Pan-Hispanic Ballad Project

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2882:1 Alfredo e Serafina (estróf.)            (ficha no.: 2882)

Versión de S. Pedro (isla de Santa Maria, Açores, reg. Açores, Portugal).   Recitada por Maria Soares de Sousa (67a). Recogida en Stoughton, Massachusetts por Manuel da Costa Fontes, 19/02/1978 (Archivo: ASF; Colec.: Fontes NI 1978). Publicada en F.E.R. L-B Nova Ing. 1980, nº 227. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 346-351, X25.  384 hemist.  Música registrada.

     Seis anos tinha Alfredo    quando Deus lhe levou a mãe;
  2   Serafina, coitadinha,    nem dela se lembrava bem.
     De três anos Serafina    ficou sem sua mãe pura;
  4   u~a morte repentina    levou-a à sepultura.
     Fez grande pranto espantoso    no dia do seu enterro;
  6   foi por ele o seu esposo    depois cometer um erro.
     Na hora do funeral    muita gente estava junta;
  8   fez o pranto mais fatal    sobre o caixão da defunta.
     Dizia à sua consorte:    --Roga a Deus por mim, querida;
  10   que de mim se lembre a morte,    que não importa mais a vida.
     Roga a Deus por teus filhinhos,    por ordem de quem dá,
  12   que os leve, coitadinhos,    para a tua felicidade.
     Já não habituo a voz,    já teu amor não existe;
  14   fechados em casa sós,    tristes, terrivelmente tristes,
     nu~ a casa negra, escura,    coberta de solidão.
  16   Foram levá-la à sepultura,    sem terem a quem peçam pão:
     coitadinhos, já não têm    quem muitos mimos lhe faça;
  18   chorai pela vossa mãe,    chorai a vossa desgraça.
     Chorai, meus queridos filhos,    já que Deus permete assim;
  20   fiquei com . . . . . . . . .*,    que hei-de fazer assim?
     Alfredo pergunta ao pai,    que entre os braços o estreita:
  22   --A mamãe para onde vai,    que está hoje tão perfeita?
     Eu também com ela hei-de ir    mais a nossa Serafina;
  24   mas ela está sempre a dormir;    ó mamãe, olha a menina!--
     Serafina, grito enorme:    --Nossa mamãe vêm roubar;
  26   que homens de maus corações    sozinhos nos queirem deixar.
     --Serafina, vamos ver    para onde a vão levar,
  28   que logo havemos de dizer    ao papai quando acordar.--
     Não houve u~a alma viva    que visse estes inocentes
  30   que não ficasse cativa,    com prantos pardacentos (?).
     Viveram em casa sozinhos,    servindo a todos de espelho,
  32   até que os seus vizinhos    lhe deram outros conselhos.
     Que mudasse ele de estado    com u~a boa rapariga;
  34   assim fez o pobre, coitado,    com a maldita decidida (?).
     Airosa, muito bonita,    delgada sobre comprida,
  36   mas como esta u~a maldita,    não tornou a ser merecida.
     Três anos viveram sós,    sem que houvesse novidade,
  38   depois de dados os nós    da Santíssima Trindade.
     Quis Deus lhe dar um filhinho    ao fim destes três anos;
  40   por amor deste nénézinho    tomou sentidos tiranos.
     Da escola Alfredo vinha,    Serafina o foi esperar:
  42   --Olha que a nossa madrinha    diz que nos há-de matar.
     Deu em mim muita pancada    e eu bonito me fiz;
  44   quero dizer que não sei    o que ela de nós diz.
     Ela contra nós se vira    sem ter motivos, penso eu;
  46   tem paciência, suspira,    que quem nos queria bem morreu.--
     Chegou o pai do trabalho.    Diz Sarafina, coitada:
  48   --Papai, a madrinha, com um molho,    deu em mim muita pancada.
     --Porque bates nos pequenos?    Que fazem eles aqui?
  50   --Ainda neles, dou neles,    enquanto não for em ti.
     --Confiada, assim te digo,    falando assim tão vilmente,
  52   se esse que tens é meu filho,    estes o são igualmente.
     Leva lá essa receita    p`ra não seres confiada!--
  54   Levantou a mão direita    e lhe deu uma bofetada.
     Foi-se deitar para a cama    esta maldita, preversa;
  56   levou a noite esta infame    com o marido na conversa.
     Com um sorriso infernal    e. . . . . . . . . . . . . . . . . . .*,
  58   com arte nos fez mal (?)    do melhor modo que quis.
     Dizia ela ao marido:    --Terei um gosto imenso
  60   se fizeres o meu sentido    como realmente penso.
     Penso muito em Serafina,    naquela esgadelhada;
  62   foi a razão tão ruim    de eu levar a bofatada.
     Ainda mais penso em Alfredo,    ambos hão-de levar fim,
  64   por andarem sempre em segredo,    dizendo mal de mim.
     Dou-lhes pelos maus costumes,    que não fazem o qu` eu digo;
  66   por eles te tornas cioso,    queres viver mal comigo.
     Assim, d` hoje para o futuro,    viveremos descansados;
  68   eu sou a mesma que juro    que hoje serão desterrados.
     Desterrados nas montanhas,    desviados das aldeias,
  70   onde lhe rasguem as entranhas    os montes e a as feras feias.
     Ponham estes vilões    os ossos espatifados;
  72   de figas, cães e leões    sejam eles devorados.
     Sejam eles padecentes    da morte mais rigorosa;
  74   espatifados nos dentes    da fera mais venenosa.
     Só assim teria alegria,    ditosa satisfação;
  76   depois de passar o dia    da sua desaparição.
     Porém, levanta-te agora,    e vai pô-los no retiro
  78   para que comecem esta hora    o seu tirano martírio.--
     Logo o pai os seus filhos chama,    estes dois tristes pequenos,
  80   sem que desse nesta infame    uma carga mais ou menos.
     Deixam os filhos o seu ninho    onde foram nascidos,
  82   seguindo o pai no caminho    onde os foi deixar perdidos.
     Ficou dizendo a madrasta:    --Vão dar aos bichos pastagem,
  84   onde acabarão a casca (?)    desta vil garotagem.
     Fico agora sem cuidados,    sem ter mais quem me persigue,
  86   não havendo outro malvado    que fale mal e de mim diga.
     Aí perto, na freguesia,    vão fazer um chincalho;
  88   enfim, eu vou-me calar,    deixá-los passar trabalhos.--
     Muitos dias se passou    sem que voltasse o marido;
  90   logo o regedor perguntou    ele p`ra onde é que tinha ido.
     --Disseram que iam à lenha    e eu ainda estou à espera;
  92   talvez fossem na montanha    comidos dalguma fera.
     Nisto tenho imaginado,    são coisas que me consomem;
  94   se morreu assassinado,    coitado do meu rico homem.--
     Foram postos nos papéis    logo, imediatamente,
  96   e nunca acharam fiéis    que tivessem visto aquela gente.
     Foram procurar no mar,    também lá ninguém os vira;
  98   o regedor fez um acto,    contradizendo à mentira.
     --Esta mulher já mente:    desgostava seu marido.
  100   E por ter já muitas vezes    nos enteados batido.
     Veio u~a ordem despachada,    u~a ordem briosa,
  102   que fosse ela encerrada    nu~ a prisão tenebrosa.
     Se algum dia eles aparecerem,    dar-se-á sua soltura;
  104   senão, tem que jazer    dela para a sepultura.--
     Assim mesmo sucedeu,    toda a vida ela penou,
  106   que o marido assim morreu,    um dragão o devorou.
     Grande pai de corajoso!    Querer os filhos deixar
  108   no lugar tão espantoso    para os bichos os matar!
     Debaixo dum arvoredo    onde os filhos se sentaram
  110   estava morto de sede,    a água ia procurar.
     Foi a última benção,    foi a última despedida
  112   que este pai deu aos filhos    por toda a vida.
     O sol `tava-se pondo,    da frecha dava na beira (?);
  114   onde é qu` o menino (?) s` esconde?    No cabo desta ladeira.
     Prometeu o Redentor    que este bicho se escondesse
  116   para que este grande traidor    também a morte conhecesse.
     Saiu o dragão à frente,    muito com ele lutou,
  118   até que aquele . . . . . .*    muito breve o degolou.
     Doutros bichos foi levado    para dentro das cavernas
  120   e apenas foram encontrados    os grandes ossos das pernas.
     Acharam os filhos demora,    o pai foram procurar,
  122   mas naquela mesma hora    não o puderam encontrar.
     Com um amor vivo e puro    procuraram o rochedo
  124   onde os bichos tão escuros    lhe fizeram ganhar medo.
     Procuraram todo o dia    sem o pai poder achare,
  126   [. . . . . . . . . . . .]    e depois encontraram os ossos.
     Que trabalhos foram os nossos    quando eles acharam os ossos!
  128   --Foram os . . . . . . . . .* aquecidos    por esses brutos tão ingratos,
     e ainda não foram comidos    porque eles andaram fartos.
  130   Dizei-me, pai, se estes ossos    eram os que vinham à fonte;
     por onde foram instrumentos (?)    que passastes aqui onte?
  132   Vós vinhas matar a sede,    aumentaste a vossa mágoa;
     servistes aos bichos de rede    e nem tão-pouco vistes água.
  134   Deixastes isto, Deus triste,    pela sede de amargura;
     nem tão-pouco água vistes    com que matasses a secura.
  136   Alfredo dando mudança (?),    Serafina se adormia,
     quando ouviu esta criança    u~a voz como dizia:
  138   --Alfredo, o que estás ouvindo,    eu por Deus te explico:
     serás um homem mais lindo,    dos bens do mundo o mais rico.
  140   Serafina, és ainda    u~a inocente do colo;
     serás a cara mais linda    que haverá debaixo do sole.
  142   Sairás destes rochedos    para espanto das mulheres
     e dourarás com os teus dedos    tudo quanto tu quiseres.--
    
(E diz ... Porque`ele ... Um velho passou, e é que os levou. Eles, eles andaram)
  144   Meio dia muito andaram    nu~ a longa retirada,
     até que por fim chegaram    a u~a formosa estrada.
    
(Mas eles, eles não se conheceram um ao outro. [...] Ele diz assim:)
  146   --Dize-me que o acompanha    u~a donzela tão linda;
     como veio a esta montanha,    como foi a sua vinda?
  148   Serafina deu um ai    e disse cheia de ternura:
     --Vim com Alfredo e meu pai    e vejo junta a criatura (?).
  150   --Espera, mana querida,    qu` eu mesmo Alfredo sou,
     que te acompanha (?) na vida    sem saber para onde vou.
  152   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    Nem pão já temos na saca;
     eu pus-te a comer só por ti,    por seres de coragem fraca.
  154   Vamos de passo avançado,    antes que a gente aqui morra,
     ver se achamos povoado    que da fome nos socorra.--
  156   Meio dia muito andaram    nu~ a longa retirada,
     até que por fim chegaram    a u~a formosa estrada.
    
(E agora aqui eu não sei tudo a eito. Eles adormeceram e passou um velho, e disse . . . Um velho rico, e disse:)
  158   --Enfim, de os acordar,    talvez que não faça bem,
     mas tenho pena em deixá-los    onde nã passa ninguém.
  160   Filhos de Nosso Senhor,    que fazeis nesta montanha,
     onde o forte caçador    só bravos bichos apanha?
  162   --Senhor, ambos de joelhos    vos pedimos compaixão,
     que dês alguns conselhos    a dois tristes que aqui estão.
  164   Dai-nos um pedaço de pão    para nos matar a fome;
     é a mim e à minha irmã,    que há dois dias que nã come.--
    
(E ele perguntou eles dond` eram. Como é qu` eles vieram p`aquela montanha. E ele disse-le assim: e:)
  166   --Meu pai madrasta nos deu,    mulher de grandes tiranias,
     que nos não tinha lei,    batia-nos todos os dias.
  168   Meu pai um dia irritou-se    e deu-lhe u~a bofetada
     e no outro dia nos trouxe    para esta retirada.--
    
(E ele levou-os. E lá os criou. Deu-l` escola e tudo o qu` eles precisavam. E, e depois... Ele comprou um navio. O rapaz. O Alfredo comprou um navio, e disse à irmã p`r`à irmã ir dourá-lo de noite. Nã queria que ninguém a visse. E a irmã foi, dourou a câmara. . . . . . . . . .* E depois ela disse... Não, mas é qu` ela fez um dia u~a bolsa p`r`Alfredo brincar e Alfredo disse que tinha gosto de a ver dourada. [Isto já nã está bem dito.] E ela disse-le, e ele disse: --Se tens gosto em vê-la dourada, passa-le os dedos por cima:)
  170   Serafina desatou    nu~ a grande gargalhada;
     zombando, experimentou    se o bolso o dourava.
    
(E depois dourou-le o navio, e ele chegou a um porto onde estava o rei e o príncipe. E eles foram fazer a visita a bordo do, do navio. E, e depois o rei disse qu` ele que tirasse aquele retrato da, qu` era dela, qu` ele levava, dela e dele. (Mas é qu` eu já nã sei isto tudo a eito.) Que tirasse aquele retrato. `Tavo à pressa tirando. O capitão, o príncipe chegou, não le deu ocasião. (Mas é qu` eu já não sei dizer esta.) E depois ele, ele disse: "--Dizei-me se pertence a u~a pessoa viva". E ele disse:)
  172   --É minha irmã; julgo    que não comemos no mesmo prato;
     a pensar qu` era o ser viva    como ver o seu retrato (?).
    
(E depois u~as pretas e tiraram os olhos à rapariga. Quando que`ele... Ela disse... Ele disse:)
  174   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .    --Não saias; eu bem te aviso
     que aqui em casa tens    tudo quanto é preciso.
    
(Ele disse p`ra ela nã sair. Mas essas pretas foro e tiraram os olhos e é que foro a casar c` o príncipe. E o príncipe ia casar já co`essa preta. Andavam a... E depois, as pretas... Ah, a rapariga, e pediu, fez um remédio e deu nos olhos. [Mesmo se vê que não é verdadeiro o resto. Ah, da madrasta ser ruim, `tá ali no jornal. u~a madrasta no Continente matou dois, dois enteados, e foi queimando-os. Queimou o nariz, queimou-l` a cara, queimou-l` as orelhas. Isto `tá ali, que foi agora. Esse podia-se acreditar. Não se pode acreditar é estas coisas. Dos olhos. C`os olhos.] Ela ficou vendo. E depois, o irmão já ia a morrere e já ia a matar. Qu`a preta ainda disse: --Dize-me, filho de vilão... [Também era gente tola. Ele era bonito, como é que era filho du~a preta?])
  176   --Dize-me, filho de vilão,    antes de seres degolado,
     se não é esta a tua irmã,    esta qu` está a meu lado?
  178   --Nunca foi nem há-de ser,    maldita preta maldosa;
     que traição fostes fazer    à minha irmã tão formosa?
    
E a pre.., e a outra, a filha, disse:
  180   --Eu era muito elegante;    já de tudo nos estragastes
     por seres um extravagante    do tempo que te criastes.
  182   Em meus dias estragastes    tudo quanto arranjei;
     até retratos comprastes    para ver se enganava a el-rei.
  184   Fizeste-te tanto apressoso (?),    sendo tu um rodilha;
     talvez quisesses u~a coroa    e casar com sua filha.
    
E ele ia a morrer. E ele diss` assim:
  186   --Se vives, minha irmã pia,    faz por mim u~a oração;
     se te come a terra fria,    qu` é da minha salvação?
  188   u~a mulher se aproxima    antes que o seu sangue corra;
     talvez seja quem o estima,    quem nã quer que ele morra.
  190   --Alto, não deis o corte,    que eu vos peço para não dar;
     que suspendas essa morte    perante a autoridade.
    
(E depois ele conheceu a irmã. E a irmã sempre casou c` o príncipe.)
  192   O príncipe sempre gozou    a mulher das maiores lindezas,
     e Alfredo também casou    com sua mana princesa.

Véase A[arne] T[hompson] 450 (I) + 327 (I) + 403A + 533 + 408 (III).

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