pires 1899-1902, (reed. facs. 1982), 150; RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 513-514; Pires 1920, 74-76; Pires 1986,77-78. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 746, pp. 435-436. © Fundação Calouste Gulbenkian.  060 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvaninha    p`lo seu corredor acima
  2   tocando numa guitarra,    oh, que estrondo não fazia!
     Acordou seu pai na cama,    do quarto onde dormia.
  4   --Que tendes, dona Silvana?    O que tendes, filha minha?
     --Todas as filhas que teve    estão casadas, têm família,
  6   eu por ser a mais bonita    para o canto ficaria.
     --Não tenho com quem te case,    pessoa igual à minha;
  8   só se for o conde Alberto,    mas o conde tem família.
     --Pois esse mesmo, meu pai,    esse mesmo, é que eu qu`ria.
  10   Mande-o chamar a casa,    da sua parte e da minha.--
     Veio o conde ao palácio    saber o que o rei queria.
  12   --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
     --Quero que mates a condessa,    p`ra casares com a minha filha.
  14   --Como hei-de matar a condessa    se ela a morte não merecia?
     --Mata-a, conde, mata-a, conde,    senão eu tiro-te a vida.
  16   Traz-me a cabeça dela    nesta real bacia.--
     Foi o conde p`r`ò palácio,    triste como iria.
  18   Mandou fechar as janelas,    coisa que nunca fazia;
     mandou tirar o jantar,    ao pino do meio-dia.
  20   Mas que tristeza era aquela    que nem um nem outro comia?
     --Que tendes, ó conde Alberto?    Que tendes, ó vida minha?
  22   Contai-me as vossas tristezas    que eu vos conto maravilhas.
     --Manda el-rei que vos mate    p`ra casar com sua filha.
  24   --Mama, mama, meu menino,    este leite de amargura,
     que amanhã, por esta hora,    tens a mãe na sepultura.
  26   Mama, mama, meu menino,    este leite de tristeza,
     que amanhã, por esta hora,    serás filho da princesa.--
  28   Tocam os sinos na corte,    ai Jesus, quem morreria?
     Morreu dona Silvana    da morte que ela merecia,
  30   que desmanchar bem casados    é coisa que Deus não queria.

Variantes: -13b casar com minha (1900-1901a).

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0503:108 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6702)

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Documentada en o antes de 1901. Publicada en Pires 1900-1901b, 87-90; Pires 1899-1902, (reed. facs. 1982), 143-144 e 148, Pires 1920, 60-65; Pires 1986,72-74. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 747, pp. 436-438. © Fundação Calouste Gulbenkian.  150 hemist.  Música registrada.

     Estando a filha do rei    muito triste em demasia,
  2   perguntou-lhe seu pai rei:    --Filha minha, o que tenia?
     --Outras de menos idade    têm casa e filhos criam.
  4   --O que queres, filha mia,    se na corte não havia,
     só se fosse o conde Alardos    mas casa e filhos tenia.
  6   --Esse, esse, ó meu pai,    esse é que eu queria.
     Mando-mo já a chamar    da sua parte e da mia,
  8   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    que venha cá ao meio-dia.--
     `Inda agora vim do paço    e já me me mandam chamar!
  10   Se será para meu bem,    se será para meu mal!
     Entrei pelo paço adentro,    fiz a minha cortesia.
  12   --Que me quer Vossa alteza    e mais vossa senhoria?
     --Sabe, sabe, conde Alardos,    que ainda me não esquecia,
  14   quero que jantes comigo    uma perna de galinha.
     --Obrigado a Vossa Alteza    e a Vossa senhoria,
  16   que eu para meu jantar    galinha também tenia.
     --Sabe, sabe, ó conde Alardos,    não me voltes demasia,
  18   quero-te assentar à mesa,    à d` reita de minha filha;
     comerás bem bons bocados    e uma perna de galinha.
  20   --Obrigado a vossa alteza    e a vossa senhoria,
     que eu para o meu jantar    galinha também tenia.
  22   --Cala-te, ó conde Alardos,    não me voltes demasia,
     quero que mates a condessa    p`ra casares com minha filha.
  24   --Como pode ser, senhor,    se a condessa o não merecia?
     Mandarei-a p`ra uma clausura    onde não veja sol nem lua,
  26   ou mandarei-a p`ra França    onde pai e mãe tenia.
     --Cala-te, ó conde Alardos,    não me voltes demasia,
  28   e traz-me a sua cabeça    nesta formosa bacia;
     e não ma troques por outra,    que eu mui` bem a conhecia:
  30   tem três sinais na cara,    todos três com bizarria.--
     Foi-se dali o conde Alardos,    muito triste em demasia.
  32   --Que tendes, ó conde Alardos?    Que tendes por minha via?
     --Ó condessa, vem p`r`à mesa    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  34   comeremos um bocado    que será por despedida.--
     Olhando um para o outro,    nenhum deles comia;
  36   as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
     --O que tendes, ó meu esposo?    O que tendes por minha via?
  38   --Manda el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
     --Cala-te, ó conde meu,    que isso mui` bem se fazia.
  40   Manda-me p`ra uma clausura,    onde não veja sol nem lua,
     ou manda-me para França    onde eu pai e mãe tenia.
  42   --Já lhe propus isso, condessa,    ele respondeu que não queria,
     que levasse a cabeça    nesta maldita bacia,
  44   que a não trocasse por outra,    que muito bem te conhecia:
     que tens três sinais na cara,    todos três com bizarria.
  46   --Não me mates com cutelo,    nem com arma que fira;
     dá-me cá uma toalha    das mais finas que tenia.
  48   Já me corre o meu leite    pelas minhas alvas carnes;
     andarão os meus meninos    de comadres em comadres.
  50   Já me corre o meu leite    pelas minhas alvas camisas;
     andarão os meus filhos    de vizinhas em vizinhas.
  52   Já me corre o meu leite    pelas minhas belas veias;
     andarão os meus meninos    a mamar mamas alheias.
  54   Dá-me cá o meu menino,    o mais novo que eu tenia.
     Mamai, filho, mamai, filho,    este leite de amargura,
  56   que amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe na sepultura.
     Anda cá, filho mais velho,    que te vou a ensinar,
  58   à mãe que tu vais a ter    como lhe hás-de falar,
     o teu chapeuzinho na mão    e o joelho posto em terra,
  60   com toda a veneração,    que ela a realeza encerra:
     «Aqui vos peço, senhora,    benção para um infeliz
  62   que já hoje não tem mãe,    Vossa Alteza assim o quis.
     Separastes um casal    que tão feliz vivia,
  64   não pode Deus, senhora,    dar-nos completa alegria.
     Meus irmãozinhos pequenos,    a quem tirastes a mãe,
  66   não os desprezeis, senhora,    nem tão-pouco a mim também.
     Já me fostes tão cruel,    não leveis vossa tirania
  68   em desgraçar os filhos    da que mal vos não fazia».--
     Depois de ao filho ensinar    o que devia dizer,
  70   deitou a toalha ao colo    para a morte a si dar,
     pôs os olhos no céu,    os sinos ouviu tocar.
  72   Tocam os sinos na Sé,    repicam os da Trindade.
     Quem morreu, quem morreria,    nesta nobre cidade?
  74   Tocam os sinos na Sé,    quem morreu, quem morreria?
     Morreu a filha do rei    de inclemências que fazia,
  76   apartar os bem casado,    coisa que Deus não permitia.
Variantes: -20b omite a (1900-1901a); -29b., 39b muito (1920); -54a omite (1920); -65b tiraste (1900-1901a); -67a foste (1900-1901a).
Nota del editor de RºPortTOM 2001: Editamos Pires 1899-1902.

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0503:109 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6703)

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Documentada en o antes de 1902. Publicada en Pires 1899-1902, (reed. facs. 1982), 149-150; Pires 1920, 70-73; Pires 1986,76-77. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 748, pp. 438-440. © Fundação Calouste Gulbenkian.  095 hemist.  Música registrada.

     Estando el-rei de Marrocos,    à mesa com sua filha,
  2   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    esta assim lhe dizia.
     --Olhe, meu pai da minha alma,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  4   vejo outras da minha idade    casadas e terem filhos.
     --Que queres tu, filha, que eu faça,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  6   se eu não sinto no meu reinado    quem te a ti mereça, filha?
     Está `í o conde da Alemanha    que é casado e tem família.
  8   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Esse mesmo é o que eu queria.
     --É casado e tem família,    de sorte aceitaria.
  10   --Mande-o, meu pai, chamar,    meu pai nisso lhe falaria.--
     Um criado que ele tenia logo    o mandou a palácio.
  12   --Vinde, vinde, senhor conde,    que el-rei o manda chamar.--
     Logo o seu coração disse:    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  14   Se será para meu bem,    se será para meu mal.
     Quando chegou a palácio,    el-rei ao cumprimentar,
  16   fitando o conde, disse:    --Uma nova te vou dar.
     Matarás tua mulher    p`ra casares com minha filha.
  18   --Senhor, não farei isso,    senhor, não farei tal,
     tenho minha mulher moça,    meus filhos para criar.
  20   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Deixemo-nos de mais porfia.
     A cabeça nesta toalha    e o sangue nesta bacia.--
  22   Foi-se o conde para casa    muito triste em demasia.
     a condessa à roda dele    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  24   --Que tens, conde da minha alma?    Que tens, conde da minha vida?
     --El-rei te manda matar    p`ra casar com sua filha.
  26   --Não me mates, ó meu esposo,    que isso remédio teria;
     mete-me num convento    onde nem sol nem lua veria.
  28   --Mas se el-rei manda ir . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    
     a cabeça nesta toalha,    o sangue nesta bacia?--
  30   A mesa mandaram pôr,    nem um nem outro comia;
     as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
  32   --Dá cá aquele tinteiro,    mais aquela escrivaninha,
     quero escrever a meus pais    a desgraça duma filha.
  34   Dá cá aqueles meninos    p`ra mamarem umas gotinhas.
     Mamai, mamai, filhos meus,    esta mama de amargura,
  36   que hoje ainda tendes mãe    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     e amanhã, por estas horas,    estará na sepultura.
  38   Mamai, filhos, mamai, filhos,    esta mama amargurada
     que hoje ainda tendes mãe    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  40   e amanhã, por estas horas,    já deve estar sepultada.
     Mamai, filhos, mamai, filhos,    este leite de agonia,
  42   que amanhã tereis madrasta    da mais alta jerarquia.
     Assim corre este meu leite    por esta alva toalha,
  44   andarão os meus meninos    de vizinha em vizinha.
     Peço-te, meu marido,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  46   que não me matem com cutelo    nem coisa que faça sangue;
     matem-me com uma toalha    das mais finas que haveria,
  48   para acabar de ser    `ò uso da fidalguia.--
     Palavras que eram ditas    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  50   os sinos da Sé dobravam    e de preto se tingiam.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    Quem morreu, quem morreria?
  52   A filha do rei de Marrocos,    pelo mal que cometia,
     descasar os bem casados    é o que Deus não fazia,
  54   tirar a mãe a seus filhos    era a maior tirania.

Variantes: -6b omite te (1920); -8b omite o (1920).

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0503:110 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6704)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Elvas (c. Elvas, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Documentada en o antes de 1902. Publicada en Pires 1899-1902, (reed. facs. 1982), 166 e 168; Pires 1920, 77-81; Pires 1986, 78-80. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 749, pp. 440-441© Fundação Calouste Gulbenkian.  121 hemist.  Música registrada.

     Passeava dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando na sua guitarra    o melhor que sabia.
     Levantou-se o pai da cama    ao `strondo que ela fazia.
  4   --Que tendes, ó Silvana?    Que tendes, ó filha minha?
     --De três manas que nós somos    são casadas e têm família,
  6   e eu por ser a mais bonita,    por que razão ficaria?
     --Já corri a corte toda,    não há fidalgo de valia;
  8   havia o conde de Alarcos,    é casado e tem família.
     --Esse, esse, ó meu pai,    esse é o que eu queria;
  10   mande-o, meu pai, chamar    da sua parte e da minha.--
     Palavras que eram ditas,    à porta do conde batiam.
  12   --`Inda há pouco vim do paço    e já me mandam chamar!
     Se será para meu bem,    se será para meu mal!--
  14   --Estou às ordens de vossa alteza,    a mais alta senhoria.
     --Sabes, conde, o que te mando?    Que cases com minha filha.
  16   --Como matarei a condessa    se ela a morte não merecia?
     --Mata, conde, mata, conde,    não me voltes demasia,
  18   e traz-me a cabeça dela    nesta dourada bacia.
     Não ma tragas demudada    porque eu bem a conhecia.--
  20   Foi-se o conde para casa    muito triste em demasia;
     mandou fechar seus portões,    coisa que ele nunca fazia;
  22   mandou vestir seus criados    de luto à mouraria;
     manda condessa para a mesa,    que este é o último dia.
  24   Pôs-se o jantar na mesa,    nem um nem outro comia;
     as lágrimas eram tantas    que até os pratos enchia.
  26   --Que tendes tu, ó meu conde?    Que tendes, ó alma minha?
     --Cala-te, minha condessa,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  28   que se tu bem o souberas    de repente morrerias.
     Manda el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
  30   --Cala-te aí, ó meu conde,    que isso remédio teria,
     manda-me meter numa torre,    na mais alta que havia.
  32   --Isso não, ó condessa,    porque o rei logo o sabia.
     --Manda-me deitar ao mar    que as ondas me levariam.
  34   --Isso não, minha condessa,    que el-rei logo o saberia;
     manda lhe leve a cabeça    nesta maldita bacia;
  36   não lha leve demudada,    que ele bem te conhecia.
     --Deixa-me ir dar um passeio    da sala para o jardim.
  38   Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, tanque d` água fria,
     onde o rouxinol cantava    pela hora do meio-dia;
  40   adeus, meu copo de prata,    por onde eu água bebia.
     Deixa-me ir dar um passeio    da sala para a cozinha.
  42   Adeus, meus fiéis criados,    que a mim tanto me queriam.
     Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar.
  44   o que amanhã por esta hora    a tua mãe nova hás-de falar,
     com o chapeuzinho na mão    e o joelhinho no chão.
  46   Anda cá, filho mais novo,    que te quero dar de mamar,
     que amanhã, por estas horas,    vai tua mãe a enterrar.
  48   Mama, filho, mama, filho,    este leite amargurado
     que amanhã, por esta horas,    já teu pai `stará casado;
  50   mama, filho, mama, filho,    este leite de amargura
     que amanhã, por estas horas,    está tua mãe na sepultura.--
  52   O menino, que não falava,    que a idade o não permitia,
     mas o menino falou    e pela sua boca dizia:
  54   --Tocam os sinos em Mafra,    quem morreu, quem morreria?
     --Morreu a dona Silvana    pelo mal que queria,
  56   querer apartar casados,    o que Deus não permitia.--
     Tudo ficou assombrado    de o menino ouvir falar,
  58   à porta do seu palácio    um correio `stava a chamar,
     que suspendesse a morte    que à condessa queria dar.
  60   --Ajoelhai, ó meus filhinhos,    e a Deus vamos a pedir
     que perdoe os seus pecados    à que deixou de existir.--
Variante: -8a Alardos (1920).

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0503:111 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6705)

Versión de Tolosa (c. Nisa, dist. Portalegre, Alto Alentejo, Portugal).   Recitada por una mujer (unos 60a). Recogida 14/04/1931 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 212-213; Redol 1964, 635-636. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 750, pp. 441-442. © Fundação Calouste Gulbenkian.  062 hemist.  Música registrada.

     --Casai-me, meu pai, casai-me,    que a idade me obriga.
  2   --Tenho corrido mil terras    sem achar quem a queria,
     só achei o conde Lôro,    é casado, tem família.
  4   --Com esse, meu pai, com esse,    com esse é que eu queria.
     Mande-o, meu pai, chamar,    p`ra jantar connosco um dia.--
  6   -Que quer Vossa Real Majestade,    Vossa Real Senhoria?
     --Quero que mates a condessa    p`ra casar com minha filha.
  8   --P` ra que há-de matar condessa,    s` ela a morte não mer`cia?
     --Que me tragas a cabeça    numa mais fina bacia,
  10   c` uma toalha por cima    das mais finas qu` ela tinha.--
     Mandou vestir os criados    do maior luto que havia;
  12   mandou forrar o palácio    de luto à mouraria;
     mandou fazer o jantar    fingindo que comia;
  14   as lágrimas eram tantas,    que até o prato enchia.
     Deitou-se na sua cama    fingindo que dormia;
  16   os suspiros eram tantos,    que até a cama tremia.
     --Conta-me tu lá paixões,    que eu te conto alegria.
  18   --Como tas hei-de eu contar,    se elas são escontra ti?
     Que le levasse a cabeça    naquela negra bacia,
  20   c` uma toalha por cima    das mais finas que ela tinha.
     --Mama, filho, mama, filho,    mama leite d` amargura,
  22   teu pai se vai casar,    tua mãe p`r`à sepultura.
     Já me correm os meus leites    pelas minhas finas toalhas,
  24   cá fiquem os meus filhos    de madrasta em madrasta.
     Já me correm os meus leites    pelo mais fino gebão,
  26   cá fiquem os meus filhos    aos bocadinhos de pão!
     Mama, filho, mama, filho,    este leite d` agonia,
  28   amanhã, por estas horas,    terás madrasta de mais valia!--
     Tocam os sinos na Sé.    Ai Jesus! Quem morreria?
  30   Morreu a dona Infante    que casar com meu pai queria!
     Apartar um matrimómo    que tanto bem se queria!

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos a seguinte didascália: entre -29 e -30 Responde o menino a mamar.

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0503:120 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6714)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Alandroal (c. Alandroal, dist. Évora., Alto Alentejo, Portugal).   Recogida 00/03/1892 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 213-215; Redol 1964, 634-635. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 759, pp. 453-544. © Fundação Calouste Gulbenkian.  092 hemist.  Música registrada.

     Estando dona Silvana,    escada abaixo, escada acima,
  2   tocando no seu instrumento    que até a terra tremia,
     que até seu pai acordou    com o `strono que fazia!
  4   --Do que tens, ó minha filha?    De que tens tanta agonia?
     --Das sete manas que éramos    são casadas, têm família,
  6   eu por ser a mais bonita    por que razão ficaria?
     --Diz-me lá, ó minha filha,    com quem casar tu querias?
  8   Com o conde d` Alemanha?    É casado, tem família.
     --Com esse, meu pai, com esse,    com esse é que eu queria.--
  10   Indo logo nesse instante,    el-rei o mandou chamar,
     ou será para seu bem    ou será para seu mal.
  12   --Aqui me tem, real senhor,    aqui me tem Vossa Senhoria.
     Ind` agora de cá fui,    ainda nada me queria.
  14   --Quero que mates a condessa    p`ra casar` s co` a minha filha.
     --Como hei-de matar condessa,    se ela morte não merecia?
  16   --Mata, conde, mata, conde,    não me voltes demasia.
     Quero que me tragas a cabeça    naquela doirada bacia,
  18   não me a troques por outra,    que eu bem a conhecia.--
     Foi conde para palácio    todo cheio de agonia.
  20   Mandou fechar os portões,    coisa qu` ele nunca fazia;
     mandou vestir os criados    do maior luto que havia;
  22   mandou pôr a mesa,    mas o conde não comia;
     as lágrimas eram tantas,    que até os pratos enchiam.
  24   --O que tens, ó meu conde?    De que tens tanta agonia?
     --Quer el-rei que t` eu mate    p`ra casar co` a sua filha.
  26   --Vai-t` a dali, ó meu conde,    qu` isso remédio teria.
     Manda-me deitar ao mar,    que as ondas me levariam.
  28   --Isso não, ó condessa,    isso é qu` eu não faria.
     Quer el-rei que te eu mate,    p`ra casar co` a sua filha,
  30   quer que leve a cabeça    naquela malvada bacia.--
     As razões não eram ditas,    el-rei à porta batia:
  32   se a condessa não é morta,    que ele mesmo a mataria.
     --Deixa-me ir dar um passeio    da sala até à cozinha.
  34   Adeus, criados, adeus, criadas,    a quem eu tanto queria!
     Deixa-me ir dar um passeio    da sala até ao jardim.
  36   Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, flor do alecrim!
     Vem cá, meu filho mais velho,    que vos quero ensinar,
  38   que em tendo sua mãe nova,    como lhe há-de ir chamar.
     Mama, filho, mama, filho,    este leite amargurado,
  40   amanhã, por esta hora,    já teu pai será casado.
     Mama, filho, mama, filho,    este leite d` amargura,
  42   amanhã, por estas horas,    tua mãe na sepultura.--
     Tocam sinos em palácio,    novidades lá havia.
  44   Respondeu o menino de peito    qu` `inda falar não sabia:
     --Morreu dona Silvana    pelas traições que fazia,
  46   de apartar os bem casados,    coisa que Deus não queria!--

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Cantado num serviço de campo.

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0503:121 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6715)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Ourique (c. Ourique, dist. Beja, Baixo Alentejo, Portugal).   Documentada en o antes de 1911. Publicada en Dias 1911, 41-44. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 760, pp. 455-456. © Fundação Calouste Gulbenkian.  123 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Maria pelos    seus corredores acima,
  2   tocando na sua guitarra    com muito grande alegria,
     acordou el-rei seu pai    com o estrom qu` ela fazia.
  4   --O que tendes, filha minha?    O que tendes, dona Maria?
     --Tres irmãs que nós eramos,    so eu estou na solteiria.
  6   --Se eu não tenho com quem te case    com tamanha fantasia,
     só se o conde, conde,    é casado tem família.
  8   --Esse mesmo é que eu quero;    esse mesmo é que eu queria.
     Mande-o meu pai já chamar    pelos criados que havia.--
  10   `Inda agora chego da côrte,    já el-rei me manda chamar.
     Não sei se será p`ra meu bem,    `ò se será p`ra meu mal.
  12   --Que me quer Vossa Alteza?    Vossa Alteza que me queria?
     --Quero que mate a condessa    p`ra casar com dona Maria.
  14   --A condessa não mato eu,    que ela a morte não merecia,
     mandarei-a para os pais,    que eles `inda a aceitaria.
  16   --Mata conde, mata conde,    não me tornes demasia.
     Traz-me a cabeça,    nesta dourada bacia,
  18   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    antes duma ave-maria.
     --Mandarei-a p`ró convento,    onde estão nas recolhidas.
  20   --Isso não quero eu, conde,    que é deshonra p`r`à minha filha.
     Mata conde, mata conde,    não me tornes demasia.
  22   Traz-me a cabeça,    antes duma ave-maria,
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    dentro desta bacia.
  24   --Mandarei-a deitar ao mar,    onde os peixes a comeria.
     --Isso não quero eu, conde,    que é deshonra p`r`à minha filha.
  26   Mata conde, mata conde,    não me tornes demasia.
     Traz-me a cabeça,    nesta dourada bacia,
  28   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    antes duma ave-maria.--
     Mandou vestir o palacio de luto    e pôr tudo à mouraria,
  30   e mandou pôr a sua mesa,    só p`ra fingir que comia,
     mas as lágrimas eram tantas,    pela toalha corria.
  32   --Conta, conde, da tua agonia,    assim como contavas da tua alegria.
     Ó conde, que já não és    como dantes d` algum dia!
  34   --Se eu te fosse a contar,    condessa como não ficaria.
     El-rei que mandou chamar    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  36   p`ra matar a condessa    e casar com dona Maria.
     --Mandarás-me p`r`òs meus pais,    que eles ainda me aceitaria.
  38   --Isso lhe disse eu,    e ele disse que não queria,
     que trouxesse a cabeça    nesta condenada bacia,
  40   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    antes duma ave-maria.
     --Mandarás-me p`ró convento    onde estão nas recolhidas.
  42   --Tudo isso lh` eu lá disse    e ele disse que não queria,
     que trouxesse a cabeça    nesta condenada bacia,
  44   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    antes duma ave-maria.
     --Mandarás-me deitar ao mar,    onde os peixes me comeria.
  46   --Tudo isso lh` eu lá disse,    e ele disse que não queria,
     que trouxesse a cabeça    nesta condenada bacia,
  48   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    antes duma ave-maria.--
     Razões não eram ditas,    el-rei à porta batia:
  50   se a condessa não é morta,    ele já a mataria.
     --A condessa não é morta,    mas já está nessa agonia.
  52   --Deixa-me ir dar um passeio    da sala até ao jardim,
     adeus cravos, adeus rosas,    meu raminho d` alecrim.
  54   Deixa-me ir dar um passeio    do jardim até à cozinha,
     adeus criados e criadas,    ó aias que foram minhas.
  56   Deixa-me ir buscar meu filho    que lhe quero dar de mamar,
     mamai filho, mamai filho,    esta pinga de amargura,
  58   que amanhã, por esta hora,    está tua mãe na sepultura.
     Mamai filho, mamai filho,    este pingo de Veneza,
  60   que amanhã, por estas horas,    já és filho da princesa.
     Mamai filho, mamai filho,    este pingo amargurado,
  62   que amanhã, por esta hora,    já teu pai é rei c`roado.--
     Tocam-se os sinos da Sé.    Ai! Jesus! Quem morreria?
  64   Morreu o rei, mais dona Maria,    que tal ofensa fazia,
     queria desapartar um casal,    era coisa que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos a seguinte didascália: entre -63 e -64 E o menino de nove meses respondeu.

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0503:75 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6669)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Nave de Haver (c. Almeida, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1957. Publicada en Reinas 1957, 414-416 (véase también la transcripción `normativa`). Reeditada en Galhoz 1987-1988, 194-196 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 714, pp. 398-401. © Fundação Calouste Gulbenkian.  114 hemist.  Música registrada.

     Stando don` Istifânia    num corredor que tinha,
  2   tocando numa guitarra    e nos modos que nala se via.
     Acurdô sê pai dum sono,    dum son` ainhe que drumia.
  4   --Que tainhes tu ó, dn` Istifânia?    Que tainhes tu, i ó filha minha?
     --De tras irmãs que nós áramos,    stão casadas tainhaim família,
  6   só i é por sêr a mai fremosa    por que rezão ficaria?
     --Nu atcho conde nainhe duqui,    nainhe palácio que me sirva,
  8   só atcho cond` Ilardo    ia casado tainhe família.
     Iássi masmo, i ó mê pai,    iassi masmo iá qu` ê q` ria,
  10   mande-m` o cá tchamara,    pur su boca ó pla minha.--
     Palavras nu i áram ditas,    Cond` Ilard` à porta batia.
  12   --Ó Côndi mat` à cundassa,    pra casar c` a nha filha.
     --A cundassa nu na mato,    qu` ála morti nu na mercia,
  14   mando-a pra mês pais    qu` inda ma le àceitariam.
     --Isso nu poidia sara,    iali casado iála viva.
  16   --Meterai-n` ma tôrri mais alta    qu` a maravilha,
     darei-l` a quemida por onças    e a auga pur midida.--
  18   Abalô pra su casa,    cum tristes miles agonias.
     Mandô fitchar os purtoinhos,    coisa que nunca fazia,
  20   mandô vistir os criados,    de preto à moiraria.
     --Cundassa faç-mi a ceia,    qu` ê morto de fómi vênho.--
  22   Cundassa pôs-l` i a ceia    e dom condi nu quemia,
     c` u as lágrimas dos sés olhos    o sê prato intcheria.
  24   --Cundassa faç-mi a cama.    E dom côndi nu drumia.
     --Que tainhes tu lá, ó dom côndi,    ainhe que tê prato tu trarias?
  26   Canhe vem de casa d` al-rei    al` ma nova traria.
     --C` me cáres t` ê diga, cundassa,    c` me cáres t` ê diga qu`rida?
  28   Mand` al-rei que te màti    e que càsi cum su filha.
     --Cal-te lá, dom côndi,    que nada disso saria!
  30   --Avia-te lá, cundassa,    avia-te lá qu`rida.
     Stá o prato i à porta    `àgordar c` uma bacia.
  32   --Mama, mê filho, mama,    nu deixes nainhuma pinga,
     qu` amenhê, por astas horas,    já tu mainhi à raínha.
  34   Mama, mê filho, mama,    nu deixes nainhuma gota,
     qu` amenhê tê pai    já recebê oitra.
  36   --Avia-te lá, cundassa,    avia-te lá qu`rida,
     stá i o prato i à porta    `àgordar c` uma bacia.--
  38   E o tempo vai passando    e as horas stão cumpridas.
     --Manda-me tchamar o filho    mai valho que le caro inxinar,
  40   cando vir a su mainhe nova    cumo li há-de falara.
     Manda-me tchamar o filho    mai novo que le caro inxinara,
  42   cando vir a su mainhe nova    cumo li há-de falara.
     --Avia-te lá, cundassa,    avia-te lá qu`rida,
  44   Stá i o prato i a porta    `ágordar c` uma bacia.--
     O tampo vai passando    e as horas stão cumpridas
  46   --Deixa-me dar um passeio    da sala par` ò jardinhe.
     Adeus cravos, adeus rosas,    tambainh` a flor do alecrinhe.
  48   Deixa-me dar um passeio    da sala par` à cozinha,
     adeus criados, adeus criadas,    e mai la canh` ê tanto qu`ria.
  50   --Avia-te lá, cundassa,    avia-te lá qu`rida,
     Que stá o prato i à porta    àgordar c` uma bacia.--
  52   O tempo stá passando    e as horas stão cumpridas.
     --Deixa-me dizer m` òração,    m` òração qu` ê sabia,
  54   al-rei nu viva tras horas    e su filha nainh` um dia.--
     Tocam sinos im palácio.    Ai Jasus! Canhe morreria?
  56   Morrê don` Istifânia,    p`las traições que fazia,
     qu` ri àpartar casamentos    coisa que Deus nu qu`ria.

Variantes anotadas en RºPortTOM 2001: Por se tratar de uma versão cuja transcrição tenta `representar` a fonética da área onde foi recolhida, optámos por apresentar, a seguir, uma fixação `normativa` ( pte. b) da mesma, a fim de se tornar mais compreensível.

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0503:76 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6670)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Lajeosa (c. Celorico da Beira, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una rapaza. Documentada en o antes de 1929. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 198-199. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 715, pp. 401-402. © Fundação Calouste Gulbenkian.  065 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocava numa guitarra,    que tão bem a retinia.
     Acordou seu pai da cama    com o som que ela fazia.
  4   --Que tens tu, dona Silvana?    Que tens tu, ó filha minha?
     De três irmãs que eu tinha    são casadas, têm familia,
  6   e eu por ser a mais formosa    por que razão ficaria?
     --Não há aqui ninguém nas cortes    p`ra ti, filha, serviria,
  8   há o conde da Alemanha,    é casado, tem familia.
     --Mande-o lá chamar, meu pai,    da sua parte e da minha,
  10   que mate o conde a condessa    p`ra casar com Silvaninha.
     --Que me quer o senhor rei,    e a princesa, sua filha?
  12   --Que mates, conde, a condessa    p`ra casar` s com filha minha.
     --Como a hei-de matar, senhor,    se eu razão não teria?
  14   Antes a qu`ria levar    ao convento de Leiria,
     estão lá suas manas,    algum bem lhe lá fariam.
  16   --Mata-a, conde, a condessa,    antes de uma ave-maria,
     traze-m` aqui a cabeça    nesta doirada bacia.--
  18   --Que te qu`ria o senhor rei,    a princesa, a sua filha?
     --Que te matasse, condessa,    p`ra eu casar com Silvaninha,
  20   que lhe levasse a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Dá-me d` além o rosário,    rezo-o em minha agonia.
  22   --Deixa lá `star o rosário,    porque alguém o rezaria.
     --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha,
  24   adeus, criados e criadas,    adeus, tanque d` água fria!
     Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
  26   vais ter uma mãe nova,    como a hás-de chamar.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    Co` o chapeuzinho na mão:
  28   «Minha mãezinha nova,    deite-me a sua benção».
     Mama, mama, meu menino,    este leite d` amargura,
  30   amanhã, por estas horas,    já eu `stou na sepultura.--
     Tocam os sinos nas cortes.    Ai Jesus! Quem morreria?
  32   Morreu a dona Silvana    qu` ela a morte a merecia,
     afastar os bem casados,    coisa que Deus não queria.

Nota de J. L. Vasconcelos: -14b Pronunciou Leria.

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0503:77 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6671)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Rapa e Cadafaz (c. Celorico da Beira, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 199-200; Redol 1964, 637-638. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 716, pp. 402-403. © Fundação Calouste Gulbenkian.  080 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   com uma guitarra na mão,    que tão bem a cingia.
     Seu pai estava em altas torres,    mesmo assim lá ouvia.
  4   --Que tens tu, ó Silvana?    Que tens tu, ó filha minha?
     --Que hei-de ter, senhor meu pai?    Que hei-de ter por vida minha?
  6   Sete manas que nós éramos    são casadas, têm família,
     eu, por ser a mais formosa,    por que razão ficaria?
  8   --Não tenho com quem te case,    com gente que iguale a minha,
     só sendo com o conde d` Elvas.    É casado, tem família.
  10   --Com esse mesmo, ó meu pai,    esse mesmo é que eu queria.
     Mande-o chamar, meu pai,    à sua parte e à minha.--
  12   Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --Que me quer Vossa Alteza?    Que me quer Vossa Senhoria?
  14   --Quero que mates condessa    p`ra casares com minha filha.
     Traz-me aqui a cabeça    nesta doirada bacia.--
  16   O conde foi para casa    muito triste, em agonia,
     mandou fechar portas e janelas,    cousa que ele nunca fazia,
  18   mandou vestir os criados    de luto à moiraria.
     --Conta-me tu, meu bom conde,    conta-me a tua agonia.
  20   --Se t` eu contar a tristeza,    tu para trás cairias.
     --Não cairia, não, ó conde,    que eu alguns ânimos teria.
  22   --Manda el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha,
     e que lhe leve a cabeça    nesta maldita bacia.
  24   --Cala-te lá, ó meu bom conde,    que isso bom remédio tinha,
     leva-me a casa de meus pais    que me aceitam como sua filha.
  26   --Isso não, condessa, não,    que ele o rei o saberia.
     --Manda-me ir lançar ao mar,    que os peixes me comeriam.
  28   --Isso não, condessa, não,    que ele o rei o saberia.
     --Deixa-me ir dar um passeio    da sala para o jardim,
  30   adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, flor de alecrim!
     Deixa me ir dar um passeio    da sala para a cozinha,
  32   adeus, criados e criadas,    criada, a quem tanto queria!
     Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
  34   em tu tendo outra mãe nova    como lhe hás-de ir falar.
     Deita o joelhinho em terra,    o bonézinho na mão,
  36   «Ó madrasta, ó tia,    bote-me cá a sua benção».--
     Tocam os sinos em Mafra.    Ai Jesus! Quem morreria?
  38   Um menino de sete meses    do berço respondia.
     --Morreu a dona Silvana    e d`el-rei e sua filha,
  40   queria apartar os bem casados,    que era cousa que Deus não queria.--

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0503:78 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6672)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Lajeosa (c. Celorico da Beira, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una mujer que lo aprendió hacia 1900. Recogida 00/00/1930 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 201-202. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 717, pp. 403-404. © Fundação Calouste Gulbenkian.  083 hemist.  Música registrada.

     Andando dona Silvana    pelo corredor a passear,
  2   com uma guitarra na mão,    tocava até retinar.
     Co` o estrondo qu` ela fazia    seu pai fez acordar.
  4   --Que é isso, ó Silvana?    Que é isso, ó filha minha?
     --Que há-de ser, ó meu pai?    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  6   Sete manas que eu tive    são casadas, têm família,
     eu por ser a mais donzela    por que razão ficaria?
  8   --Não há por aqui quem te sirva    a tão alta soberania.
     `Stá o conde da Alemanha,    é casado, tem família.
  10   --Mande-o lá chamar, meu pai,    da sua parte e da minha,
     para cumprir suas ordens    tudo se arranjaria.--
  12   El-rei o mandou chamar.    Ele, que de nada sabia,
     com a notícia que lhe deu,    muito triste ficaria.
  14   --Que me queres tu, ó rei,    da parte da tua filha?
     --Quero que mates a condessa    p`ra casar` s com Silvaninha.
  16   Quero que me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
     O conde foi para casa,    triste como ele ia!
  18   A sua senhora lhe tinha    a mesa posta à maravilha.
     Conde sentou-se à mesa,    mas comer que não comia.
  20   As lágrimas eram tantas,    já pela mesa corria.
     --Que tens tu, conde Albano?    Conta-me a tua agonia.
  22   --Se ta eu fosse a contar,    um desmaio te daria.
     --Não dava, não, meu marido,    conta-me a tua agonia.
  24   --Manda dizer el-rei    p`ra casar com Silvaninha.
     Quer que leve tua cabeça    nesta maldita bacia.
  26   --Deixa-me ir a despedir    da sala para o jardim.
     Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, flores de jasmim!
  28   Deixa-me ir a passear    da sala para a cozinha.
     Adeus, criados e criadas,    a quem tanto amor eu tinha!
  30   Mama, mama, meu menino,    este leite de pesar,
     amanhã por estas horas    já me vão a enterrar.
  32   Mama, mama, meu menino,    este leite de amargura,
     amanhã por estas horas    já eu `stou na sepultura!
  34   Mama, mama, meu menino,    este leite de paixão,
     amanhã por estas horas    já outra mãe te dá pão!
  36   Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
     amanhã já tens mãe nova,    como lhe há-des falar.
  38   Deitas o joelho em terra,    co` o bonèzinho na mão:
     «Bom dia minha mãe nova,    deite-ma sua benção».--
  40   Tocam-se os sinos em Roma.    Quem morreu, quem morreria?
     Morreu a filha do rei,    e a condessa ficou viva.
  42   qu`ria s` apartassem os casados    coisa que Deus não qu`ria!

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0503:79 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6673)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Celorico da Beira s. l. (c. Celorico da Beira, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1911. Publicada en Furtado de Mendonça 1911, 6-9. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 718, pp. 404-406. © Fundação Calouste Gulbenkian.  116 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    por um corredor acima,
  2   a tocar numa guitarra,    oh, que tão bem a tangia!
     Acordou seu pai e mãe,    c` o estrondo que fazia.
  4   --Que é isso, ó Silvana?    Que é isso, ó minha filha?
     --Que há-de ser, senhor meu pai?    Que há-de ser por vida minha?
  6   De sete irmãs que nós éramos,    são casadas tem família,
     eu, por ser a mais formosa,    também casada me queria.
  8   --Não tenho com quem te case,    com gente igual à minha,
     só sendo com conde d` Elvas.    é casado, tem família.
  10   --Com esse, meu pai, com esse,    com esse é que eu ficaria,
     mande-o chamar meu pai    da sua parte e da minha.--
  12   Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --Que é isso, Vossa Alteza?    Que é isso, senhoria?
  14   --Quero que mates condessa,    p`ra casares com minha filha.
     --Como hei-de eu matar condessa,    se ela a morte não merecia?
  16   --Mata, conde, mata, conde,    não me voltes demasia,
     e traz-me aqui a cabeça    nesta dourada bacia.--
  18   O conde foi p`ra palácio,    com tristeza e agonia,
     mandou vestir os criados    de preto à mouraria,
  20   fechou portas e janelas,    cousa que nunca fazia.
     --Que tens tu, ó meu bom conde?    Que tens tu, ó alma minha?
  22   Dá-me da tua tristeza,    dar-te-hei da minha alegria.
     --Se ta eu fôra a contar,    de repente morreria.--
  24   Mandou-lhe acender o lume    que ele morto de frio vinha.
     Mandou-lhe acender o lume,    ele frio não no tinha.
  26   --Que é isso, ó meu bom conde?    Que tens tu, ó alma minha?
     Conta-me a tua tristeza,    contar-te-hei minha alegria.
  28   --Se ta eu fôra a contar,    de repente morreria.--
     Mandou-lhe pôr de jantar    que ele morto de fome vinha.
  30   Mandou-lhe pôr de jantar,    ele fome não na tinha.
     --Que tens tu, ó meu bom conde?    Que tens tu, ó vida minha?
  32   Conta-me a tua tristeza,    contar-te-hei minha alegria.
     --Se ta eu fôra a contar,    de repente morreria.--
  34   Mandou-lhe fazer a cama    que ele morto de sono vinha.
     Mandou-lhe fazer a cama,    ele dormir não podia.
  36   --Que tens tu, ó meu bom conde?    Que tens tu, ó vida minha?
     Conta-me a tua tristeza,    contar-te-hei minha alegria.
  38   --Se ta eu fôra a contar,    de repente morreria,
     el-rei te manda matar,    p`ra casar com a sua filha,
  40   que lhe levasse a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Manda-me deitar ao mar    que as ondas me encobririam.
  42   --Isso não, condessa, não,    que isso el-rei o saberia.
     --Põe-me em casa de meus pais    que eles me lá aceitariam.
  44   --Isso não, condessa, não,    que isso el-rei o saberia.
     --Deixa-me ir dar um passeio    da sala para a cozinha,
  46   adeus, criados e criadas,    criada a quem tanto queria.
     Deixa-me ir dar um passeio    da sala para o jardim,
  48   adeus, cravos, adeus rosas,    adeus flor do alecrim!
     Anda cá filho mais velho    que te quero ensinar,
  50   em tendo tua mãe nova,    como lhe deves falar.
     Põe o joelho em terra    e chapeuzinho na mão:
  52   «Ó minha madrasta ou tia,    deite-me a sua benção».
     Mama, mama, meu menino,    este leite amargurado,
  54   amanhã, por estas horas,    tua mãe `stará no adro!
     Mama, mama, meu menino,    este leite de aflição,
  56   amanhã, por estas horas,    outra mãe te dará pão.--
     Tocam os sinos à pressa.    Ai, Jesus! Quem morreria?
  58   Morreu a dona Silvana    e seu pai ao meio-dia.

Variantes: -7b porque razão ficaria?; -22 Conta-me a tua tristeza, contar-te-hei minha alegria.

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0503:80 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6674)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Fornos de Algodres (c. Fornos de Algodres, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 195-197. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 719, pp. 406-408. © Fundação Calouste Gulbenkian.  110 hemist.  Música registrada.

     Vindo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra    dos melhores toques que havia,
     acordou seu pai da cama    com o estrondo que fazia.
  4   --Que tens tu, dona Silvana?    Que tens tu, ó filha minha?
     --De três manas que eu tinha    estão casadas, têm família,
  6   eu, por ser a mais formosa,    por que razão ficaria?
     --Ainda não havia palácios,    nem palácios ainda havia,
  8   pois vê tu, ó minha filha,    o homem que te servia.
     --Está o conde da Alemanha.    --É casado, tem família.
  10   --Mande-lhe, meu pai, falar,    da sua parte e da minha,
     eu lhe diria uma palavra    e ele para mim se voltaria.--
  12   Nesta questão em que estavam,    conde de Alemanha a chegar.
     --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
  14   --Quero que jantes comigo    um bocado de galinha.
     --Que quer Vossa Majestade?    O coração me adivinha.
  16   --Quero que mates a condessa    para casares com Silvaninha.
     --A condessa não a mato,    ela a morte não merecia!
  18   --Mata, conde, mata, conde,    antes de uma ave-maria!
     E traz-me aqui a cabeça    nesta dourada bacia.--
  20   Ele volta para casa,    muito triste em demasia,
     mandou vestir seus criados    de luto à mouraria,
  22   fechou portas e janelas,    o que dantes não fazia.
     Mandou pôr a sua mesa,    para fazer que comia,
  24   as lágrimas eram tantas,    que pela mesa corriam.
     A condessa, que o viu triste,    desta sorte [lhe dizia] .
  26   --Que tens tu, conde da Alemanha?    Ó homem da minha vida,
     conta-me as tuas tristezas,    que eu te conto alegrias.
  28   --Minhas tristezas não tas conto,    que a morte te custaria.
     --Conta, conde, conta, conde,    essa tão grande agonia!
  30   --Se to contasse, condessa,    por tuas mãos te matarias!
     --Conta, homem de minh` alma,    essas tão grandes agonias!
  32   --El-rei me mandou chamar    para casar com sua filha,
     que levasse a tua cabeça    nesta maldita bacia.
  34   --Não me mates com cutelo,    que é morte muito dorida,
     mata-me com uma toalha    das mais finas que eu tinha.
  36   Dá-me cá esse rosário    para rezar por alma minha!
     --Se tu agora não rezasses,    cá fica quem rezaria.
  38   --Dá-me cá esse menino para mamar    este leite d` amargura,
     que amanhã, por estas horas,    estarei na sepultura.
  40   Mama, mama, meu menino,    não deixes cá uma pinguinha,
     que amanhã, por estas horas,    tua mãe é Silvaninha.
  42   Mama, mama, meu menino,    este leite de pasta,
     que hoje ainda tens mãe,    amanhã já tens madrasta.
  44   Deixa-me dar um passeio    da sala para o balcão,
     adeus, criados, adeus, aias,    adeus, rosas do Japão!
  46   Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha,
     adeus, criados, adeus, aias,    espelho onde me eu via!
  48   Adeus, homem da minha alma,    marido do coração,
     fecha dentro do teu peito    a nossa amarga paixão.--
  50   Pois, a dar esta palavra,    o sino na Sé se sentia,
     o coração da condessa    logo pulou de alegria.
  52   O marido respondeu,    desta sorte lhe dizia.
     --Tocam-se os sinos na Sé.    Ai Jesus! Quem morreria?
  54   --Morreu a dona Silvana    por o pecado que cometia,
     queria apartar as casadas,    coisa que Deus não queria!--
Nota de J. L. Vasconcelos: -25b O colector escreveu: desta sorte lhe responde / e o seguinte lhe dizia.

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0503:81 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6675)

Versión de Monte Novo (c. Sabugal, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1884. Publicada en Leite de Vasconcellos 1884-1885, 84-85. Reeditada en Leite 1985, 220-221 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 720, p. 408. © Fundação Calouste Gulbenkian.  053 hemist.  Música registrada.

     Ainda agora vim do Paço,    el-rei me mandou chamar,
  2   `ò será para meu bem,    `ò será para meu mal!
     Entrei pelo paço adentro,    fazendo mil cortezias,
  4   beijei a mão a Suas Altezas    e a Suas Reais Subranias.
     --Conde, maitai a condessa,    para casares com a minha filha.
  6   --A condessa ainda é moça,    a morte me não mer`cia.
     --Não me voltes a mim trouco,    nem tão-pouco a demasia.--
  8   Ia o conde para casa    em uma grande agonia.
     A mesa estava posta,    nem um, nem outro comia.
  10   --Não me dirás, ó meu conde,    não me dirás, alma minha?
     El-rei te mandou chamar,    não me dirás o que te q` ria?--
  12   As lagrimas eram tantas,    que pela casa corriam.
     --Não me dirás, ó meu conde,    não me dirás, alma minha?
  14   El-rei te mandou chamar,    não me dirás o que te q` ria?
     --El-rei te mandou matar,    para eu casar com a sua filha.
  16   --Não me mates, ó meu conde,    não me mates, alma minha!
     Deixa-me o menos criar    a menina mais pequenina!
  18   Mamai, ó filha, mamai,    este leite de amargura!
     A vossa mãe hoje é viva,    amanhã irá na tumba!--
  20   Palavras não eram ditas,    el-rei que à porta batia.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Já a mataste, alma minha?
  22   --Ainda não a matei, meu senhor,    mas estou nessa grande agonia.
     --Se ainda não a mataste,    eu mui` bem te ajudaria.
  24   Palavras não eram ditas,    os sinos que se dobravam.
     --Ai Jesus! Quem morreria?    Respondeu uma voz do céu.
  26   --Morreu a filha d`el-rei,    pelo crime em que caía;
     descasar os bem-casados,    coisa que Deus não q` ria.--

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0503:82 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6676)

Versión de Trancoso (c. Trancoso, dist. Guarda, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una vieja. Recogida 00/00/1909 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 197-198. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 721, pp. 409-410. © Fundação Calouste Gulbenkian.  085 hemist.  Música registrada.

     --Meu pai, eu queria-me casar.    --Não há pessoa igual à tua,
  2   só sendo co` o conde Lardo.    --Esse é que me convinha,
     que já me viu em anágua    debaixo da verde olia.
  4   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Esse é casado e tem família.
     --Mande, meu pai, fazer um banquete,    que s` ajunt` a fidalguia,
  6   `ò levantar das toalhas    eu mesmo lhe falaria.
     --Conde Lardo, vai p`ra casa,    vai matar a condessinha;
  8   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    paga a honr` à minha filha,
     que já a viste em anáguas    debaixo da verd` olia,
  10   e traz-m` a sua cabeça    nesta mais nobre bacia.--
     Conde Lardo foi p`ra casa,    muito triste que ele ia,
  12   mandou fichar as janelas,    coisa que nunca fazia,
     mandou vestir as criadas    do maior luto qu` havia.
  14   --Que tens tu, ó conde Lardo?    Que tens tu, ó vida minha?
     Conta-m` a tua tristeza,    já que me contas a alegria.
  16   --Manda-me dar de cear    qu` isto é fome qu` eu trazia.--
     As lágrimas eram tantas,    qu` até os pratos enchia!
  18   --Que tens tu, ó conde Lardo?    Que tens tu, ó vida minha?
     Conta-m` a tua tristeza,    já que me contas a alegria.
  20   --Manda-me fazer a cama,    qu` isto é sono qu` eu trazia.--
     As lágrimas eram tantas,    que pelos lençóis corriam.
  22   --Que tens, ó conde Lardo?    Que tens, ó vida minha?
     Conta-m` a tua tristeza,    já que me contas a alegria.
  24   --Manda-me el-rei que te mate,    que te venha tirar a vida,
     que leve tua cabeça    nesta maldita bacia,
  26   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    p`ra casar com sua filha,
     só pela ver em anágua    debaixo da verde olía.
  28   --Cala-te lá, conde Lardo,    qu` isso remédio teria,
     manda-me meter num convento    chamado Santa Maria,
  30   nem nos bichinhos do monte    de mim mais novas dariam!
     --Como poderá isso ser,    eu casado e tu viva?
  32   --Pois dá-me cá um alfange,    qu` eu mesmo me mataria,
     mas deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha:
  34   adeus, moças, adeus, aias,    a quem eu tanto bem queria!
     Adeus, ispelho do norte,    adonde m` eu revestia!
  36   Ó meu menino mais velho,    a bênção te deitaria,
     se chamares à condessa    não madrasta, senão tia.
  38   Mama, meu menino mais novo,    este leite d` amargura,
     hoje mama-lo em mim,    amanhã na sepultura.--
  40   Desceu um anjo do céu,    muito alegre que ele vinha!
     --Não mates a condessinha    qu` ela a morte não mer`cia!--
  42   Tocam os sinos na Sé.    Ih! Jasus! Quem morreria?
     --Morreu o rei e a filha    por outra qu` ele fazia,
  44   descasar os bem casados,    coisa que Deus não queria.--

Nota de J. L. Vasconcelos: -43b outra ~ morte.

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0503:83 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6677)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Cinfães (c. Cinfães, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 185-186. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 722, pp. 410-411. © Fundação Calouste Gulbenkian.  059 hemist.  Música registrada.

     Estando dona Silvana    tocando sua guitarra,
  2   c` o estrondo que ela fazia    até seu pai acordou.
     --Tu que tens, ó minha filha?    Tu que tens, ó filha minha?
  4   --De sete manas que éramos    todas sete têm família,
     só eu, por ser a mais nova,    por que causa ficaria?
  6   Só o conde de Almeida,    só esse me servia,
     mande-o chamar, meu pai,    chame-o a toda a pressa.--
  8   O rei mandou chamar.    --Que quer, Real Alteza?
     --Que mates tua Maria    p`ra casares com minha filha,
  10   que me mandes a colada    nesta dourada bacia.--
     Foi o conde para casa,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12   mandou fechar sua janela,    cousa que nunca fez.
     Deitou-se na sua cama,    só para ver se dormia,
  14   os suspiros eram tantos,    que até o leito tremia.
     --Tu que tens, ó home` meu?    Tu que tens, ó meu marido?
  16   --Mandou o rei do palácio    que te matasse, ó Maria,
     e que lhe mandasse a colada    nesta maldita bacia.
  18   --Não me mates, home` meu,    não me mates, ó meu marido,
     só te peço, home` meu,    que me metas na recolhida,
  20   e me dês o pom por onça    e a água por medida.
     Mama, mama, meu menino,    neste leite de pesar,
  22   amanhã, por estas horas,    `stão nos sinos a tocar.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de paixoú,
  24   amanhã, por estas horas,    `stá tua mãe no caixoú.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de amargura,
  26   amanhã, por estas horas,    `stá tua mãe na sepultura.
     Adeus, moças, adeus, aias,    adeus, tanques d` água fria,
  28   adeus, jardim das flores,    onde m` eu adevertia!--
     Tocom nos sinos na Sé.    Ai Jesus! Quem morreria?
  30   Foi a filha do rei,    p`la morte que cometia.

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0503:84 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6678)

Versión de Oliveira (c. Cinfães, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1950. Publicada en Pereira 1950, 389. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 723, p. 411. © Fundação Calouste Gulbenkian.  004 hemist.  Música registrada.

     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Nana, nana, meu menino,    este leite de amargura,
  2   que amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe na sepultura.--

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Inclui, num conjunto de quadras, estes dois versos.

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0503:85 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6679)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Vilar Seco de Nelas (c. Nelas, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una rapaza. Recogida 31/08/1930 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 193-194; Redol 1964, 647-648. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 724, pp. 411-412. © Fundação Calouste Gulbenkian.  070 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvaninha    pelo seu corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    muito bem, à maravilha,
     acordou seu pai da cama    com o estrondo que fazia.
  4   --Que tens tu, dona Silvana?    Que tens tu, ó filha minha?
     --Três filhas que o meu pai    tem já todas têm família,
  6   eu por ser a mais formosa    não sei por que razão ficaria.
     --Só sendo condes d` Alberto.    É casado, tem família.
  8   --Papázinho da minh` alma,    esse mesmo é que eu queria.--
     Mandou chamar o conde    pel` um criado que havia,
  10   estavam nesta conversa,    o conde à porta batia.
     --Quero que mates condessa    entre uma ave-maria,
  12   que me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.
     --Eu condessa não a mato,    qu` ela a morte não merecia.--
  14   O conde foi para casa    pensando no que faria.
     Mandou fazer a sua cama    p`ra fingir que dormia,
  16   mas os ais eram tantos,    que pela casa corriam.
     Mandou pôr a sua mesa    p`ra fingir que comia,
  18   mas os ais eram tantos,    que pela casa corriam.
     --Que tens tu, condes d` Alberto?    Conta-m` a tua agonia.
  20   --Se eu ta fosse a contar,    maior pena te causaria,
     o rei disse que te matasse    entre uma ave-maria.
  22   --Ó conde, tu não me mates,    mete-me na escuridão,
     onde não veja sol nem lua,    nem teu leal coração.
  24   Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha,
     adeus, criados, criadas,    vai morrer quem tanto vos qu`ria.
  26   Dai-m` o menino mais velho,    que o quero pentear,
     dai-me também o mais novo,    que lhe quero dar de mamar.
  28   Mama, mama, meu menino,    este leite d` aflição,
     amanhã, por estas horas,    tua mãe `stá no caixão.
  30   Mama, mama, meu menino,    este leite d` amargura,
     amanhã, por estas horas,    `stá tua mãe na sepultura.--
  32   Tocam os sinos na Sé.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Diz o menino mais novo    que `inda falar não sabia.
  34   --Morreu a dona Silvana,    com as traições que fazia.
     qu`ria apartar os casados,    coisa que Deus não queria!--

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0503:86 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6680)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Vilar Seco de Nelas (c. Nelas, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una mujer de edad mediana. Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 194-195; Redol 1964, 639. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 725, pp. 412-413. © Fundação Calouste Gulbenkian.  064 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra    a melhor moda que sabia,
     acordou seu pai de dormir    co` o estrondo qu` ela fazia.
  4   --Que tens tu, ó minha filha?    Que tens tu, ó filha minha?
     --De três manas que nós éramos    `stão casadas, têm família,
  6   eu, por ser a mais formosa,    eu ao canto ficaria.
     --Já não há com quem te casar,    Silvaninha, filha minha,
  8   `stá o conde da Alemanha,    `stá casado, tem família.
     --Com esse, meu pai, com esse,    com esse é que eu queria,
  10   mande-o, meu pai, chamar    da sua parte e da minha.--
     Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
  12   --Aqui `stou, real senhor,    aqui `stou, real senhoria.
     --Quero que mates condessa    p`ra casar` s com minha filha.
  14   --Eu condessa não a mato,    qu` ela a morte não merecia.
     --Mata, conde, mata, conde,    não me tornes demasia,
  16   traz-me aqui a cabeça    nesta dourada bacia.--
     O conde foi muito triste    para casa, agoniado.
  18   A condessa le perguntou:    --Que tens tu, ó bom conde?
     --Se t` eu contasse minhas tristezas,    ficavas mais morta qu` a viva.
  20   Mandou-me chamar o senhor rei    que te matasse p`ra casar com sua filha.
     --Deixa-me dar um passeio    da sala até o jardim,
  22   adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, flores do alecrim.
     Deixa-me dar um passeio    da sala até à cozinha,
  24   adeus, ó minhas criadas,    com quem m` eu adevertia.
     Mamai, mamai, meu menino,    este leite amargurado,
  26   amanhã por estas horas    `stá teu pai um rei c`roado.
     Mamai, mamai, meu menino,    este leite d` amargura,
  28   qu` amanhã por estas horas    `stá tua mãe na sepultura.--
     Menino de sete meses    ao colo da mãe dizia.
  30   --Tocam-se os sinos em Braga.    Ai Jesus! Quem morreria?
     --Morreu a dona Silvana,    pela traição que fazia,
  32   qu`ria apartar os casados,    coisa que Deus não queria.--

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0503:87 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6681)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Penedono (c. Penedono, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recitada por Etelvina Neves (60a). Recogida por Edite da Silva Neves, publicada en Silva Neves 1959, 243; Galhoz 1987-1988, I, 193. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 726, pp. 413-414. © Fundação Calouste Gulbenkian.  024 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    p`lo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    cantando a meravilha,
     levantou-se o pai da cama    a ver o qu` a filha tinha.
  4   --Que tens tu, dona Silvana?    Que tens tu, ó filha minha?
     --De sete irmãos que éramos    todas casadas, e têm família,
  6   eu por ser a mais fermosa,    porque razão ficaria?
     Mande-me chamar o conde.    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  8   --Cumo há-de ser, ó minha filha,    s` ele é casado e tem família?
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Mate-se a mulher que tinha,
  10   e leve-se a cabeça    naquela dourada bacia.--
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     Tocam nos sinos na vila.    Ai Jesus! Quem morreria?
  12   Morreu a dona Silvana    por culpas que cometia,
     querer descasar os casados,    que é coisa que Deus num queria.

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0503:88 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6682)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Penedono (c. Penedono, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recitada por Eduarda Lopes (73a). Recogida por Edite da Silva Neves, publicada en Silva Neves 1959, 243-244; Galhoz 1987-1988, I, 192. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 727, p. 414. © Fundação Calouste Gulbenkian.  020 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    p`lo corredor acima,
  2   c` umo viola `ò peito,    cantando a maravilha,
     acordou seu pai na cama    c` o estrondo que fazia.
  4   --Diz-me tu, dona Silvana,    diz-me tu, ó filha minha,
     queres que mate condessa,    p`ra casar com Silvaninha?
  6   --Isso mesmo, ó meu pai,    isso mesmo era o qu` eu queria.
     --Num há cum quem case Silvana,    nem também filha minha,
  8   senão o conde d` Albano:    é casado, tem família.--
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     Tocam nos sinos no céu.    Ai Jasus! Quem morreria?
  10   Já morreu o pai dos pobres    qu` era o conde d` Anadia.

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0503:89 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6683)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de S. Martinho de Mouros (c. Resende, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 187-188. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 728, pp. 414-416. © Fundação Calouste Gulbenkian.  102 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    que tão bem a retinia,
     acorda seu pai de dormir    com o estrondo que fazia.
  4   --Tu que tens, ó minha filha?    Tu que tens, ó filha minha?
     --Que hei-de ter, ó meu pai,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  6   de três manas que nós éramos    são casadas, têm família,
     por eu ser a mais capaz    por que razão ficaria?
  8   --Como te hei-de casar,    sem pessoa igual à minha?
     Só o filho do senhor conde,    mas é casado e tem família.
  10   --Mande-o, meu pai, chamar    da sua parte e da minha,
     que venha jantar connosco    a esta mesa d` alegria.--
  12   As palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
  14   --Quero que mates condessa    para casares com minha filha.
     --A condessa não a mato    que ela a morte não merecia,
  16   meterei-a num convento,    onde esteve algum dia,
     darei-lhe o pão por onça    e água fria por medida.
  18   --Mate, conde, mate, conde,    antes de uma ave-maria,
     antes que anouteça a noute,    antes que amanheça o dia.
  20   Quero que tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
     O conde veio para casa    mais triste do que alegria.
  22   Manda fechar os quartos,    coisa que nunca fazia,
     manda vestir seus criados    do maior luto que havia.
  24   Manda pôr a sua mesa,    ele a fazer que comia,
     os suspiros eram tantos    que a mesa estremecia,
  26   as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
     Chega a condessa d` além:    --Conta-me a tua agonia.
  28   --Agonia que te contasse,    mais paixões te causaria,
     mandou-me chamar Sua Majestade,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  30   para eu matar condessa,    para eu casar com sua filha.
     --Disseras que me não matavas,    que a morte ta não merecia,
  32   que me meterias em palácio,    onde estive algum dia,
     que me davas o pão por onça    e a água por medida!
  34   --Que não lhe diria eu    que tudo isso contaria!
     Disse-me: «Mate, conde, mate, conde,    senão eu te tirarei a vida».
  36   Quer que te leve a cabeça    nesta maldita bacia.--
     O rei bateu à porta.    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  38   Se condessa já era morta,    senão, ele matar a queria.
     --A condessa não é morta,    mas está nas agonias.
  40   --Deixa-me dar um passeio,    da sala para a cozinha,
     adeus, moças, adeus, aias,    adeus, criadas de algum dia,
  42   adeus, fontes, adeus, jardins,    adeus, tanques d` água fria,
     onde eu me ia lavar    a toda a hora do dia.
  44   Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
     quando vier tua mãe nova    para lhe saberes falar.
  46   Deita-lhe o joelho em terra    e o chapéu na mão:
     «Ande cá, minha mãezinha,    deite nova benção».
  48   Anda cá, filho mais novo,    pelo leite que mamaste,
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    este leite de amargura,
  50   amanhã, por estas horas,    está tua mãe na sepultura.--
     Batem sinos a dobrar.    Ai Jesus! Quem morreria?
  52   Morreu dona Silvana    pela traição que fazia,
     apartar os bem casados,    coisa que Deus não queria.

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0503:90 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6684)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Barrô (c. Resende, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 188-189. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 729, pp. 416-417. © Fundação Calouste Gulbenkian.  072 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    muito bem a confrangia!
     Acordou seu pai da cama    c` o estrondo que ela fazia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó minha filha?
     --Tenho três irmãs casadas,    todas três já têm família,
  6   e eu por ser a mais formosa    para o canto ficaria?
     --Só o conde d` Alemanha,    é casado, tem família!
  8   --Esse mesmo, ó meu pai,    esse mesmo é que eu queria.
     Mande-me aqui chamar    da sua parte e da minha.--
  10   Mandou logo um criado,    logo nesse mesmo dia.
     As palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
  12   --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
     --Que mates tua mulher    para casares com minha filha.
  14   --Eu como a hei-de matar,    s` ela a morte não mer`cia?
     --Quero-lh` aqui a cabeça    nesta doirada bacia.--
  16   Foi o conde para casa    com uma grande agonia,
     mandou pôr o chá na mesa,    para fazer que comia,
  18   os soluços eram tantos    que a mesa estremecia,
     as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
  20   --Tu que tens, ó conde novo,    conta-m` as tuas agonias.
     --Eu como as hei-de contar,    se são tuas, não são minhas?
  22   Mandou-me o rei chamar,    ao palácio da rainha,
     qu` eu te viesse matar,    para casar com sua filha.
  24   --`Scuta, `scuta, conde novo,    qu` isso remédio teria.
     Meterás-me num convento,    onde meu pai me metia,
  26   comerei o pão por onça    e o vinho por medida.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha,
  28   adeus, moças, adeus, aias,    a quem eu tanto queria.
     Vem cá tu, filho mais velho,    que te quero ensinar,
  30   para quando tiveres mãe nova,    para lhe saberes falar.
     Vem cá tu, filho mais novo,    que te quero abraçar,
  32   mama, meu menino,    este leite d` amargura,
     qu` amanhã, por estas horas,    `stá tua mãe na sepultura.--
  34   Tocam nos sinos na Sé.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Morreu a dona Silvana    pelas traições que fazia,
  36   descasar os bem casados    é coisa que Deus não queria!

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0503:91 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6685)

Versión de Barrô (c. Resende, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recitada por una rapaza. Recogida 00/00/1908 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 189-190. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 730, pp. 417-418. © Fundação Calouste Gulbenkian.  078 hemist.  Música registrada.

     Quando o rei chegou da missa    com sua filha a chorar.
  2   --Tu que tens, ó minha filha?    --Ó papá, queria casar.
     --Não tenho com quem te case,    nem pessoa igual à minha,
  4   só se for com cond` Alberto    é casado, tem família.
     --Mande-o chamar, papá,    da sua parte e da minha.--
  6   Conde Alberto chegou lá:    --A princesa que queria?
     --Que mates tua mulher,    p`ra casar` s com dona Maria.
  8   --Eu minha mulher nu` mato,    que ela a morte não merece.
     --Mata, mata, cond` Alberto,    senão tu é que padeces.
  10   --Como hei-de matar, senhor,    quem a morte não mer`cia?
     Met` ria numa torre,    donde nunca mais a veria.
  12   --Mata, conde, mata, conde,    antes duma ave-maria,
     traz-m` aqui a cabeça    nesta doirada bacia.--
  14   Conde Alberto foi p`ra casa    mais triste qu` à noite havia.
     Mandou tirar o jantar    para fazer que comia,
  16   as lágrimas eram tantas,    que pela mesa corria!
     --Tu que tens, conde,    que tens, que mal t` aconteceria?
  18   Conta-me a tua tristeza,    que eu conto-t` a minha alegria.
     --Como a hei-de contar,    s` inda é para te penar?
  20   O rei que te manda matar    p`ra com a filha casar.
     --Com isso não t` aflijas,    `sta palavra le dirás:
  22   Que me metes nua torre,    donde nunca mais me verás.
     --Tudo isso já le disse,    ele nada disso queria;
  24   que le lavasse a cabeça    naquela maldita bacia.
     --Vou a dar a `espedida    da sala para a cozinha,
  26   adeus, moças, adeus, aias,    adeus, tanque d` água fria,
     adeus, jardim das flores,    donde m` eu adevertia!
  28   Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
     quando vier a mãe nova    como tu l` hás-de falar,
  30   teu joelhinho em terra,    teu chapeuzinho na mão:
     «Adeus, adeus, minha mãezinha!    Deite-m` a sua benção».
  32   Se tu assim não fizeres,    levarás um bofetão.
     Anda cá, filho mais novo,    mama o leite de amargura,
  34   amanhã, por esta hora,    `starei eu na sepultura.--
     Tocam nos sinos na Sé,    tocam todos à paixão,
  36   morreu a filha do rei,    negrinha como um carvão!
     Tocam nos sinos na Sé.    Ai Jesus! Quem morreria?
  38   Morreu a filha do rei,    a morte bem na mer`cia,
     descasar os bem casados,    coisa que Deus num queria.

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0503:92 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6686)

Versión de Resende (c. Resende, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1957. Publicada en Pereira - Bonito 1957, 94-95. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 731, p. 418. © Fundação Calouste Gulbenkian.  008 hemist.  Música registrada.

     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Dorme, dorme, meu menino,    este sono de amargura,
  2   amanhã, por esta hora,    tua mãe na sepultura.
     Dorme, dorme, meu menino,    este leite de paixão,
  4   amanhã, por esta hora,    tua mãe `stá no caixão.--

Nota del editor original: Inclui, num conjunto de quadras, estes quatro versos.
Nota del editor de RºPortTOM 2001: -3b este leite neste leito?

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0503:93 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6687)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Tabuaço (c. Tabuaço, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1884. Publicada en Leite de Vasconcellos 1884-1885b, 424-427. Reeditada en Leite de Vasconcellos 1985, 247-249 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 732, pp. 418-419. © Fundação Calouste Gulbenkian.  076 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silbana,    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    oh! quê tãobãi la tangia!
     Acordô seu pai da cama,    ó-b-istrondo que fazia.
  4   --Qui é isso, ó Silbana?    Qui é isso, filha minha?
     --Não é nada, ó meu pai.    Qu` eu chorasse, rezão tinha.
  6   De sete manas qu` eu tenha,    `stão casadas, tem família,
     eu, por sê` la mais bonita,    `ò cantinho ficaria.
  8   --Já corri os palácios todos,    não achei pessôa igual a ti;
     `stá `hi o condi Alberios,    `stá casado, tem familia.
  10   --Mandi-o chamar, ó meu pai,    da sua parte e da minha.--
     Ind` à palabra nóm staba bem dada,    já o condi à porta batia.
  12   --Que quer bóssa mãjestár?    Que quer bóssa sinhoría?
     --Quero que mates cóndêssa,    p`ra casar` s cóm minha filha.
  14   --Eu cóndêssa nóm na mato,    q` el` á morte nón mer`cia.
     --Mátà, conde, mátà, conde,    antes d` est` áde-maria,
  16   trás-mi a cabeça    nêsta doirada bacia.--
     O conde foi pera casa    cóm mais triste q` alegria.
  18   --Anda cá, ó homem meu,    anda cá, ó alma minha.
     Conta-m` as tuas tristezas,    como contas d` alegria.
  20   --Anda lá per` ò quintal,    só lá é q` tas contaria.
     --Anda cá, ó homem meu,    anda cá, ó alma minha.
  22   Conta-m` as tuas tristezas,    como contas d` alegria.
     --Anda lá per` ó leiteiro,    só lá é q` tas contaria.
  24   Mandô dezê-lo rei    e mais também na rainha,
     que te matasse pera [eu]    casar coa filha;
  26   que le lubasse a cabêça    nêsta maldita bacia.
     --Anda cá, filho mais bélho,    que te quero insinar,
  28   logo tãis uma mãi nóba,    pera le saber falar,
     cóm teu joelhinho no chão,    cóm teu chapeuzinho na mão:
  30   «Vanha cá, minha mãi nóba,    bóte-m` a sua benção».
     Anda cá, filho do meio,    que te quero insinar,
  32   cóm teu joelhinho no chão,    cóm teu chapeuzinho na mão:
     «Vanha cá, minha mãi nóba,    bote-m` a sua benção.»
  34   Mama, mama, meu menino,    este leite d` àmargura,
     q` amanhê, por êstas horas,    já me bês na sepultura.--
  36   Tócão-s` os sinos na sé,    Ai Jasus, quem morreria!
     Foi o rei e à rainha,    todá sua fôntesía,
  38   por descasá` los bem casados,    coisa que Deus nóm queria.

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0503:94 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6688)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Ucanha (c. Tarouca, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recogida 00/00/1937 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 191. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 733, p. 420. © Fundação Calouste Gulbenkian.  045 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelos corredores acima,
  2   tocando numa guitarra,    que tão bem a retinia,
     acordou seu pai e mãe    com o estrondo que fazia.
  4   --Que tendes, dona Silvana?    Que tendes, ó filha minha?
     --De três manas que eu tinha    estão casadas, têm família,
  6   por eu ser a mais formosa    por que causa eu ficaria?--
     O seu pai lhe respondeu:    --Não tenho com quem te case,
  8   senão com o conde de Arcas    que é casado e tem família.
     --Mande-o o pai cá chamar    da sua parte e da minha,
  10   que mate sua mulher    p`ra casar com Silvaninha.--
     Foi o conde para casa,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12   mandou pôr a sua mesa,    para fazer que comia,
     mas as lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
  14   --Que tendes, ó conde de Arcas?    Que tendes, ó vida minha?
     --Mandou el-rei que te mate,    para casar com Silvaninha.
  16   --Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
     de caminho tens mãe nova,    para lhe saberes falar.
  18   Anda cá, filho mais novo,    que te quero dar a mama,
     mama, mama, meu menino,    este leite de amargura,
  20   que amanhã, por estas horas,    está tua mãe na sepultura.--
     Tocam os sinos na corte.    Ai Jesus! Quem morreria?
  22   Morreu dona Silvaninha,    pois Deus não prometia,
     apartar os bem casados    era coisa que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos a segunite didascália: entre -13 e -14 A mulher lhe perguntou.

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0503:95 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6689)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Mondim da Beira (c. Tarouca, dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Recogida 00/00/1877 Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 191-193. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 734, pp. 420-422. © Fundação Calouste Gulbenkian.  086 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pela sua sala acima,
  2   tocando na sua guitarra,    tocando à maravilha,
     chegou seu pai de fora    perguntando a sua filha.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó filha minha?
     --Nem por isso meu pai fez    o que mi madre queria,
  6   que me casasse de oito anos,    que a idade me requeria.
     --Por esta redondeza    não há quem te mereceria,
  8   só o conde de Alhais:    é casado, tem família.
     --Mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha,
  10   que venha jantar connosco    nesta mesa de alegria.--
     Veio o conde para a mesa,    mais tristeza que alegria.
  12   E ele lhe perguntou    --Que quer Vossa Senhoria ?
     --Quero que mates tua mulher    p`ra casares com minha filha,
  14   e traze-me aqui a cabeça    nesta dourada bacia.
     --Como hei-de matar minha mulher,    se ela a morte não merecia?
  16   --Mata, conde, mata, conde,    antes de uma ave-maria.--
     Foi o conde para casa,    mais tristeza que alegria.
  18   Mandou pôr a sua mesa,    para fazer que comia,
     as lágrimas eram tantas,    que pela mesa corriam.
  20   Sua mulher lhe perguntou    por que razão não comia.
     --Mandou-me chamar conde de Alemanha    para me casar com a filha,
  22   e p`ra te levar a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Peço-te, se me matares,    que não me mates com ferro frio,
  24   que me mates com a toalha    das mais finas que tiveres,
     que `inda te ficam toalhas    p`ra ti e p`ra tua mulher.
  26   Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
     que vem logo tua mãe nova    para lhe saberes falar.
  28   Deita o joelhinho em terra,    e o chapeuzinho na mão,
     quando assim não fizeres,    levarás um bofetão.
  30   Anda cá, filho do meio,    que te quero ensinar
     tens logo tua mãe nova    para lhe saberes falar.
  32   Deita o joelhinho em terra,    e o chapeuzinho na mão,
     quando assim não fizeres,    levarás um bofetão.
  34   Anda cá, filho mais novo,    que te quero dar o peito,
     mama, mama, meu menino,    deste leite de amargura,
  36   que amanhã por estas horas    tua mãe `stá na sepultura.
     Deixem-me dar um passeio    da sala para a cozinha,
  38   adeus, moças, adeus, aias,    com quem eu me adevertia,
     adeus, jardins das flores,    onde eu passava o meu dia!--
  40   Tocam nos sinos em Braga.    --Ai Jesus! Quem morreria?
     --Morreu o rei de esquineza    e a filha, de peste fina.
  42   --Valha-me Deus, valha,    e mais a Virgem Maria!
     Os casados, bem casados,    já o Deus permitia.--

Nota de J. L. Vasconcelos: -41a de esquinência.

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0503:96 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6690)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Sobral do Campo (c. Castelo Branco, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Recitada por Maria Bárbara Proença (37a). Recogida por Maria José Dias Martins, publicada en Dias Martins 1954, 269-271; Galhoz 1987-1988, I, 206-207. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 735, pp. 422-423. © Fundação Calouste Gulbenkian.  064 hemist.  Música registrada.

     Andando dona Silvana    corredor abaixo, corredor acima,
  2   Tocando numa guitarra,    ó que estrondo ela fazia!
     Seu pai acordou    ao estrondo da sua filha.
  4   --Que tens tu, dona Silvana,    que tens tu agora aqui?
     --Três manas que nós éramos    estão casadas têm família,
  6   e eu, por ser a mais formosa,    também casar me queria!
     --Já não achas nas cortes    com quem casar, minha filha!
  8   --Está o conde de Elvas,    é casado, tem família.
     Mande-o chamar, meu pai,    à sua parte e à minha;
  10   mande-lhe matar a condessa    para casar com sua filha.--
     `Inda palavras não eram ditas    já ele à porta batia.
  12   --Que me quer, ó senhor rei?    Que me quer, que me queria?
     --Quero que mates a condessa,    para casares com a minha filha,
  14   e que me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
     O conde foi para casa,    todo cheio de agonia.
  16   As lágrimas eram tantas    que à mesa abaixo corriam.
     --Conta-me, ó meu conde, conta,    conta-me a tua agonia.
  18   --Se eu ta fora a contar    mais penas te daria.
     --Conta-me, conde, conta,    conta-me a tua agonia.
  20   --Mandou-me o rei matar-te    para casar com sua filha.
     --Mama, meu filho, mama,    neste leite amargurado,
  22   amanhã, por esta hora,    está tua mãe no adro.
     Mama, meu filho, mama,    este leite de amargura,
  24   amanhã, por esta hora,    está tua mãe na sepultura.
     Anda cá, meu filho mais velho,    que te hei-de ensinar,
  26   segunda mãe que tiveres    como é que lhe hás-de chamar.
     Adeus, ó jardim das flores,    adeus tanque de água fria,
  28   adeus criados e criadas,    a quem tanto queria!
     Tocam sinos nas cortes,    minha alma, quem morreria?
  30   --Morreu a dona Silvana    pelas tiranias que fazia.
     Morreu a filha às dez horas    e o pai ao meio-dia.
  32   Descasar os bem-casados    era coisa que Deus não queria.--

Variantes: -4b que trarias; -8a Montalvão.

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0503:97 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6691)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Tinalhas (c. Castelo Branco, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Recitada por Maria Guilhermina (41a). Recogida por Maria José Dias Martins, publicada en Dias Martins 1954, 271-274; Galhoz 1987-1988, I, 205-206. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 736, pp. 423-424. © Fundação Calouste Gulbenkian.  088 hemist.  Música registrada.

     Vindo a dona Silvana    pelo seu corredor acima,
  2   tocando uma guitarra    que até le retenia,
     acordou seu pai com    o estrondo que fazia.
  4   --Que tens, tu, ó Silvana?    Que tens tu, minha filha?
     --De três manas que nós somos    duas são casadas, têm familia,
  6   e eu, por ser a mais galante,    também casar me queria.
     --Não acho cá que te dar    para tão alta senhoria.
  8   Está o conde de Alemanha    casado, tem família.
     --Com esse, meu pai, com esse,    com esse mesmo é que eu queria.
  10   Mande-o meu pai chamar    à sua parte e à minha.--
     --O que me quer, senhor rei?    O que me quer, Vossa Senhoria?
  12   --Quero que mates a condessa    para casares com a minha filha.
     Trazes-me aqui a cabeça    nesta dourada bacia.
  14   --A condessa não a mato    que ela a morte não merecia.
     --Mata-a, conde, mata-a, conde,    não me causes agonia.
  16   Quero que tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
     Mandou fechar suas portas,    coisa que nunca fazia.
  18   Mandou pôr a sua mesa,    para fazer que comia.
     --Conta-me, conde, conde,    conta-me a tua agonia.
  20   --Se eu ta fora a contar    maior pena te daria!
     --Conta-me, conde, conde,    conta-me a tua agonia.
  22   --Mandou-me o rei matar-te    para casar com sua filha,
     e que levasse a cabeça    nesta malvada bacia.
  24   --Cala-te aí, ó meu bom conde,    tudo se pode fazer,
     mandas-me deitar à serra    que a fera me irá comer.
  26   --Isso não, condessa, não    porque o rei lá o sabia,
     mandou-me levar a cabeça    na malvada bacia.
  28   --Cala-te aí, ó meu bom conde,    tudo se pode fazer,
     mandas-me deitar no mar    que os peixes me irão comer.
  30   --Isso não, condessa, não,    porque o rei lá o sabia,
     mandou-me levar a cabeça    na malvada bacia.--
  32   Palavras não eram ditas    um portador à porta batia.
     Se a condessa não é morta    que a matasse entre m` ad-maria
  34   e que levasse a cabeça    na dourada bacia.
     --Adeus jardim das flores,    adeus tanque de água fria,
  36   adeus criados e criadas    a quem eu tanto queria.
     Mama, meu filho, mama    este leite de graça,
  38   `inda tens tua mãe viva,    já te querem dar madrasta.
     Mama, meu filho, mama    este leite de amargura,
  40   amanhã, por esta hora,    tens tua mãe na sepultura.
     Tocam sinos nas cortes.    Ai Jesus! Quem morreria?
  42   Morreu a dona Silvana    pelas teranias que fazia!
     Morreu seu pai às dez horas    e seu pai ao meio-dia.
  44   Queriam apartar os bem casados    e era coisa que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos a seguinte didascália: entre -41 e -42 Respondeu o menino.

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0503:98 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6692)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Mapica do Tejo (c. Castelo Branco, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1938. Publicada en Diogo Correia 1938?, 24-26. Reeditada en Diogo Correia 1953, 115-116; Giacometti 1981, 162-163 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 737, pp. 424-425. © Fundação Calouste Gulbenkian.  082 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    coisa que ela não sabia,
     acordou seu pai da cama.    --Que é isso, ó filha minha?
  4   --Tenho três irmãs casadas,    todas três têm família,
     eu, por ser a mais formosa,    por que razão ficaria?
  6   --Conde Alberto é casado,    é casado, tem família.
     --Com esse, meu pai, com esse,    com esse é que eu casaria.
  8   --Manda-se chamar o conde,    da tua parte e da minha.--
     Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
  10   --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
     --Quer` que mates a condessa    p`ra casares com minha filha.
  12   --A condessa não a mato,    que ela a morte não mer`cia.
     --Mata-a, conde, mata-a, conde,    não procures demasia,
  14   traz-me aqui sua cabeça    nesta dourada bacia.--
     Foi o conde para casa    todo cheio de agonia,
  16   mandou logo pôr a mesa,    para fingir que comia.
     As lágrimas eram tantas    que até os pratos enchia.
  18   --Que tens tu, ó meu bom conde,    conta-me a tua agonia.
     --Se ta eu fosse contar,    mais penas te causaria.
  20   Disse o rei que te matasse,    p`ra casar com sua filha.
     --Manda fazer umas torres    pra não ver a luz do dia.
  22   --Isso não, condessa, não,    logo o nosso rei sabia.
     --Manda-me levar ao mar,    as ondas me levariam.
  24   --Isso não, condessa, não,    logo o nosso rei sabia.
     Mandou que leve a cabeça    nesta maldita bacia.--
  26   Palavras não eram ditas,    o rei à porta batia.
     --Deixa-me dar um passeio    da porta até ao quintal.
  28   Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, lindo laranjal.
     Deixa-me dar um passeio    da sala até à cozinha.
  30   Venham aqui os meus servos,    tão bem que eles me serviram!
     Deixa-me dar um passeio    da sala até ao corredor,
  32   amanhã, por esta hora,    está vosso amo senhor.
     Dá-me cá esse menino,    eu o quero pentear;
  34   deixa-me ver o mais novo,    quero-lhe dar de mamar.
     Mama, filho, mama, filho,    deste leite de paixão,
  36   amanhã, por esta hora,    está tua mãe no caixão!
     Mama, filho, mama, filho,    deste leite amargurado,
  38   amanhã, por esta hora,    tens o teu pai coroado.
     Tocam os sinos na torre.    Ai, Jesus! Quem morreria?
  40   Morreu a dona Silvana    pelos transes que fazia.
     Apartar os bem-casados,    coisa que Deus não queria.

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0503:99 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6693)

Versión de Cabeçais (c. Castelo Branco, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Recitada por una mujer. Recogida por Manuel Ribeiro, 00/00/1916 publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 203-204. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 738, pp. 425-426. © Fundação Calouste Gulbenkian.  078 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    p`la sua escada acima,
  2   logo o sê pai recordou:    --Que tens tu, ó filha minha?
     --Vejo minhas manas casadas,    só eu me vejo sózinha!
  4   --Nam acho gente capaz    p`ra tua companhia,
     só o conde de Alares.    É casado, tem família.
  6   --Mesmo esse, ó mê pai,    mesmo esse é qu` eu queria.
     Manda-se chamar o conde    p`ra ver o qu` ele dezia.
  8   `Inda agora vim das cortes,    já me vierim chamar!
     Isto no` é boa nova    qu` o nosso rei me quer dar.
  10   --Aqui me tem, ó bom rei,    às grades de Vossa Alteza.
     --Quero que mates tua mulher    p`ra casares co` a princesa.
  12   --A minha mulher nam se mata    qu` ela a morte nam merecia;
     detarei-a p`r`ò mar,    qu` as ondas a levariim.
  14   --Mas eu quero a cabeça cortada    nesta dourada bacia.--
     Foi-se o conde p`ra casa    todo cheio d` agonia.
  16   --Conta-me, marido meu,    a causa da tua agonia.
     --A causa da minha agonia    já ta vou a contar.
  18   Quer que te mate, mulher,    p`ra com a princesa casar.
     --Dixeras que me dêtavas    p`ró mar, qu` as ondas me levariim;
  20   fecharas-me numa torre    onde ninguém de mim saberia.
     --Tudo isso, ó mulher,    tudo isso lh` eu diria.
  22   Ele quer a cabeça cortada    numa dourada bacia.
     --Dêxa-me ir dar um passeio    da sala p`r`ò jardim,
  24   adeus, cravos, adeus, rosas,    tudo por tempo tem fim.
     Dêxa-me ir dar um passeio    da sala p`r`à cozinha,
  26   adeus, criados e criadas,    qu` im tanto amor vos tinha!
     Dêxa-me ir dar um passeio    da sala p`r`ò quintal,
  28   adeus, cravos, adeus, rosas,    nam sei quim vos há-de dêxar!
     Mama, mê filho, mama,    este lête de amargura,
  30   hoje tens tua mãe viva,    amanhã `stá na sepultura.
     Mama, mê filho, mama,    este lête magoado,
  32   hoje tens tua mãe viva,    amanhã `stá sepultada.
     Anda cá, filho mai velho,    que te quero insinar.
  34   Hás-de ter uma mãe nova,    nam lh` hás-de saber falar.
     Dêxa-me ver s` eu `inda sei    uma oração qu` eu sabia:
  36   al-rei morra de nascido,    sua filha de peste fina!--
     Sóim os sinos im Braga.    Ai Jesus, quim morreria?
  38   Morreu a D Silvana    dos maus sonhos qu` ela tinha.
     Apartarim-se os bem casados,    cousa que Deus nam queria!

Nota: El colector, Dr. Manuel Ribeiro, fue profesor del Liceu de Castelo Branco,

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0503:100 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6694)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Medelim (c. Idanha-a-Nova, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 204-205. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 739, p. 427. © Fundação Calouste Gulbenkian.  067 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra    pelo melhor que sabia.
     Acordou seu pai da cama    pelo estrondo que fazia.
  4   --Que é isso, ó Silvana?    Que é isso agora em ti?
     --Que há-de ser, ó meu pai?    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  6   De três irmãs que éramos    estão casadas e têm família,
     só eu por ser a mais linda    para casar ficaria.
  8   --Já não haverá nas cortes    quem te a ti merecia.
     --Estava o conde d` Elvas,    a quem eu amava e queria.
  10   --O conde d` Elvas    é casado e tem família.
     --Mande-o chamar, meu pai.    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12   Que mate Carolina Augusta    para casar com sua filha.--
     --Mando-te chamar, conde d` Elvas,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  14   para matares Carolina Augusta    e casares com minha filha.
     --Como a hei-de matar, senhor,    se ela a morte não merecia?
  16   --Mata, conde, mata, conde,    não me voltes demasia;
     traz-me aqui a cabeça    nesta dourada bacia.--
  18   Mandaram-lhe pôr a mesa,    o conde não comia;
     as lágrimas eram tantas    que até os pratos enchia.
  20   --Que tens tu, marido meu?    Com tanta falta de alegria?
     --O nosso rei me chamou    para casar com sua filha,
  22   que levasse a cabeça    nesta amaldiçoada bacia.
     --Anda cá, meu filho mais velho,    que te quero ensinar,
  24   te querem dar mãe nova,    como a hás-de tratar.
     Anda cá, meu filho mais novo,    que o leite te vou dar.
  26   Mama, filho, mama, filho,    este leite de amargura,
     que amanhã, por estas horas,    tua mãe na sepultura.
  28   Mama, filho, mama, filho,    este leite amargurado,
     que amanhã, por estas horas,    meu corpo estará enterrado.--
  30   Acabadas estas palavras,    seu corpo le adormeceu,
     entregou-se à paixão,    fechou os olhos, morreu.
  32   Tocam-se os sinos em Braga.    Ai Jesus! Quem morreria?!
     Morreu Carolina Augusta    de morte que não merecia.
  34   Tocam-se os sinos em Braga.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Morreu Carolina Augusta    à hora do meio dia.

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0503:101 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6695)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Salvaterra do Extremo (c. Idanha-a-Nova, dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1942. Publicada en Lopes Dias 1942, 47-50. Reeditada en Lopes Dias 1967b, 45-48 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 740, pp. 428-429. © Fundação Calouste Gulbenkian.  080 hemist.  Música registrada.

     Vindo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa viola,    muito bem a retinia.
     Acordou seu pai na cama    pelo motim que fazia.
  4   --O que é isso, ó Silvana?    O que é isso, ó minha filha?
     --De três irmãs que nós éramos,    estão casadas, têm família,
  6   eu, por ser a mais bonita,    porque razão ficaria?
     --Já não há gente nas cortes    igual à tua valia.
  8   --`Inda está o conde d` Elvas.    --Está casado, tem família.
     --Mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  10   `Inda agora vim das cortes    já me mandaram chamar!
     Não sei se será por meu bem    nem se será por meu mal.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12   --Quero que mates a condessa    p`ra casares co` a minha filha.
     --Como hei de eu matar condessa    se ela a morte não merecia?
  14   --Mata conde, mata conde,    não procures demasia.
     Quero que me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  16   Foi o conde para casa    todo cheio de agonia.
     Foram-lhe a pôr de jantar    nem um nem outro comia,
  18   as lágrimas eram tantas    que até os pratos enchia.
     --Conta conde, conta conde,    conta-me a tua agonia!
  20   --Se eu te contara, condessa,    de repente morrerias.
     Manda el-rei que te mate    p`ra casar co` a sua filha.
  22   Não me mates com navalhas,    nem com espada luzidia,
     mata-me com uma toalha,    na minha casa as havia.
  24   Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
     Adeus, criadas e criados,    a quem eu tanto queria!
  26   Deixa-me dar um passeio    da sala para o jardim.
     Adeus cravos, adeus rosas    que tanto chorais por mim!
  28   Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
     amanhã tendes mãe nova,    como lhe haveis de chamar.
  30   De joelhinho em terra,    com o chapeuzinho no ar.
     Anda cá, filho do meio,    que te quero ensinar,
  32   amanhã tendes mãe nova,    como lhe haveis de chamar.
     De joelhinho em terra    com o chapeuzinho no ar.
  34   Mama filho, mama filho,    este leite de paixão,
     amanhã por estas horas    está tua mãe no caixão.
  36   Mama filho, mama filho,    este leite de amargura,
     amanhã por estas horas    está tua mãe na sepultura.--
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  38   Já tocam os sinos das Côrtes!    Ai Jesus! Quem morreria?
     Morreu a dona Silvana    pelas traições que fazia,
  40   desapartar os bens casados    coisa que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos as seguintes didascálias: entre -3 e -4; -6 e -7; -8a e -8b.; -11 e -12; -13 e -14 Rei; entre -4 e 5, -7 e -8, -8 e -9 dona Silvana; entre -9 e -10; -12 e -13; -19 e -20 Conde; entre -18 e -19; -21 e -22 Condessa.

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0503:102 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6696)

Versión de Beira Baixa s. l. (dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1867. Publicada en Braga 1867a, 71-74. Reeditada en Harding 1887, I. 152-155; RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 500-503 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 741, pp. 429-430. © Fundação Calouste Gulbenkian.  104 hemist.  Música registrada.

     Estando a princesa a chorar,    filha do rei de Castilha,
  2   seu pai se foi ter com ela,    ao estrondo que fazia.
     --O que é isso, ó Silvana?    Que é isso, ó filha minha?
  4   --De três manas que eu tenho,    são casadas têm família,
     eu por ser a mais formosa,    solteirinha ficaria?
  6   --Não tenho com quem te case,    na mais alta senhoria,
     só sendo com o conde Alves,    é casado tem família.
  8   --Com esse, meu pai, com esse,    com esse é que eu queria,
     mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha.
  10   --Ala, ala, meus criados,    o conde Alves vão chamar.
     --Ainda agora de lá venho,    já para lá hei-de tornar?--
  12   Entrou pelo paço dentro,    fazendo mil cortezias.
     --Que me quer a Vossa Alteza?    Vossa Alteza, Senhoria?
  14   --Quero que mates a condessa    e cases com minha filha!
     --A condessa não a mato    que ela a morte não merecia,
  16   mando-a deitar aos matos    que os bichos a comeria` .
     --Mata, mata, conde Alves,    não me tornes demasia,
  18   a cabeça me há-de vir    nesta dourada bacia.
     Não ma troques lá por outra    que eu bem a conhecia,
  20   que ao seu lado direito    um sinal preto teria.--
     Foi-se dali o bom conde,    cheio de melancolia,
  22   mandou fechar suas portas,    cousa que nunca fazia,
     mandou pôr a sua mesa,    nem um nem outro comia,
  24   as lágrimas eram tantas    que pela mesa corria` .
     --Que é isso, ó bom conde?    Que é essa melancolia?
  26   Conta-me as tuas tristezas    que eu te conto alegrias!
     --Se eu te contasse tristezas,    morta para trás caírias.
  28   Mandou o rei que te mate,    que case com sua filha.
     --Isso não, bom conde, não,    que eu a morte não merecia,
  30   manda-me deitar aos mares    que os peixes me comeria` .
     --Isso não, condessa, não,    que o rei logo o sabia,
  32   a cabeça te há-de ir    naquela negra bacia,
     que te não troque por outra    que ele bem te conhecia,
  34   que, ao teu lado direito,    um sinal preto teria.
     --Deixa-me dar um passeio,    da sala para o jardim,
  36   adeus cravos, adeus rosas,    adeus flor do alecrim.
     Deixa-me dar um passeio,    da sala para a cozinha,
  38   deixa-me dar de mamar    ao filho que tanto queria.
     Mama, filho, mama, filho,    este leite amargurado,
  40   amanhã, por estas horas,    já teu pai está coroado.
     Mama, filho, mama, filho,    este leite de amargura,
  42   amanhã, por estas horas,    já estarei na sepultura.
     Anda cá, filho mais velho,    que te quero ensinar,
  44   a tua mãe, a rainha,    como lhe haveis de chamar.
     Com o joelho no chão,    o chapeuzinho no ar.--
  46   Estando nestas razões,    el-rei à porta batia:
     a condessa já é morta,    senão ele a mataria.
  48   --A condessa não é morta,    está nessas agonias.--
     Tocam os sinos na corte.    Ai, Jesus! Quem morreria?
  50   Morreu foi dona Silvana    por crimes que cometia.
     O pai morreu às dez horas    e a filha ao meio-dia.
  52   Apartar os bem casados,    era o que Deus não queria.

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0503:112 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6706)

Versión de Mação (c. Mação, dist. Santarém, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1921. Publicada en Serrano 1921, 26-29; Joyce 1939, 290. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 751, pp. 442-444. © Fundação Calouste Gulbenkian.  100 hemist.  Música registrada.

     Estava a infanta de nojo,    de sorte que não comia,
  2   por seu pai não a casar,    nem esse cuidado tinha.
     --Ao longo do nosso reino,    ninguém há que te mereça,
  4   senão o conde de Alardo,    que é casado com a condessa.
     --Esse mesmo é que eu quero,    esse mesmo é que eu queria,
  6   mande-o meu pai chamar    e fale-lhe da parte minha.--
     Mandou-o el-rei chamar,    por um criado que tinha,
  8   e o conde, a tal chamada,    respondeu que logo vinha.
     --Que me quereis, Majestade?    Que me quereis, Senhoria?
  10   --Hás-de matar a condessa,    para casar com minha filha.
     --Oh, mas como eu a matara!    Oh, como eu a mataria?
  12   Se nunca me fez por onde,    a morte não merecia,
     vou pô-la na sua terra,    onde ela pai e mãe tinha,
  14   ou mando-a pôr numa torre,    a mais alta à maravilha.
     Dar-lhe-ei o pão por onças    e a água por medida,
  16   que nem as águias do céu    parte dela saberiam.
     --Conde, mata a condesa,    deixa-te de mais porfia!
  18   Traze-me a sua cabeça,    nesta dourada bacia.--
     Foi-se o conde para casa,    muito triste que ele ia,
  20   mandou fechar o palácio,    coisa que nunca fazia,
     assentou-se na cadeira    que na sua sala tinha,
  22   os suspiros eram tantos    que a cadeira até tremia!
     As lágrimas eram tantas    que o chão até escorria!
  24   Chegou a condessa à sala,    muito alegre à maravilha.
     --Que tens tu, ó conde Alardo?    O que é essa merencoria?
  26   Conta-me as tuas tristezas    que eu contarei alegrias.--
     Houvera de lhas contar,    mas contá-las não podia.
  28   --Mandou el-rei que te mate,    para casar com sua filha.
     --Manda-me para a minha terra,    aonde eu pai e mãe tinha,
  30   ou manda-me pôr em torre,    dessas mais altas que havia,
     dá-me a comer pão por onças,    beber água por medida,
  32   que nem as águias do céu    parte de mim saberiam.
     --Tudo isso eu já lhe disse,    porem, só me respondia:
  34   «Ó conde, mata a condessa    e casa com a minha filha,
     traze-me a sua cabeça,    nesta maldita bacia».
  36   --Ai, não me mates com ferros,    que deles eu me temia,
     aperta-me com uma touca    que me deram em Castilha.--
  38   Já meia-noite era dada,    já meia morta ele a tinha.
     --Susta, susta, conde Alardo,    susta, susta, ó alma minha!
  40   Vou rezar uma oração    que aprendi quando menina,
     valha-me o Jesus do céu,    valha-me a Virgem Maria!--
  42   E depois deitou a benção    a três filhinhos que tinham,
     queria que um fosse frade    e outro clérigo de missa,
  44   e o mais novinho de todos    a infanta o criaria.
     --A el-rei deixo culpado    e à infanta sua filha,
  46   ao meu conde Alardo, não,    que culpas ele não tinha.--
     Dobram os sinos na Sé.    Quem morreu? Quem morreria?
  48   Morreu el-rei dum estupor    e a filha de hidropsia,
     el-rei morreu às dez horas,    a filha ao meio do dia,
  50   por querer mal aos bem casados,    coisa que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Joyce 1939, edita apenas a partitura com os quatro primeiros hemistíquios.

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0503:113 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6707)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Rio Maior (c. Rio Maior, dist. Santarém, Beira Baixa, Portugal).   Recitada por una rapaza. Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 208-209. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 752, pp. 444-445. © Fundação Calouste Gulbenkian.  086 hemist.  Música registrada.

     Lá subiu dona Silvana    pelo seu corredor arriba,
  2   a tocar numa guitarra,    do melhor que ela sabia.
     Acordou-me seu pai na cama    c` o `stronço que ela fazia!
  4   --Que é isso, minha filha?    Que é isso, filha minha?
     --Duas mais manas que eu tinha    são casadas, têm família,
  6   eu por ser a mais bonita    por que razão ficaria?
     Não tenho com quem me case,    com tanta senhoria.
  8   --O conde de Montalbom    é casado e tem familía.
     --Convence, meu pai, convence,    com esse mesmo é que eu queria.
  10   Mandemo-lo aqui chamar    antes da uma hora do dia.
     --Aos meus portões quem bate?    Aos meus portões quem batia?
  12   --Sou vagageiro do paço    que o venho avisar,
     manda dizer Vossa Alteza    que lhe venha já falar.
  14   --Ainda agora vim do paço,    já para lá tenho que voltar!
     Ou será para meu bem    ou será para meu mal!--
  16   --Vossa Alteza o que quer?    Vossa Alteza o que queria?
     --Quero que mates a condessa    para casares com a minha filha.
  18   --Eu a condessa não mato,    que ela a morte não merecia.
     --Mata, conde, mata, conde,    não me tornes a demasia!
  20   Traz-me já cá a cabeça    nesta dourada bacia!--
     Ele mandou pôr a mesa    para fingir que comia;
  22   as lágrimas eram tantas,    pela mesa abaixo corria!
     --Conta-me lá, ó meu conde,    paixão pela alegria.
  24   --Se eu te contasse, condessa,    nem penas te causaria,
     el-rei mandou matar para    casar com sua filha.
  26   --Cala-te lá, ó meu conde,    outro remédio teria.
     Manda-me deitar ao mar,    que os peixes me comeriam.
  28   --Isso não condessa, não,    el-rei tudo lá sabia!
     Mandou-me levar a cabeça    nesta dourada bacia.
  30   --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha:
     Adeus, cravos, adeus, rosas,    jardim da minha alegria!
  32   Deixa-me dar um passeio    da cozinha para a sala:
     Adeus, cravos, adeus, rosas,    digo adeus às minhas aias.
  34   Mama, filho, mama, filho,    este leite amargurado,
     amanhã, por estas horas,    está teu pai em rei coroado.
  36   Mama, filho, mama, filho,    este leite da amargura,
     amanhã, por estas horas,    está meu corpo na sepultura.
  38   Mama, filho, mama, filho,    este leite da agonia,
     amanhã, por estas horas,    está meu corpo na terra fria.
  40   Ouvem-se os sinos nas cortes.    Ai Jesus! Quem morreria?--
     Responde o menino do berço    discrição que não tinha.
  42   --Morreu a dona Silvana    pelo bem que ela fazia.
     Apartar os bem casados    é coisa que Deus não queria.--

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0503:103 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6697)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Silvade (c. Espinho, dist. Aveiro, Beira Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1903. Publicada en Pires 1903-1905a, 216-217. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 742, pp. 430-431. © Fundação Calouste Gulbenkian.  056 hemist.  Música registrada.

     Em vindo dona Silvana,    pelo corredor abaixo,
  2   tocando na guitarra    muito bem que a tangia,
     acordou seu pai da cama    c` o `strumento que fazia.
  4   --Que tendes, dona Silvana?    Que tendes, ó filha minha?
     --Quero que mates a condessa,    p`ra casar` s com filha minha.
  6   --Eu condessa não na mato    que essa morte não mer`cia.
     --Mata conde, mata conde,    antes que eu te tire a vida,
  8   em antes dum Padre Nosso    e duma ave-maria,
     mandarás a cabeça    nesta maldita bacia.--
  10   Mandou vestir seu criado    de luto à maravilha,
     mandou tirar seu jantar,    para fazer que comia,
  12   os suspiros eram tantos    que o palácio estremecia,
     as lágrimas eram tantas    que pela mesa corria.
  14   --Eu vou-me dar um passeio    da sala até ao corredor,
     adeus criados, adeus aias,    adeus meus reales amores.
  16   Eu vou-me dar um passeio    da sala até ao jardim,
     adeus cravos, adeus rosas,    adeus ramo d` alecrim.
  18   Dai-me cá aquel` cutelo    que me quero degolar,
     dai-me cá aquel` menino    que lhe quer` dar de mamar.
  20   Mama, mama, meu menino,    este leite de traição,
     amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe no caixão.
  22   Mama, mama, meu menino,    este leite d` amargura,
     amanhã, por esta hora,    tua mãe na sepultura.
  24   Mama, mama, meu menino,    este leite d` amargar,
     amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe a enterrar.--
  26   Tocam os sinos nas côrtes.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Morreu a filha do rei    chamada dona Maria,
  28   descasar os bem casados    coisa que Deus não queria.

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0503:104 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6698)

Versión de Coimbra (c. Coimbra, dist. Coimbra, Beira Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1845. Publicada en Cordeiro 1845, 272. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 743, pp. 431-432. © Fundação Calouste Gulbenkian.  056 hemist.  Música registrada.

     --Que mulher destes meus reinos    em teu lugar choraria?!
  2   Dizia el-rei de Castela    à filha que se carpia.
     --Choro, senhor, porque invejo    as casadas,-- respondia,
  4   --dai-me, padre, com quem viva,    que me dareis alegria.
     --Se houvesse um conde solteiro,    isso remédio teria,
  6   era-o só o conde Alarcos,    esse, casou outro dia.
     --Conde Alarcos, conde Alarcos,    era o esposo que eu queria;
  8   mandareis chamar o conde    jantará connosco um dia.
     --Tão asinha fui chamado,    que quer Vossa Senhoria?
  10   --Quero dar-te por esposa    a minha filha Maria.
     --A princesa, senhor rei!    Tamanho bem quem mer`cia?
  12   Mal pecado! Tenho esposa,    a condessa que faria?
     --Eu quero morta a condessa,    antes de uma ave-maria.
  14   --Matá-la, senhor, não posso,    que também eu morreria.
     --Conde, faze o que eu te digo,    antes duma ave-maria,
  16   aqui trarás a cabeça    nesta dourada bacia.--
     --Tão triste vens, conde Alarcos    , o jantar que tal seria?--
  18   Perguntava-lhe a condessa    que ao encontro lhe saía.
     --Má sina minha, o jantar,    foi de morte! Esta bacia,
  20   deve ter tua cabeça,    antes duma ave-maria.
     El-rei quer dar-me outra esposa,    dar-me a princesa Maria,
  22   deseja ver-te a cabeça,    nesta dourada bacia.
     --Cal` -te, cal`-te, conde Alarcos,    tão feia acção quem veria?
  24   Matar-me assim! Antes freira!    Num mosteiro morreria.--
     O povo chora nas praças,    `stá de luto a fidalguia,
  26   os sinos dobram na Sé,    Deus do céu quem morreria?
     Morreu el-rei de Castela,    mais a princesa Maria,
  28   Deus os matou por tentarem    separar quem Deus unia.

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0503:105 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6699)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Lousã (c. Lousã, dist. Coimbra, Beira Litoral, Portugal).   Recogida por Álvaro de Lemos, publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 202-203. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 744, pp. 432-433. © Fundação Calouste Gulbenkian..  072 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Infanta    por seu corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    tocava que retinia.
     Tamanho estrondo fazia,    que acordou seu pai que dormia.
  4   --Que tens tu, dona Infanta?    Que tens tu, ó alma minha?
     --Casaram-se minhas manas,    eu também casar-me queria,
  6   por ser infanta mais nova    fico para infantina.
     --Cala-te lá, minha filha,    cá não há quem te merecia.
  8   O nosso conde d` Alberga,    esse casou noutro dia.
     --Esse mesmo, meu pai,    esse mesmo é que eu queria.--
  10   Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --Que quereis, Vossa Real Majestade?    Que quereis, Vossa Senhoria?
  12   --Quero que mates condessa    e cases com minha filha.
     --Como poderá isso ser?    Mulher que tanto queria!
  14   --Manda-me a cabeça dela    nesta doirada bacia,
     não na troques tu por outra,    que eu bem na conhecia,
  16   tinha sinais na cara,    coisa que a outra não tinha.--
     Foi-se o conde para casa    mais triste que a noite havia,
  18   mandou fechar as suas portas,    coisa que ele nunca fazia;
     mandou vestir os criados    e criadas do maior luto que havia;
  20   mandou-lhe prantar a mesa,    nem um nem outro comia!
     --Que tens tu, conde d` Alberga?    Que tens tu, ó alma minha?
  22   --Que penas poderei eu ter?    Que o rei te mandou matar!
     Com a su filha mais nova,    com ela hei-de casar.--
  24   Palavras não eram ditas,    o rei à porta batia.
     --A condessa não está morta    mas está nessas agonias.
  26   --Mamai, meu menino,    leite do meu coração,
     amanhã, por estas horas,    já outra mãe te dá pão!
  28   Mamai, meu menino,    este leite amargurado,
     amanhã, por estas horas,    está teu pai um rei coroado.
  30   Mamai, meu menino,    este leite d` amargura,
     amanhã, por estas horas,    já eu estou na sepultura.
  32   Deixai-me ir dar um passeio    da sala até ao jardim.
     Adeus, moços, adeus, moças,    chorai agora por mim!--
  34   Tocam os sinos na corte.    Oh meu Deus! Quem morreria?!
     Morreu a dona Infanta,    a morte lhe competia.
  36   Descasar os bem casados    era coisa que Deus não o queria!

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0503:62 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6656)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de S. Tomé de Covelas (c. Baião, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Recitada por una vieja. Recogida 00/00/1902 Publicada en Leite de Vasconcellos 1907, 13. Reeditada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 168-169 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 701, pp. 382-383. © Fundação Calouste Gulbenkian.  084 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo seu corredor acima,
  2   tocando nua guitarra,    oh que tam bem a tingia!
     Acordou seu pai da cama    com o estrondo que fazia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana,    tu que tens, ó filha minha?
     --Eu não choro, ó meu pai,    se chorasse rezão tinha.
  6   Tantas manas que nós éramos    são casadas, têm família,
     eu, por ser a mais bonita,    ao canto fiquei metida.
  8   --`Scuita, `scuita, minha filha,    `scuita lá, ó filha minha,
     foi porque `inda não achei    pessoa igual à minha,
  10   só o conde de Alvelo:    é casado, tem família.
     --Mande-o, meu pai, chamar,    da sua parte e da minha.--
  12   Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --Que quer Vossa Majestada?    Que quer Vossa Senhoria?
  14   --Quero que mates condessa,    que cases com minha filha.
     --Eu condessa não a mato,    ela morte não mer`cia.
  16   --Mata, mata, mata, conde,    antes que t` eu tire a vida.
     Manda-me aqui a cabeça    nesta dourada bacia.--
  18   Foi o conde para casa,    muito triste, como ia,
     mandou fechar suas portas,    cousa que nunca fazia.
  20   As bagadas eram tantas,    que pela mesa corriam!
     Os suspiros eram tantos,    que palácio estremecia!
  22   --Tu que tens, conde Alvelo?    Tu que tens, ó vida minha?
     --Mandou-me o rei chamar,    que te tirasse eu a vida.
  24   --`Scuita, `scuita, conde Alvelo,    qu` isso remédio teria.
     Meterás-me num convento    por freirinha recolhida,
  26   darás-me o pão por onça    e a água por medida.
     --Que lhe mandasse a cabeça    nesta maldita bacia.
  28   --Deixa-me ir dar um passeio    da sala para a cozinha;
     adeus, moças, adeus, aias,    com quem m` eu adevertia!
  30   Adeus, ó sala da esteira,    onde m` eu adevertia!
     Adeus, espelho dourado,    donde tanta vez me via!
  32   Vem cá, ó filho mais velho,    que te quero ensinar,
     se tiver` s outra mãe nova,    como a hás-de tratar.
  34   Mama, mama, meu menino,    este leite é de pesar,
     amanhã, por esta hora,    já me estão a degolar.
  36   Mama, mama, meu menino,    este leite é de paixão,
     amanhã, por esta hora,    já eu `starei no caixão.
  38   Mama, mama, meu menino,    este leite é d` amargura,
     amanhã, por esta hora,    já `starei na sepultura.--
  40   Tocam os sinos em Braga.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Morreu a filha ao rei,    ficou a dona Maria.
  42   Descasar os bem casados,    foi coisa que Deus não quis!

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Leite de Vasconcellos 1907, edita parcialmente esta versão.

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0503:63 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6657)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Baião (c. Baião, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 166-167. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 702, pp. 383-384. © Fundação Calouste Gulbenkian.  086 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo corredor acima
  2   acordou seu pai da cama    co` o estrondo que ela fazia.
     --Tu que tens, dona Silvana,    tu que tens, ó filha minha?
  4   --Eu não choro, senhor pai,    se chorasse, razão tinha.
     De três manas que nós éramos,    são casadas, têm família,
  6   Eu, por sê` la mais bonita,    por que razão ficaria?
     --Já não há conde nem duque    que te a ti mereceria,
  8   só há o conde d` Alvelos,    que é casado, tem família.
     --Mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha.--
  10   Palavras não eram ditas,    o cond` à porta batia.
     --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
  12   --Que mates tua mulher    p`ra casar com minha filha.
     --Minha mulher não na mato,    qu` ela a morte não mer`cia.
  14   Meterei-a num convento,    donde ninguém na veria,
     levarei o pão por onça,    a auguinha por medida.
  16   --Mata-a, ó conde d` Alvelos,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     e traz-m` a cabeça    nesta doirada bacia.--
  18   Foi o conde para casa,    mais triste do qu` a alegria,
     mandou pô` la sua mesa    pera fazer que comia;
  20   mandou fechar suas portas,    coisa que nunca fazia;
     as lágrimas eram tantas    que pola mesa escorria.
  22   --Conta-m` a tua tristeza,    conto-ta minha alegria.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Teu pai mandou-me chamar,
  24   que matasse minha mulher    para a sua filha casar.
     --`Scuita lá, conde d` Alvelos,    qu` isso remédio teria.
  26   Fecharás-me num convento,    donde ninguém me veria.
     --Tudo isso le propus,    ele nada aceitaria,
  28   que le levasse a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
  30   Adeus, criados e criadas,    a quem eu tanto queria,
     adeus, jardim das flores,    donde m` eu adevertia!
  32   Vem cá, meu filho mais velho,    que te quero enxinar,
     tu vais ter outra mãe nova,    para le saberes falar,
  34   co` o joelhinho em terra,    co` o chapeuzinho na mão:
     «Venha cá, minha mãe nova,    deite-me a sua benção»
  36   Mama, mama, meu menino,    este leite da paixão,
     qu` amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe no caixão.
  38   Mama, mama, meu menino,    este leite d` amargar,
     qu` amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe a enterrar.
  40   Mama, mama, meu menino,    este leite da amargura,
     qu` amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe na sepultura.--
  42   Tocam nos sinos em Braga.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Morreu a dona Silvana,    filha de dona Maria.
  44   Descasá` los bem casados    e matar quem Deus não queria!

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0503:64 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6658)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Baião (c. Baião, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 167-168. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 703, pp. 384-385. © Fundação Calouste Gulbenkian.  063 hemist.  Música registrada.

     Acordou dona Silvana    do sono em que dormia.
  2   Tocando numa guitarra    tamanho estrondo fazia,
     acordou o pai e a mãe    do sono em que dormia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó filha minha?
     --De três damas que nós éramos    todas casaram, têm família,
  6   e eu, por sê` la mais formosa,    por que causa ficaria?
     --`Scuita lá, dona Silvana,    não tinhas homem que te a ti mer`cia,
  8   só o côndigo de Almeida,    é casado, tem família.
     --Senhor pai, senhora mãe,    esse mesmo é qu` eu queria!
  10   Mande-m` o aqui chamar    antes duma ave-maria.--
     Palavras não eram ditas,    côndigo à porta batia.
  12   --Que quer Vossa Real Alteza?    Que quer Vossa Senhoria?
     --Que mates tua mulher    p`ra casar` s com minha filha.
  14   --Minha mulher não a mato,    que ela a morte não mer`cia.
     --Mata-a, côndigo d` Almeida,    antes que t` eu tire a vida,
  16   hás-me de trazer a cabeça    nesta doirada bacia.--
     Foi o côndigo para casa,    triste noite cumo o dia.
  18   Mandou pô` la mesa    para fazer que comia,
     as bagadas eram tantas    que no prato caío.
  20   --Que tens, côndigo d` Almeida?    Que levou tua alegria?
     --El-rei me mandou chamar    que te matasse, ó Maria.
  22   --`Scuita, côndigo di Almeida,    isso remédio teria.
     Darás-m` o pão por onça    e a auga por medida,
  24   uma sardinha salgada,    aí m` acabará la vida.
     --Como t` hei-de fazer isso,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  26   que l` hei-de levar a cabeça    nesta doirada bacia.
     --Mama, mama, meu menino,    este leite da paixão,
  28   amanhã, por esta hora,    tua mãe vai no caixão.
     Mama, mama, meu menino,    este leite d` amargura,
  30   amanhã, por esta hora,    `stá tua mãe na sepultura.--
     Tocam nos sinos na Sé.    Ai Jesus! Quem morreria?
  32   Morreu a dona Silvana,    a do côndigo ficaria.

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0503:65 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6659)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de S. Tomé de Covelas (c. Baião, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 169-170. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 704, pp. 385-386. © Fundação Calouste Gulbenkian.  024 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando na sua guitarra    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     Acordou seu pai na cama    co` o estrondo que fazia
  4   --Tu que tens, ó minha filha?    Tu que tens, ó filha minha?
     --De três filhas que nós éramos    `stão casadas, têm família,
  6   eu, por ser a mais bonita.--    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Deixa-me dar um passeio    da sala até à cozinha,
  8   adeus, moças, adeus, aias,    a quem eu tanto queria!
     Adeus, janela da entrada,    donde m` eu adevertia!
  10   Adeus, espelhos reais,    adonde eu tanto me via!
     Vem cá, meu filho mais velho,    que te quero ensinar.--
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12   Tocam os sinos em Braga.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Morreu a filha do rei    pelo estrondo que fazia.

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0503:66 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6660)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Penafiel (c. Penafiel, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 164. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 705, pp. 386-387. © Fundação Calouste Gulbenkian.  048 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor adiante,
  2   tocando numa guitarra,    tocando à maravilha.
     Acordava seu pai da cama    co` o instrumento que fazia.
  4   --Que fazes, dona Silvana?    Que fazes, filha minha?
     --Sete manas que nós éramos,    todas elas são casadas,
  6   e eu, por ser a mais nova,    por que razão ficaria?
     --Minha filha, dona Silvana,    a ti quem te merecia?
  8   --Merecia-me o conde de Alberto,    que é casado e tem família.
     Mande-mo chamar, meu pai,    da sua parte e da minha,
  10   que venha cá jantar    nesta mesa d` alegria.--
     Veio o conde de Alberto e disse:    --Que quer Vossa Excelência?
  12   --Que mates tua mulher    e cases com minha filha.
     --Ó senhor, isso não faço,    que ela morte não merecia.
  14   --Mata, conde, mata, conde,    traz-m` os olhos nesta bacia.--
     O conde foi para casa,    o mais triste que podia.
  16   Mandou fechar portas e janelas,    cousa que nunca fazia.
     Assentado à mesa,    fazendo que comia,
  18   as lágrimas eram tantas,    que pela mesa corriam.
     Ela disse:    --Mata, conde de Alberto, mata!--
  20   Foi-se despedir    de criadas em criadas.
     --Adeus, criadas, adeus,    a quem eu tanto queria!
  24   Adeus jardim de flores,    onde me eu divertia!--

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos a seguinte didascalia: entre -18 e -19 Ela pergunta-lhe que tinha, ele não lhe qu`ria dizer, mas sempre lho disse: que chegava a sorte de a matar.

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0503:67 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6661)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Penafiel (c. Penafiel, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 164-166. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 706, pp. 387-388. © Fundação Calouste Gulbenkian.  093 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   c` uma guitarra nos braços,    que tão bem na tangia,
     seu pai ouviu da cama    o estrondo que ela fazia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó filha minha?
     --Eu que hei-de ter, meu pai,    que hei-de ter e que teria?
  6   De três irmãs que nós éramos    são casadas, têm família,
     eu, por ser a mais bonita,    solteirinha ficaria?
  8   --Cala-te, ó dona Silvana,    que eu te vou mandar calar.
     Vou chamar o conde Alberto    para contigo casar.
  10   --Conde Alberto é casado,    é casado, tem família,
     mas mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha.--
  12   Veio o conde ao palácio,    triste, como não viria!
     --Mata la tua condessa    p`ra casares com minha filha,
  14   e trarás-me a cabeça    nesta mui nobre bacia.
     --A condessa não a mato,    a morte não ma merecia.
  16   --Mata, conde, mata, conde,    antes que te tire a vida!--
     Veio o conde para casa,    triste, como não viria!
  18   --Que tem, conde? Que tem, conde?    Que tem Vossa Senhoria?
     Conte-me as suas tristezas,    que eu vos conto alegrias.
  20   Manda el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
     --Ó conde, não me mates,    a morte não ta merecia!
  22   Meterás-me num convento,    toda a vida arrecolhida.
     Darás-me o comer por onça,    e a água por medida,
  24   nem o sol, por ser sol,    parte de mim saberia!
     --Não é isso, não é isso,    não é isso, vida minha.
  26   Manda el-rei que te mate    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     e que lhe leve a cabeça    nesta maldita bacia.
  28   --Deixai-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
     Dá-me cá aquele menino,    p`ra mor dele aqui mamar.
  30   Mama, meu menino,    este leite d` amargura,
     amanhã, por estas horas,    `stá tua mãe na sepultura.--
  32   Mandou fazer a cama,    p`ra ver se descansaria;
     `inda não eram dez horas,    já à porta se batia.
  34   Se a condessa era morta,    se não que a mataria.
     --A condessa não é morta,    mas já `stá nessa agonia.
  36   --Dêem-me cá aquele menino,    mamará por despedida.
     Mama, mama, meu menino,    mama mais uma goteira,
  38   que não achas neste mundo    outra melhor criadeira.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de pesar,
  40   que amanhã, por estas horas,    `stá tua mãe a enterrar.
     Adeus, moças, adeus, aias,    a que eu tanto bem queria,
  42   adeus, papagaio real,    com quem m` eu adevertia!
     Dai-me cá aquele tinteiro,    por amor d` eu aqui escrever,
  44   c` uma pena a meus pais    de que morte eu vou morrer.--
     Tocam os sinos em palácio.    --Ai Jesus! Quem morreria?
  46   --Foi a filha do rei    c` uma morte repentina.
     --Se morreu, morrera embora,    que ela tão mal me queria!--

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0503:68 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6662)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Porto (c. Porto, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1867. Publicada en Braga 1867a, 68-71. Reeditada en Harding 1887, I. 145-148; RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 496-499 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 707, pp. 388-390. © Fundação Calouste Gulbenkian.  114 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvaninha    pelo corredor acima,
  2   tocando sua guitarra,    muito bem que a tangia,
     acordou seu pai da cama,    com o estrondo que fazia.
  4   --Que tendes, dona Silvana?    Que tendes, ó vida minha?
     --Raparigas do meu tempo,    são casadas têm família,
  6   eu, por ser a mais formosa,    para o canto ficaria?
     --Não tenho com quem te case,    neste reino, minha filha,
  8   só se for o conde Alberto,    é casado e tem família.
     --Mandai-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha,
  10   que mate sua condessa    e case com vossa filha,
     que traga a cabeça dela    nesta dourada bacia.--
  12   Eis manda chamar o conde    da sua parte e da filha,
     matasse a sua condessa,    casasse com Silvaninha.
  14   Veio o conde mui depressa,    mais depressa que podia.
     --Quero mates a condessa,    que cases com minha filha.
  16   --Como matar a condessa,    se ela a morte não merecia?
     --Mata, mata, conde Alberto,    antes de uma ave-maria,
  18   me traz a sua cabeça,    nesta dourada bacia.--
     Foi o conde para casa,    muito triste que ele ia,
  20   mandou fechar seus palácios,    cousa que nunca fazia.
     Mandou vestir seus criados,    de luto à maravilha,
  22   mandou pôr a sua mesa,    para fazer que comia,
     as lágrimas eram tantas    que pela mesa corria,
  24   os suspiros eram tantos    que o palácio estremecia.
     Desceu a condessa abaixo    a ver o que o conde tinha.
  26   --Que tens tu, ó conde Alberto?    Que tendes, ó vida minha?
     Conta-me as tuas tristezas,    como contais alegrias.
  28   --Minhas tristezas são tantas    que contar-vos não queria.
     --Conta, conta, conde Alberto,    conta, conta, vida minha.
  30   --Manda-me el-rei que te mate,    que case com sua filha.
     --Cala-te lá, conde Aberto,    que isso remédio teria,
  32   meter-me-ás num convento    que não veja sol, nem dia,
     deras-me o pão por onça,    água por uma medida.
  34   --Ai, como pode isso ser,    condessa da minha vida?
     Diz que te leve a cabeça,    nesta maldita bacia.
  36   --Cala-te daí, ó conde,    que isso remédio teria,
     matarias a donzela    que se parece comigo.
  38   --Cala-te daí, mulher,    que isso não é honra minha.
     --Vou para casa de meu pai    nunca mais aparecia.
  40   Palavras não eram ditas,    el-rei à porta batia,
     se a condessa era morta,    senão ele a mataria.
  42   --A condessa não é morta,    anda nessas agonias.
     --Deixa-me dar um passeio,    da sala até à cozinha,
  44   adeus moças, adeus aias,    com quem eu me divertia.
     Adeus espelho real,    onde me via e vestia,
  46   que amanhã, por estas horas,    já estarei na terra fria.
     Dá-me cá esse menino    que o quero pentear,
  48   dá-me cá o outro mais novo    quero-lhe dar de mamar.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de paixão,
  50   que amanhã, por estas horas,    está tua mãe no caixão.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de pesar,
  52   que amanhã, por estas horas,    vai tua mãe a enterrar.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de amargura,
  54   amanhã, por estas horas,    está tua mãe na sepultura.--
     Tocam sinos em palácio.    Ai, Jesus, quem morreria?
  56   Morreu a filha do rei,    pela soberba que tinha,
     descasar os bem casados,    cousa que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: RGP I 1906, (reed. facs. 1982) edita nestas páginas Braga (1867), com alguns versos de Hardung 1877, I, 149-152.
Nota: -31a Aberto sic.

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0503:69 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6663)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Porto (c. Porto, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Recogida 00/00/1876 Publicada en Leite de Vasconcellos 1886, 39-41. Reeditada en Leite de Vasconcellos 1938, 1058-1061; Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 162-163; Viegas Guerreiro 1976, 26-28; Viegas Guerreiro 1982, 25-27 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 708, pp. 390-391. © Fundação Calouste Gulbenkian.  086 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    que grande estrondo fazia.
     Acordou seu pai da cama,    do sono em que ele dormia.
  4   --Que tens tu, dona Silvana,    que tens tu, ó filha minha?
     --Três manas que nós éramos,    são casadas, têm família,
  6   e eu, por ser a mais formosa,    para o canto ficaria.
     --Só se for com conde Alberto:    é casado, tem família.
  8   --Mande-o, meu pai, chamar,    da sua parte e da minha.--
     Palavras não eram ditas,    já conde à porta batia.
  10   --Que quer Vossa Majestade,    que quer Vossa Senhoria?
     --Quero que mates condessa    p`ra casar com minha filha.
  12   --Eu condessa não na mato,    que ela a morte não mer`cia.
     --Mata, conde, mata, conde,    senão eu tiro-te a vida.
  14   E mandarás a cabeça    nesta doirada bacia!--
     Foi conde para palácio,    pensando no que faria,
  16   mandou fechar seu palácio,    coisa que nunca fazia,
     mandou vestir seus criados    de luto à maravilha.
  18   Mandou pôr a sua mesa,    para fingir que comia,
     as lágrimas eram tantas,    que pela mesa corriam.
  20   Deitou-se na sua cama,    para fingir que dormia,
     os suspiros eram tantos,    que até palácio tremia.
  22   --Tu que tens, ó conde Alberto?    Tu que tens, ó vida minha?
     Conta-me a tua tristeza,    que eu conto-te minha alegria.
  24   --Mandou o rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
     --Escuta, conde, escuta,    conde, que isso remédio teria,
  26   meterás-me num convento,    serei freira recolhida,
     me darás o pão por onça    e a água por medida,
  28   darás sardinha salgada,    que me acabes com a vida.
     --Quer que te mande a cabeça    nessa maldita bacia.
  30   --Deixa-me dar um passeio,    da sala para a cozinha.
     Mama, mama, meu menino,    deste leite de paixão,
  32   amanhã, por estas horas,    está tua mãe no caixão.
     Mama, mama, meu menino,    deste leite de pesar,
  34   amanhã, por estas horas,    está tua mãe a interrar.
     Mama, mama, meu menino,    deste leite de amargura,
  36   amanhã, por estas horas,    está tua mãe na sepultura.
     Mama, mama, meu menino,    deste leite derramado,
  38   que amanhã, por estas horas,    está meu corpo sepultado.--
     Estando o menino ao peito,    `inda nem um mês teria!,
  40   tocam sinos em palácio:    --Minha mãe, quem morreria?
     --Morreu a filha d`el-rei    pela traição que fazia,
  42   apartar os bem casados,    coisa que Deus não queria.
     Venham condes e marqueses    para o jardim da alegria!--

Variantes: -12a a mato (1886; 1938); -23b conto minha (1886; 1938).
Nota del editor de RºPortTOM 2001: Editamos Leite (1958).

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0503:70 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6664)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Felgueiras (c. Porto, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 161-162; Redol 1964, 648-649. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 709, pp. 391-392. © Fundação Calouste Gulbenkian.  079 hemist.  Música registrada.

     Indo Carolina Augusta    pelo seu corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    que istrumento não fazia,
     Seu pai que ouviu aquilo:    --Tu que tens, ó minha filha?
  4   --Minhas manas são mais novas,    são casadas, têm família,
     eu, por ser a mais formosa,    num canto fico metida!
  6   --Não vejo no meu reinado    com quem te case, minha filha.
     --Mande, mande, senhor pai,    da sua parte e da minha,
  8   mande chamar conde Alberto,    para casar com sua filha.--
     O conde chegou ao palácio,    o rei senhor, que lhe queria?
  10   --Quero que mates condessa    para casar com minha filha.
     --Eu condessa não a mato    que a morte não merecia.
  12   --Mata, conde, mata, conde,    dentro numa ave-maria,
     e traz-me a sua cabeça    nesta nobre bacia.--
  14   O conde chegou ao palácio    e mandou fechar as casas,
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    do mais seguro que havia.
  16   Mandou vestir as criadas    do maior luto que havia,
     mandou pôr a mesa    para fazer que comia,
  18   as vagadas eram tantas    que pela mesa corriam!
     A condessa viu aquilo.    O rei senhor que lhe queria?
  20   --Eu, condessa, não lho digo,    que lhe causa agonia.
     --Diga, conde, diga, conde,    dentro duma ave-maria.
  22   --Diz que matasse a condessa    para casar com sua filha.
     --Isso tudo tem remédio:    meta-me num arrecolhim,
  24   dar-me o pão por ração,    e a água por medida.
     --Ai, condessa da minha alma,    eu tudo isso fazia,
  26   mas quer a sua cabeça    nesta maldita bacia!
     --Eu vou dar a despedida,    da sala para a cozinha.
  28   Adeus, moças, adeus, aias,    adeus, espelhos de vestir,
     adeus, flores do jardim,    onde eu m` ia adevertir!
  30   Vem cá, meu filho mais velho,    que te quero ensinar,
     para a tua mãe-senhora    lhe sabereis falar!
  32   Vem cá, meu filho do meio,    com o chapeuzinho na mão,
     para a tua mãe-senhora    lhe pedires a benção!
  34   Mama, mama, meu menino,    deste leite de paixão,
     que amanhã, por estas horas,    já eu estarei no caixão.
  36   Mama, mama, meu menino,    deste leite de amargura,
     que amanhã, por estas horas,    já estou na sepultura!--
  38   Tocam os sinos em palácio.    Ai Jasus! Quem morreria?
     Morreu Carolina Augusta,    dos delitos que fazia,
  40   descasar os bem casados,    cousa que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: -2b istrumento por estrondo; -6b o colector escrveu: com quanto case.

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0503:71 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6665)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Porto (c. Porto, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1893. Publicada en Neves/Campos 1893 234; RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 503-506. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 710, pp. 391-394. © Fundação Calouste Gulbenkian.  084 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra,    que grande estrondo que fazia!
     Acordou seu pai da cama    do sono em que ele dormia.
  4   --Que tens tu, dona Silvana?    Que tens tu, ó filha minha?
     --Três manas que nós eramos,    são casadas, têm familia
  6   e eu por ser a mais formosa    para o canto ficaria!
     só se for com conde Alberto,    é casado, tem família,
  8   --Mande-o, meu pai, chamar    da sua parte e da minha.--
     Palavras não eram ditas,    já conde à porta batia.
  10   --Que quer, Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
     --Quero que mates condessa    p`ra casar com minha filha.
  12   --Eu, condessa não a mato,    que ela a morte não merecia.
     --Mata, conde, mata, conde,    senão, eu tiro-te a vida.
  14   E mandarás a cabeça    nesta doirada bacia.--
     Foi conde para palácio,    pensando no que faria.
  16   Mandou fechar seu palacio,    coisa que nunca fazia,
     mandou vestir seus criados    de luto à maravilha,
  18   mandou pôr a sua mesa,    para fingir que comia.
     As lágrimas eram tantas    que pela mesa corriam.
  20   Deitou-se na sua cama,    para fingir que dormia,
     os suspiros eram tantos    que até palacio tremia.
  22   --Tu que tens, ó conde Alberto?    Tu que tens, ó vida minha?
     Conta-me a tua tristeza,    que eu conto minha alegria.
  24   --Mandou o rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
     --Escuta, conde, escuta, conde,    que isso remedio teria.
  26   Meterás-me num convento    serei freira recolhida,
     me darás o pão por onça    e a água por medida,
  28   darás sardinha salgada    que me acabes com a vida.
     --Quer que te mande a cabeça    nessa maldita bacia.
  30   --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
     Mama, mama, meu menino,    deste leite de paixão,
  32   amanhã, por estas horas,    está tua mãe no caixão.
     Mama, mama, meu menino,    deste leite de pesar,
  34   amanhã, por estas horas,    está tua mãe a enterrar.
     Mama, mama, meu menino,    deste leite de amargura,
  36   amanhã, por estas horas,    está tua mãe na sepultura.
     Mama, mama, meu menino,    deste leite derramado,
  38   que amanhã, por estas horas,    está meu corpo sepultado.--
     Estando o menino ao peito,    `inda nem um mês teria.
  40   --Tocam os sinos em palácio,    minha mãe, quem morreria?!
     --Morreu, a filha d`el-rei    pela traição que fazia.
  42   Apartar os bem casados,    coisa que Deus não queria.
     Venham condes e marqueses,    para o jardim de alegria.--

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0503:72 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6666)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Monte Córdova (c. Santo Tirso, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1942. Publicada en Carneiro 1942, 22-24; Lima - Carneiro 194?, 69-72; Carneiro 1958a, 29-34; Lima - Carneiro 1984, 88-93. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 711, pp. 394-395. © Fundação Calouste Gulbenkian.  134 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana,    pelo corredor acima,
  2   acordou seu pai e mãe    com estrondo que fazia.
     --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó minha filha?
  4   --Sete manas que nós éramos,    estão casadas, têm família;
     por eu ser a mais formosa,    p`ra um canto ficaria.
  6   --Não tenho com quem te case,    não vejo quem te mereça;
     só se for o conde Alberto,    é casado, tem condensa.
  8   --Então mande-o chamar,    da sua parte e da minha.--
     O conde, que era conde,    logo disse: sim, que vinha.
  10   --Aqui estou, real senhor.    Que quer vossa senhoria?
     --Quero que mates a condensa    p`ra casar com minha filha.
  12   --A condensa não na mato,    que a morte não merecia;
     mando-a p`r`à terra dela,    donde pai e mãe teria.
  14   --Cala, conde, cala, conde,    não te ponhas com profia;
     ou tu matas a condensa,    senão eu tiro-te a vida.
  16   --A condensa não na mato,    que a morte não merecia;
     mandarei-a p`ra um convento,    mais alto não haveria.
  18   Le darei o pão por onças,    e a água, por medida,
     o bacalhau às arrobas,    e assim le tiro a vida.
  20   --Cala, conde, cala, conde,    não te ponhas com profia;
     olha: tu mata a condensa,    senão eu tiro-te a vida.
  22   --A condensa não na mato,    que a morte não merecia;
     mandarei-a botar ao mar,    que a água a abafaria.
  24   --Cala, conde, cala, conde,    não te ponhas com profia;
     ou tu matas a condensa,    senão eu tiro-te a vida;
  26   e tu me trarás a língua,    nesta branquinha bacia.--
     Foi o conde para casa,    muito triste que ele ia.
  28   Mandou fazer sua cama    para fingir que dormia.
     Mandou pôr sua mesa,    para fingir que comia;
  30   as bagadas eram tantas,    já pela mesa corria,
     os suspiros que ele dava,    a mesa estremecia.
  32   --Tu que tens, ó conde Alberto?    Tu que tens, ó prenda minha?
     Conta-me as tuas tristezas,    para mim, com alegria.
  34   --Manda el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
     --Cala, conde, cala, conde,    isso remédio teria.
  36   Manda-me p`r`à minha terra,    onde pai e mãe teria.
     --Isso le disse eu, senhora,    mas el-rei não consentia!
  38   Que a matasse eu, senhora,    p`ra casar com sua filha.
     --Cala, conde, cala, conde,    isso remédio teria.
  40   Manda-me p`ra um convento,    mais alto não haveria,
     me darás o pão por onças    e a água por medida,
  42   o bacalhau às arrobas,    assim me tiras a vida.
     --Isso le disse eu, senhora,    mas el-rei não consentia!
  44   Que a matasse eu, senhora,    p`ra casar com sua filha.
     --Cala, conde, cala, conde,    isso remédio teria:
  46   Manda-me botar ao mar,    que a água me abafaria.
     --Isso le disse eu, senhora,    mas el-rei não consentia!
  48   Que a matasse eu, senhora,    p`ra casar com sua filha,
     e que le levasse a língua,    nesta maldita bacia.
  50   --Tu não me mates com faca,    nem com coisa que me fira;
     mata-me com uma toalha,    com esta de lona fina.
  52   Deixa-me dar um passeio,    do sobrado até à cozinha,
     a dizer adeus às moças,    e às amas que eu lá tinha.
  54   Adeus, alecrim do norte,    espelho donde me eu via;
     adeus, ó janelas verdes,    donde me eu espairecia.
  56   Dai-me cá aquele menino,    que o quero abraçar;
     dai-me cá também aquele,    também o quero beijar;
  58   `inda me dai mais aquele,    le quero dar de mamar.
     Mama, mama, meu menino,    este leite de pesar;
  60   amanhã, por esta hora,    tua mãe a sepultar.
     Mama, mama, meu menino,    este leite da amargura;
  62   amanhã, por esta hora,    tua mãe, na sepultura.--
     Tocam os sinos em palácio.    Ai, Jesus, quem morreria?
  64   Tornaram a repetir:    É o Rei e sua filha;
     tocam à dona Silvana    pela sua soberbia.
  66   Casados e bem casados,    vivendo com alegria;
     descasá-los e mal casá-los,    coisa que Deus não fazia.

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0503:73 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6667)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Santo Tirso (c. Santo Tirso, dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1914. Publicada en Lima 1914-1917, 292-294; Lima 1948, 483-489. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 712, pp. 396-397. © Fundação Calouste Gulbenkian.  098 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    por um corredor acima,
  2   tocando viola d` ouro,    oh, que tão bem na tangia!
     Acorda seu pai e mãe    c` o estrondo que fazia.
  4   --Tu que tens dona Silvana?    Tu que tens, ó filha minha?
     --Eu não choro, senhor pai,    se chorasse, razão tinha,
  6   as mais novinhas do que eu    são casadas, têm família,
     eu por ser a mais velhinha,    p`r`ò canto eu ficaria.
  8   --Não tenho com quem te case,    nem em palácio havia,
     só se fosse o conde Alberto,    conde Alberto tem família.
  10   --Esse mesmo, meu paizinho,    esse mesmo é qu` eu qu`ria,
     mande-mo aqui chamar    da sua parte e da minha,
  12   que lhe qu`ria aqui falar,    dentro duma ave-maria.--
     Chegou a resposta ao conde,    o conde estava na missa.
  14   --Aqui estou, real senhor,    aqui estou, que me qu`ria?
     --Quero que mates condessa,    p`ra casar com filha minha.
  16   --A condessa não na mato,    qu` ela a morte não mer`cia,
     antes a meto num convento,    convento de Santa Maria,
  18   lhe darei o pão por onças    e a água por medida.
     --Mata, mata, conde Alberto,    antes que te tire a vida,
  20   traz-me cá o coração    nesta dourada bacia.--
     Conde Alberto foi p`ra casa,    muito triste em frenesia.
  22   Mandou fechar seus palácios,    coisa que nunca fazia.
     Mandou vestir seus criados,    de luto à maravilha,
  24   mandou vestir suas moças    da melhor seda que havia.
     Mandou vir comer p`r`à mesa,    só p`ra ver s` ele comia,
  26   as lágrimas eram tantas    que por mesa corria!
     --Tu que tens, ó conde Alberto?    Tu que tens, ó condelia?
  28   Conta-me a tua tristeza,    conto-te a minha alegria.
     --A minha tristeza é muita,    eu com tanta não podia!
  30   Mandou el-rei que te mate,    p`ra casar com sua filha.
     --A condessa não na mates,    qu` eu a morte não mer`cia.
  32   --Que mandasse o coração    nesta maldita bacia.
     --Traz-me cá os meus meninos,    que os quero pentear,
  34   dá-me o menino mais velho    que o quero abraçar,
     traz-me também o mais novo    que lhe quero dar de mamar.
  36   Mama, mama, meu menino,    este leite da paixão,
     que amanhã, por estas horas,    já estarei no caixão.
  38   Mama, mama, meu menino,    este leite de amargura,
     que amanhã, por estas horas,    já estarei na sepultura.
  40   Mama, mama, meu menino,    este leite repousado,
     que amanhã, por estas horas,    já estarei sepultado.
  42   Mama, mama, meu menino,    este leite de divindade,
     amanhã, por estas horas,    está tua mãe na eternidade.--
  44   Tocam sinos em palácio.    Ai, Jesus! Quem morreria?
     Responde o menino do peito,    ele a idade não tinha.
  46   --Morreu a dona Silvana,    pelo mal que cometia,
     descasar os bem casados,    coisa que Deus não qu`ria.
  48   Morreu a dona Silvana    e ficou dona Maria,
     viva o conde e a condessa    sempre na mesma alegria.--

Variantes: -2a uma guitarra; -2b olha o trânsito que fazia; -2b chorando na triste vida; -3a seu pai da cama; -3b do sono em que dormia; -3b e toda a gente da família; -6a todas as damas da cidade; -7 eu por ser a mais formosa por que causa ficaria? ; -8 Não vejo com quem te case, não vejo, ó minha filha; -9 Mas conde Alberto é casado, é casado, e tem família; -13 Palavras não eram ditas já conde à porta batia; -20 tens de me trazer a cabeça nesta maldita bacia; -23 mandou pôr tudo de luto, cousa que ele nunca o fazia; -27b Que tens, ó vida minha; -44a os sinos na Sé; -46b com raiva que me trazia; -49 venham condes e marqueses, par o jardim da alegria.

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0503:74 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6668)

Versión de Douro Litoral s. l. (dist. Porto, Douro Litoral, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 170-171. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 713, pp. 397-398. © Fundação Calouste Gulbenkian.  079 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   acordou seu pai da cama,    d` altos sonos que dormia.
     --Que tens, dona Silvana?    Que tens, ó filha minha?
  4   --Sete irmãs que éramos    são casadas e têm família,
     e eu, por ser a mais bonita,    nesta sorte ficaria?
  6   --Já procurei e não achei    gente igual à minha,
     só se for o conde d` Alberto:    é casado e tem família.
  8   --Mande-o chamar, meu pai,    da sua parte e da minha,
     que mate a condessa,    p`ra casar com Silvaninha.--
  10   A palavra estava dita,    o conde à porta batia.
     --Que me quer Vossa Mercê?    Que quer Vossa Senhoria?
  12   --Quero que mates condessa    p`ra casar com Silvaninha.
     --Eu matá-la, não a mato,    que a morte não a merecia.
  14   --Mata, conde, mata, conde,    senão eu tiro-te a vida,
     traz a cabeça nesta toalha,    o sangue nesta bacia.--
  16   Foi o conde para casa    mais triste que a maravilha.
     Mandou fechar seu palácio,    costume que não havia,
  18   mandou vestir seus criados    do maior luto que havia.
     Mandou pôr a sua mesa    para fingir que comia,
  20   as lágrimas eram tantas,    que pela mesa corriam.
     Mandou fazer sua cama    para fingir que dormia,
  22   os suspiros eram tantos,    que a cama estremecia.
     --Tu que tens, conde Alberto?    Tu que tens, ó vida minha?
  24   --Querem que mate condessa    p`ra casar com Silvaninha.
     --Meterás-me num convento,    adonde não veja sol nem dia.
  26   Dá-me a comida por onça,    a água por medida.
     --Como te hei-de meter,    condessa da minha vida,
  28   Se quer que eu leve    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     a cabeça nesta toalha,    o sangue nesta bacia.
  30   --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha:
     adeus, amas, adeus, moças,    a quem eu tanto queria.
  32   Vem cá, meu filho mais velho,    que te quero ensinar,
     quando vier tua mãe nova,    como lhe há-des chamar.
  34   Bota o joelhinho no chão,    o chapeuzinho na mão:
     «Venha cá, minha mãe nova,    bote-me a sua benção.»
  36   Vem cá, meu filho mais novo,    que te quero dar de mamar,
     amanhã, por esta hora,    está tua mãe a enterrar.--
  38   Tocam os sinos na corte.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Foi a dona Silvana,    pela traição que fazia.
  40   Descasar os bem casados,    coisa que Deus não queria.

Variantes anotadas en RºPortTOM 2001: Os editores assinalam apenas Douro. A geografia Douro Litoral foi atribuída nesta edição.

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0503:114 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6708)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Vestiaria (c. Alcobaça, dist. Leiria, Estremadura, Portugal).   Recogida por Maria da Piedade Leite do Rego, publicada en Felgueiras 1948, 411-412. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 753, pp. 445-446. © Fundação Calouste Gulbenkian.  071 hemist.  Música registrada.

     Passeava dona Estefânia    pelo seu corredor fora,
  2   tocando numa viola,    o melhor que ela sabia.
     Levantou-se o seu pai da cama,    com o estrondo que fazia.
  4   --O que é isso, minha filha?    O que é isso, filha minha?
     --De três manas que eu tenho,    são casadas e têm família,
  6   eu, por ser a mais bonita,    porque razão ficaria?
     --Não tenho quem te mereça,    na mais alta senhoria,
  8   o conde de Montalvar,    é casado e tem família.
     --Era com esse, meu pai,    era com esse que eu queria,
  10   mande-mo cá chamar,    antes da uma hora do dia.--
     Era meia-noite em ponto,    já o conde à porta batia.
  12   --O que quer, Vossa Majestade?    O que quer, Vossa Senhoria?
     --Quero que mates a condessa,    p`ra casares com minha filha.
  14   --A condessa não a mato,    nem ela a morte merecia.
     --Mata, conde, mata, conde,    não me voltes demasia,
  16   hás-de trazer-me a cabeça,    nesta dourada bacia,
     e não ma tragas trocada    que eu bem na conhecia.--
  18   O conde voltou para trás,    com grande melancolia,
     fechou portas e janelas,    coisa que nunca fazia.
  20   --Que tens tu, meu querido conde?    Que vens triste na agonia?
     Conta-me a tua tristeza    qu` eu te conto minha alegria.
  22   --O rei mandou matar a condessa,    para eu casar com a filha.
     --Deixa, conde, deixa, conde,    tudo se pode arranjar,
  24   mete-me num convento,    nem o chão o há-de sonhar.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Não, que logo ele o saberia,
  26   mandou levar-lhe a cabeça    nesta dourada bacia,
     que a não levasse trocada    que bem a conhecia.
  28   --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha,
     adeus cravos, adeus rosas,    adeus flores do meu jardim.
  30   Dêem-me cá aquele menino    que lhe quero dar de mamar.
     Mama, meu filho, mama,    este leite de agonia,
  32   amanhã, a estas horas,    está meu corpo em terra fria.--
     Tocam os sinos na côrte.    Ai, Jesus! Quem morreria?
  34   Morreu o conde e a condessa,    morreu o rei mais a filha.
     E um menino de onze meses,    que ainda falar não sabia.
  36   --Queriam desmanchar os bem casados,    coisa que Deus não queria.--

Nota: La colectora, Maria da Piedade Leite do Rego fue profesora oficial.

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0503:115 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6709)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Cadaval (c. Cadaval, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 205-206; Redol 1964, 636-637. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 754, pp. 446-447. © Fundação Calouste Gulbenkian.  074 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Selivana    pelo seu jardim acima,
  2   tocando numa viola,    tocando que recindía.
     Acordou seu pai do sono    pelo estrondo que fazia.
  4   --Que tens, dona Selivana?    O que tens, ó filha minha?
     --Todas as manas `stão casadas,    só eu fiquei solteirinha!
  6   --Diz-me, dona Selivana,    com quem queres tu casar?
     --Mande-me chamar o conde Alverca    que lhe quero já falar.--
  8   Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --Que quer Vossa Majestade?    Que quer Vossa Senhoria?
  10   --Que mates la vescondessa    entre a noite e o dia.
     Traze-m` aqui a cabeça,    nesta doirada bacia.
  12   --Condessa não mato eu,    mulher que tanto lhe queria.--
     Foi o conde para casa,    mais triste que a noite e o dia;
  14   mandou fechar suas portas,    coisa qu` el` nunca fazia;
     mandou vestir seus criados    do maior luto que havia;
  16   mandou pôr a sua menza    do melhor manjar que havia,
     nela se foi assentar    para fingir que comia.
  18   Eram tão grandes as dores,    que até a loiça tremia,
     e eram tantas as lágrimas,    qu` inté os pratos enchia.
  20   --O que tens, conde d` Alverca?    O que tens, ó meu marido?
     Conta-m` as tuas tristezas,    qu` eu te darei alegria.
  22   --Tristezas t` hei-de eu contar,    mulher que tanto te qu`ria!
     Mandou-me o rei chamar,    que te matasse entre a noite e o dia,
  24   que te levasse a cabeça    nesta malvada bacia.
     --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha:
  26   adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, dispenseira minha!
     Deixa-me dar um passeio    da sala para o quintal:
  28   adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus flores do laranjal!
     Mandai chamar o meu filho,    que lhe quero dar de mamar:
  30   mamai, meu filho, mamai,    este leite d` aflição,
     amanhã, por estas horas,    outra mãe te dará pão.
  32   Mamai, meu filho, mamai,    este leite de amargura,
     amanhã, por estas horas,    `stá tua mãe na sepultura.--
  34   Tocam nos sinos em Mafra.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Respondeu o menino do colo,    nem mês e meio teria.
  36   --Morreu a dona princesa,    que ela a morte bem merecia:
     descasar os bem casados,    coisa que Deus não queria!--

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0503:116 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6710)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Cadaval (c. Cadaval, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 207-208. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 755, pp. 447-448. © Fundação Calouste Gulbenkian.  074 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Selivana    pelo seu jardim acima
  2   tocando numa viola,    tocava que rescindia,
     acordou seu pai do sono,    pelo estrondo que fazia.
  4   --O que tens, ó minha filha?    O que tens, ó filha minha?
     --Todas as manas `stão casadas,    só eu fiquei solteirinha.
  6   --Diz-me cá, ó minha filha,    com quem queres tu casar?
     --Cham` o conde d` Alberca,    qu` eu com ele quero falar.--
  8   Palavras não eram ditas,    o conde à porta batia.
     --O que quer, Real Mastade?    O que quer Vossa Senhoria?
  10   --Que mate` la viscondessa,    entre a noite e o dia,
     que me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
  12   Ele foi p`ra sua casa    mais triste que a noite e dia;
     mandou fechar suas portas,    cousa qu` ele nunca fazia;
  14   mandou vestir seus criados    do maior luto qui havia;
     mandou pôr as suas menzas    do melhor manjar que havia.
  16   Ele s` assentou a ela    para fingir que comia;
     eram tantos os choros,    que até a louça tremia;
  18   eram tantas as lágrimas,    qu` inté os pratos enchia.
     --O que tens, ó cond` Alverca?    O que tens, marido meu?
  20   Dá-m` as tuas tristezas    que eu te darei alegrias.
     --Que alegria te posso eu dar,    mulher, que tanto te queria?
  22   Mandou-me o rei chamar    p`ra casar com sua filha,
     e a ti que te matasse    entre a noite e o dia,
  24   e que te levasse a cabeça    nesta malvada bacia.
     --Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha:
  26   adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, dispenseira minha!
     Deixa-me dar um passeio    da sala para o quintal:
  28   adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, flores do laranjal!
     Mandai chamar os meus filhos,    quero-lhe dar de mamar:
  30   mamai, meus filhos, mamai,    este leite da aflição,
     amanhã, por estas horas,    outra mãe vos dará pão.
  32   Mamai, meus filhos, mamai,    este leite d` amargura,
     amanhã, por estas horas,    `tá vossa mãe na sepultura.--
  34   Responde o menino do peito,    nem um mês e meio teria:
     --Tocam os sinos em Mafra.    --Ai Jesus! Quem morreria?
  36   --Morreu a dona condessa,    ela a morte bem mer`cia:
     descasar os bem casados,    cousa que Deus não queria!--

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0503:117 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6711)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Mafra (c. Mafra, dist. Lisboa, Estremadura, Portugal).   Recitada por mujer que disse que estava escrito em letra de molde. Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 209-210. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 756, pp. 448-450. © Fundação Calouste Gulbenkian.  099 hemist.  Música registrada.

     Dindo dona Silvânia    pelo corredor arriba,
  2   tocando a sua guitarra    do melhor que sabia,
     levanta seu pai da cama    ao destrondo que fazia.
  4   --Que tens tu, dona Silvânia?    Que tens tu, ó filha minha?
     --Que quer que tenha, mê pai?    De três irmãs que semos,
  6   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    todas três casadas    e com família,
     e eu por ser a mais formosa    por que razão ficaria?
  8   --Queres tu, filha minha,    que mande chamar o duque da Mancha?
     --O duque da Mancha é casado,    é casado, tem família.
  10   Mas mande, mê pai, chamar    por sua parte e p`la minha.--
     A esta razão que estava,    o duque à porta batia.
  12   --Aqui me tem, mê senhor,    diga-me lá o que queria.
     --Quero que mate a condessa    p`ra casar co` a minha filha.
  14   --Ê a condessa nã na mato    qu` ela a morte não mer`cia.
     --Mate, duque, mate, duque,    não me mostre demasia;
  16   quero que traga a cabeça    nesta dourada bacia.--
     Foi-s` o duque p`ra palácio    chorando a sua agonia.
  18   Mandou fechá` los portões,    coisa que nunca fazia;
     mandou vesti` las criadas    de luto à mouraria.
  20   Se assentarem à menza,    nem um nem outro comia,
     e eram tantas as lágrimas    que até os pratos enchiam.
  22   --Conta-me as tuas desgraças    qu` ê te contarê maravilhas.
     --Que queres que te conte?    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  24   O rei me há dito que te mate    p`ra casar com sua filha.
     --Cala-te, duque, cala-te, duque,    qu` isso remédio taria.
  26   Meto-me num quarto `scuro    donde não veja a luz do dia.
     --Se o rei chega a saber,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  28   quer que lhe leve a cabeça    nesta dourada bacia.
     --Cala-te, duque, cala-te, duque,    qu` isso remédio taria.
  30   Manda-m` adêtar às mafas    que as ondas me levariam.
     --Se o rei chega a saber,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  32   quer que lhe leve a cabeça    nesta maldita bacia!
     --Dêxa-me dar um passêo    da sala para a cozinha.
  34   Adeus, criados e criadas,    quem vós tanto vos qu`ria!
     Dêxa-me dar um passêo    da sala para o jardim.
  36   Adeus, cravo, adeus, rosa,    e adeus, flor do alecrim.
     Venha cá o mê menino,    e o mê menino mais velho,
  38   que lhe quero procurar,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     qu` em tendo a sua mãe nova    lh` há-de chamar,
  40   co` o chapèzinho na mão    e os olhinhos a chorar.
     Venha cá o mê menino,    e o mê menino de mama:
  42   Mama, mama, mê menino,    deste leite amargurado,
     que amanhã, a estas horas,    já seu pai sará casado.
  44   Mama, mama, mê menino,    deste leite de agonia,
     que amanhã, a estas horas,    tendes mãe, má senhoria.
  46   Mama, mama, mê menino,    deste leite da amargura,
     qu` amanhã, a estas horas,    sua mãe `stá na sepultura.
  48   Os sinos de Mafa tocam.    Ai Jesus! Quem morreria?
     --Morreu a dona Silvana    da ingratidão que fazia,
  50   d` apartá` los bem casados,    coisa que Deus não queria!--
     Falou o menino de dois    que a três não chegaria.
  52   --D` apartá` los bem casados,    coisa que Deus não fazia!--

Nota del editor de RºPortTOM 2001: [A recitadora] disse que estava escrito em letra de molde.

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0503:119 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6713)

Versión de Cercal (c. Santiago do Cacém, dist. Setúbal, Estremadura, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 211-212. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 758, pp. 452-453. © Fundação Calouste Gulbenkian.  118 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Maria    pela sua escada acima,
  2   seu pai que estava dormindo    acordou na labutina.
     --O que é isso, dona Maria?    O que é isso, filha minha?
  4   --Três irmãos que Deus me deu    só eu fiquei solteirinha!
     --Não tenho, filha, com quem te case    com tão grande senhoria,
  6   só se o conde de Alemanha.    É casado e tem família.
     --Com esse, com esse, meu pai,    esse mesmo é que eu queria;
  8   mande-o aqui chamar,    que isso remédio teria.
     --Alto, alto, meus criados,    todos estão a meu mandado!
  10   Vão chamar o conde da Alemanha,    que venha aqui sem ser demorado.--
     Neste instante cheguei a palácio,    já el-rei me manda chamar;
  12   não sei se é para meu bem,    se será para meu mal.
     --O que quer, Vossa Alteza?    Vossa Alteza, que me queria?
  14   --Quero que mates a condessa    para casar com dona Maria.
     --A condessa não mato eu,    que ela a morte não merecia.
  16   Mandaria-a para seus pais,    tudo isso bastaria.
     --Mata-a, conde, mata-a, conde,    não me tornes demasia,
  18   traz-me a cabeça dela    nesta dourada bacia.
     --Mandaria-a para um convento,    tudo isso bastaria.
  20   --Mata-a, conde, mata-a, conde,    não me tornes demasia,
     traz-me a cabeça dela    nesta dourada bacia.
  22   --Mandaria-a para os bosques,    que os bichos a comeriam.
     --Mata-a, conde, mata-a, conde,    senão mato-te eu a ti.--
  24   Abalou o conde para o palácio    todo cheio de agonia.
     Mandou fechar as janelas,    coisa que nunca fazia;
  26   mandou vestir os criados    de luto à monarquia;
     mandou preparar a mesa,    para fazer que comia.
  28   As lágrimas eram tantas,    que até os pratos enchia.
     --O que tens tu, ó meu bom conde,    que vens tão cheio de agonia?
  30   Conta, conde, conta, conde,    conta da tua agonia,
     conta-me da tua tristeza,    que eu conto-te da minha alegria.
  32   --Se a senhora bem soubesse,    pouco alegre ficaria.
     Manda el-rei dizer que a mate    para eu casar com dona Maria.
  34   --Deixe lá, ó meu bom conde,    que isso remédio teria.
     Mandarias-me para meus pais,    tudo isso bastaria.
  36   --Isso lhe disse eu, senhora,    ele me disse que não queria,
     que lhe levasse a sua cabeça    nesta maldita bacia.
  38   --Deixe lá, ó meu bom conde,    que isso remédio teria.
     Mandarias-me para o convento,    tudo isso bastaria.
  40   --Isso lhe disse eu, senhora,    ele me disse que não queria,
     que lhe levasse a cabeça    nesta maldita bacia.
  42   E depois de haver tanta teima    a morte me prometia.
     --Alcança-me essa toalha    que ao pescoço a quero lançar.
  44   Deita cá o meu menino,    quero-lhe dar de mamar.
     Mamar, meu filho, mamar,    nesta pinga de beleza,
  46   que amanhã, por estas horas,    já és filho de uma princesa.
     Mamar, meu filho, mamar,    neste leite amargurado,
  48   que amanhã, por estas horas,    é seu pai el-rei coroado.
     Mamar, meu filho, mamar,    nesta pinga de amargura,
  50   que amanhã, por estas horas,    tem sua mãe na sepultura.
     Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha.
  52   Adeus, criados e criadas,    adeus, ó família minha!
     Deixa-me dar um passeio    da janela para o jardim.
  54   Adeus, cravos, adeus, rosas,    adeus, flores do alecrim!
     --Se a condessa não é morta,    eu mesmo a mataria.
  56   --A condessa não é morta,    mas anda nessa agonia.--
     Tocam-se os sinos da corte.    Quem morreu, quem morreria?
  58   Morreu a filha do rei    duma traição que fazia,
     tirar a mãe ao seu filhinho,    uma coisa que Deus não queria!

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0503:128 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6722)

Versión de Porto da Cruz (c. Machico, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recitada por Rita Rosa de Jesus. Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 127-135; RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 527-534. Reeditada en Coelho 1946, 176-183; Carinhas 1995, II, 137-139 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 767, pp. 468-471. © Fundação Calouste Gulbenkian.  204 hemist.  Música registrada.

     --Senhor pai dai-me marido,    isto só vos eu pedia,
  2   vós bem lo sabeis porquê    que, por al, nã pretendia.
     --Se na corte lo houvesse,    eu marido vos daria,
  4   só se fosse Cond` Elarde,    mas casou com vossa tia.
     --Esse mesmo, senhor pai,    esse mesmo bom seria,
  6   pera convosco jantar,    chamai-lo já neste dia,
     lá por meio do jantar,    eu lo alvoriçaria.--
  8   El-rei lhe mandou recado,    logo nesse mesmo dia.
     `Ind` agora vim da corte,    já recado p`ra voltar?
  10   ou el-rei me quer dar tença,    ou me quer mandar matar.
     E logo foi de caminho,    sem saber lo que cuidar.
  12   --Real senhor, Deus vos salve,    vossa c` roa a governar,
     `ind` agora daqui fui,    p`ra que me fazeis tornar?
  14   Só se é p`ra me dar tença,    ou me qu` reis mandar matar.
     --Não era p`ra te dar tença,    menos é p`ra te matar,
  16   meu recado te mandei,    pera comigo jantar.
     --Tendes lo jantar na mesa,    nã lo deixeis esfriar,
  18   tendes, nos ricos picheis,    vinho do nosso lagar,
     nos açafates da copa,    frutas do nosso pomar.
  20   Na rica bacia d` oiro,    água pera vos lavar,
     toalha de linho fino,    feita no nosso tear.--
  22   `Stão todo` los três à mesa,    qual a comer, qual bebia,
     e, por meio do jantar,    la infanta que dizia.
  24   --Alembra-te, cond` Elarde,    alembra-t` aquele dia,
     abaixo do rosal verde,    por detrás da fonte fria?
  26   --Eu bem m` alembro, senhora,    bem m` alembro desse dia,
     mas era nino chiquito,    pera mais não intendia.--
  28   Palavras não eram ditas,    que logo el-rei s` erguia.
     --Tamanho crime, de ti,    nunca eu lo cuidaria,
  30   ou com minha filha casas,    ou garrote te daria.
     --Já casei, tenho mulher,    com outra nã no pod` ria.
  32   --Vai matar tua condessa,    despois tudo se faria.
     Como houvera matá-la,    se morte lhe nã mer`cia?
  34   --Mando-la p`ra sua gente    que seu pai l` aceitaria,
     nem cartas ela mandava,    nem eu las receberia.
  36   --Vai matar tua condessa,    arrenego da porfia,
     sua cabeça cortada    quero ver nesta bacia.
  38   Como houvera matá-la,    se morte lhe nã mer`cia?
     --Mando-la pôr num mosteiro    que mais ninguém la veria,
  40   nem cartas ela mandava,    nem eu las receberia.
     --Vai matar tua condessa,    arrenego da porfia,
  42   sua cabeça cortada    quero ver nesta bacia.
     Como houvera matá-la,    se morte lhe nã mer`cia?
  44   --Mando-la deixar na serra    que lobo la comeria.
     --Vai matar tua condessa,    arrenego da porfia,
  46   sua cabeça cortada    quero ver nesta bacia.
     Como houvera matá-la,    se morte lhe nã mer`cia?
  48   --Mando-la deitar na mar,    donde nã se salvaria.
     --Vai matar tua condessa,    arrenego da porfia,
  50   sua cabeça cortada    quero ver nesta bacia.
     Nem la troques tu por outra,    qu` eu mui bem la conhecia,
  52   se tu nã la degolasses,    eu contigo m` haveria.
     Ou com minha filha casas,    ou garrote te daria,
  54   manda quem pode mandar,    arrenego da porfia.--
     Foi p`ra casa cond` Elarde,    triste, que mais nã podia.
  56   --Triste vindes, cond` Elarde,    como la noite do dia.--
     Pôs-lhe na mesa pão,    cond` Elarde nã comia,
  58   pôs-lhe na mesa bom vinho,    cond` Elarde nã bebia,
     tinha um nó na garganta,    comer nem beber podia,
  60   e foi deitá-lo na cama,    mas lo conde nã dormia.
     --Contai-me vossa tristeza,    como contais l` alegria.
  62   --Como vos hei-de contar    lo que nem saber eu qu`ria?
     El-rei manda que vos mate,    que seu genro eu seria.
  64   --Caluda, caluda, conde,    isso remédio teria,
     mandai-me p`ra minha gente    que meu pai m` aceitaria.
  66   --Condessa essas palavras,    eu a el-rei las dizia,
     mas quer ver vossa cabeça,    cortada, nesta bacia.
  68   --Caluda, caluda, conde,    isso remédio teria,
     mandai-me pôr num mosteiro,    santa vida lá faria.
  70   --Condessa essas palavras,    eu a el-rei las dizia,
     mas quer ver vossa cabeça,    cortada, nesta bacia.
  72   --Caluda, caluda, conde,    isso remédio teria,
     mandai-me deixar na serra,    lobo nã me comeria.
  74   --Condessa dessas palavras,    eu a el-rei las dizia,
     mas quer ver vossa cabeça,    cortada, nesta bacia.
  76   --Caluda, caluda, conde,    isso remédio teria,
     mandai-me deitar na mar,    donde bem me salvaria.
  78   --Condessa essas palavras,    eu a el-rei las dizia,
     mas quer ver vossa cabeça,    cortada, nesta bacia.
  80   --Caluda, caluda, conde,    isso remédio teria,
     morreu hoj` uma donzela,    que comigo se par`cia.
  82   --Cabeça dessa defunta,    pela voss` eu levaria,
     mas el-rei já foi dizendo    que mui bem vos conhecia,
  84   que vos nã troque por outra    que eu vos degolaria,
     e que, se não, também eu,    a garrot` acabaria.--
  86   Palavras não eram ditas,    el-rei à porta batia.
     --Ou la condessa já morta,    ou los dois eu mataria.
  88   --Real senhor, não é morta,    mas `stá n` hora d` agonia.
     --Dai-me, cond` , aquela ninha,    qu` eu la quero aninar,
  90   dai-me, conde, nossa filha,    quero-la pôr a mamar.
     Mamai, filhinha, mamai,    mamai na vossa maminha,
  92   amanhã tereis madrasta,    muito alta senhorinha.
     E a vós, conde, perdôo,    inocente morte minha,
  94   nã vos levo emprazado,    por `mor desta criancinha.--
     Palavras não eram ditas,    dobre de sinos s` ouvia,
  96   eram sinos de palácio.    Quem na corte morreria?
     --Rezai vós, bispos e frades,    tomai dó, vós fidalguia,
  98   chorai povo, já é morta,    d`el-rei la filha Maria.
     Quando passou lo interro,    toda la gente dizia:
  100   --Descasa` los bem casados,    é coisa que Deus nã qu`ria,
     viver em tanto pecado,    Deus nã lo consentiria,
  102   morreu quem mer`ceu morrer,    viveu quem viver mer`cia.--

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos as seguintes didascálias: entre -8 e -9 Conde Elarde disse então à condessa; entre -11 e -12 E disse a el-rei; entre -16 e -17 Vem la infanta e diz; entre -60 e -61 E ambos falaram assim; entre -88 e -89 Diz então ela; entre -96 e -97 Vem lo pregoeiro, apregoando, e diz.
Emendas propostas por Álvaro Rodrigues de Azevedo: -95b dobre de sinos corria.

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0503:129 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6723)

Versión de Machico (c. Machico, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recitada por Ludovina Augusta de Jesus y Manuel Fernandes de Sousa. Recogida por Álvaro Rodrigues de Azevedo, (Colec.: Azevedo, Á. Rodrigues de). Publicada en Azevedo 1880, 135-141. Reeditada en RGP I 1906, (reed. facs. 1982), 534-539; Carinhas 1995, II, 139-141 y RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 768, pp. 471-474. © Fundação Calouste Gulbenkian.  182 hemist.  Música registrada.

     --Eu ando invergonhada,    já repucha meu vestido,
  2   e vós, que sois lo culpado,    dai-me vós, pai, um marido.
     --Aqui na corte nã vejo    quem possa ser escolhido.
  4   --Cond` Alario tem mulher,    e já tem filho nacido.
     --Que tenha mulher e filho,    eu lo quero por marido,
  6   de força, ou de vontade,    assim fica decidido,
     chamai-lo vós a jantar,    será por mim cometido.
  8   Lá por meio do jantar,    sua honra assim dizia.
     --Não t` alembras, cond` Alario,    há nove meses seria,
  10   dos beijinhos que me deste,    à sombra da fonte fria?--
     Ficou lo conde calado,    como quem culpas tenia,
  12   fe` lo rei sua carranca,    que de ciúme seria.
     --Nã t` alembram, cond` Alario,    coisinhas daquele dia?
  14   Los abraços que me deste,    à sombra da fonte fria.--
     Ficou lo conde calado,    como quem penas temia,
  16   e, só porque las temeu,    al fim lhe responderia.
     --Senhora, vós me chamastes,    eu, por mim, nã lo faria.
  18   --Tu é pai deste meu ventre,    outro nã lo ser podia.
     --Eu, se` lo pai desse ventre?    Valha-me Virgem Maria!
  20   --Tu serás lo meu marido,    outro nã lo ser podia.
     --Eu, se` lo vosso marido?    Nem po`la Virgem Maria!
  22   --Só por seres cond` Alario,    aqui nã te mataria,
     vai matar tua condessa,    casarás ao outro dia.
  24   --Senhor, nã na matarei,    que sem porquê lo faria.
     La mandarei p`ra Castela,    onde pai e mãe teria,
  26   ou la meto num mosteiro,    donde nunca saíria,
     onde de mim nã soubesse,    nem eu dela saberia.
  28   --Manda quem pode mandar,    arrenego da porfia,
     vai matar tua condessa,    casarás ao outro dia.
  30   --Senhor, nã la matarei,    ânimo me faltaria,
     mando-la pôr no sertão,    um bicho la comeria,
  32   mando-la deitar na mar,    no fundo s` afogaria.
     --Vai matar tua condessa,    arrenego da porfia,
  34   sua cabeça cortada,    quero ver nesta bacia,
     nem me cuides inganar,    porqu` eu nã m` inganaria.
  36   Ou vem la cabeça dela,    ou la tua pagaria.--
     Foi-se dali cond` Alario,    sem bem saber por ond` ia,
  38   chegado à sua casa,    mal se disfarçar podia.
     --Condessa, dá-me ceiar,    la fome já lo pedia.
  40   La condessa pôs-lh` a ceia,    mas lo conde nã comia,
     tanta lágrima chorava,    que pela mesa corria.
  42   --Condessa, vamos dormir,    lo sono já lo pedia.--
     Ambos se foram deitar,    mas lo conde nã dormia,
  44   tanta lágrima chorava,    que la cam` alagaria.
     --Porque choras, cond` Alario?    Que triste caso seria?
  46   El-rei mandou-te chamar,    que novidades havia?
     --Desgraça sobre desgraça,    que ser maior nã podia,
  48   manda el-rei qu` eu te mate,    que por seu genro me qu`ria.
     --Nã me mates, cond` Alario,    qu` eu só pera ti vivia.
  50   Manda-me tu p`ra Castela,    com meus pais lá moraria,
     ou mete-me num mosteiro,    santa vida lá faria,
  52   novas de ti lá terei,    novas de mim te daria.
     --Palavras dessas, condessa,    eu a el-rei las dizia,
  54   mas da ordem que me deu,    nada já lo demovia.
     --Cal` -te, cal`-te, cond` Alario,    polo melhor se faria.
  56   Manda-me pôr no sertão,    bicho nã me comeria,
     ou que me deitem na mar,    que me não afogaria.
  58   --Palavras dessas, condessa,    eu a el-rei las dizia,
     mas da ordem que me deu,    nada já lo demovia.
  60   Tua cabeça cortada,    que` -la ver nesta bacia.
     --Cal` -te, cal`-te, cond` Alario,    polo melhor se faria.
  62   Hoje morreu minha prima    que meu retrato par`cia,
     leva la cabeça dela,    cortada, nessa bacia.
  64   --É boa traça, condessa,    a nós ambos salvaria,
     mas el-rei já foi dizendo    que se não inganaria,
  66   quer ve` la tua cabeça,    ou la minha pagaria.--
     La condessa, meio morta,    assim mesmo respondia.
  68   --Minha morte te perdôo,    que morrer eu nã mer`cia,
     nem emprazado te levo,    que muito bem eu te qu`ria.
  70   Nã me mates de punhal,    tão-pouco d` adaga fria,
     dá-me cá uma toalha,    eu mesma m` afogaria.
  72   S` escrever soubera eu,    a meus pais eu escrevia,
     que minha morte chorassem,    de tamanha tirania.
  74   Manda cá minhas criadas,    com quem eu m` intertenia,
     e de todas, um` a uma,    eu cuitada m` espedia.
  76   Dá-me cá essa criança,    em que tanto me revia,
     mamai, filhinho, mamai,    este leite d` agonia,
  78   vai-s` imbora deste mundo,    quem maminhas vos daria,
     amanhã tereis madrasta,    de mais alta senhoria.--
  80   Palavras não eram ditas,    mensageiro que batia.
     --Quem bate à minha porta,    nesta hora d` agonia?
  82   --Venho da parte d`el-rei,    se la condessa morria?
     --`Stá já prestes p`ra morrer,    vai resa` l` ave-maria.--
  84   Não acaba la condessa,    de dizel l` ave-maria,
     já dobram los sinos grandes,    quem da corte finaria?
  86   Morreu la filha d`el-rei,    na hora em que devia,
     e morreu também lo filho,    que dela então nacia,
  88   e, pouco tempo despois,    também el-rei falecia.
     Uns e outra, lo Diabo,    no inferno recolhia,
  90   que la trela de los três,    um só pecado fazia.
     Viveu la santa condessa,    que santa vida fazia.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos as seguintes didascálias: entre -21 e -22 Fala então el-rei; entre 44 e -45 Então falaram assim; entre -80 e -81 Diz lo conde. [Advierte el editor que o bien Ludovina Augusta de Jesus o bien Manuel Fernandes de Sousa recita el romance (no ambos).]

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0503:142 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 8781)

Versión de Ribeira Seca (c. Machico, dist. Funchal, isla de Madeira, Madeira, reg. Madeira, Portugal).   Recitada por Conceição de Góis. Recogida por Joanne B. Purcell, 21/05/1970 (Archivo: JBP; Colec.: JBP 1969-1970; cinta: 172B, rom. n° 11, rotação 654). Publicada en Purcell 1987, Ilhas 9.1, pp. 110-111.  078 hemist.  Música registrada.

     Andava bela Silvana    servindo sê pai à mesa,
  2   seu vestido sobre curto,    sua barriguinha tesa.
     --Eu não acho aqui, na corte,    com quem case a minha filha;
  4   só se for com Conde Alaivos;    esse tem mulher e filhos.
     --Ah papai, mesmo era esse    que a minha honra devia!--
  6   --Não te alembras, Conde Alaivo,    promessa de tal dia?
     --Não me lembro tal promessa,    nem nunca promitiria,
  8   qu` eu era um crianço novo,    tudo isso m` esqueci.
     --Vá-me matar tua mulher,    paga a honra à minha filha.
  10   --A minha mulher nã mato,    qu` ela a culpa nã tiria;
     mando-na deitar p`à serra,    qu` os bichos na comiriam;
  12   mando-na deitar p`ò castelo,    onde pai e mãe nã via,
     ou vou-na deitar ao mar,    qu` as ondas na levaria.
  14   --Vai-te embora, Conde Alaivo,    e deixa-te de mais porfia;
     quero-le ver a cabeça    nesta maldita bacia.--
  16   Conde Alaivos chega a casa,    vontade de comer trazia;
     a mesa já estava posta,    Conde Alaivos nã comia.
  18   --O que tendes, Conde Alaivo,    qu` até choras d` alegria?
     As laigrimas desses teus olhos    no prato las retenia.
  20   --O rei te manda matar,    p`rà honra da [s]ua filha;
     e eu disse que ias p`ò mar,    e ele nada disso queria.
  22   --Mande-me deitar p`ò mar,    qu` as ondas me levariam;
     mande-me deitar p`à serra,    que os bichos me comeria
  24   ou mande-me deitar p`rò castelo,    onde pai e mãe nã via.
     --Ele quer-te ver a cabeça    nesta maldita bacia.
  26   --Dá-me p`ra cá uma toalha,    qu` eu mesmo m` afogaria.
     Adeus cravos, adeus rosas,    adeus flor d` alecrim;
  28   adeus moços e criadas,    qu` eu tinha no meu jardim.
     Mama, meu filhinho, mama,    este leite amagoado,
  30   hoje tens pai em conde,    amanhã `tá rei c`roado.
     Mama, meu filhinho, mama,    este leite d` agonia,
  32   qu` amanhã terás madrasta    da mais alta senhoria.--
     As falas não eram ditas,    o rei à porta batia:
  34   --Se a condessa nã está morta,    eu mesmo na mataria.
     --A condessa nã está morta,    mas `tá nessas agonias.--
  36   --Ouve-se o sino dobrado,    ah meu Deus, quem morreria?--
     Responde o filho mais moço    qu` ainda falar não sabia:
  38   --Era o rei mais a condessa,    por a traição que fazia:
     desmanchar um casamento,    coisa que Deus não queria.--

Nota: -20b tua por `sua`.

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0503:45 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6639)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Braga (c. Braga, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 160-161; Redol 1964, 641-642. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 684, pp. 362-363. © Fundação Calouste Gulbenkian.  062 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando guitarra d` ouro,    oh que tão bem a tangia!
     Acordou seu pai e mãe    com o estrondo que fazia.
  4   --Tu que tens, ó minha filha?    Tu que tens, ó filha minha?
     --Todas as damas de palácio,    são casadas, têm família,
  6   eu por ser a mais novinha    a um cantinho ficaria?
     --Não tenho com quem te case,    ouves tu, ó filha minha?
  8   Só se for o conde Alberto:    é casado, tem família.
     --Esse mesmo, esse mesmo,    meu pai, era o que eu queria,
  10   que o mandasse chamar    da sua parte e da minha.--
     Mandou chamar conde Alberto    logo nesse mesmo dia.
  12   --Aqui me tem Vossa Majestade,    o que é que me queria?
     --Quero que mates condessa,    p`ra casar com filha minha.
  14   --Eu condessa não a mato,    qu` ela a morte não merecia.
     --Mata, conde, mata, conde,    antes que eu te tire a vida,
  16   e me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
     Chegou conde ao seu palácio    mais triste do que saíra,
  18   assentou-se à sua mesa    figindo que comia,
     as lágrimas eram tantas,    que até os pratos enchia.
  20   --Tu que tens, ó conde Alberto?    Tu que tens, ó meu marido?
     --Manda dizer o rei que te mate,    p`ra casar com sua filha,
  22   e que te leve a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Meterás-me num convento    onde a minha mãe me tinha,
  24   me darás o pão por onça    e a água por medida.
     Dá-m` o meu filho mais novo    que lhe quero dar de mamar.
  26   Mama, meu menino,    este leite de paixão,
     hoje contigo nos braços,    amanhã a enterrar.--
  28   Tocam sinos em palácio.    Ai Jesus! Quem morreria?
     Diz-lhe o filho mais novo,    que `inda falar não sabia.
  30   --Foi a dona Silvana    pelo escândalo que fazia.
     Viva o conde e a condessa    sempre na mesma alegria!--

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0503:46 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6640)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Celorico de Basto (c. Celorico de Basto, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1879. Publicada en Coelho 1879, 64; Coelho 1993, 118. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 685, pp. 363-364. © Fundação Calouste Gulbenkian.  065 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa viola,    muito bem que ela tangia.
     Acordou seu pai dormindo    do estrondo que fazia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Porque choras, minha filha?
     --Eu não choro, senhor pai;    se chorasse razão tinha.
  6   Outras, mais novas do que eu,    são casadas e têm filhos;
     e eu, por ser filha do rei,    para o canto ficarei.
  8   --Não tenho com quem tu cases,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     só se for com o conde Alberto;    ele é casado e tem filhos.
  10   --Mande-o o meu pai chamar,    da sua parte e da minha,
     que mate a mulher que tem,    para casar com a sua filha.--
  12   --Aqui estou, real senhor;    que quer Vossa Senhoria?
     --Que mates tu a condessa,    para casar com a minha filha.
  14   --Eu a condessa não a mato,    que ela a morte não merecia.
     --Mata, conde; mata conde,    antes que te eu tire a vida.
  16   Manda-me aqui a cabeça    nesta formosa bacia.--
     Foi o conde para casa,    todo cheio de agonia;
  18   mandou fechar suas portas,    coisa que nunca fazia,
     mandou pôr a sua mesa,    para fazer que comia,
  20   os suspiros eram tantos    que no palácio se ouviam;
     as lágrimas que chorava    sua mesa encobriam.
  22   --Tu que tens, conde Alberto?    Tu que tens, marido meu?
     --Manda el-rei que te mate,    senão que me tira a vida,
  24   que lhe mandasse a cabeça    nesta maldita bacia.
     --Ora, deixa-me dar dois passos    da sala para a cozinha,
  26   que me quero ir despedir    desta formosa harmonia.
     Manda-me cá a mais velha    que a quero pentear;
  28   manda-me cá o mais novo,    quero-lhe dar de mamar.
     Mama, mama, meu menino    este leite de amargura,
  30   que amanhã, por esta hora,    já eu estou na sepultura.--
     Tocam os sinos na sé.    Ai, Jesus! Quem morreria.
  32   Morreu a dona Silvana,    pois ela a morte merecia,
     que apartar os bem casados    era o que Deus não queria.

Nota del editor de RºPortTOM 2001: Omitimos as seguintes didascálias: entre -11 e -12 O rei o mandou chamar; entre -21 e -22 A mulher lhe perguntou; entre -31 e -32 Disse o menino no berço.

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0503:47 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6641)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Fafe (c. Fafe, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1949. Publicada en Pereira 1949-1952, 4, 393-395. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 686, pp. 364-365. © Fundação Calouste Gulbenkian.  074 hemist.  Música registrada.

     A dona Silvana, filha do rei,    estava no palácio,
  2   estava tocando    numa guitarra,
     os gritos que ela dava,    os cavaleiros ouviam.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó minha filha?
     --De três irmãs que nós éramos,    estão casadas têm família,
  6   eu, por ser a mais formosa,    ao canto fiquei metida.
     --Já corri os meus reinados,    não achei quem te merecia,
  8   só o conde da Alemanha    que tem mulher e família.
     --Chame-me cá esse conde,    da sua parte e da minha,
  10   para matar a mulher    e casar com sua filha.--
     Chamou à porta do conde,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  12   se a condessa estava morta,    se não ele a mataria.
     Virou para a sua sala,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  14   mandou fechar as janelas,    coisa que nunca fazia;
     mandou vestir os seus filhos    do maior luto que havia.
  16   A senhora pôs a comida,    ele nada comia,
     as lágrimas que ele chorava    aos seus pratinhos caíam.
  18   A senhora lhe perguntou:    --Tu que tens conde?--
     E ele lhe disse que o rei    lhe disse para a matar,
  20   e que lhe levasse a cabeça    nesta maldita bacia
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    para casar com sua filha.
  22   --Escuta, conde, escuta, conde,    que isso remédio teria.
     Fechavas-me numa casa    e o meu pai me manteria,
  24   dar-me-ias pão por peso    e água por medida.--
     E nisto, daí por um bocado,    o rei à porta batia,
  26   se a condessa estava morta,    se não ele a mataria.
     --Ela não está morta,    mas está em cuidos para isso.
  28   Deixe-lhe dar um passeio    do sobrado para a cozinha.--
     --Venha cá o meu filho do meio,    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  30   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    e o mais velho    que os quero educar,
     vão tomar uma mãe nova,    para o tento deste lar.
  32   Venha cá o meu filho mais novo    que lhe quero dar de mamar.
     Mama, mama, meu menino,    este leite da amargura,
  34   amanhã, por esta hora,    está tua mãe na sepultura.--
     Tocam os sinos ns Sé.    Ai! Jesus! Quem morreria?
  36   E o menino pequenino,    que estava a mamar,
     e tinha três meses disse:    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
  38   --Morreu a dona Silvana,    ela a morte a Deus merecia,
     apartava dois casados,    coisa que Deus não queria.
  40   E viva o conde e a condessa    que isso era o que Deus queria!--

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0503:48 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6642)

Versión de Fafe (c. Fafe, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1949. Publicada en Pereira 1949-1952, 4, 395-396. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 687, pp. 365-366. © Fundação Calouste Gulbenkian.  058 hemist.  Música registrada.

     Indo a dona Silvana    pelo seu quintal acima,
  2   tamanhos gritos dava    que no palácio se ouviram,
     veio o rei à janela:    --Porque choras, minha filha?
  4   --Não choro papá, não choro,    se chorasse, razão tinha,
     porque as damas do paço,    são casadas têm família,
  6   e eu, por ser a mais formosa,    só, solteira ficaria.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Escuta lá, ó minha filha,
  8   que eu já corri sete reinados,    e não achei quem te merecia,
     só o conde Dom Alberto,    que é casado e tem família.
  10   --É casado e tem família,    mas mande-mo cá chamar.--
     Chegou o conde e perguntou:    --Vossa senhoria mandou-me chamar!
  12   --Quero que mates tua mulher    para casares com minha filha.
     --Eu a minha mulher    que ela a morte não merecia.
  14   --Mata, conde, mata, conde,    e traz-me a cabeça nesta nova almofia.--
     Sentou-se o conde à mesa,    para comer e não comia,
  16   os suspiros eram tantos.    . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
     --Que tens conde?    Que tem, Vossa Senhoria?
  18   --Manda o rei que te mate,    para casar com sua filha.
     --Escuta, conde, que Deus    governa em todo o dia.
  20   Dá-me de comer por uma lança,    e de beber por uma medida,
     e manda-me o filho mais velho    que o quero abraçar,
  22   manda-me o filho mais novo    que lhe quero dar de mamar.
     Mama, meu menino, mama,    este leite da paixão,
  24   amanhã, por estas horas,    já estarei no caixão.
     Mama, meu menino, mama,    este leite de amargura,
  26   amanhã, por estas horas,    já estarei na sepultura.--
     Tocam os sinos no paço.    Ai! Jesus! Quem morreria?
  28   Disse o menino que estava a mamar,    mas que não falava ainda.
     --Morreu a dona Silvana    da morte que a acometia,
  30   separar os bem casados,    é coisa que Deus não queria.--

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0503:49 Conde Alarcos (í-a)            (ficha no.: 6643)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de Gerez (c. Terras de Bouro, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1894. Publicada en Revista do Minho 1894a, 174-176. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 688, pp. 366-367. © Fundação Calouste Gulbenkian.  078 hemist.  Música registrada.

     Indo dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando numa guitarra    todo o bem que ela sabia,
     c` o estrondo que ela fazia,    acordou seu pai que dormia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó filha minha?
     --Não chore meu pai não chore,    se chorasse razão tinha,
  6   sete irmãs que nós eram,    são casadas, têm família,
     e eu por ser dona Silvana,    para o canto ficaria!
  8   --Cala-te lá, minha filha,    não tenho com quem te case,
     só se for c` o conde Alvers    e esse mesmo é casado.
  10   --Esse mesmo, meu paizinho,    esse mesmo eu queria,
     mande-mo cá já chamar    da sua parte e da minha.--
  12   O conde estava p`r`à missa,    respondeu que logo vinha.
     Chegou o conde da missa.    --Senhor el-rei que me qu`ria?
  14   --Que mates a condessa,    p`ra casar` s com minha filha.
     --Eu condessa não na mato    que é bonita e formosa,
  16   e há tantos anos    que é minha rica esposa.
     --Mata, conde, mata, conde,    antes que eu te tire a vida,
  18   que me tragas a cabeça    nesta dourada bacia.--
     Foi o conde para casa,    coberto co` a agonia,
  20   mandou vestir seus criados    de luto à maravilha,
     mandou cobrir o seu palácio    do mais escuro que havia,
  22   que viesse o jantar p`r`à mesa    antes de dar meio dia.
     Veio o jantar para a mesa,    nem um nem outro comia,
  24   eram as lágrimas tantas    que até na mesa corria,
     suspiros eram tantos    que até na rua se ouvia.
  26   --O que tens, ó conde Alvers?    O que tens, ó meu marido?
     --Se eu to dissesse, condessa,    que tal tu não ficarias,
  28   mandou el-rei que te mate    p`ra casar com sua filha.
     --P` ra casar com sua filha    tudo isso se faria,
  30   meteras-me num convento    como freira arrependida,
     deras-me o pão por onça    e a água por medida.
  32   Por despacio de tempo    irei acabar lá a vida.
     Deixa-me dar um passeio    da sala para a cozinha,
  34   adeus moças, minhas aias,    com quem eu m` adevertia,
     adeus papagaio verde, adeus,    que já me esquecia.
  36   Adeus conde Alvers,    espelho a que me eu vestia.--
     Tocam os sinos na Sé,    --Meu amor, quem morreria?
  38   --Morreu a dona Silvana    com a grande tirania,
     por descasar os bens casados,    coisa que Deus não queria.--

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0503:50 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6644)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de S. Simão de Novais (c. Vila Nova de Famalicão, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1943. Publicada en Lima 1943, 247-248; Lima - Lima 1943, 19-20. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 689, pp. 368-369. © Fundação Calouste Gulbenkian.  074 hemist.  Música registrada.

     Onde vai dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando viola de ouro,    guitarra de prata fina.
     Acordou seu pai e mãe,    com o estrondo que fazia.
  4   --Tu que tens, dona Silvana?    Tu que tens, ó filha minha?
     --De três irmãs que nós éramos,    `stão casadas, têm família,
  6   por eu ser a mais formosa,    para um lado ficaria.
     --Não tenho com quem te case,    não tenho não, filha minha;
  8   só se fôr c` o conde Alberto,    é casado, tem família.
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Esse mesmo é que eu queria!
  10   Há-de lhe mandar falar,    da sua parte e da minha,
     há-de-lhe mandar falar,    pela nossa criadinha.--
  12   --Aqui `stá o conde Alberto,    que quer Vossa Senhoria?
     --Quero que mates condessa,    p`ra casares com minha filha.
  14   --A condessa não na mato,    que ela morte não mer`cia!
     --Mata, conde! Mata, conde,    senão eu tiro-te a vida!--
  16   Conde Alberto foi p`ra casa,    mais triste que o que vinha.
     Mandou fechar o palácio,    coisa que nunca fazia;
  18   mandou vestir os seus criados,    do melhor do que havia;
     mandou tirar o jantar,    para fazer que comia.
  20   As lágrimas eram tantas,    qu` até o prato enchia.
     Os suspiros eram tantos,    que o palácio estremecia.
  22   --Tu que tens, ó conde Alberto,    mais triste que o mesmo dia?
     --Mandou o rei que te mate,    p`ra casar com sua filha.
  24   --Conde Alberto, não me mates,    que eu morte não merecia!
     Mete-me antes num convento,    a pão e água por dia,
  26   me darás o pão por onça    e a água por medida.
     Trazei a filha mais velha,    que a quero pentear!
  28   Trazei a filha do meio,    que a quero abraçar!
     Trazei o filho mais novo,    quero-lhe dar de mamar!
  30   Mama, meu menino, mama,    neste leite de amargar!
     Amanhã, por esta hora,    teu pai m` estará a matar!
  32   Mama, meu menino, mama,    neste leite de paixão!
     Amanhã, por esta hora,    já estarei no caixão!
  34   Mama, meu menino, mama,    neste leite de amargura!
     Amanhã, por esta hora,    já estarei na sepultura!--
  36   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    Ai, Jesus! Quem morreria?
     Morreu a dona Silvana,    que ela a morte bem merecia,
  38   apartar os bem casados,    coisa que Deus não fazia.

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0503:51 Conde Alarcos (í-a+estróf.)            (ficha no.: 6645)
[0005 Silvana, contam.]

Versión de S. Simão de Novais (c. Vila Nova de Famalicão, dist. Braga, Minho, Portugal).   Documentada en o antes de 1943. Publicada en Lima 1943, 249-251; Lima - Lima 1943, 20-21; Alvar 1971c, 289-290. Reeditada en RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 690, pp. 369-370. © Fundação Calouste Gulbenkian.  096 hemist.  Música registrada.

     Já lá vai dona Silvana    pelo corredor acima,
  2   tocando guitarra d` oiro,    viola de prata fina,
     acordando seu pai e mãe,    com o estrondo que fazia.
  4   --O que tem dona Silvana?    O que tem, ó Silvaninha?
     --De sete irmãs que nós éramos,    são casadas, tem família,
  6   por eu ser a mais formosa,    porque causa eu ficaria?
     --Não tenho com quem te case,    não tentes, ó filha minha,
  8   só se fôr com o conde Alberto,    é casado, tem família!
     --Se fôr da sua vontade,    pois também será da minha.
  10   Mande-o chamar, meu pai,    pela nossa criadinha,
     que eu me fecharei num quarto    a ouvir o que ela dizia.--
  12   --Mata conde, mata conde,    mata a tua moreninha,
     para casares com o conde Alberto,    para casares com filha minha!
  14   --Não a mato que ela    a morte não merece.
     --Mata conde, mata conde,    senão eu tiro-te a vida,
  16   manda-me a cabeça    dela nesta adornada bacia.--
     Conde Alberto foi p`ra casa    mais triste que o puro dia,
  18   mandou fazer um jantar,    da melhor coisa que havia.
     Conde Alberto foi p`r`à mesa,    conde Alberto não comia,
  20   mandou fechar o palácio,    coisa que Deus não queria.
     Os suspiros eram tantos    que o palácio estremecia,
  22   as bagadas eram tantas    que até o prato enchia.
     --Tu que tens, ó conde Alberto?    --Tu que tens ó Silvaninha?
  24   --Conta-me a tua tristeza,    que eu conto-te a minha alegria.
     --Vem o mandado do Rei    para que te tirasse a vida.
  26   --Pois tu isso não o faças,    que eu a morte não queria,
     mete-me antes num convento,    por sete anos e um dia,
  28   dando-me o pão por ração    e a água por medida.
     --Pois, eu isso não te faço,    porq` eu não to posso fazer,
  30   venho mandado do Rei,    o compromisso tenho de fazer,
     que lhe mandasse a cabeça    nesta maldita bacia.
  32   --Deixa-me ir àquela sala,    àquele guarda-vestidos,
     deixa-me ir dizer adeus,    já qu` eu vou p`ra outra vida.
  34   Traz o meu filho mais velho,    que o quero pentear,
     para a madrasta que vier    trabalho lhe eu tirar.
  36   Traz o meu filho do meio,    para eu o educar,
     para a madrasta que vier    madrinha lhe ir chamar.
  38   Traz o meu filho mais novo,    quero-lhe dar de mamar.--
     Tocam sinos em Belém.    Ai Jesus, quem morreria?
  40   E um menino de dois meses