Pan-Hispanic Ballad Project

Total: 1


0701:2 Novio asesinado (á-a)            (ficha no.: 2693)

Versión de Algarve s. l. (dist. Faro, Algarve, reg. Algarve, Portugal).   Recogida por S. P. M. Estácio da Veiga, publicada en Veiga 1870, Romanceiro do Algarve, pp. 114-17. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 156-157, K7.  114 hemist.  Música registrada.

     Em uma grande cidade    gentil donzela habitava.
  2   Já seu pai perdido tinha,    porém pouco lhe faltava,
     pois um padrasto que houvera    por filha sua a tratava.
  4   Vai pedi-la um cavaleiro    que bem com ela igualava,
     mas não casam a menina,    seus parentes a negaram.
  6   Em frente dela aparece    mancebo de rasa escada,
     que do seu lavor vivia,    sua casa sustentava.
  8   Tanto se querem os dois    que co`a vista se falavam;
     também em certa janela    muito bem que se arrostavam.
  10   Diz-lhe uma noite o mancebo    com bem mágoa de su` alma:
     --Grande pena me estás dando    e a causa vai ser falada;
  12   por Dom Pedro estás pedida,    homem de grande embaixada.
     --Não o creias, minha vida,    ai não o julgues, minh` alma.
  14   Basta que tu sejas homem    para cumprir tu palavra,
     que eu também serei mulher    para sair desta casa.
  16   Com o pouco que trouveres    e o que é meu, de minha arada,
     muito bem há-de chegar-nos,    que eu sou mulher governada.
  18   Do que eu herdei de meu pai    não podem tirar-me nada.--
     Vai-se o mancebo contente,    queda-se ela consolada.
  20   Subindo aos seus aposentos,    na cama já se deitava.
     Noutro dia, manhã cedo,    foi sua mãe a chamá-la.
  22   --Desperta, filha querida,    desperta, filha adorada;
     tu casarás com Dom Pedro,    senhor de grande embaixada.
  24   Pois se acaso eu te morrer,    já ficas bem amparada.
     --Não me metam em cuidados,    deixem-me aqui descansada.
  26   --Se tu o não queres, filha,    é que és doutro enamorada.--
     Ajuntaram-se os parentes,    fizeram grande ajuntada.
  28   Quatro ficaram de dentro,    por ver o que se passava;
     os mais foram para o campo,    onde o pobre trabalhava.
  30   Descuidado o surpreenderam,    deram-lhe sete facadas.
     Meia-noite fôra em ponto    quando a nova lhe chegava;
  32   a dama não a acredita,    pois a zombar a escutava.
     Nisto chega o desengano,    um sino ao longe dobrava.
  34   Quando ela ouvira o sino,    seus cabelos arrancara.
     --Coração que te não partes,    que esperança ainda guardas?--
  36   Tinha esta dama uma prima,    prima que muito estimava;
     subira a escada sozinha    para ver se a consolava.
  38   --Ó minha prima querida,    rica prima da minh` alma!
     Ao que morreu perdoe Deus    sua paixão tresloucada.
  40   Tu casarás com Dom Pedro,    homem de grande palavra.
     --Não o creias, minha prima,    minha prima sempre amada;
  42   quando eu daqui sair,    hei-de ir logo amortalhada.--
     Sua prima tal não crê,    de a consolar só tratava,
  44   mas reparando em seus gestos    a viu muito atribulada.
     O sangue já lhe corria,    que ela a si se apunhalara,
  46   e corria tanto e tanto    que toda a casa anagava.
     --Ó minha tia querida,    tia, tia da minh` alma,
  48   vossa filha está morrendo,    está toda ensanguentada!--
     Chamem já o confessor,    não morra desamparada
  50   sem confissão, como foi    o vilão que tanto amava.
     Veio logo um santo frade    e, como boa cristana,
  52   a sua mãe deixou dito    que orasse pela su` alma
     e do mal-aventurado    a quem tanto ela estimava.
  54   Cada um em seu caixão,    seus enterros se ajuntavam.
     Ele parecia um cravo,    ela rosa desmaiada.
  56   Mães que tendes vossas filhas,    ai, deixai, deixai casá-las;
     não lhes tireis seu desejo    se as não quereis desgraçadas.

Título original: A DONZELA E O PUNHAL (Á-A) (=SGA K5)

Go Back
Back to Query Form