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****Estava eu no largo posto a passear, |
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vejo uma donzela que me vem falar. |
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À madre abadessa mando perguntar |
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se ela dava grade a Dona Guiomar. |
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Chegando a abadessa a fui cortejar |
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com obediência para a não negar. |
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Peço com brandura, torno a suplicar |
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que desse licença a Dona Guiomar. |
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--Não te darei grade, nem ta hei-de dar, |
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não cuides tu, frade, que te hás-de ir gabar.-- |
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Nisto a vil prelada foi-se a retirar, |
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sem que mais dissesse, sem mais me escutar. |
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--Vai-te, bona, vai-te, vai-lhe já contar |
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esta má notícia que me faz raivar. |
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À tu` ama dize que lhe hei-de falar, |
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queira ou não queira essa mulher má.-- |
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A Dona Matilde vai também contar, |
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para que ela venha com Dona Guiomar. |
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--Aqui vimos ambas nada de apressar; |
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vê o que me queres, não hei-de faltar.-- |
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A néscia prelada já se foi deitar, |
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dorme a sono solto, não pode acordar. |
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--Mau demónio a leve para a não largar, |
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que ela olhos não tenha para mais te olhar. |
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Não me quis dar grade, cuidando acertar, |
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que destes meus braços te venha tirar. |
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--Se ela cá vier a me retrucar, |
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boas mãos eu tinha para a açoitar. |
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Anda, meu fradinho, sobe ao teu altar, |
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joelhinho em terra, começa a rezar.-- |
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Rezava o fradinho sem palavra dar, |
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mas lá `stava a freira para o ajudar. |
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Rezavam, rezavam que era um pasmar. |
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A madre abadessa, essa era a sonhar. |