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Era um homem muito rico, duas vezes viuvou; |
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foi casar com mulher povre, grande soberba tomou. |
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Grande soberba tomou de requeza que foi àtchar; |
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`smola àquela porta nunca mai tornou a dar. |
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Lá vei` Quinta-Fêra Santa, quinta-fêra de pedir, |
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chegaram nos povres à porta, logo os ià despedir. |
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O homa, muito dorido, dorido do coração, |
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alevantou-se e foi-l` a dar uma fatia de pão. |
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Mas vei` d` além a malvada, malvada, de carrêra; |
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t`rou-le a fatia do pão, foi a botá-la à caldêra. |
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--Anda cá, ó mê marido, anda cá, se queres ver, |
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uma caldêra sim nada tcheia de sengue a frover. |
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--Ó malvada, ó malvada, ó malvada de nação; |
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pardeste o corpo e a i-alma por `ma fatia de pão.-- |
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Era meia-noite im ponto, a malvada àcabar; |
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os mosquinhos eram tantos por cima dela a aboar. |
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Q`ando a iam na interrar, a gente qu` àcompanhava! |
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Com dois urros qu` ela dou desapareceu corp`e alma. |
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Tchegaram nò cemitério, no atcharam qu` interrar; |
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interraram no caixão só p`r`ò covêro ganhar. |
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Dois cães e um gato é qu` a foram n` àcompanhar; |
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este cuaso aconteceu lá no povo de Linhais. |