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O mundo ralha de tudo, tenha ou não tenha razão; |
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vou-vos contar uma história em prova desta asserção. |
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Partindo um velho campónio do seu monte ao povoado, |
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levando um neto que tinha no seu burrinho montado, |
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encontra uns homens que dizem: --Olha aquele que tal é! |
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O tamanhão do burrinho e o pobre pequeno a pé! |
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--Eu me apeio.-- diz, prudente, o velho, de boa fé |
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vai o burro sem carranca e vamos ambos a pé. |
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De tudo nos têm ralhado e agora o que mais nos resta: |
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peguemos no burro às costas, façamos `inda mais esta.-- |
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Pega no burro o bom velho, pelas mãos ergue-o do chão; |
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pega-lhe o rapaz nas pernas e assim caminhando vão. |
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--Olhem dois loucos varridos!-- ouvem com grande sussurro. |
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--Tornando o mundo às avessas, tornados burros do burro!-- |
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Então o velho pára e exclama: --Do que observo me confundo; |
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por mais que a gente se mate nunca tapa a boca ao mundo. |
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Rapaz, vamos como dantes, sirvam-nos estas lições; |
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é mais que tolo quem dá ao mundo satisfações.-- |