Pan-Hispanic Ballad Project

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0714:2 Hortelão das Flores (estróf.)            (ficha no.: 7230)
[0431 Flérida y don Duardos, contam.]

Versión de Mangualde s. l. (dist. Viseu, Beira Alta, Portugal).   Documentada en o antes de 1958. Publicada en Leite de Vasconcellos 1958-1960, I, 318-319. Reeditada en Pinto-Correia 1984, 343-344 y RºPortTOM 2004, vol. 4, nº 1282, pp. 25-27. © Fundação Calouste Gulbenkian.  063 hemist.  Música registrada.

     --Venho pedir-te conselho,    velha dos tempos antigos.
  2   Quero falar à princesa,    quero que case comigo.
     --Conselho, conselho,    que conselho lhe hei-de dar?
  4   Vista-se em trajo de pastor,    vá à porta do pomar.
     --Se nesse trajo me virem,    não farão caso de mim.
     [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
  6   --Farão, senhor, farão,    tem cara de graça real,
     olhinhos de marfim    e a boquinha dum rubim
  8   --Abre-me a porta, jardim,    hortelão das belas flores,
     que eu venho em trajo mudado    p`ra falar aos meus amores
  10   --Venha ver, ó minha mãe,    este nosso hortelão,
     que ele tem olhos de marfim,    mas ele prega-os no chão
  12   --Chama-mo cá, minha filha,    chama-mo cá p`ra mais perto,
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    que ele me parece ser discreto
  14   --Dai-me uma pinguinha d` água,    que estou morrendo à sede.
     --Aí te apago a sede,    açucena e bela clara.
  16   --Minha sede não se apaga,    pois ela é tão continuada.
     [. . . . . . . . . . . . . . . . . . .]
     --Amanhã de manhã cedo,    amanhã de madrugada,
  18   traga-me uma burrinha    muito bem aparelhada
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    que o não saiba ninguém,
  20   que eu quero ir consigo,    estrangeirinha p`r `i além.
     --Sendo vós filha d`el rei,    que nunca pagou à justiça,
  22   eu filho do corta-carnes,    como pode ser assim?
     --Amanhã de manhã cedo,    amanhã de madrugada,
  24   traga-me uma burrinha    muito bem aparelhada,
     . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    que o não saiba ninguém,
  26   que eu quero ir consigo,    estrangeirinha p`r `i além.
     Se meu pai perguntar    pela dona Aboladoura,
  28   dizei-lhe que amores me levam,    a culpa não é só minha,
     que irei com um um pastor de gado    para maior perdição minha!
  30   --Abala, abala, Aboladoura,    deixa teus bens à profia,
     que entre Inglaterra    águas claras havia;
  32   também há salas douradas    d` ouro fino ou cutia;
     também há belas senhoras    para a vossa companhia.--

Notas de J. L. de Vasconcellos: -6b graça por garça (?); -21b justiça O texto: portiça; -30b deixa ou deita (?)
Notas del editor de RºPortTOM 2004: -9b Leite (L. deVasconcellos 1958) emplea colchetes: ao[s] meu[s] amore[s]; y al final de -32b inserta entre parêntesis uma interrogação.
Nota: empalma el segundo romance en el verso -29.
Título original: Flérida.

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0714:1 Hortelão das Flores (estróf.)            (ficha no.: 2745)
[0431 Flérida y don Duardos, contam.]

Versión de Covilhã s. l. (dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal).   Documentada en o antes de 1906. Publicada en Braga 1867a, 48-50 y RGP I 1906, ((reed. facs. 1882) 426-28. Reeditada en Redol 1964, 331-332; Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 214-215, S3 y RºPortTOM 2004, vol. 4, nº 1283, pp. 27-30.  116 hemist.  Música registrada.

     --Não venho por ter ver,    nem por te dar valor,
  2   venho por erguer olhos    e a vista no sol pôr.
     Falar quero à princesa,    o amor me traz rendido;
  4   a ti peço conselho,    velha do tempo antigo.
     --Vista traje mudado,    cante em seu bandolim,
  6   boquinha de cristal,    faces de serafim.
     --Um bom conselho, velha,    me deste para mim!
  8   Não farão de mim caso    se me virem assim.
     Com Deus te fica, velha,    mais a tua porfia;
  10   mas se eu a render, velha,    tens tença cada dia.
     Eu vou bater o mato,    caçar altenaria,
  12   mas, se ela me escapar,    em ti me vingaria.
     --Abri lá essas portas,    ó hortelão das flores!
  14   Venha em traje mudado    falar aos meus amores.
     --Senhor, podeis entrar,    que tendes sempre acerto;
  16   senhor, sois Dom Duarte,    que bem vos reconheço.
     --Oh que varandas altas    com cem palmos de alteza!
  18   Diz, velho de bom tempo,    se ali vem a princesa.
     --Para as varandas altas,    para tomar a fresca,
  20   costuma vir sozinha    quasi sempre a princesa.
     --Se ela te perguntar    quem é o estrangeiro,
  22   dize que é um teu filho    vindo lá doutro reino.
     Que varandas tão altas,    que jardim tão bem plantado!
  24   Soubera o que hoje sei,    que o tinha passeado.
     --Ó regador dos cravos,    venha para mais perto,
  26   conversar a princesa    com prazer discreto.
     Ó regador dos cravos,    venha para o mirante,
  28   olhar para a princesa    com olhos de diamante.
     --Mandaram-me cá vir?    Não sei se é verdade.
  30   --Tão verdade não fora,    espelho belo e claro.
     --Tendes-me aqui, senhora,    mandai como a vassalo.
  32   Já estive em noite escura,    agora é dia claro.
     Dai-me, que tenho sede,    um pucarinho de água.
  34   --Aqui vos mato a sede,    espelho belo e claro.
     --A mim não há quem mate    a sede continuada.
  36   --Vem cá falar comigo    amanhã de madrugada.
     Aluga uma burrinha,    que o não saiba ninguém,
  38   que eu quero para sempre    ir daqui para além.
     --Como a levarei, senhora,    com quem ireis daqui?
  40   Filho de um corta-carne,    que apregoa aqui!
     --Não se me dá que o sejas    ou que apregoe aqui.
  42   --Aluguei a burrinha,    vá-se despedir.
     --Adeus, ó fontes claras    e poços de água fria;
  44   eu já não ouço aqui    rouxinóis ao meio-dia.
     Se meu pai perguntar    quem é que me queria,
  46   dizei que a desgraça    não é a que me guia.
     --Cala-te, Madalena,    lágrimas de peregrina!
  48   Nos reinos estrangeiros    melhor água haveria.
     Também há claras fontes,    poços de água fria,
  50   e canta o rouxinol    à hora do meio-dia.
     --Pareces Dom Duarte!    Oh que fortuna a minha!
  52   Tornemos ao palácio,    a dizê-lo à rainha.
     Rainha e mãe, senhora,    humildo-me ao castigo;
  54   aqui está Dom Duarte,    que vem por meu marido.
     Rainha e mãe, senhora,    que pena me acompanha
  56   de não achar meu pai,    senhor de toda a Espanha.
     Rainha e mãe, senhora,    humildo-me com dor;
  58   não tem a quem pôr culpa,    é mui cego o amor.--

Nota del editor: Os vv. 43-58 são derivados de Flérida (S1)[Flérida y don Duardos 0431].

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