0503:11 Conde Alarcos (í-a) (ficha no.: 2700)
[0431 Flérida y don Duardos, contam.] Versión de Portugal s. l. (Portugal). Documentada en o antes de 1913. Publicada en Thomás 1913, Velhas Canções, pp. 32-35. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 165-166, L1; RºPortTOM 2001, vol. 2, nº 780, pp. 489-490. 110 hemist. Música registrada. |
Chorava a filha do rei, chorava de noite e de dia; | |
2 | sendo ela tão formosa, seu pai por casar a tinha. |
Desperta el-rei da cama com o pranto que fazia. | |
4 | --Que tens tu, ó bela infanta, que tens tu, ó vida minha? |
--O que hei-de, meu pai, eu ter, que a si não lhe contaria? | |
6 | Minhas irmãs são casadas e eu solteira ficaria? |
--Ninguém encontro na corte p`ra casares, ó minha filha; | |
8 | é pena o conde Alberto ser casado, ter família. |
--Mande-o chamar já, meu pai, pois é esse o que eu queria. | |
10 | Que mate a sua mulher antes de findar o dia, |
que traga a sua cabeça nesta doirada bacia.-- | |
12 | Manda el-rei chamar o conde sem saber que lhe diria. |
--`Inda agora de lá venho, el-rei me manda chamar; | |
14 | isto é grande novidade, para tanto se apressar. |
Partiu logo para o paço, com tanta pressa que ia! | |
16 | --Que quer vossa majestade, que quer vossa senhoria? |
--Matareis vossa mulher p`ra casar com minha filha. | |
18 | --Como posso eu matá-la se a morte não merecia? |
--Cala-te lá, conde Alberto, não fales em demasia; | |
20 | quero ver morta a condessa antes de acabar o dia.-- |
Foi-se embora o conde Alberto, muito triste que ele ia. | |
22 | Mandou fechar seu palácio, coisa que nunca fazia; |
mandou logo pôr a ceia e de luto se vestia. | |
24 | Sentaram-se ambos à mesa, nem um nem outro comia: |
as lágrimas eram tantas que pela mesa corriam; | |
26 | os suspiros eram tantos que o palácio estremecia. |
--Que tens tu, ó conde Alberto, que tens tu, ó vida minha? | |
28 | --Manda-me el-rei que te mate p`ra casar com sua filha. |
--P`ra que me hás-de matar, conde, se eu a morte não mer`cia? | |
30 | Manda-me antes p`ra meu pai, para a sua companhia, |
ou mete-me numa prisão onde esteja noite e dia. | |
32 | --Tudo isso eu já lhe disse e ele disse que não qu`ria; |
quer ver a tua cabeça nesta doirada bacia. | |
34 | --Não me pesa a mim da morte, pesa-me da aleivosia; |
mais me pesa de ti, conde, mais da tua covardia, | |
36 | que me quer`s assim matar, só porque el-rei o queria. |
Deixai-me dizer adeus a tudo que eu mais queria; | |
38 | deixai-me dar um passeio da sala para o jardim. |
--Adeus, cravos, adeus, rosas, adeus, flor de alecrim; | |
40 | adeus, moças, adeus, aias, com quem me eu divertia. |
Amanhã por estas horas já estou na terra fria. | |
42 | Dai-me cá o meu filhinho, quero-lhe dar de mamar. |
Mama, mama, meu filhinho, este leite de amargura; | |
44 | amanhã por estas horas tens a mãe na sepultura. |
Mama, mama, meu menino, este leite de agonia, | |
46 | que a tua mãe vai morrer, ela que tanto te queria. |
Mama, mama, meu menino, este leite amargurado; | |
48 | amanhã por estas horas verás tua mãe no adro.-- |
Palavras não eram ditas, el-rei à porta batia: | |
50 | se a condessa era morta? Senão ele a mataria. |
--Dá-me cá essa toalha que me veio de Castilha: | |
52 | apertá-la na garganta e acabar já com a vida.-- |
Tocam sinos em palácio; quem morreu, quem morreria? | |
54 | Morreu agora a princesa pelos crimes que fazia: |
apartar os bem casados, coisa que Deus não queria. |
Nota del editor: Ao contrário da variante escolhida como exemplo, muitas versões deste romance começam com versos tomados do príncipio de Silvana (P1) [0005]. Cf. VRP 132: «Indo a D. Silvana / pelo corredor acima / tocando guitarra d` ouro, / oh que tão bem a tangia! / Acordou seu pai e mãe / com o estrondo que fazia». Os versos 37-40 constituem uma contaminação com Flérida (S1) [0431]. Título original: O CONDE ALARCOS (Í-A) (=SGA L1) |