Pan-Hispanic Ballad Project

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2855:1 O Mouro da Barbaria (í-a)            (ficha no.: 2659)

Versión de Algarve s. l. (dist. Faro, Algarve, reg. Algarve, Portugal).   Recogida por S. P. M. Estácio da Veiga, publicada en Veiga 1870, Romanceiro do Algarve, pp. 169-73. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 119-120, H11.  140 hemist.  Música registrada.

     ****Cândida Virgem dos Mártires,    formosa Virgem Maria,
  2   estrela do céu fulgente,    clara luz do claro dia!
     Contar todos seus milagres,    quem contá-los poderia?
  4   De todos o mais patente    acha-se aí nessa vila
     de Castromariam chamada,    que já foi de mouraria.
  6   É este santo milagre    de tal poder e valia,
     que em Portugal e Castela,    e lá mesmo em Barbaria,
  8   a quantos bem o conhecem,    faz espanto e maravilha.
     Era um cristão que passava    negra vida, que sofria
  10   debaixo de duros ferros,    lá para as bandas de Arzila.
     Cativeiro mais penoso    outro cristão não havia.
  12   O perro moiro infiel,    que o comprara em Almeria,
     por seguro se não dava    de que lhe não fugiria.
  14   Sempre o maldito do perro,    que receoso vivia,
     maltratar o pobre escravo    com ferrenha mão soía.
  16   Já invenção lhe faltava    de como ele o guardaria.
     Mandou fazer um caixão    muito forte em demasia,
  18   e nele sem mais detença    o triste cristão metia.
     Mas por certo `inda o não dava    apesar do que fazia;
  20   aquela mente maldita    de mil receios ardia.
     Nova ideia de tormento    alma lhe enche de alegria;
  22   com uma grossa corrente    de pés e mãos o prendia,
     e ainda sobre o caixão    o indino perro dormia.
  24   Negro pão e água turva    era o manjar que teria;
     mas uma ardente esperança    que na Virgem santa havia,
  26   vida nova lhe apontava    sobre a que lhe já fugia.
     A Virgem Mãe Soberana    invocava noite e dia
  28   para que lhe desse n` alma    vigor, que se lhe extinguia,
     e que de todo o livrasse    de tão dura escravaria.
  30   A santa Virgem dos Mártires,    que todo seu rogo ouvia,
     daquele espírito aflito    muito bem se condoía.
  32   O caixão que em terra estava,    cercado d` água se via,
     e com o perro do moiro    que em cima dele dormia,
  34   à tona d` água boiando    três dias assim corria.
     Já despontava a manhã,    a manhã de um claro dia;
  36   novas areias se mostram,    novos céus, outra alegria.
     Da torre o galo três vezes    este milagre anuncia;
  38   os sinos do campanário    repicavam à porfia
     sem que ninguém os tangesse    porque tudo `inda dormia.
  40   O ladrar de muitos cães    em todo o mar percutia.
     Quando o perro ouvira os sinos    sobre tudo se doria,
  42   que junto de terra estranha,    terra que não conhecia,
     por sua desaventura    com seu escravo se via.
  44   Encalhado em fina areia    o mesmo caixão se abria.
     Com rosto mais que magoado    o moiro ao escravo dizia:
  46   --Cristão, que país é este    de tão alta senhoria?
     Na tua terra, cristão,    cantam galos à porfia,
  48   tocam sinos, ladram cães    logo ao despontar do dia?
     --Esta terra sei que é minha,    mas eu não a conhecia.
  50   Na minha terra, senhor,    cantam galos à porfia,
     ladram cães, repicam sinos    logo ao despontar do dia.--
  52   Assombrado o sarraceno    do que do cristão ouvia,
     sem mais pergunta fazer-lhe,    da corrente o desprendia.
  54   --Ergue-te, cristão, perdoa-me    todo o mal que te eu fazia;
     até hoje eras meu `scravo,    teu `scravo sou neste dia.--
  56   Para ver este milagre    toda a gente ali corria;
     com seus gibões encarnados    os da justiça assistiam.
  58   Já todos vão, já se partem    caminho da santa ermida;
     o moiro com viva crença    o baptismo já pedia.
  60   Eis que aos pés da Virgem santa    d` água uma fonte se abria,
     tão cristalina e tão pura    que a todos pasmar fazia.
  62   Com esta água bendita,    água de tanta valia,
     foi logo ali baptizado    o moiro de Barbaria.
  64   Baptizado o sarraceno,    ao pé da fresca fontinha
     se formava um lindo mar    daquela água que corria;
  66   e para maior milagre,    ao cabo de sete dias
     mesmo no meio das águas    um verde freixo nascia,
  68   que o que mais maravilhava    era o ver como crescia.
     Desde então ficou a Virgem    tendo grande romaria:
  70   de Portugal e Castela    tudo ali corre em seu dia.

Nota: ****Como señala C. F. al colocar el asterisco delante del título, se trata de una invención de un poeta romántico, imitando el estilo popular.

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