Pan-Hispanic Ballad Project

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2968:2 Namorei uma Menina (estróf.)            (ficha no.: 2763)

Versión de Fajã (isla de S. Jorge, Açores, reg. Açores, Portugal).   Recitada por José Bento de Ramos (68a). Recogida en Vila da Calheta por Manuel da Costa Fontes, 16/06/1977 (Archivo: ASF; Colec.: Fontes SJ 1977). Publicada en F.E.R. L-B. S. Jorge 1983, 359. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), p. 227-228, S21.  084 hemist.  Música registrada.

     Namorava u~a fadista,    trazia-a na mocidade;
  2   falava-l` à meia-noite,    todos os dias à tarde.
     Um dia le preguntei    se na sua casa tinha entrada;
  4   ela me disse que não,    tudo isso me matava.
     Eu tornei-l` a preguntar    por qual era a razão.
  6   --Se não logro o meu desejo,    morro com esta paixão.
     --Se na minha casa entrasses,    ai de mim, tu que farias?
  8   Gozavas carinhos meus    e casar comigo não querias.
     --Caso, sim, querida dama,    digo-te até de quem sou;
  10   trago os meus sentidos perdidos    qu` eu já nã sei onde estou.
     --Vem-te cá para os meus braços,    olhinhos encantadores;
  12   fazes as coisas tão fáceis,    mas não lhe dás o valor.--
     E desceu pel`u~a escada    e me pegou pela mão,
  14   me levou para u~a sala    para u~a cama d` estadão.
     Sentei-me nu~a cadeira    a par du~a luz divina;
  16   cinco sentidos que eu tinha    empreguei-os na menina.
     O primeiro é ver    essa tua fermesura;
  18   no céu vi o teu retrato,    no mundo a tua pintura.
     O segundo é ver    esse teu lindo olhar;
  20   oh que boquinha do céu    onde os meus beijos vou dar!
     O terceiro é cheirar    o cheiro da mesma rosa;
  22   corri-lhe a mão pelo rosto,    oh que carinhosa formosa!
     E o quarto é ver    quando o barco se faz de vela;
  24   corri-lhe a mão pelos peitos    e cheguei meu corpo ao dela.
     O quinto é ver    q`ando o barco se deita ao mar.
  26   --Menina, levantai panos,    quero agora navegar.--
     Toda a noite naveguei    sem nunca poder dormir;
  28   quando foi pela manhã    `tava em estados de cair.
     Eu então lhe perguntei    se lhe devo algu~a coisa.
  30   --Deve-me a sua mão direita,    quero ser a sua esposa.
     --Deixa-m` ir daqui embora,    deixa-me daqui ir;
  32   não quero qu` o mundo diga    que me deixaste aqui dormir.
     Deixa-m` ir daqui embora,    qu` eu sou vassalo do rei;
  34   agora já estou bem pago    das noites perdidas que por ti dei.
     --Vai-te, falso, vai-te, falso,    eu estava donzela e pura;
  36   se não casares comigo,    o mais seja tua sepultura.
     Vai-te, falso, vai-te, falso,    gozastes carinhos meus;
  38   irás para o pregatório    dar essas contas a Deus.
     --S` eu for p`ra o pregatório,    hei-d` ir com boa tenção;
  40   espero que Deus me faça    como fez ao bom ladrão.
     Para as torradas manteiga,    para o fastio limão;
  42   todas as facadas têm cura    dadas pela minha mão.--

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