Pan-Hispanic Ballad Project

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4003:3 San Antonio libera a su padre de la horca (estróf.)            (ficha no.: 2810)

Versión de Brasil s. l. (Brasil).   Documentada en o antes de 1908. Publicada en Costa 1908, Folclore pernambuco, pp. 384-89. Reeditada en Costa Fontes 1997b, Índice Temático (© HSA: HSMS), pp. 281-282, U34.  148 hemist.  Música registrada.

     A vinte graus para o norte    da linha equinocial,
  2   fica a cidade de Lisboa,    corte de Portugal.
     Grande é o alicerce    da maior opinião,
  4   de ter um seguro porto    para todas embarcações.
     Nesta formosa cidade    morava Martins de Bulhões,
  6   ilustre pelo seu sangue,    dos seus antigos brazões.
     Quem ele era, bastava    nascer do seu matrimónio:
  8   um filho peregrino,    o milagroso Santo António.
     Amanheceu certo dia    no topo da sua escada
  10   um homem que mataram    de noite com uma estocada.
     Veio logo a justiça    e o seu corregedor
  12   a fazerem vistoria    e prender o matador.
     E como não o acharam    prendem Martins de Bulhões,
  14   o arrastam p`r`à cadeia    e o metem em grilhões.
     Tiraram logo devassa,    pois era de obrigação,
  16   para ver si ele saía    culpado na morte ou não.
     Sendo por falsas indústrias    ou por falsas testemunhas,
  18   saiu culpado na morte    não tendo culpa nenhuma,
     sem atenção nem respeito    à sua idade e nobreza,
  20   nem ao menos à caridade    que usava com a pobreza.
     Saiu-lhe a morte de forca,    pois a lei assim ordena:
  22   que quem mata também morra,    que padeça a mesma pena.
     Vendo-se nesta aflição,    sem da vida ter esperança,
  24   recorreu à Mãe de Deus    com mui grande confiança.
     --Ó Virgem, minha Senhora,    por vosso esplendor, vosso brilho,
  26   ponde os vossos pios olhos    em minha mulher e filho,
     pois vós muito bem sabeis    que eu padeço inocente;
  28   e si vós disto for servida,    aceito a morte contente.
     Toda a minha obrigação    a vós deixo encomendada;
  30   como eu morro sem culpa,    não fique desamparada.
     A todos os meus inimigos    perdôo do coração,
  32   para que das minhas culpas    alcancem de Deus perdão.--
     Dizendo estas palavras    com amor e piedade,
  34   já o levavam para a forca    pelas ruas da cidade.
     Chegando a certa paragem    ao encontro sai um frade
  36   do hábito de S. Francisco    com toda civilidade.
     --Justiça, eu te requeiro,    pelo recto Juiz do Céu,
  38   que soltes este inocente,    que nunca foi nem é réu.
     Si não quiseres crer,    à verdade eu me reporto,
  40   pois a podeis ouvir falar    por boca do próprio morto.
     --Só sendo desta maneira,    ouvindo o morto aqui falar,
  42   é que nós outros poderíamos    a este preso soltar.
     --Levanta-te, homem morto,    pelo Deus que nos criou;
  44   anda, jura a verdade,    si este homem te matou.
     --Este homem é inocente,    e nunca a ninguém matou;
  46   antes me dava conselhos,    pelo Pai que nos criou.--
     Ao fim destas palavras    já o morto não se via,
  48   pois estava sepultado,    já desfeito em terra fria.
     --Mandai-o logo soltar    e o tirar da prisão fora;
  50   para onde quiser ir,    deixai o preso ir embora.--
     E vendo os corregedores    que nisto mal ficariam,
  52   voltaram-se ao religioso    e desta sorte lhe diziam:
     --Meu reverendo padre,    mandai o morto dizer
  54   quem foi o seu homicida,    que nós o queremos prender.
     --Eu não vim aqui acusar,    e só livrar um inocente;
  56   procurem por outra via,    façam sua diligência.
     --Ó meu reverendo padre--    diz Martins--, onde morais,
  58   que vos quero visitar,    pois não presto para mais?
     --Com isto muito me espanto    e muito me maravilho:
  60   em meu pai não conhecer    a Fernando, vosso filho.
     Eu me chamava Fernando,    mudei o nome p`ra António
  62   para glória e amor de Deus    e desprezar o demónio.
     --Ó filho meu tão amado,    filho que o céu me deu,
  64   vem a meus braços, querido,    abraça-me, ó filho meu.
     Que virtudes são as minhas,    que merecimentos os meus,
  66   de chegar a ver um filho    com os poderes de Deus?
     --Estando eu em Itália    para fazer um sermão,
  68   um anjo me avisou    dessa vossa situação.
     Deixei o hábito em meu lugar    para falta não fazer,
  70   e vim a esta cidade    para vos poder valer.
     Como já vos deixo livre,    deitai-me, pai, vossa benção,
  72   que eu me vou para a Itália    celebrar o meu sermão.
     --A benção de Deus te dou,    e esta de minha mão,
  74   ó filho meu da minh` alma,    filho do meu coração.--

Título original: U34. SANTO ANTÓNIO LIVRA O PAI DA FORCA (ESTRÓF.)

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