0714:1 Hortelão das Flores (estróf.) (ficha no.: 2745)
[0431 Flérida y don Duardos, contam.] Versión de Covilhã s. l. (dist. Castelo Branco, Beira Baixa, Portugal). Documentada en o antes de 1906. Publicada en Braga 1867a, 48-50 y RGP I 1906, ((reed. facs. 1882) 426-28. Reeditada en Redol 1964, 331-332; Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 214-215, S3 y RºPortTOM 2004, vol. 4, nº 1283, pp. 27-30. 116 hemist. Música registrada. |
--Não venho por ter ver, nem por te dar valor, | |
2 | venho por erguer olhos e a vista no sol pôr. |
Falar quero à princesa, o amor me traz rendido; | |
4 | a ti peço conselho, velha do tempo antigo. |
--Vista traje mudado, cante em seu bandolim, | |
6 | boquinha de cristal, faces de serafim. |
--Um bom conselho, velha, me deste para mim! | |
8 | Não farão de mim caso se me virem assim. |
Com Deus te fica, velha, mais a tua porfia; | |
10 | mas se eu a render, velha, tens tença cada dia. |
Eu vou bater o mato, caçar altenaria, | |
12 | mas, se ela me escapar, em ti me vingaria. |
--Abri lá essas portas, ó hortelão das flores! | |
14 | Venha em traje mudado falar aos meus amores. |
--Senhor, podeis entrar, que tendes sempre acerto; | |
16 | senhor, sois Dom Duarte, que bem vos reconheço. |
--Oh que varandas altas com cem palmos de alteza! | |
18 | Diz, velho de bom tempo, se ali vem a princesa. |
--Para as varandas altas, para tomar a fresca, | |
20 | costuma vir sozinha quasi sempre a princesa. |
--Se ela te perguntar quem é o estrangeiro, | |
22 | dize que é um teu filho vindo lá doutro reino. |
Que varandas tão altas, que jardim tão bem plantado! | |
24 | Soubera o que hoje sei, que o tinha passeado. |
--Ó regador dos cravos, venha para mais perto, | |
26 | conversar a princesa com prazer discreto. |
Ó regador dos cravos, venha para o mirante, | |
28 | olhar para a princesa com olhos de diamante. |
--Mandaram-me cá vir? Não sei se é verdade. | |
30 | --Tão verdade não fora, espelho belo e claro. |
--Tendes-me aqui, senhora, mandai como a vassalo. | |
32 | Já estive em noite escura, agora é dia claro. |
Dai-me, que tenho sede, um pucarinho de água. | |
34 | --Aqui vos mato a sede, espelho belo e claro. |
--A mim não há quem mate a sede continuada. | |
36 | --Vem cá falar comigo amanhã de madrugada. |
Aluga uma burrinha, que o não saiba ninguém, | |
38 | que eu quero para sempre ir daqui para além. |
--Como a levarei, senhora, com quem ireis daqui? | |
40 | Filho de um corta-carne, que apregoa aqui! |
--Não se me dá que o sejas ou que apregoe aqui. | |
42 | --Aluguei a burrinha, vá-se despedir. |
--Adeus, ó fontes claras e poços de água fria; | |
44 | eu já não ouço aqui rouxinóis ao meio-dia. |
Se meu pai perguntar quem é que me queria, | |
46 | dizei que a desgraça não é a que me guia. |
--Cala-te, Madalena, lágrimas de peregrina! | |
48 | Nos reinos estrangeiros melhor água haveria. |
Também há claras fontes, poços de água fria, | |
50 | e canta o rouxinol à hora do meio-dia. |
--Pareces Dom Duarte! Oh que fortuna a minha! | |
52 | Tornemos ao palácio, a dizê-lo à rainha. |
Rainha e mãe, senhora, humildo-me ao castigo; | |
54 | aqui está Dom Duarte, que vem por meu marido. |
Rainha e mãe, senhora, que pena me acompanha | |
56 | de não achar meu pai, senhor de toda a Espanha. |
Rainha e mãe, senhora, humildo-me com dor; | |
58 | não tem a quem pôr culpa, é mui cego o amor.-- |
Nota del editor: Os vv. 43-58 são derivados de Flérida (S1)[Flérida y don Duardos 0431]. |