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****Meia-noite além ressoa cerca das ribas del mar, |
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meia-noite já é dada e o povo ainda a folgar. |
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Em meio de tal folguedo todos quedam sem falar, |
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olhos voltam ao castelo para ver, para avistar |
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a linda moira encantada, que era triste, a suspirar. |
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--Quem se atreve, ai quem se atreve ir ao castelo e trepar |
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para vencer lo encanto que tanto sabe encantar? |
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--Ninguém há que a tal se atreva, não há que em moiras fiar; |
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quem lá fosse a tais desoras para só desencantar, |
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grande risco assim correra de não mais de lá voltar. |
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--Ai que linda formosura, quem a pudera salvar! |
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O alvor dos seus vestidos tem mais brilho que o luar! |
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Doces, tão doces suspiros, onde ouvi-los suspirar?-- |
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Assim um bom cavaleiro só se estava a delatar; |
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em amor lhe ardia o peito, em desejos seu olhar. |
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Três horas eram passadas nesto contínuo ansiar. |
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Cavaleiro de armas brancas nunca soube arreceiar: |
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invoca a linda moirinha, mas não ouve o seu falar. |
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Nada importa a Dom Ramiro mais que a moira conquistar; |
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vai subir por muro acima, sente os pés a resvalar. |
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Ai, que era passada a hora de a poder desencantar. |
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Já lá vinha a estrela d` alva com seus brilhos a raiar; |
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no mais alto do castelo já mal se via alvejar |
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a fina branca roupagem da linda filha de Agar. |
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Ao romper do claro dia, para bem mais se pasmar, |
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sobre o castelo uma nuvem era apenas a pairar. |
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Jurava o povo, jurava, e teimava em afirmar |
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que dentro daquela nuvem vira a donzelinha entrar. |
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Dom Ramiro, d` enraivado de não poder-lhe chegar, |
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dali parte, e contra os moiros grande briga vai armar. |
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Por fim ganha um bom castelo, mas sem moura para amar. |