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****Neste cerrado alvoredo, neste bravio montado, |
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aqui vivo como bicho, entre rochas interrado. |
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Vai lo dia, vem la noite, nada p`ra mim é mudado; |
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de minhas penas sustento lo triste de mim, cuitado. |
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Ó vós troncos e penedos e bichos do descampado, |
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vinde, ouvi las tristes queixas deste pobre desgraçado. |
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Dom Hanrique d` Alencrasto é meu nome verdadeiro. |
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Dos duques desta linhagem sou lo único herdeiro |
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e, sendo eu só na casa, fui em tudo lo primeiro, |
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que meu pai muito me quis `té dar lo ai derradeiro. |
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Com todo-los meus coiteiros fui a montear um dia; |
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fora eu p`ra trazer caça, mas outrem me caçaria. |
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Bem longe de tal cuidar, pista da caça corria |
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quando, lá `lém assomando, fermosa dam` apar`cia. |
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--Olhai lá, coiteiros meus: quem la fermosa seria? |
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--É Dona Guimar de Crasto, da mais alta fidalguia. |
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Se mais disseram não sei, que, por mim, nã nos ouvia; |
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todo eu `stava nos olhos, e não andava, corria. |
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--Senhora, servo sou vosso, por vós aqui morreria; |
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aceitai-me por marido, por mulher vos tomaria.-- |
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Despois qu` eu assim falei, él` assim me respondia: |
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--Dom Hanrique d` Alencrasto, isso era lo qu` eu queria. |
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--Jurai-lo, senhora minha? --Juro por Virgem Maria; |
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mulher só de vós serei, doutro não, nunca seria.-- |
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E voltou ao seu castelo, ao de meu pai eu volvia. |
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Est` amor de mim e dela de sol a sol mais crescia. |
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Entrementes, a meu pai, que tão leal se tratava, |
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por mexericos dum conde logo el-rei condenava. |
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Mas quando foi la justiça que por ele procurava, |
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já não achou quem prender, de morrer el` acabava. |
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Só de nom` eu conhecia quem lo meu pai me matava; |
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um conde novo na corte que no amor m` invejava. |
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E ao novo condesinho que no amor m` invejava, |
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el-rei, com minhas herdanças, Dona Guimar também dava. |
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Calado, quedo fiquei, que nem lágrima chorava; |
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ninguém m` ouviu dizer ai, mas cá dentro rebentava. |
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Pera ir onde Guimar, de romeiro me vesti; |
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rondei la casa três dias, nunca, nunca nã na vi. |
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Mas passou um fidalguinho todo soberbo de si. |
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--Dona Guimar, senhor meu, iria longe daqui? |
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--`Stá inferma, bom romeiro, orai por ela, por mim. |
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Por mim, que sou noivo dela; por ela. . . . . .-- mais não ouvi. |
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Cegou-me nã sei lo quê, menos sei lo que senti; |
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no ladrão do condesinho lo meu punhal afundi. |
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Como el` era quem era, logo foi grande motim; |
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cramaram, à voz del-rei, todos, todos contra mim. |
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Mas lo trajo qu` eu vestia logo, logo lo despi; |
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por meio da tanta gente p`ra estes montes fugi. |
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--Ai, Dona Guimar de Crasto, quem cuidara, quem diria |
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que tu me foras treidora quando las juras t` ouvia?-- |
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Palavras não eram ditas, Dona Guimar qu` apar`cia: |
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--Dom Hanrique d` Alencrasto, quem no dissera mentia; |
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jurei ser tua mulher, doutro não, nunca seria. |
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Que me custasse la vida, minhas juras cumpriria. |
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Tudo a ti te roubaram, tudo por ti deixaria. |
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Por `mor de mim tu mataste, por `mor de ti morreria. |
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Dona Guimar aqui `stou, pera tua companhia. |
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Eu sou tua, tu és meu, valha-nos Jesus, Maria.-- |