Pan-Hispanic Ballad Project

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2957:1 Vida de Frade (estróf.)            (ficha no.: 2878)

Versión de Brasil s. l. (Brasil).   Documentada en o antes de 1908. Publicada en Costa 1908, Folclore pernambuco, pp. 375-78. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 339-341, X21.  080 hemist.  Música registrada.

             1.
     Triste vida é a do frade,
     `inda peior que a da freira;
     andar de noite às escuras
     em penitência.
    
             2.
     Precisa ter paciência
     no longo noviciado;
     estar um ano encerrado,
     eu não pensava.
    
             3
     Logo disse: --Não queria
     ser frade neste convento,
     porque mui grande tormento
     experimentava.
    
             4
     Só à força eu professei
     por meu pai assim querer;
     sou defunto sem morrer,
     amortalhado.
    
             5.
     Vivo em fogo abrasador
     com este hábito vestido,
     e quando me vejo despido
     estou contente.
    
             6.
     Quando me vejo doente,
     metido na enfermaria,
     é quando tenho alegria
     nesta desdita.
    
             7.
     Si alguma licença alcanço,
     a meus pais vou visitar,
     e si os outros vão passear,
     eu também vou.
    
             8.
     Logo que o canto volta,
     o meu belo companheiro
     procura a rua primeiro
     dos seus amores.
    
             9.
     Si está doente não tem dores
     logo que solto se vê;
     `inda que a gota lhe dê,
     não é tão forte.
    
             10.
     Cuido estar para morrer
     quando subo esta ladeira;
     quando desço é de carreira,
     a toda a pressa.
    
             11.
     De missas uma remessa
     o guardião sempre tem;
     ganhar o frade um vintém?
     Ora essa é boa!
    
             12
     Si morre alguma pessoa,
     que ofício vamos rezar?
     Todos juntos a cantar
     no coro estão.
    
             13
     De noite, à porta da cela,
     certas matracas tocando,
     vão-nos levantando,
     a rezar no coro.
    
             14
     Com isso quasi que morro,
     às vezes sonambulando;
     si estou rezando ou miando
     também não sei.
    
             15
     Quando cuido de dormir
     toca ofício de agonia;
     vamos para a enfermaria
     rezar, cantar.
    
             16
     O frade, perto a expirar,
     sem acabar de morrer,
     quando o dia amanheceu
     `stá entendido.
    
             17
    
     Já morreu arrependido
     o nosso frade doente;
     ponha-se isso patente,
     que ofício temos.
    
             18
     Graças a Deus já rezamos;
     toca o sino a refeitório
     p`ra tomar um vomitório
     de arroz cozido.
    
             19
     Si algum meu conhecido
     frade quiser-se meter,
     antes se exponha a morrer
     do que ser frade.
    
             20
     Do mesmo se queixa a madre
     por não acompanhar o frade,
     por não ter mais liberdade,
     e nada mais.

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