|
Er` uma vez um macaco, fazê-la barb` introu |
2 |
numa tenda dum barbeiro que lo rabo lhe cortou. |
|
Lo macaco, por desforra, uma navalha furtou; |
4 |
fugindo logo dali, pera longe caminhou. |
|
Foi ele mais adiante, uma velha incontrou |
6 |
que à unha escamava las sardinhas que comprou. |
|
E à velha das sardinhas la navalha lh` emprestou, |
8 |
mas la mofina da velha dar la navalha negou. |
|
Lo macaco, por desforra, uma sardinha furtou; |
10 |
fugindo logo dali, pera longe caminhou. |
|
Foi ele mais adiante, um moleiro incontrou, |
12 |
que sem conduto comia um pão seco que comprou. |
|
E la sardinha que tinha por farinha la trocou, |
14 |
mas lo mofino moleiro la farinha lhe negou. |
|
Lo macaco, por desforra, um saco dela furtou; |
16 |
fugindo logo dali, pera longe caminhou. |
|
Foi ele mais adiante, numa escola introu; |
18 |
muitas meninas lá `stavam, com fome todas achou. |
|
E à mestra das meninas la farinha imprestou, |
20 |
mas la mofina da mestra la farinha lhe negou. |
|
Lo macaco, por desforra, uma menina furtou; |
22 |
fugindo logo dali, pera longe caminhou. |
|
Foi ele mais adiante, lavadeira incontrou, |
24 |
que já cansada lavava camisa que nã sujou. |
|
E p`ra la ir ajudar la menina imprestou, |
26 |
mas la mofina mulher la menina lhe negou. |
|
Lo macaco, por desforra, uma camisa furtou; |
28 |
fugindo logo dali, pera longe caminhou. |
|
Foi ele mais adiante, violeiro incontrou, |
30 |
que, por pobre, sem camisa la semana trabalhou. |
|
E ao pobre violeiro la camisa imprestou, |
32 |
mas lo mofino do homem la camisa lhe negou. |
|
Lo macaco, por desforra, uma viola furtou; |
34 |
fugindo logo dali, pera longe caminhou. |
|
E sem ir mais adiante, alto telhado trepou; |
36 |
por bem fazer mal haver, já de todo se fartou. |
|
Pol`o que, de lá de riba, na sua viola tocou, |
38 |
e ao som da violinha desta maneira cantou: |
|
--De meu rabo fiz navalha, de navalha fiz sardinha, |
|
de camisa fiz viola. |
|
Ferrum-funfum, ferrum-funfum! |
|
Adeus, que me vou imbora. |