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****Eu na terra fui gerada, nas ondas do mar nascida, |
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do meu triste nascimento minha mãe foi falecida. |
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A mim para me criarem a Itália me levariam; |
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a ama que me criou, oh que bem que me queria! |
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Comigo estava ela sempre, de ao pé de mim não saía; |
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chamava à luz dos meus olhos a luz do seu claro dia. |
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De tudo ela me ensinava, que de tudo bem sabia; |
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a educar me mandara nas escolas de harmonia. |
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Ao cabo de sete anos era a triste falecida. |
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Coitada de mim, coitada, que para sempre a perdia, |
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que tão moça em terra alheia, tão sozinha que me via. |
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Eu por minha devoção à cova rezar-lhe-ia; |
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ali lhe prantava flores, de suspiros a cobria. |
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As lágrimas dos meus olhos, olhos que eram o seu dia, |
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sem que detê-las pudesse, aquela terra bebia. |
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A filha do senador, que amizade me fingia, |
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a um escravo prometera sua carta de alforria, |
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se me ele degolara quando eu a rezar ia. |
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À sombra do cemitério o negro me aparecia; |
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olhava-me ele de longe, que ao perto não se atrevia; |
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um dia quis degolar-me, mas eu dele me fugia. |
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Junto ao rei de Babilónia, que uma estátua ali havia, |
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por uns moiros que espreitavam muito bem fui socorrida. |
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O que me então cativara mais que todos me queria; |
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de amor ele me falava, mas eu não lhe respondia. |
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O negro ali o mataram, morto ali se quedaria; |
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cativa então me levaram mais ao pranto que eu vertia. |
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Cativaram-me esses moiros para lhes ganhar a vida, |
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cuidando que eu a ganhasse como mulher já perdida. |
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Instrumentos eu quisera que assim bem a ganharia. |
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Comigo eles caminhavam, comigo eles percorriam; |
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tangendo minha viola, tristes cantos repetia. |
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Minha ama me lembrava, só por ela eu cantaria. |
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Numa linda caravela sobre o mar meu pai corria; |
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em toda Itália o mesquinho a procurar-me andaria. |
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Sabendo o meu cativeiro noutros mares discorria; |
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dia e noite navegava nas costas de Berberia. |
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Lá da sua caravela o nome só eu sabia; |
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a minha ama, coitada, quantas vezes mo dizia! |
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A caravela chegava às areias de Tarifa; |
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ali me levam os moiros a pensar que ganhariam. |
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--Abre-me a porta, meu pai, que hoje acaba a tua lida; |
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abre também os teus braços, que aqui tens a tua filha. |
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--Há sete anos que andava sem saber de ti, mi vida; |
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aqui tens estes meus braços, filha de mim tão querida.-- |
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Os moirinhos que tal ouvem, ei-los que vão de fugida. |